Apenas um Sonho Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1

Capítulo 26: "Confiança"

Nota do autor: Perdão pelo atraso do capítulo. Fiquei doente por alguns dias e ainda estou, mas ainda vou tentar manter a qualidade que esta história manteve desde então!

Ethan estava de frente para o espelho quebrado no banheiro. Mesmo com as luzes apagadas, ainda era possível ver seu reflexo nos pequenos cacos de vidro espalhados pela pia. Ele encarava a própria face com desgosto, sentia como se aquele reflexo fosse o de um ladrão ou alguém tão odiável quanto Kevin Johnson.

Enquanto olhava parado os cacos, ouviu a porta do banheiro se fechar devagar ao lado, junto de alguns passos discretos.

— Caramba, foi você quem fez isso? — Era a voz de Emma Brown, intrigada com o espelho destruído.

Ethan não respondeu, apenas olhou para ela da mesma forma odiosa que observava o próprio reflexo. Aquilo não era apenas mais um dia ruim.

— Entendi… — acrescentou Emma, quando percebeu que ele de fato não iria responder. — De qualquer forma, o jogo já está acabando. Faltam cerca de cinco minutos…

— Isso eu já sei — resmungou Ethan. Levantou o braço para ver a contagem no bracelete, e percebeu que estava com vários cortes do vidro pelo braço e alguns na mão. Mas também não demonstrou reação nenhuma, olhou como se fosse algo natural do dia a dia.

— Seu braço… está sangrando. Pode causar alguma infecção.

— É, talvez. — Ethan andou até o lado de Emma e encarou a porta. Colocou a mão na maçaneta, mas antes de sair, tornou-se a falar. — Você já conseguiu um?

— Um rei?

Ethan olhou para ela friamente. Esperava que fosse mais discreta ao conversar sobre o plano que envolvia os dois.

— É… um rei.

— Sim! — Emma se apressou para enfiar a mão na pequena bolsa de couro em sua cintura. De repente, ficou entusiasmada. — Está bem aqui…

Vasculhou por alguns segundos, carta por carta, re-olhou tudo de novo, mas não encontrou a carta da vitória.

— E cadê ele? — questionou Ethan. Cruzou os braços enquanto olhava o que Emma fazia por cima.

— Eu podia jurar que estaria aqui… mas eu peguei um! Tenho certeza disso. O roubei com uma carta de dois ouros…

— Roubou um rei com um dois de ouros? Você tem certeza?

— Absoluta!

— Então por que não usou assim que conseguiu?

— Não queria que meu nome ficasse estampado nessa coisinha… teria mais chance dos outros me alcançarem.

Ethan suspirou, com um olhar caído.

— Tudo bem… a gente consegue outro.

— Esperem! — berrou uma voz no fundo do banheiro. — Eu… eu posso ajudar!

Emma e Ethan se entreolharam, depois olharam para o fundo. Estava escuro demais para ver alguma coisa, e nenhum dos dois reconhecia muito bem aquela voz. Quem quer que fosse, já de cara, aparentava ser tímido.

— Mas quem é você? — Ethan perguntou.

— Sou Christopher… — era o nome do irmão de Joey. — Aqui, e-este deve servir para vocês.

Christopher jogou a carta do rei para o alto. Ela caiu rodopiando e fazendo curvas até pousar no topo da pia. Ethan segurou e logo tentou escaneá-la no bracelete, e deu certo. Seu nome em seguida foi exibido na lista de nomes que possuíam um rei.

— É verdadeiro… — murmurou, intrigado com as ações de Christopher.

Emma observou por cima do ombro de Ethan, curiosa. Obviamente não esperava que recuperar um rei fosse tão rápido assim.

— Onde é que você arranjou isso? Se não me engano, você nem foi convocado para participar desse jogo! Era para você estar lá em cima, com os outros. O que veio fazer aqui? — Emma estava dividida entre alívio e indignação.

— Foi o Joey… ele me disse que… não queria que o Kim perdesse agora. E essa prova de eliminação.. ela é arriscada demais! Então ele me disse para…

— Para vir e tomar um rei, aproveitando que já que não faz parte da prova, você não teria a consequência de enfrentar e nem o azar de ser desafiado obrigatoriamente por alguém — explicou Emma, com as mãos na cintura.

— E escolheu o irmãozinho pequeno para ir no lugar dele, pois ninguém sabe se neste jogo é considerado trapaça ou quebra das regras caso algum dos participantes de fora tente invadir… Afinal, ninguém sabe muita coisa sobre as regras em geral — acrescentou Ethan.

Christopher ficou alguns segundos sem responder, pensando no que falar. Os outros dois aguardaram pacientes.

— Não foi bem assim… — começou Christopher, mas parou quando Emma começou a se aproximar para ver como Christopher estava. A falta de luz no banheiro não deixava que vissem o que tinha do outro lado do banheiro. — Não! Não chegue perto de mim!

De repente, Christopher pareceu raivoso, uma reação explosiva completamente do nada. Emma se assustou e deu um pulo para trás. — Fiquem… fiquem bem longe de mim!

— Mas… nós não…

Emma ia dizer alguma coisa, mas Ethan a cortou segurando o braço dela. Puxou a maçaneta e a arrastou para fora do banheiro e fechou a porta de novo.

— Melhor deixarmos ele em paz, já temos o que procurávamos.

Emma puxou o próprio braço para se soltar de Ethan, com desdém. Diferente das outras meninas, ela não gostava muito dele.

— O que a gente faz então? — perguntou Emma.

— Nós vamos continuar com o nosso plano. — Ethan entregou a carta do rei nas mãos de Emma. — Aqui, fique com ele, mas não use. Quem vai aparecer no radar serei eu, já que eu o usei, mas quem vai ficar com a carta vai ser você.

— Mas… e se eles nos encontrarem?

— Esta é a questão — Ethan mostrou uma segunda carta de rei. — Ou você acha que pegamos aquele rei falso atoa?

Hesitante, Emma guardou o rei na bolsa. Provavelmente só o usaria no final do jogo, quando o tempo estivesse próximo do fim.

— Não seria melhor se… a gente se escondesse? — perguntou ela, esperando que Ethan aceitasse a ideia e desistisse de procurar um outro rei apenas para ele.

— Esta é exatamente a próxima etapa.

Emma ficou impressionada de que deu certo, Ethan simplesmente esqueceu que com um rei verdadeiro, apenas Emma passaria o jogo.

— Sério?! — ela demonstrou alegria demais por um momento, mas logo abaixou o tom de voz. — Onde vamos nos esconder?

Ethan olhou precisamente ao redor, até seu olhar parar na tampa de uma ventilação que ficava um pouco acima.

— Acho que já sei…

Enquanto Ethan e Emma procuravam uma forma de subir até o duto de ventilação, Nathan continuava sentado no mesmo lugar antes. Ainda estava remoendo a briga entre ele e o irmão. Olhava para o pingente do cordão que acabou arrancando, ele ainda tinha ele em mãos. Parecia uma pérola branca, um pouco azulada.

— Talvez, eu deveria devolver isso depois…

— Não sei se ia mudar alguma coisa — disse uma voz que vinha do fundo do corredor. Um jovem de cabelos pretos se sentou ao lado de Nathan com os braços acolhendo as pernas. Parecia estar com frio. — Na verdade, eu acho que o ideal seria você não fazer nada a respeito.

Nathan o observou, confuso, não percebeu que havia mais alguém por perto.

— Você assistiu tudo o que aconteceu aqui? — perguntou Nathan, tentando inflar um pouco o ego. Readmitiu seu semblante de confiança.

— Mais ou menos — o jovem desconhecido sorriu. — Mas vi o suficiente para entender o que estava acontecendo. E, sabe, foi bem arrogante da parte dele ter destruído a sua carta do rei.

Nathan olhou para baixo, se fixou nos fragmentos do chip quebrado. O jovem ao lado espirrou antes de começar a tossir bastante, provavelmente estava gripado, com a ponta do nariz vermelho, mas era impossível de ver naquele escuro.

— Acho que você está meio doente. Poderia ter tirado o seu nome da reta por estar doente, e deixar alguma outra pessoa ser escolhida no seu lugar — disse Nathan, arredando um pouquinho para manter uma distância segura.

— Não sei se eles iriam permitir — o jovem tossiu mais uma vez enquanto falava, quase engasgou. — Você sabe como eles são por aqui… ninguém deve se importar muito com o seu estado de saúde.

— É… — A atenção de Nathan se voltou para um movimento distante, entre as tralhas nas estantes e prateleiras que formavam os corredores do galpão, havia uma luz iluminando um grupo de pessoas. Brittany Taylor estava no meio delas, liderava um grande bando. O garoto que iluminava o caminho segurava um lampião que provavelmente não duraria muito mais tempo aceso. Se apressou para tentar uma rota de fuga, aproveitando a escuridão. — Mas se eles não se importam com sua saúde, então pelo menos você deveria se importar mais.

Nathan continuou com o papo furado enquanto se esgueirava por debaixo da prateleira, saindo no corredor ao lado. A luz do lampião vinha se aproximando cada vez mais… Havia apenas três nomes na lista dos portadores do rei. Andrew Parker, Nathan Kim, e Ethan no final da lista. Apenas um rei ainda não tinha sido encontrado, e o rei que Nathan possuía não podia mais ser utilizado por ninguém. A única maneira de perder o jogo seria eliminando todos os seus pontos de copas, que marcavam a vida.

— Talvez eu devesse mesmo — disse o outro, tentando forçar para não tossir mais umas vezes. Mas acabou soltando quando viu a luz chegando. — Estranho… será que vieram para consertar a fiação? — Ele pensou que a luz fosse dos funcionários da Betrayal Lines. — Eu até tentei pedir para não participar do jogo hoje mas… ninguém me escutou. Sabe, ninguém realmente se importa de verdade nesse lugar. Só sabem falar sobre termos e mais termos… E que deveríamos ter lido o papel antes de assinar. Nunca fui muito de ler termos e essas coisas… mas pela primeira vez estou começando a discordar.

Nenhuma resposta veio do lado em que Nathan estava. O jovem esperou, tentava manter a conversa mas sequer tinha percebido que Nathan nem estava mais ali. — Oi? Não quer mais conversar? — Ele se virou para tentar ver alguma coisa no escuro, e tentou tocar o suposto Nathan que estaria ali do lado. Mas acabou tocando o ar. — Desgraçado!

— Ele veio todo caridoso até mim… — ponderou Nathan, quando ouviu o outro garoto exclamar “Desgraçado!”. — Queria que eu abaixasse a guarda… e o grupinho deles ia me encurralar. — Enquanto caminhava, observou a própria mão com o pingente arrancado do cordão de Ethan. — Esse lugar está se tornando selvagem… e isso me dá um mal pressentimento.

O grupo de Brittany alcançou o lugar onde o jovem doente estava sentado, com o nariz fungando. Quando iluminou seu rosto, as características ficaram visíveis. Um rosto juvenil, óculos quadrados, cabelos pretos, pequenos, e olhos castanhos.

— Onde está o Nathan, Andrew? — questionou Brittany, o observando por cima de braços cruzados. Sua sombra estralava com o fogo da vela no lampião. A sombra cobria o rosto e o corpo encolhido de Andrew Parker abaixo.

— Ele fugiu. Me descuidei… desculpe. Mas nós podemos tentar ir atrás dele de novo ou…

— Não — disse, rompendo a fala de Andrew. — Você não seria idiota o suficiente para deixá-lo ir embora sem que você notasse… vocês estavam lado a lado.

Andrew se levantou rapidamente e deu alguns passos para trás, a aura de intimidação de Brittany era muito repentina. Nunca viu este lado da jovem.

— Eu não sei! Ele deve ter… se esgueirado por aí!

— Ou então… — Brittany deu um passo à frente, e todo o seu grupo se aproximou também. — Você de alguma forma conseguiu o rei que ele carregava, e agora não quer nos mostrar. O rei que já estava com você, nós usaríamos junto com os outros que conseguimos anteriormente para fazer a nossa votação, e assim duas pessoas poderiam sair daqui sem serem expulsas.... Mas você poderia muito bem guardar este segundo rei para si, e garantir a sua sobrevivência isolado…

Ninguém pensou por esse lado da situação, e quando o grupo entendeu a acusação de Brittany, todos ergueram a cabeça demonstrando estarem ao lado dela.

— De onde você tirou essa ideia?! Vocês são vários… eu sou apenas um! Não faria sentido eu tentar trair a confiança de todos de uma vez.

— Claro que faria. Afinal, se der certo, todos nós vamos ser eliminados e você não vai mais precisar se preocupar com mais nada.

O resto do grupo concordou com a cabeça. Ninguém se atreveu a dizer nada, mas todos seguiam os passos de Brittany. Ela era como uma bandeira de libertação.

— E como você pode provar esse ponto? — perguntou Andrew. Tentou controlar a respiração para parecer mais calmo do que realmente estava, mas era difícil quando se estava gripado. — Como pode afirmar que eu estou traindo vocês?

Brittany não disse nada, apenas esperou alguns segundos. E de repente, um pequeno tinido agudo envolveu aquela parte do galpão. Era o som emitido por um chip da carta do rei… e estava exatamente naquele corredor, próximo de Andrew.

— Então nos explique. Se não está com você, de onde veio este som? — Brittany sorriu, confiante.

O som veio do chip que Ethan quebrou para colocar Nathan em uma enrascada. Mas no fim, Nathan usou da armadilha de Ethan para colocar seu próprio caçador em uma enrascada tão problemática quanto a do próprio Nathan.

— Eu… não sei de onde esse som veio.

Obviamente, ninguém caiu nesse blefe. Ao mesmo tempo que de fato, ele não sabia de onde o som teria vindo.

— Então vamos resolver de outro jeito. — Brittany abriu espaço entre o grupo, para o último garoto lá do fundo se aproximar. Este, era Kevin Johnson. Brittany anteriormente deu a ideia de deixar todas as cartas de combate, com a única exceção do rei, nas mãos de apenas uma pessoa do grupo. Com a condição de que o bando inteiro ficasse de olho nesta única pessoa, evitando conflitos entre os integrantes. Kevin tinha um completo arsenal de cartas de baralho… e a única carta que Andrew tinha, era o primeiro rei adquirido no jogo.

Sarah Megan observava todo o conflito de longe, sem chamar muita atenção. Aparentemente aquele seria o fim de Andrew. Kevin também não parecia se importar muito com isso, estava bem sorridente para uma situação tão tensa.

Tudo acabou bem rápido, afinal, Andrew não tinha carta nenhuma além do próprio rei. Kevin conseguiu o tomar para si, juntamente dos pontos de copas do rapaz… Quando foi eliminado, seu bracelete se destrancou e caiu ao chão. Espatifou e quebrou completamente. Uma marca do bracelete que ficou tanto tempo preso no pulso de Andrew apareceu. Estava liberto daquele lugar. Mas aparentemente isso não o fez nem um pouco feliz…

Faltando apenas dois minutos para o jogo acabar, Brittany iria iniciar as votações para ver quem ficaria decididamente com o rei. Era um momento delicado, pois já esperava que ninguém fosse de fato seguir as regras da votação. Todos queriam tirar proveito e saírem vitoriosos.

A votação começou, Brittany também já imaginava que uma boa parte do grupo votaria nela, por ter sido muito atenciosa com todos eles, acabaram criando uma certa amizade com a mesma. A sensação de liderança era o que predominava naquele lugar. Não era possível votar em si mesmo, e quando perceberam que a votação já estava ganha por Brittany, o caos se iniciou. Alguns invadiram a roda de votação para arrancar o rei das mãos de Kevin por conta própria, outros apenas pularam em cima deles mesmos, outros tentaram atacar Brittany por estar supostamente tirando suas únicas esperanças de que todo aquele tempo no colégio não tinha sido em vão. E no meio de todo aquele conflito… apenas Sarah Megan percebeu que Kevin já tinha fugido com o rei bem antes da roda de votações sequer começar.

Ele continuou correndo, apenas um minuto restante. Sarah Megan vinha atrás mas não havia nada que pudesse fazer. Estava longe demais. Kevin segurou a carta na mão e até deu um beijo nela, como se fosse um troféu. Escaneou no bracelete, e seu nome apareceu no final da lista dos conquistadores do rei.

O nome de Kevin estava abaixo do de Nathan, que no momento, continuava fugindo para o canto mais vazio do galpão quando viu que seu irmão, pela raiva do momento, acabou praticamente entregando a vitória para Nathan sem precisar fazer nada. Nem mesmo usou o seu coringa.

E o nome de Ethan, estava entre os de Nathan e Kevin. Ajudou Emma a descer das ventilações quando perceberam que o jogo já estava ganho para os dois. Ethan também percebeu que agora em diante, os jogos não se baseariam em inteligência ou jogos estratégicos. Assim como a Caça ao Rei, os jogos de eliminações agora eram todos como uma grande selva, e os jogadores, os sobreviventes.

— Yup! — Emma fez um som fofinho quando caiu do duto e ficou um pouco envergonhada por isso.

— O jogo vai acabar. Vamos, use o seu rei… — disse Ethan, esperando calmamente os últimos segundos passarem.

Emma sentiu o gosto da vitória. Realmente, Ethan se esqueceu de buscar um segundo rei para ele mesmo. A carta que ele havia usado estava com Emma… e se ela usasse, Ethan ficaria sem uma carta do rei. Emma podia sentir seus pés fervendo para dar pulinhos de alegria.

— Vamos lá então…

Trinta segundos, apenas trinta segundos para que tudo acabasse…

— É só escanear, né? — Emma já estava com o rei em mãos. Quando estavam na ventilação, Ethan aconselhou-a a não guardá-lo na bolsa para não correr o risco de perdê-lo de novo. — Então… pronto!

Nos últimos quinze segundos, o bracelete de Emma entrou em contato com a carta do rei que Ethan lhe entregou. Escaneou… porém, nada aconteceu.

Dez segundos… Um sorriso se abriu na face de Ethan.

— Espera… Ethan, não está funcionando… — Emma disse rindo para tentar disfarçar o nervosismo.

Cinco segundos…

— Talvez você devesse tentar o outro lado — aconselhou Ethan, tentando segurar a risada.

Três segundos…

— Ethan… você não… — Os olhos de Emma começaram a lagrimejar.

Dois segundos…

— Pode falar.

Um segundo…

— Não me entregaria o rei falso… que eu te ajudei a conseguir antes… não é?

Notas:

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