Volume 1
Capítulo 25: O Meu Querido Irmão
Enquanto a prova de eliminação acontecia no galpão, Isabel Rodriguez preparou uma pequena gincana na quadra para passar o tempo. Não havia muito o que fazer afinal, e ninguém podia assistir às provas de eliminação ao vivo, apenas as duas provas finais. Mesmo sabendo que Ethan e Emma foram escolhidos para a prova, Aria confiava que eles não iriam perder tão fácil, principalmente Ethan. Ainda assim estava um pouco preocupada, mas as competições na quadra a fizeram esquecer esse assunto um pouco.
O esporte que estavam praticando agora era corrida, primeiro os meninos, e depois as meninas. A corrida dos meninos já estava em andamento, com Joey Santiego disparado em primeiro. O objetivo era dar três voltas inteiras na quadra em até cinco minutos. Joey sempre foi muito atlético e competitivo, então por costume era fácil estar em primeiro lugar. Os outros meninos, a grande maioria, eram sedentários.
Na última volta, Joey abriu os braços, chegando na linha de partida. As meninas que assistiam gritaram e o vangloriaram. A maioria delas já tinha uma certa admiração por Joey, por ser um rapaz muito bonito, alto e atlético. Mas essa admiração cresceu ainda mais quando ele renunciou a amizade com Kevin Johnson, que ninguém gostava muito da presença.
Aria aplaudiu também, mesmo Joey sendo meio babaca às vezes, ela ainda o considerava um amigo no fundo. Um amigo bem escroto. Emily também o vangloriou, pois na cabeça dela, era a melhor opção entre os outros que corriam também. A maioria ou não tinha destaque nenhum, e os que tinham não eram tão agradáveis assim. Como Ryan Garcia, que estava em terceiro lugar na corrida.
Talvez, se Michael Turner estivesse correndo também, as meninas torceriam por ele. Mas se recusou a correr também. “Para dar chances aos outros”, foi o motivo dele.
Em vez disso, estava sentado logo atrás de Emily, massageando os ombros da irmã. Ela pareceu não ligar muito, pois era um tanto confortável os afetos repentinos do irmão. Mas arqueou uma sobrancelha quando ele começou a brincar com os cabelos dela, tentando fazer um coque.
Olhou para ele com desdém e seriedade. Ele mantinha o mesmo sorriso icônico de Michael, um sorriso suave e meio sedutor. Os olhinhos cor de mel cintilavam, e os cabelos brancos estavam jogados para trás dessa vez.
— Virei sua boneca? — questionou Emily, mantendo o olhar sério.
— Sempre foi.
— Vai lá caçar a Hina, vai.
As outras meninas observavam com olhares suspeitos. Realmente, Michael sempre chamou muita atenção independente do que estivesse fazendo.
— Sabe, às vezes você é rude demais — disse, com uma voz tão doce que provavelmente acalmaria qualquer pessoa. — Vou te mostrar uma coisa bem mais legal que a Takahashi.
— É mais fácil só me deixar em paz mesmo.
Aria também olhou para trás, curiosa com o que Michael iria mostrar. Ele pegou o celular, procurando alguma coisa. Quando achou, mostrou uma foto de Emily dormindo, com várias florzinhas desenhadas no rosto com um canetão, e dois coques no cabelo.
— Uma foto sua! — Michael falava com Emily como se fosse uma criança.
— É sério?
Aria não segurou uma risada, e acabou levando um soquinho de Emily no braço.
Depois de Joey, o próximo a chegar na linha de partida foi Derrick Evans. Ninguém aplaudiu, mas ninguém vaiou também. Ele era aparentemente bem insignificante. O único que pareceu ter alguma reação foi Joey, que particularmente não gostava muito de Derrick. Desde que seu irmão Christopher sumiu e reapareceu machucado, desconfiou principalmente de Derrick.
— Aquele moleque… não vou com a cara dele — julgou Emily, do nada.
— Michael está certo, você é muito rude! — Aria tinha uma certa compaixão com basicamente todas as pessoas que via, mesmo sem conhecer. — Ele não parece ser tão estranho assim.
E depois de Derrick, Ryan Garcia chegou no final. Estava em terceiro lugar, e não perdeu sua posição. Quando chegou, estendeu uma mão para tocar a de Joey em comemoração. Mas ele não pareceu querer o comprimento.
— Qual é, Joey. Bate aqui!
Joey estava de braços cruzados, olhando Ryan com uma face meio zangada. Suas atitudes mudaram bastante desde o incidente na joalheria. Ele acabou se tornando uma pessoa mais fechada, arrogante. Mas pelo menos, não enchia mais o saco de ninguém.
Ryan permaneceu na frente de Joey, a mão estendida para dar o toque. Ele provavelmente não sairia dali até conseguir o que queria, que era um ato tão bobo.
Joey acabou cedendo depois de um tempo e aceitou o comprimento. As mãos tocaram, e Ryan saiu sorridente. Ryan sempre foi uma pessoa um tanto suspeita, mas nunca se mostrou ser alguém ruim.
A vez das meninas correrem chegou, as que quiseram entrar para a corrida se posicionaram lado a lado. Mia Cooper decidiu não correr, com certeza não levava jeito para isso. Mas impressionantemente Hina decidiu ir. Foram para o vestuário colocar roupas mais atléticas, e ficaram enfileiradas na linha de partida.
— Preparadas? — Isabel estava com roupas mais atléticas também para as pequenas competições, com um apitinho na mão. Todas se ajeitaram na largada, alongaram-se um pouco, deram alguns pulinhos, e ficaram em posições.
Logo o apito de Isabel ressoou nos ouvidos de todos, e as meninas começaram a correr. Impressionantemente, elas eram ligeiramente mais velozes que os meninos, com exceção dos quatro primeiros. Os rapazes de fato estavam ficando cada vez mais sedentários.
Emily saiu disparada na largada e Aria a acompanhava por trás. Eram as duas mais velozes até então.
Joey observava Aria de longe, orgulhoso. Sabia o quanto competitiva ela era quando precisava ser.
Aaliyah agarrou o braço de Hina no meio da corrida. Ela era mais rápida, então se segurar a ela daria mais impulso e traria menos esforço. Porém, obviamente Isabel não deixaria uma vantagem dessas. Apitou bem alto para Aaliyah no outro lado da pista.
— Abioye! — vociferou, e Aaliyah logo soltou o braço de Hina.
Liam Bernard logo se levantou para dar apoio à sua amiga. Realmente, era um verdadeiro amante de Aaliyah.
— Você consegue, Aa-li-ah!!
Aaliyah olhou para ele de um jeito sarcástico. Na cabeça dela, provavelmente estava o achando um completo idiota.
Emily e Aria ainda corriam disparadas na frente, definitivamente iam ser vencedoras. Derrick olhou de um jeito estranho para Aria, e tanto Ryan quanto Joey acharam isso estranho. Ele estava com uma pequena bolinha de borracha nas mãos. Se aproximou da pista furtivamente, fingindo estar apenas distraído. Quando Emily e Aria vinham correndo, ele jogou a bolinha que se camuflou perfeitamente na pista. O tempo em que jogou se sincronizou perfeitamente com o tempo em que Aria chegou até a bolinha. Ela acabou pisando, perdendo equilíbrio e caindo. Seu corpo caído deslizou na pista, e um grupo de pessoas que assistiam caíram na risada.
Aria gritou de dor, caiu de um jeito aparentemente bem terrível. Isabel assoprou o apito mas a corrida não parou, apenas Emily voltou para verificá-la também. Deu apoio à sua amiga e a trouxe até Isabel. Um ombro de Aria parecia um pouco menor que o outro, e quando tentava o mexer, doía bastante.
— Deixe-me ver… — Isabel deu algumas mexidas de leve no braço de Aria, e já teve a certeza de que estava deslocado. — É… vamos ter que te levar para a ala hospitalar.
Michael se apressou para se juntar até elas e acompanhar também, com uma certa preocupação. Derrick parecia satisfeito, afinal, Hina agora havia ficado em primeiro lugar.
Quando Derrick se aproximou dos outros meninos no centro da quadra, Joey o empurrou. Ele caiu no chão como se fosse um saco de batatas.
— Qual é o seu problema?! — Joey chegou bem perto de Derrick, preparando-se para socá-lo. Alguns outros meninos vieram para interferir.
— Calma aí, grandão. Foi só um acidente — zombou Derrick, se levantando e tirando poeira das roupas. Na mesma hora que se levantou, tomou uma rasteira de Ryan. Ele caiu ao chão de novo, dessa vez, parecendo uma almofada caindo.
— Você jogou essa merda aqui pra ela cair. — Ryan mostrou a bolinha e a jogou na cara de Derrick.
Joey com um puxão fez os três que o seguravam caírem. Se aproximou de Derrick, apontando um dedo bem na cara dele.
— Você vai apanhar, seu bosta. — Deu um tapa na cara dele, fazendo o óculos cair na quadra. — Tá ligado que ela não tá sozinha. Se o Kim descobrir que você deslocou o ombro dela, seu merdinha, duvido que você vai sair impune.
— Ah, é? — Derrick parecia um tanto calmo demais. — E por que não vem você então, grandão?
Joey se levantou, com as mãos na cintura. Um semblante enfurecido.
— Cansei dessa merda. Pensei que fosse você quem tinha feito aquilo com meu irmão, agora, mesmo se não foi, a coisa vai esquentar. — Ele apontou o dedo na cara de Derrick mais uma vez, ameaçador. — Essa noite, você vai se foder. E não vai ser o Kevin quem vai me ajudar.
— Duvido que o Kim vá te ajudar. Vocês parecem se odiarem.
— Duvida né. Ok, continua duvidando.
Joey saiu andando, estressado. O clima na quadra ficou bem tenso também. Derrick olhou para Hina com um sorriso, tentando chamar atenção, mas depois de tudo que ele fez ela apenas lhe deu um olhar de desgosto. Voltou para dentro do colégio também para verificar se Aria teria se machucado muito.
Na ala hospitalar, a enfermeira colocou gelo para amenizar o inchaço e a dor, e logo começou a enfaixar o braço de Aria. Ela teria que ficar com o braço enfaixado por alguns dias, mas logo poderia removê-la.
— Está doendo muito? Já está melhor? — perguntava Emily, bem preocupada. — Que moleque desgraçado!
Hina chegou a ala hospitalar também, Mia chegou um pouco depois. Aria acabou se sentindo especial demais, nunca imaginaria que essas duas lhe ofereceriam apoio em situações assim. Hina se sentou ao lado dela, e a ofereceu um chocolate. Mia não parava de tagarelar sobre como Derrick foi um escroto tentando conseguir a atenção de Hina. Hina também se desculpou por isso, e Aria estava completamente perdida com tanto apoio.
Quando finalmente saíram da ala hospitalar, as meninas voltaram para a gincana de Isabel. Apenas Michael decidiu acompanhar Aria e fazer companhia a ela. Emily queria ficar também, mas Aria insistiu com que ela voltasse. Sabia o quão animada ela ficava em competições assim.
Aria estava com apenas algumas faixas no braço para que não se movesse. Não era desconfortável e nem muito confortável.
— Você vai ficar bem. Devem tirar suas faixas logo.
— Espero que sim…
Um pouco à frente, um homem passava com duas caixas no corredor. Nem Aria e nem Michael nunca tinham visto ele na vida, parecia ser alguém da administração. Tinha longos cabelos pretos e olhos também pretos. Seus cabelos eram bem bagunçados, aparentemente não cuidava muito bem deles.
Ele andava meio desajeitado, acabou nem vendo os dois à sua frente. Esbarrou com as caixas em Michael e tudo desabou. Aria se apressou para ajudar, até lembrar que não podia mexer um dos braços. Mas Michael foi cavalheiro e ajudou o rapaz desengonçado.
— Arh… me desculpem, acho que ainda não acordei totalmente hoje…
— Sem problemas, senhor gentil.
O homem se esforçou para pegar a primeira caixa, aparentemente estava pesada. Quando Michael foi pegar a segunda para colocar sobre a primeira nas mãos do homem, notou que a caixa se abriu um pouco com a queda. Dentro, haviam algumas cápsulas azuis com um líquido bem suspeito dentro. Ele olhou para Aria e ela logo entendeu, ficou na frente do homem, e Michael pôde pegar um dos pequenos frascos azuis. Colocou a caixa sobre a outra, e o homem seguiu seu caminho com as duas empilhadas.
— O que você pegou ali dentro?! — sussurrou Aria, em alerta.
— Não sei… é azul.
Michael mostrou com cuidado. Dentro do líquido azul, pareciam ter pequenos cubinhos transparentes. Logo, guardou o frasco nos bolsos e continuou andando, fingindo que nada havia acontecido. Aria seguiu a onda e acompanhou, não seria bom conversar sobre aquilo assim nos corredores, onde todos podiam ver.
No galpão, Ethan estava de frente para Nathan. O meio-irmão gargalhava, duvidando das capacidades de Ethan. Um olhar de ódio em frente a uma risada egocêntrica.
Enquanto Nathan ria de um jeito lunático, Ethan começou a pensar. Lentamente, a se acalmar. Fechou os olhos, e quando os abriu de novo, todo aquele ódio que refletia desapareceu. Seu olhar de indiferença era o que demonstrava mais uma vez. Guardou o cordão partido no bolso, e se aproximou lentamente de Nathan.
— Onde está toda aquela raiva agora? Já sumiu? Ou você só começou a pensar agora? — Nathan parecia estar alucinando, havia alguma coisa naquele jovem que Ethan não conseguia distinguir o que era. Algo diferente de raiva ou inveja, diferente de qualquer sentimento que pudesse imaginar.
— Raiva…
Nathan sorriu com a aproximação de Ethan.
— E aí? Vai continuar brigando, ou vai arregar para as cartinhas? — Ethan respirou fundo, as luzes ainda piscavam às vezes. Nathan também pareceu se preparar. Se fossem brigar, agora a coisa ficaria mais séria. — Ele te obrigou a aprender artes marciais também, não é? No fim, vai servir pra alguma coisa.
Nathan se aproximou também, fervendo em antecipação. Tentou um soco no peito, mas Ethan defendeu com o braço. Deu um passo para trás, a respiração controlada e concentrada. Estava se acalmando, e Nathan se descontrolando.
Nathan começou a socar, e Ethan apenas defendia enquanto dava lentos passos para trás. Não iria acertá-lo, não importa quantos socos tentasse dar. Ele queria algo mais selvagem, mais feroz, enquanto Ethan apenas procurava uma brecha.
— Que foi?! — ele continuou batendo, sem efeito. Ethan não revidou nenhum dos socos, seus braços começaram a doer de tanto tentar defender. — Você não queria uma bri-?!
Nathan perdeu o foco enquanto falava, tomou um soco na barriga. Foi forte, e o próximo foi no rosto. Perder o foco só o faria apanhar, principalmente se ficasse tagarelando. Ele se estressou mais ainda, tentou se reerguer com mais um golpe, mas era previsível. Ethan segurou o braço do irmão, o puxou contra as estantes. Tentou um chute e Nathan segurou sua perna, puxou também e o jogou ao chão.
Os dois, mesmo com raiva, estavam concentrados. Com Ethan caído, Nathan tentou pisá-lo, mas ele bloqueou com os braços no chão. Ele continuou pisando contra os braços de Ethan, fazendo pressão, chutando várias vezes com raiva. Ethan começou a ver uma raiva particular vindo dali, não era algo momentâneo.
Nathan estava equivocado demais tentando pisar em Ethan. No último chute, ele bloqueou e então empurrou. Nathan caiu nas estantes de novo, as ferramentas caíram atrás. Ethan o segurou e jogou para a parede, derrubando mais algumas tralhas no caminho. Nathan tentou se apoiar na parede, os dentes rangendo.
Ethan segurou sua cabeça pelas costas e a bateu contra uma caixa de distribuição de eletricidade. A tampa da caixa caiu com a pancada, a fiação ficou completamente exposta. Ethan puxou um dos fios até rasgar. As duas pontas divididas faiscavam eletricidade sem parar. Tentou bater a cabeça de Nathan contra os fios partidos sem se importar com os danos que isso causaria. Nathan sentiu o perigo, desta vez, sentiu medo. Seus braços forçavam na parede para impedir que seu rosto se chocasse contra a fiação elétrica exposta.
— Você tá sentindo também?! — Nathan estava ficando cada vez mais louco, mesmo com o rosto tão perto da fiação. — Você também quer acabar comigo, não é?!
Por um momento, Ethan percebeu o que estava fazendo. Se Nathan cedesse e seu rosto tocasse aqueles fios os danos seriam graves. Era bem possível a morte de seu meio-irmão.
— Seus filhos não parecem estar se dando bem, Anthony… — disse o homem com cabelos bagunçados, ao lado de Anthony na administração, observando as câmeras do galpão também. — Não acha que devemos interferir?
— Eles vão se entender — respondeu, tomando uma xícara de café enquanto assistia.
Os braços de Nathan não iriam resistir muito mais, então decidiu agir rápido. Tirou uma das mãos rápido para rasgar os outros fios e tentar conectar todos de uma vez só. Um curto circuito aconteceu em menos de um segundo, seguido de uma pequena explosão. Os dois foram jogados para trás quando o distribuidor explodiu, as luzes falhas do galpão se apagaram completamente. Todos no jogo Caça ao Rei ficaram na completa escuridão após o som da explosão elétrica.
Quando as luzes se apagaram por completo, Ethan desapareceu na escuridão. Nathan procurou pelos lados, mas não podia ver absolutamente nada.
— Você quase me matou… quase me matou por uma garota… — Nathan riu mais uma vez. — Você realmente merece o sobrenome que tem.
No outro lado do galpão, Brittany Taylor já havia conseguido uma boa quantidade de cartas. A maioria dos vinte competidores estavam reunidos ali. Tinham formado um esquema em um único ponto, decidindo que pelo menos uma pessoa daquele grupo teria um rei. Então juntaram todas as cartas de ouros que tinham, e montariam um esquema pacifico para tentarem conseguir todos os quatro reis em um único ponto só, e então decidir o que fariam. Mas os planos foram destruídos quando as luzes se apagaram. O galpão inteiro foi coberto na pura escuridão.
Brittany se sentiu assustada, deu alguns passos para trás, olhando os arredores. Aproveitando a oportunidade de estarem em escuridão total, alguns começaram a avançar em outros para roubar suas cartas à força. Nessa lógica, todos que se reunirão para seguir o esquema começaram uma guerra para conseguir cartas aleatórias. Brittany se afastou de toda a bagunça devagar, até que encontrou um lampião em uma das mesas no galpão. Estava bem velho, mas ainda funcionava. O acendeu e se aproximou dos outros.
— Esperem! — exclamou ela. — Nós não… precisamos nos rebaixar a esse nível, não somos animais.
O lampião era suficiente para iluminar todos os presentes ali. — O nosso plano inicial não é benéfico para todos nós, mas pelo menos… alguns terão a chance de sair daqui. Sei que estão assustados, eu também estou, mas se conseguirmos juntar todos os quatro reis em um lugar só, teremos uma esperança a mais para cada pessoa aqui! Podemos tentar… detectá-lo com o bracelete, todos de uma vez. E caso falhe… talvez, o mais justo seja fazer uma votação.
Todos a olharam com desconfiança, mas de fato, aparentemente as duas opções traziam uma certa sensação de esperança. Procurar o rei como selvagens era o que já estavam fazendo desde o início, o que se mostrou não muito funcional até então.
— Então… podemos formar uma espécie de “tribo”. Somos pelo menos dez pessoas, podemos conseguir quantas cartas nós quisermos. Se alguém tiver o rei, nós pediremos… se não nos derem, então nós roubamos.
O jeito mais agressivo da coisa atraía os presentes. Eles aceitaram a ideia e seguiram Brittany, que era sua líder pois estava mais lúcida naquela situação. Mas ao mesmo tempo desconfiavam dela, pois podia passar por cima deles no último momento, com todos os reis em mãos. Restavam apenas sete minutos de prova.
Nathan procurava Ethan na escuridão como se fosse um caçador.
— Meu irmãozinho, cadê você? — Ele andava cuidadoso na escuridão entre as inúmeras prateleiras de tralhas e coisas antigas armazenadas, como caixas. — Por favor, não me diga que já paramos.
De repente, Nathan ouviu um pequeno som vindo de seu bracelete. Era o som de alguma carta sendo detectada… esta carta, era um rei. Ethan estava logo ao lado de Nathan, escaneando o próprio rei no bracelete do irmão.
— Sim, nós paramos aqui.
Nathan tomou um susto e se afastou.
— Que foi? Desistiu e vai entregar o rei para mim?
— Sim, você venceu. Um dos dois reis que te mostrei antes era verdadeiro. E agora, ele é todo seu.
Ethan mostrou o rei ao Nathan, bem difícil de se enxergar naquela escuridão. Nathan achou tudo aquilo muito estranho, e estava certo. Ethan não o entregou o rei, apenas rasgou a carta ao meio. O pequeno chip que o bracelete usava para detectar a carta caiu no chão, e Ethan pisou em cima dele.
— Que é que você tá fazendo?!
— O rei é seu — afirmou Ethan, mais uma vez. — Ninguém vai poder escaneá-lo com o chip quebrado.
Nathan riu, sentindo-se superior.
— Você só pode tá brincando.
— Não estou. Inclusive, boa sorte para sobreviver a eles. — Ethan mostrou o próprio bracelete, e o nome “Nathan Kim” apareceu como um dos portadores de um rei, abaixo de alguma outra pessoa com o nome “Andrew Parker”. — Você vai virar um dos alvos. Eles vão caçar você, mas você não tem rei nenhum. Boa sorte se conseguirem roubar o seu rei com uma carta de ouros… se isso acontecer, você já era.
Uma das regras do Cara ou Coroa era que independente da carta roubada pelo naipe de ouros, deve ser entregue pacificamente ao usuário. Caso contrário, será desclassificado pela resistência. Nathan gravou o rei no bracelete, mas a carta do rei estava destruída… Não poderia o entregar caso perdesse em algum destes duelos.
— Não… — Apenas duas pessoas detectaram o rei nos braceletes, o que significava que a grande massa iria caçar esses dois, incluindo Nathan. — Você não seria capaz de…
Mas quando se deu conta, Ethan já havia desaparecido. Sacrificou o próprio rei para enfiar Nathan em uma emboscada. Já estava ciente dos pequenos grupos formados para conseguir um rei de maneira mais simples, e esses pequenos grupos iriam atrás dos chamados Andrew e Nathan.
— Que merda… — Nathan se sentou no chão, mal conseguindo enxergar as coisas ao redor. — Me equivoquei. No fim, ele estava certo. — Nathan riu, se aconchegando na própria angústia. — Quando eu não conseguia fazer algo direito… Anthony me chamava de imprestável. Usava exatamente o nome Nathan… Mas quando eu fazia algo devidamente correto, ele sempre dizia… “Muito bem, Ethan”...
“Este… não é o meu nome.” Eu dizia, e então ele falava o meu nome do jeito certo… “Mas quem é Ethan, papai”... Mas ele nunca… respondeu.
Eu sempre soube que ele tinha outro filho… e que esse outro filho aparentemente fazia as coisas melhor do que eu. Por isso, ele preferia este… “Ethan”.
Eu continuava errando, e ele me desprezava. E quando eu acertava, era raro de ouvir um “Muito bem, Nathan”, com o meu nome e não o dele. Eu decidi que um dia eu queria encontrar este Ethan… eu decidi que eu queria ver se ele realmente era tão superior a mim assim. Queria ver do que ele era capaz, mas talvez, no fundo eu só quisesse que meu pai gostasse mais de mim…
Passei a odiar este nome… “Ethan”. Mas ao mesmo tempo, era tão parecido com “Nathan”...
— Talvez, em outro lugar… este “Ethan” estivesse tão perdido quanto eu estava…
Nathan fechou os olhos, aguardando na escuridão. Começou a se arrepender um pouco depois que viu que todo aquele ódio era inútil. Finalmente estava vendo Ethan como algo próximo de um irmão.
Enquanto isso, Ethan fugiu para um banheiro no galpão. Os azulejos brancos o deixavam um pouco mais claro e mais fácil de se enxergar. Havia um espelho em cima da pia, onde Ethan observava o próprio rosto. Lembrou-se de como tentou enterrar a cara do irmão em uma fiação de alta voltagem, o que poderia ser bem perigoso. Mas ao mesmo tempo não sabia ao certo o porquê fez isso com ele. No fundo se sentia… vazio.
— Por que eu simplesmente não podia ter uma família normal… com um pai normal… um irmão normal… — Uma lágrima caiu sobre a pia, ciente de que ninguém estaria ali para presenciar sua tristeza. Ethan olhou para o próprio reflexo no espelho, sentiu ódio de sua imagem. Por puro impulso, socou o vidro com tudo, espatifando o vidro do espelho em vários fragmentos. — Por que eu não podia ser a porra de alguém normal?!
Mas então se lembrou de seus próprios motivos. Por que estava num lugar como aquele? Competindo com pessoas como aquelas? Para impressionar Anthony? Com certeza não. Apenas porque Katherine pediu? Ou talvez…
Ele se lembrou do sorriso daquela pessoa, um sorriso reconfortante. — Aria… — a única pessoa quem não iria querer decepcionar. — Não posso perder ainda.
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