Apenas um Sonho Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1

Capítulo 15: Eu te Amo

Ali estava Anthony Kim em pessoa. O misterioso pai de Ethan que agora fazia parte dos administradores da Betrayal Lines. Ethan ficou chocado por um momento quando deu de cara com ele, mas logo manteve seu olhar padrão, demonstrando tranquilidade. Ele deu um passo para trás, e Anthony passou o olho de cima a baixo por Ethan.

— Ethan Kim… Uma surpresa inesperada.

— Olá, pai.

— Então… — Anthony entrou na sala, fechando a porta atrás dele lentamente. — O que lhe traz para esse lugar esta noite? Se não estou enganado, os dormitórios já deveriam estar trancados.

Ethan engoliu seco, baixou um pouco a cabeça e deu mais um passo para trás. Anthony pôde perceber um pouco do nervosismo por trás da pele de Ethan.

— Levantei para ir ao banheiro. Demorei muito e a Isabel já tinha trancado os dormitórios… e então…

— E então ela lhe mandou para a sala de reuniões da Betrayal? Inconveniente da parte dela. Apesar de que alguns minutos atrás, estava ocorrendo uma reunião nesta sala. O que você acha disto?

— Eu não acho nada. Quando cheguei aqui a sala estava vazia.

— É claro que estava — rugiu Anthony, aumentando o tom de voz. Começou a andar em torno da mesa no centro da sala. — Se não, alguém notaria o garoto se esgueirando através do scanner que coincidentemente não o detectou.

— Não detectou pois a Isabel o desativou assim que me trouxe para esse lugar.

As reações de Ethan eram rápidas e precisas, não demonstrando sinais de desconforto ao responder e nem dava brechas ao seu pai para que pudesse acusá-lo. O tempo de resposta era quase instantâneo.

— Certo… Se é assim, então nós podemos convidar a própria para vir e contar a nós dois o porquê ela escolheu esse lugar.

— Preocupado com outras presenças nessa sala, pai? Existe algo aqui que participantes não possam presenciar? Ou é apenas mais uma sala de reunião comum? — Ethan se aproximou lentamente, erguendo novamente a cabeça, encarando seu pai diretamente. Seu olhar não mudou, continuou transmitindo tranquilidade. — Pois se for, não vejo problemas em Isabel me colocar para esperar aqui.

Anthony resmungou. Encarou Ethan de volta, e colocou as mãos por trás das costas.

— Acredito que não exista nada que os outros não possam ver nesta sala. — Anthony começou a andar em torno da mesa novamente, e Ethan seguiu pelo lado contrário, dando voltas pela mesa também. — Mas por que Isabel te deixaria aqui, sem explicações e sairia para fazer outras coisas, apenas te abandonando nesta sala?

Pela primeira vez, Ethan ficou sem argumentos. Parou de andar, e desviou o olhar para baixo, mordendo o próprio lábio.

— Eu não sei — respondeu, rápido. — Talvez devêssemos… procurar pela Isabel e perguntar à ela.

— Entendo… Você quer sair a procura da Isabel para questioná-la o motivo de ela ter lhe deixado na sala administrativa, de reuniões, sem ter lhe dito mais nada…

— Exatamente.

— Mas e se ela desmentir e dizer que nunca lhe enviou para essa sala? O que vamos fazer em seguida…?

— Então eu provavelmente estaria mentindo para te enganar. Mas por que eu mentiria, pai? — O confronto começou novamente. — Por que eu invadiria esse lugar se não tem nada de anormal por aqui? Como eu passaria pelo scanner sem alarmar vocês?

— Eu não sei o que passa na sua cabeça nesse momento. Então por que não me diz você? O que se passa na sua cabeça?

— A verdade, e eu acabei de contá-la a você. Agora… me diga, se o que estou te dizendo é mentira, e não tem nada que eu possa ver aqui… Na sua cabeça, o que eu estou fazendo aqui?

Anthony não respondeu. Encarou Ethan de cima, refletindo a mesma tranquilidade que Ethan demonstrava em seu olhar.

— Talvez a coisa guardada no seu bolso direito nos revele o motivo de você estar aqui.

Naquele momento, o coração de Ethan fincou em seu peito. Seu corpo gelou, sua voz travou e seu corpo arrepiou. Aquele era exatamente o bolso onde ele havia colocado o pendrive.

— Essa coisa…? — Ethan tirou o pendrive do bolso, e o mostrou ao seu pai. — É um pendrive velho.

— E por que está carregando um pendrive velho por aí? Não disse que iria apenas ao banheiro…?

— Estava no meu bolso desde de manhã.

— Se me permite dar uma olhada… — Anthony estendeu a mão por cima da mesa até Ethan, que estava do outro lado.

O garoto, relutante, entregou o pendrive nas mãos de Anthony. Ele o analisou cuidadosamente, passando um dedo por cima da parte amarela do pendrive.

— Entendo… — Anthony caminhou lentamente até o canto da sala, e ligou uma espécie de lareira automatizada, que funcionava como um fogão. Anthony calibrou a potência da lareira, e o fogo subiu suavemente.

— Sabe o que é isto?

— Uma lareira…

— Sim, fogo. Suponho que esta coisa não tenha valor nenhum para você. Já está velho afinal, não é? — Anthony aproximou a mão segurando o pendrive para perto do fogo. — Então não se importaria se eu…

Ethan encarou a cena por alguns segundos, engoliu seco mais uma vez, e soltou o ar dos pulmões.

— Vá em frente, pode queimar. Te garanto que não fará falta alguma…

Anthony estava prestes a jogar o pendrive, até que a porta da sala se escancarou. Era David Cohen, ofegante após atravessar o colégio para retornar até aquele lugar.

— É meu pendrive, senhor! Tem alguns arquivos de músicas salvos aí… Eu emprestei para o Ethan de manhã… — David deu uma pausa para respirar. — E está com ele desde então. Nós dois ficamos presos para fora do… dormitório…

Anthony franziu a testa, encarou David com desgosto. Soltou um resmungo e então jogou o pendrive em cima da mesa, que deslizou até as mãos de Ethan novamente.

— Certo… Voltem para os seus dormitórios, lhes darei permissão para abrir a porta assim que eu chegar ao meu escritório.

David correu para o lado de Ethan, e o garoto soltou um suspiro, aliviado. Anthony lentamente caminhou até a porta, mas parou à beira da saída. Deu um último olhar ao Ethan, e então disse:

— Não esperava que logo você fosse trapacear, Ethan. E principalmente… se fosse para fazer isso, acreditei que era capaz de se safar sozinho. É uma decepção…

Anthony deixou a sala, e Ethan ficou imóvel. Aquelas palavras o atingiram tão profundamente que ele não teve nenhuma reação. Apertou o pendrive com força nas mãos, e cerrou os dentes, decepcionado.

— Bom… pelo menos agora nós podemos vir aqui para ver os dados das provas! A Betrayal está nas nossas mãos — exclamou David, mas Ethan teve uma reação diferente.

— Nós não vamos mais usar essa merda. Se você quiser, faça isso sozinho. Eu não preciso disso… — disse, dando agressivamente o pendrive para David, e então saindo da sala claramente magoado. David sentiu empatia por Ethan, e ficou triste também.

Os dois seguiram até o segundo andar novamente, e quando chegaram à porta do dormitório, puderam abri-la normalmente. David e Ethan foram dormir, e ao mesmo tempo que Ethan pegou no sono, Aria finalmente pôde dormir também.

Dentro de mais um sonho, desta vez no mesmo lugar de antes. Uma cerejeira isolada em uma pequena ilha com água dourada em volta. Um banco de madeira escura, com detalhes angelicais esculpidos nele. Sentada no banco estava Aria, acariciando os pelos de um pequeno gato cinza deitado em seu colo.

Ethan apareceu logo atrás da cerejeira e se aproximou do bando em que Aria estava. Colocou as mãos no ombro dela, e massageou levemente.

Hum? — A garota olhou para cima, e então viu o semblante de Ethan. — Ah, oi! Ethan imaginário…

Aria agora achava que o Ethan dos sonhos era apenas fruto de sua imaginação. O garoto negou o fato de ter os mesmos sonhos estranhos que ela anteriormente.

— Imaginário? — Ethan fingiu não saber de nada por enquanto.

— Você não entenderia…

Ethan deu a volta pelo banco, e se sentou ao lado de Aria. Agora a garota imaginava que aquele era ele apenas nos sonhos dela, então ele poderia agir como bem entendesse. Ethan não perdeu a chance para abraçá-la levemente, deixando que o peso do corpo da garota caísse sobre o dele.

— Você parece um pouco triste, Aria…

— Ethan me disse que não tem os mesmos sonhos que eu… Então você não é real. Talvez o Ethan de verdade não sinta absolutamente nada por mim…

Ethan arregalou um pouco os olhos, e então começou a acariciar os cabelos de Aria.

— Tem certeza? Ele te recebeu bem quando você foi a casa dele… Talvez se fosse outra pessoa, ele teria mandado ir embora.

— Você acha…? Haha, é estranho pedir dicas sobre o Ethan real ao Ethan imaginário…

— Você não deveria desistir, Aria. Não acho que as coisas estavam indo mal…

— Vindo de você é fácil… você deve falar apenas o que eu quero ouvir mesmo.

Ethan deu um sorriso à ela, ainda acariciando os cabelos da garota.

— Ele parece concentrado nos jogos. Talvez para provar alguma coisa a alguém… — disse Ethan, com seu pai em mente.

— Hum? Para quem?

— Não sei, só ele sabe. Se ele por acaso for rude com você… talvez seja apenas uma forma dele se expressar. Você disse que queria mudá-lo, não disse? Eu acredito que você consegue…

Aria riu nos braços de Ethan, se aconchegando mais e fechando os olhos.

— Acho que você tem razão. Mas, Ethan… se você vem da minha imaginação mesmo, deve saber o que eu gostaria de ouvir agora, não é? Eu sei que não vai ser do Ethan real mas… é que…

Antes que ela pudesse completar, Ethan já entendeu exatamente. Sentiu um leve aconchego no peito, e então disse cada letra daquela frase, que imaginou que nunca diria para alguém tão espontaneamente.

— Eu te amo, Aria.

Aria riu, mesmo sabendo que as palavras não foram do Ethan real. Pelo menos, era o que ela achava.

— Eu também…

Notas:

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