Apenas um Sonho Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1

Capítulo 16: Cara ou Coroa

Parte 1

 

No dia seguinte, todos tinham que acordar mais cedo pois o próximo jogo; Cara ou Coroa, daria início às 11:00hrs da manhã. Às 09:00, Ethan Kim e David Cohen estavam na cantina comendo juntos. A comida naquela manhã era uma sopa de mandioca. Estava bem frio, pois o outono havia chegado, então acharam que uma sopa seria melhor para esquentar seus corpos antes das provas. David como sempre não perdia tempo, e já estava na terceira tigela de sopa. Já Ethan, mal tinha comido metade de sua sopa. O garoto estava sem fome, e ficou apenas encarando a sopa enquanto mexia no conteúdo da tigela com a colher.

— Não vai terminar de comer? — Perguntou David. — Se não for, eu aceito terminar sua tigela!

Ethan não respondeu, continuou encarando a sopa com um olhar neutro, porém vazio. Era visível que o garoto ainda estava sentindo as palavras de seu pai na madrugada passada.

— Olha… vai dar tudo certo. Você é bem melhor do que ele pensa, não é? Sim, você é!

— Para com isso.

Ethan tomou uma colher da sopa e então largou a colher encostada no interior da tigela. Firmou os braços na mesa e entrelaçou os dedos das mãos. Ethan estava realmente pensativo naquele momento.

— Pelo menos a gente pode se sair bem no próximo jogo. Sabemos como funciona… ou melhor, você sabe. Está no seu bracelete agora, né?

— Eu não vou ver o que tem aqui, Cohen. Não preciso disso para passar, e nunca vou precisar.

— Vai perder essa chance? — Ethan estava começando a ficar irritado. Sua testa franziu um pouco, e ele soltou um longo suspiro. — Vai ser os pontos mais fáceis que a gente vai conseguir! E provavelmente, vamos conseguir em maior quantidade…

Aquilo foi demais para alguém que já estava de saco cheio. Ethan se levantou da mesa, e sem dizer uma palavra, ele saiu da cantina. David apenas observou o garoto se distanciar, com um sentimento de frustração em seu corpo. Além de estar preocupado com o bem-estar de Ethan, queria saber os segredos do próximo jogo também. Para ele, estava bem complicado de conseguir os pontos desde o primeiro jogo.

David voltou o foco para a sopa, e quando estava prestes a tomar mais uma colherada, sentiu sua cabeça ser puxada em direção a tigela repentinamente. Era Joey Santiego, empurrando David agressivamente em direção a mesa. O rosto de David se chocou com a tigela e sopa voou por toda parte. As poucas pessoas presentes na cantina se levantaram e começaram a observar de longe.

— Estava precisando de um banho, Cohen. Não aguento mais esse cheiro de cereal aonde quer que você esteja.

Joey, acompanhado por Kevin Jhonson, deixou a cantina e ninguém tentou sequer confrontá-lo na hora. David lentamente foi tirando a cara de dentro da tigela, seus óculos grudados na sopa ficaram boiando na tigela, enquanto o garoto olhava o próprio reflexo nas lentes do óculos, com uma expressão de choro.

Mas para a sua surpresa, foi acolhido por alguém inesperado. Sarah Megan, com seus belos cabelos verdes e olhos amarelados. Veio com um pequeno paninho em mãos e sem dizer nada, apenas começou a limpar a sopa no rosto de David delicadamente. O garoto não teve reação, e quando Sarah percebeu que nem sequer avisou que iria ajudá-lo, ela ficou um pouco sem graça. Foi a única que teve atitude para ir ajudar o pequeno judiado.

— E-eu…

— Shhh, só um segundo — interrompeu ela, terminando de esfregar o paninho na cara de David. Ele continuou sem ter o que dizer a ela, e só permitiu que as mãos delicadas de Sarah continuassem. Era um tanto confortável sentir aquele toque.

— Obrigado… — disse, quando Sarah finalmente tirou o pano da cara de David. Ele tirou o óculos de dentro da tigela, se levantou e começou a se afastar do local rapidamente, envergonhado. Sarah seguiu atrás dele, segurando seu ombro.

— Espera, deixa eu te ajudar… — disse, olhando nos olhos de David. O garoto engoliu seco, e não recusou.

Sarah ajudou David a lavar os óculos, e também forneceu um pouco de ajuda para o psicológico abalado do garoto. Ele já estava um pouco mais confortável com a presença de Sarah, então ela o levou para a biblioteca para que pudessem conversar a sós.

— Ele sempre faz isso com você?

— Às vezes… mas você não precisa se preocupar com isso. Ele nunca fez nada demais.

— Ele já te espancou em frente a fachada do colégio. Tem certeza de que está tudo bem?

— T-tenho! — exclamou, confiante. — Não precisa se preocupar, tudo bem?

— É claro que eu preciso. Isso não pode continuar desse jeito, entendeu? Nós vamos falar com os superiores… Vem!

— Não! — David se afastou da mesa. — N-não precisa… está tudo bem, eu já te falei.

— Arh… eu não vou simplesmente te deixar assim. Olha, temos um tempo até a próxima prova… Quer me fazer companhia aqui na biblioteca? — Perguntou, com um sorriso meigo.

— Acho que pode ser…

Andando pelos corredores do segundo andar, Ethan parecia cabisbaixo. Com um olhar meio morto, observando o pátio pelas janelas enquanto andava. Sua solidão foi quebrada por uma presença querida adiante, era Aria Harper, correndo saltitante até Ethan.

— Oie! — exclamou, e então notou a expressão de Ethan. — O que foi? Está triste hoje?

— Não, não é nada. Precisando de alguma coisa?

— Na verdade… — Aria se aproximou demais de Ethan, quase se esfregando no braço do garoto. — Queria saber se nós… pudéssemos passar a próxima prova juntos, assim como fizemos nas outras…

Ethan a encarou por alguns instantes, enquanto ela permanecia com aquele olhar otimista e contagioso. Só de ver a alegria de Aria por estar perto de Ethan, lhe deixava um pouco mais confortável.

— Não.

— Não?! — Ela ficou chocada.

— Se eu realmente precisar da sua ajuda, vou te procurar. Mas por agora, não preciso.

Ethan deixou Aria, e a garota ficou um pouco decepcionada com aquela resposta. Mas considerou o fato de Ethan não aparentar estar de bom-humor naquela manhã, então não ligou muito. Talvez só tenha tido uma noite ruim.

Emma Brown, “melhor” amiga de Aria, estava sozinha, isolada em seu dormitório. Fazia um tempo que não se aproximava de sua amiga Aria, afinal não se sentia bem ao ver ela tão próxima de Emily Turner. Emma estava deprimida, e faria de tudo para conquistar a atenção de sua querida amiga de volta. Já estava considerando toda aquela situação um inferno; compartilhava o dormitório com a pior pessoa possível, Joey Santiego. Tinha acordado cedo naquele dia, então não ficou perturbando muito a pobre garota. Pelo menos, não até o momento.

Ouviu-se um arrombo vindo da porta, e era Joey chegando com toda sua imponência. Desenrolou a blusa vermelha da cintura e a jogou em cima da cama de baixo da beliche, que era a dele. Emma dormia na de cima. A garota estava sentada na poltrona, com a cabeça relaxada sobre seus braços na mesa.

Joey se aproximou, curvou o corpo por cima de Emma até ficar bem próximo do ouvido da garota. Soltou um longo suspiro bem no ouvido dela, apenas para incomodá-la. Emma deu uma leve contorcida, e então Joey deu dois tapinhas nas costas dela.

— Se ficar tanto tempo nessa posição, vai envelhecer mais do que já parece. Você em pé é tão curva quanto um bumerangue.

— Vai se foder!

— Como é que é? — Ele segurou Emma pelo pescoço, e jogou-a contra a parede. — Vai se o quê?

— Vai para o inferno Joey! Me deixa em paz!

Ele chegou bem próximo a ela, e a encarou bem no fundo dos olhos. A respiração de Emma estava mais pesada com a raiva, e Joey achava isso satisfatório.

— Eu gosto dessa sua raiva… — disse, e então sussurrou no ouvido dela. — É selvagem…

Joey segurou os dois braços de Emma contra a parede, e lhe deu um sorriso maléfico. Aquela não era a primeira vez que aquilo acontecia, e Emma já tinha uma noção de como agir agora. Esperou Joey se aproximar, e então mordeu fortemente a boca de Joey. Um local sensível, que sangrou quase que imediatamente. Ele arredou para trás, resmungando furiosamente.

— Porra! Desgraçada…

Algumas horas depois, a prova Cara ou Coroa estava prestes a começar. Aconteceria nos fundos do colégio, em um local bem isolado que provavelmente maior parte dos participantes não tinham conhecimento sobre aquela área. Alguns minutos antes de começar, Ethan ainda estava no segundo andar, sozinho. Estava refletindo um pouco consigo mesmo, e percebeu que talvez, se importar demais com o que seu pai pensa seria inútil. Trapacear ou não, jogar limpo ou sujo, são dois lados de uma moeda. Independente da face da moeda, seja Cara ou Coroa, o que importante é que sua face sempre esteja tornada para ti.

Contornando todos seus princípios sobre decepcionar ou cumprir as regras de seu pai, ele ergueu o próprio bracelete, visando todas as informações que tinha salvo no pendrive sobre o jogo Cara ou Coroa.

— Humph…

Foi tempo o suficiente para entender e absorver todas as informações. Logo ele desceu para os fundos do colégio e se uniu aos outros também, pois logo se daria início ao quinto jogo da Betrayal Lines.

Todos já estavam esperando ali, logo à frente da escadaria que levava até os fundos do colégio. O espaço era bem aberto, com três corredores divididos adiante. Um homem bem vestido estava parado, liderando a multidão. Era um dos supervisores, que estava prestes a ditar as instruções do jogo. Não havia um telão naquele local, então o título da prova era exibido em um letreiro acima do segmento dos três corredores, um letreiro branco brilhante que logo se acendeu, exibindo a frase: Cara ou Coroa.

— Bem-vindos, senhores — começou o homem adiante. — À nossa quinta prova da Betrayal. — Ele ergueu as mãos ao alto, enaltecendo o letreiro que marcava o nome do jogo acima dele. — Meu nome é Andrew Smith. Sem mais enrolações, vamos ao que interessa…

“As regras são simples. Este local para vocês hoje será como um labirinto de portas. O objetivo também é simples; encontrar e alcançar o fim do labirinto. Para abrir uma porta, você precisa vencê-la em um jogo simples de Cara ou Coroa. Cada um terá uma face própria exibida no bracelete, que definirá se sua face é Cara, ou se ela é Coroa. Vocês rodarão no jogo da sorte, e se não tiverem azar e a face da moeda cair para você, o acesso será liberado apenas para o vencedor da jogada.

Vocês têm sete chances. Se ganharem, não perdem nada e poderão prosseguir. Se perderem, perdem uma das sete chances. Se chegarem a zero, são eliminados da prova. Há também uma maneira de arrecadar mais jogadas. Isto é, desafiando um competidor aleatório para o Cara ou Coroa. O vencedor, recebe a jogada e o perdedor obviamente a perderá. Regras simples, não? Então sem mais delongas, que se inicie… O Cara ou Coroa.”

— Canalhas… — murmurou Ethan, já sabendo como o jogo funcionava de verdade e vendo como o sistema usava as instruções para manipular as pessoas.

Os competidores foram se separando entre os três corredores à frente. Nas paredes, haviam algumas portas um pouco distantes umas das outras. Eram feitas de metal, e tinham uma pequena telinha no centro de cada uma. Não apresentavam maçaneta e nem fechadura.

— Como é que isso aqui deve funcionar…? — Perguntou Liam Bernard, a si mesmo.

— Tudo nesse lugar funciona pelo bracelete. Tente usá-lo na porta, talvez funcione — disse Derrick Evans, que apareceu repentinamente na escuridão daqueles corredores, que eram bem mal iluminados. A ambientação era parecida com um hospital bem velho.

— Acho que você tem razão…

Liam apontou o bracelete para a porta, e uma moeda foi exibida na tela. Um botão escrito “Desafiar” apareceu no visor do bracelete, e Liam logo o pressionou. A moeda na tela da porta começou a girar bem rápido, e a face da Coroa foi exibida. Liam olhou o bracelete para verificar, e sua face era Cara.

— Arh… que saco. Perdi uma jogada.

— Que azar — respondeu Derrick, se aproximando da porta ao lado da que Liam tentou, e desafiando-a. A moeda na tela da porta girou mais uma vez, e exibiu a face correspondente de Derrick. — Mas ainda bem que o azar é só seu. — A porta se abriu, e Derrick passou por ela. Imediatamente ela tornou a se fechar.

Liam encarou a porta que ele tentou com frustração.

— É… acho que o azar é só meu mesmo.

No corredor da direita, Aria estava acompanhada por sua grande amiga Emily Turner. As duas avançaram juntas em linha reta, pois não haviam apenas as portas pelas paredes, mas haviam outros corredores liberados também. Era realmente um labirinto. Porém, as duas decidiram apenas seguir para frente, até que Aria decidiu tentar a sorte. Virou-se para uma porta à sua esquerda, e engoliu seco.

— Vai tentar aí, Ari? Bom, podemos ir nessa juntas.

— Não, vá na de trás. A que liberar a gente passa…

— Pode ser.

Emily se dirigiu para a porta no outro lado do corredor, e as duas se prepararam. Ergueram os braceletes na mesma hora, e as duas portas exibiram a moedinha que logo começou a rodopiar. A face de Aria era Cara, e a porta exibiu Coroa. Com Emily aconteceu o mesmo, a porta exibiu sua face oposta.

— Perdi uma chance! — Exclamou Emily, batendo o pé no chão.

— Nós duas perdemos… — Aria soltou um suspiro. — Isso vai ser complicado.

Logo, Brittany Taylor se aproximou de Aria, acenando para a garota.

— Olá! Como vão as coisas por aqui?

— Já perdemos duas chances — bradou Emily, estressando-se facilmente.

— Hum… em qual porta vocês estão tentando?

— Eu tentei nesta aqui. — Aria apontou para a porta, e Brittany se aproximou.

— Deixe-me ver…

Ela desafiou a porta para uma partida, e a moeda começou a girar. Logo exibiu a face Coroa, e Brittany também perdeu.

— Oh…

— Ela deu Coroa para mim também. Que saco…

— Dane-se, eu vou tentar nessa aqui.

Emily se aproximou na porta ao lado das duas, e ergueu o bracelete a ela. Logo a moeda começou a rodar, e Emily venceu a rodada. A porta se abriu para ela, e com olhos brilhando, ela atravessou a porta exclamando:

— Consegui! — A porta se fechou em seguida.

— Emily! Espera! — Já era tarde demais. A porta se fechou e agora as amigas estavam separadas. — Que menina eufórica…

No corredor da esquerda, Ethan seguia solitário. Não estava tão preocupado com o jogo assim, afinal já sabia a resposta e sua única preocupação seria encontrar a saída do labirinto, coisa que não foi especificada nas informações que ele adquiriu na urna holográfica.

Porém, Ethan não estava preocupado com isso no momento. De repente parou, e recostou o corpo em uma parede ao lado de um dos corredores. Ao fundo, estavam Joey e Emma, enquanto o valentão prendia a garota na parede mais uma vez, sorrindo para ela.

— Podemos passar esse aqui juntos, princesa… Só você seguir os meus passos. Agora vamos, desafia aquela porta ali vai…

— Me larga Joey!

Emma chacoalhou o corpo numa tentativa inútil de se soltar.

— Só se você concordar em ficar junto comigo…

O rosto de Joey foi se aproximando lentamente do de Emma, mas sentiu um mal pressentimento. Olhou para o lado, e viu Ethan segurando um celular, filmando tudo o que estava acontecendo. Joey soltou Emma na hora, que correu para trás de Ethan assustada.

— Kim…? — perguntou Joey, arregalando os olhos.

— Santiego — respondeu, soltando o botão para encerrar a gravação.

Notas:

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