Volume 1 – Arco 1
Capitulo 2: Ecos da Mudança
Em poucos dias, as naves estavam prontas para o voo, após um intenso período de trabalho e um experimento crucial.
Mesmo com o pouco conhecimento que possuíam sobre as naves, eles seguiram em frente, conscientes de que a morte poderia alcançá-los a qualquer momento.
Ainda assim, a determinação era maior que o medo. Um a um, subiram nas naves antigas, suas estruturas enferrujadas rangendo sob o peso de suas esperanças e temores.
Ao se acomodarem nos assentos quase que destruídos, olharam para o longo painel de controle à frente. Os botões brilhavam com símbolos em uma língua estrangeira, incompreensíveis para seus olhos cansados.
Kalin, um dos Therianos, posicionado à frente do painel. Suas mãos tremiam ligeiramente enquanto deslizavam pelos controles.
Ele suspirou fundo, o olhar fixo nos símbolos estranhos do idioma estrangeiro de Alfhenia. Sem outra opção, começou a apertar os botões, torcendo desesperadamente para que estivesse fazendo a escolha certa.
Minutos depois. O silêncio da cabine foi quebrado pelo som da máquina ligando-se, com seus motores roncando e luzes piscando, trouxe uma nova onda de esperança e excitação...
A nave se elevou e finalmente, com a nave rasgando o céu escuro de Thérias e subindo ao vácuo do espaço, Khelos lançou um olhar firme para seu pequeno grupo.
Dentro da nave enferrujada, o eco metálico de cada movimento ressoava como o pulsar de um coração prestes a enfrentar seu último desafio.
Eles não eram mais apenas sobreviventes de uma guerra devastadora; agora, eram os últimos guerreiros de Thérias, carregando em seus corpos frágeis e famintos o peso de uma missão grandiosa.
Enquanto o silêncio do cosmo os envolvia, Khelos refletiu sobre a grandeza do objetivo que tinham à frente.
Ele não apenas buscava vingança contra os humanos que destruíram seu mundo, mas acreditava que, ao exterminá-los, poderiam trazer equilíbrio e justiça para todo o cosmo de Alfha'rá, pois, ele tinha certeza que o humanos eram as pragas da morte.
Porém, havia um detalhe que os Therianos ignoravam — o erro fatal que os condenaria.
(Alfhenia, o planeta dos invasores, não era habitado apenas por humanos comuns. Lá, existiam meta-humanos e seres naturais, místicos e poderosos, muito além da força e capacidades dos Therianos.)
Esses guerreiros, magros e sem habilidades especiais, estavam voando pelo vasto e vazio cosmo, cheios de ódio e sede de vingança.
Mas, sem qualquer noção da verdadeira magnitude do planeta que iriam enfrentar.
Enquanto os Therianos avançavam pelo vazio do cosmos, em direção ao planeta que havia testemunhado a devastação de seu povo, a vida seguia seu curso em Alfhenia.
No continente de Hiden, a rotina era marcada por uma mistura vibrante de tradições e modernidade. Conhecido por ser o domínio dos humanos e meta-humanos, Hiden apresentava um panorama fascinante: uma fusão de castelos e metrópoles, onde a monarquia absolutista e a constitucional se entrelaçavam em uma fusão complexa.
Os conflitos de poder eram constantes. Reis de diferentes regiões buscavam expandir seus territórios e conquistar novas cidades. Ao mesmo tempo, o governo se empenhava em tomar o controle dos castelos, mas a rígida legislação nacional impedia que esses objetivos fossem alcançados de maneira direta e violenta. Hiden, com suas quase 30 cidadelas e metrópoles, era um caldeirão de ambições e rivalidades.
No meio desse tumulto político, havia Michilli. Uma cidade modesta em comparação com as grandiosas fortificações e metrópoles ao seu redor. Michilli era frequentemente esquecida nas grandes questões nacionais, mas possuía uma característica única: um ambiente de paz e simpatia que contrastava com a agitação das grandes cidades.
Era uma manhã comum em Michilli. Em um bairro periférico, distante do frenesi do centro da cidade, uma casa pequena e comum despertava à luz do dia.
Dentro dessa casa, Ártemis, levantando-se de sua cama, quinta-feira do dia 14 de fevereiro de 2019 que parecia ser apenas mais um dia tranquilo na vida da garota. A cidade de Michilli, onde vivia, mantinha seu ritmo sereno, ignorando as ameaças que se aproximavam.
Ártemis levantou-se de sua cama, o sol da manhã filtrando-se suavemente pelas cortinas. Seu quarto estava decorado com pôsteres coloridos de bandas e celebridades que ela admirava.
Vestida em um pijama branco com bolinhas, rapidamente prendeu seu cabelo em um coque despretensioso.
Dirigiu-se ao banheiro, onde lavou o rosto, sentindo a água fria despertar seus sentidos. Em seguida, andou até a cozinha, onde sua família já estava reunida à mesa, com pães frescos, frutas e suco. O aroma reconfortante da comida e o calor familiar preencheram o ambiente.
Árdenia, sua mãe preparava o café da manhã enquanto Armon tomava suco e comia seu pão. E Adym, seu irmão estava ocupado comendo seu melão, mas observava com curiosidade.
— Bom dia, Filha — disse Árdenia, com um sorriso caloroso.
— Bom dia, mãe! — respondeu Ártemis, pegando um copo e um prato dos armários e sentando-se à mesa.
Armon se virou para a bancada atrás dele, pegou cartas e as dirigiu a Ártemis.
— As cartas de aceitação chegaram — anunciou ele, tentando esconder a ansiedade na voz.
Os olhos de Ártemis brilharam de entusiasmo. Ela pegou as cartas e começou a abri-las. A primeira trouxe decepção. A segunda, outra rejeição. Sua esperança começou a diminuir, mas ao abrir a terceira, uma onda de alegria a envolveu ao ler a aceitação.
— Eu fui aceita?! — exclamou, radiante. — Vou estudar na escola de magia!
Depois de ouvir as instruções, ele se virou para Árdenia que se aproximava da mesa com uma jarra de suco na mão.
— Árdenia? Ela não pode morar lá durante um ano! Com direito a visitas a cada três semanas? — disse ele, indignado e preocupado.
Árdenia colocou a jarra de suco na mesa e tentou acalmar Armon, explicando os benefícios e a importância da oportunidade para a filha.
— Armon, é uma chance incrível para ela. É o sonho dela — insistiu Árdenia.
A discussão entre os pais foi breve, mas intensa. Árdenia, com paciência e compreensão, conseguiu convencer Armon dos benefícios da oportunidade para Ártemis em alguns minutos.
— Você está certa, Amor — concordou Armon, finalmente, com um misto de orgulho e relutância. — Se é o que ela quer, então vamos apoiá-la.
Ártemis observou com um sorriso feliz ao ver seu pai a apoiando.
Horas depois, a família estava reunida no quarto de Ártemis, preparando suas malas. Ártemis dobrava camisetas com entusiasmo, enquanto Armon sentado no pé da cama organizava livros e materiais escolares. Árdenia tirava roupas do armário, ajustando tudo com cuidado para maximizar o espaço. Adym, sentado no chão, passava brinquedos e objetos para a mãe. Eles conversavam e riam enquanto a luz suave da tarde iluminava o quarto, criando um ambiente acolhedor e cheio de afeto.
Três dias depois, 18 de fevereiro de 2019
A manhã de segunda-feira começou agitada. Ártemis acordou cedo, com o coração acelerado pela expectativa.Vestida em seu uniforme escolar impecável, com seu cabelo solto ondulado.
Suas malas, cuidadosamente arrumadas no fim de semana, agora estava pronta ao lado da porta. O ar da manhã era fresco, e o som das rodas da mala ecoava pelo piso cerâmico brilhante. enquanto ela a puxava para a minivan da família, um automóvel branco e meio sujo.
Adym, seu irmão mais novo, fazia o possível para ajudar, segurando com dificuldade uma das bolsas mais pesadas, o rosto franzido de esforço. Mesmo com o peso, ele se recusava a desistir, determinado a ajudar sua irmã em seu grande dia.
Toda a família se reuniu ao redor do carro, colocando as malas no porta-malas com cuidado. Ártemis, já sentada no banco de trás, olhava pela janela. Seus pensamentos se misturavam entre a excitação e o nervosismo.
Seu pai, Armon, se sentou ao volante, mas, antes de dar a partida, virou-se para Ártemis com uma expressão de dúvida e preocupação no rosto. Ele perguntou se ela tinha certeza de que queria ir para o internato, sugerindo que ele poderia treiná-la em casa, onde estaria mais segura e próxima da família.
Ártemis sorriu, mas com um ar de seriedade em sua resposta. Ela explicou que a escola oferecia muito mais do que apenas aprendizado, era uma oportunidade única de descobrir seu potencial, conhecer novas pessoas e explorar o mundo mágico além dos muros de casa. Mas, para tranquilizá-lo, acrescentou que a cada três semanas, quando voltasse para visitá-los, ele poderia continuar a treiná-la, mantendo esse vínculo especial entre os dois.
Com essa promessa, Armon deu a partida, e o carro seguiu estrada afora, enquanto Ártemis observava pela janela as paisagens familiares ficando para trás, rumo ao desconhecido.
Chegando à escola, o impacto foi imediato. A família inteira ficou em choque com a grandiosidade do lugar. A construção, imensa e imponente, quase como um castelo, ergueu-se diante deles. Ártemis, no banco de trás, estava radiante, os olhos brilhando com expectativa e animação para o primeiro dia de aula. Seu coração batia forte enquanto ela observava cada detalhe do vasto edifício à frente.
Todos desceram do carro, ainda um pouco atordoados com a magnitude da escola. Ártemis saiu animada, com a mochila pendurada no ombro, mas logo percebeu seus pais, Árdenia e Armon, com lágrimas nos olhos. Sabia que aquele momento seria difícil para todos, inclusive para ela. Aproximou-se deles, tentando acalmá-los com um sorriso calmo e confiante.
Árdenia e Armon a abraçaram fortemente, enquanto Adym, seu irmãozinho, correu e a abraçou pela cintura, envolvendo-a com os braços pequenos. O abraço em família durou mais do que esperavam. Ártemis olhou para sua mãe, que enxugava as lágrimas e sorria entre soluços. Seu pai, tentando manter a compostura, já começava a tirar as malas do porta-malas, tentando se distrair.
Após um longo abraço, Ártemis se afastou um pouco e se despediu novamente. O peso emocional do momento estava em cada gesto. Quando Armon finalmente entregou as malas para ela, ela sorriu para ambos, deu um último aceno de cabeça e começou a caminhar em direção à entrada.
Assim que se aproximou da grande porta principal, alguns responsáveis pela organização apareceram e gentilmente pegaram suas malas, assim como as de outros alunos. Ártemis ficou atônita com a organização e o luxo do lugar. Era tudo ainda mais impressionante do que ela imaginava.
Quando entrou, foi imediatamente envolvida pela multidão de milhares de alunos, todos apressados e se espremendo para passar pelas grandes portas de madeira maciça. A atmosfera era frenética e emocionante, com as vozes e risos misturados ecoando pelos corredores gigantescos. Ártemis, espremida entre tantos desconhecidos, sentia-se em pânico, desesperada mas confiante que essa era sua jornada.
Enquanto caminhava pelos corredores lotados, Ártemis sentia a pressão da multidão a empurrando de todos os lados. Ela tentava manter o ritmo, mas os alunos ao seu redor a esmagavam contra a parede de pedra fria. Cada passo parecia uma luta, com os ombros roçando, cotovelos esbarrando, e o som das vozes ecoando em sua mente.
Ártemis tentava manter o equilíbrio. Tentando manter o controle com o caos ao seu redor. O brasão da escola, bordado no peito da camisa, brilhava sob a luz fraca do corredor.
Cansada de ser esmagada, ela se encostou em frente a uma porta, tentando recuperar o fôlego. Sem perceber, a porta atrás dela se abriu repentinamente, e, antes que pudesse reagir, Ártemis perdeu o equilíbrio e caiu para dentro de uma pequena sala escura e abafada.