Volume 1 – Arco 1
Capítulo 7: Brilho no Ar
Depois que os cinco jovens deixaram o hospital, Gumer enfrentou uma nova realidade. Ele foi transferido da escola para receber aulas particulares em casa, afastado de qualquer outro jovem. O tratamento psicológico nas clinicas aos finais de semana tornou-se uma imposição; era necessário lidar com a "doença" que achavam que o atormentava. Gumer se sentia preso, odiando cada sessão de terapia e cada lição que passava, mas, no fundo, sabia que não tinha outra escolha. A sensação de solidão o acompanhava enquanto os dias se arrastavam, e ele se perguntava se algum dia poderia voltar a ser quem era antes.
Enquanto isso, Trrira enfrentava uma batalha própria. Em constantes discussões com seus pais, ela se via em um impasse. Eles queriam transferi-la para uma escola normal, sem qualquer tipo de magia, para que pudesse focar na carreira que planejavam para ela. Para eles, as habilidades mágicas não era um futuro lucrativo; estavam determinados a moldar o futuro da filha de acordo com suas próprias aspirações. Trrira não conseguia entender como eles podiam ser tão insensíveis às suas vontades. Ela queria continuar a aprender sobre seus poderes, sonhando em se tornar uma grande heroína, mas cada argumento que tentava apresentar era abafado por suas expectativas. A frustração crescia dentro dela, e a sensação de impotência a deixava angustiada, sem saber como lutar por sua própria felicidade. Assim como Gumer, Trrira se via sem escolhas, presa nas decisões que os outros tomavam por ela.
07 de Março de 2019- Sábado
Gumer se via preso em um quarto infinito, sem janelas ou portas, onde um líquido espesso, de cor vermelho-sangue, cobria o chão, chegando até seus tornozelos. Cada passo que tentava dar fazia o sangue espirrar e, a cada movimento, o cheiro metálico se tornava mais forte e nauseante. O pavor o envolvia, e uma sensação sufocante de que algo o observava tomava conta dele.
De repente, ele escorregou, caindo nesse sangue espesso. Antes que pudesse se levantar, uma figura distorcida começou a emergir das sombras: a silhueta monstruosa de alguém, mas não como de uma pessoa normal. Era uma aberração, um corpo grotesco coberto de braços e pernas em posições impossíveis, com dentes afiados espalhados em lugares onde não deviam estar, os olhos da criatura pareciam prestes a saltar de seu rosto distorcido, e a aberração avançava em direção a Gumer, rastejando e deixando um rastro de sangue.
Gumer estava paralisado, seus olhos arregalados, sem conseguir desviar o olhar do monstro que avançava em sua direção. Gumer gritava, chamando desesperadamente por Firefy, mas sua voz desaparecia no vazio ao redor, afogada no silêncio horrível do lugar. O quarto infinito o engolia, e a criatura se aproximava cada vez mais, até que, com uma rapidez cruel, abriu uma boca descomunal e o engoliu inteiro.
Ele acordou do pesadelo gritando, suado e trêmulo, ainda chamando por Firefy enquanto os médicos corriam para segurá-lo. Aterrorizado, seus olhos se moviam freneticamente, e ele lutava contra qualquer toque, perdido entre o sonho e a realidade. Os médicos o amarraram na cama para impedi-lo de se machucar, enquanto ele respirava fundo, o peito subindo e descendo rapidamente. Aos poucos, o pesadelo começava a se dissipar, e ele finalmente deitou a cabeça no travesseiro, os olhos ainda assustados e a respiração lenta, tentando escapar da sombra do monstro que ainda parecia rondá-lo na escuridão do quarto.
Enquanto isso, na mansão de Quinn, uma festa clandestina animava a noite. Luzes coloridas piscavam ao ritmo da música alta, enchendo os salões e o jardim com uma energia vibrante. Na área da piscina, grupos de pessoas riam e dançavam, alguns mergulhavam na água, enquanto outros conversavam e pulavam ao redor, embalados pelo ritmo pulsante que ecoava por toda a casa.
Quinn, despreocupado, estava na cozinha, vestindo apenas uma cueca e segurando um drink na mão. A expressão relaxada em seu rosto e o andar cambaleante deixavam claro que ele já estava bem embriagado, aproveitando ao máximo o que considerava uma noite épica. Com um sorriso debochado, ele pegou mais uma bebida do balcão, brindando consigo mesmo.
Nesse momento, Misha entrou na cozinha. Ela o observou por um instante, antes de se aproximar.
— Você não acha que é um pouco novo pra ficar bebendo assim? — disse ela, cruzando os braços enquanto olhava para ele com desaprovação.
Quinn riu, um riso meio descompassado, e balançou o copo na direção dela.
— E você não acha que é nova demais pra sair transando com vários caras? — retrucou ele, com um sorriso provocativo, erguendo uma sobrancelha.
A expressão de Misha mudou imediatamente; seu rosto assumiu um tom de ofensa profunda, e ela estreitou os olhos, encarando-o com indignação.
— Eu não transei com ninguêm! Você é um idiota, sabia? — respondeu ela, irritada. Quando se virou para sair, parou e lançou um último olhar desdenhoso. — Ah, e pelo visto você está tendo uma... situação aí embaixo!
Quinn, confuso, baixou os olhos em direção ao seu pênis e percebeu, corando imediatamente. Embaraçado, tentou cobrir rapidamente com a mão livre, murmurando algo enquanto Misha saía da cozinha com um olhar triunfante. Ela caminhou pelo corredor em direção ao banheiro, seu olhar seguro, despreocupado. No meio do caminho, notou um garoto encostado na parede, claramente esperando. Ele era atraente, com um sorriso confiante que parecia segui-la. Quando seus olhares se cruzaram, uma faísca de entendimento surgiu. Ela deu um leve sorriso, e ele retribuiu, se aproximando devagar.
Assim que uma menina saiu do banheiro, Misha e o garoto entraram rapidamente. Em poucos segundos, ele a segurou pelo quadril, trazendo-a para perto e a colocando em cima da pia enquanto se beijavam, ele aproximou a boca do ouvido dela, sussurrando coisas que, aos poucos, começaram a deixar Misha desconfortável. Suas palavras se tornaram nojentas, cruéis, sem o charme inicial. Ela empurrou o garoto, sentindo o estômago revirar ao ver o sorriso arrogante em seu rosto.
— Ah, então agora vai bancar a difícil? — ele zombou, sua voz carregada de desprezo. — Nenhuma garota empurra um cara gostoso como eu. Você merecia apanhar por isso, hein?
Misha o olhou com uma expressão de choque e um olhar de desgosto ao garoto. De repente, sua expressão se tornou mais séria; seus olhos começaram a brilhar, em um tom amarelado com reflexos esbranquiçados, e uma luz intensa irradiou de suas mãos enquanto ela as erguia lentamente. O garoto começou a recuar, o ar de confiança desaparecendo.
— O que... o que você está fazendo? — ele perguntou, mas sua voz tremia levemente.
Quando ele tentou se aproximar para batê-la, Misha apenas estendeu a mão e tocou nele, os dedos brilhando com uma energia ardente. Num instante, o garoto se desfez, seu corpo se desintegrou em finos grãos cintilantes, até que tudo o que restava dele era uma pilha de pó reluzente no chão e no ar, como glitter espalhado.
Misha respirou fundo, a fúria ainda pulsando em seus olhos, mas rapidamente percebeu o que tinha feito. Uma onda de arrependimento a atingiu, mas ela sabia que ele mereceria aquele destino. Com um último movimento de mãos, o brilho nelas retornando, ela fez o glitter do garoto desaparecer, se dissolvendo no ar como se ele nunca tivesse existido.
Em silêncio, Misha saiu do banheiro, sentindo-se ainda tensa. Respirou fundo, recuperando sua postura, e voltou a curtir a festa como se nada tivesse acontecido, os ecos do ocorrido permanecendo apenas em sua mente.
Enquanto isso, o jardim da casa de Glomme estava imerso em uma atmosfera de tranquilidade, onde a leveza do vento e a beleza da natureza criavam o cenário perfeito para um treino solitário. Ele estava lá, com seu arco mágico nas mãos, sentindo o toque suave do vento em seu rosto, enquanto seu nariz enfaixado e a cicatriz em sua boca eram apenas lembranças de um passado recente que ele preferia deixar para trás.
Com seus olhos fechados, ele se entregava ao momento, criando flechas de mana pura com a força de sua mente. As flechas surgiam em um brilho etéreo, de um verde radiante, antes de dispararem com precisão. Algumas acertavam o alvo, outras falhavam, mas para Glomme, o processo era o que mais importava. Ele amava a sensação de criar e lançar as flechas, de sentir o poder da mana fluindo através de sua pele e se materializando em algo tangível.
Com um sorriso leve, ele ergueu os braços, permitindo que o vento dançasse em torno dele, como se a natureza mesma estivesse reagindo à sua energia. Seus movimentos eram fluidos e graciosos, e conforme ele movia as mãos, rastros de luz verde brilhavam ao seu redor, iluminando o gramado com um brilho mágico. As árvores ao fundo pareciam balançar suavemente, como se dançassem junto a ele, como se o campo ao redor soubesse que Glomme estava em sintonia com a força da natureza.
A conexão com seu ambiente era forte, quase sobrenatural, e ele sentia-se em paz, como se o mundo tivesse parado por um momento para que ele pudesse simplesmente existir ali, no seu próprio ritmo. A magia em suas mãos parecia ser uma extensão de si mesmo, e ele se sentia livre e completo.
Foi quando a voz de sua mãe ecoou pela casa que a paz foi interrompida. Ela o chamou, e a conexão com a natureza se desfez suavemente. Glomme abriu os olhos, sentiu a energia do jardim desaparecer enquanto ele se virava rapidamente e corria para dentro da casa, com o coração ainda acelerado pela energia do treino. O som dos seus pés cortando a grama ainda ressoava em sua mente enquanto ele se aproximava da porta, pronto para encarar o que quer que estivesse esperando dentro.