Volume 1 – Arco 1

Capítulo 6: O Primeiro Elo Quebrado - Parte 2

— Não... não é verdade... — sussurrou Gumer, mas as palavras mal saíram, engasgando-se em sua garganta.

— E quanto à sua mãe, Gumer? Você se culpa por tudo, não é? Por que não estava lá quando ela mais precisava de você? Ela morreu sozinha, enquanto você se divertia na escola. Você se lembra da última vez que a viu? O olhar dela, cheio de esperança? E você? O que fez? Você a abandonou...

Um grito silencioso ecoou em sua mente. A lembrança de sua mãe, com o olhar triste e cansado, voltava a assombrá-lo. Ele se lembrou da noite em que recebeu a notícia do hospital, quando a vida deles se despedaçou, e como ele se sentiu impotente, como se estivesse parado enquanto o mundo desmoronava.

— Não fui eu... — Gumer murmurou, a voz falhando. — Eu não pude fazer nada...

— E seu irmãozinho? Aquele garoto frágil que luta contra o câncer? Ele precisa de você, e você só consegue pensar em si mesmo. Você não é um irmão, Gumer. Você é apenas uma sombra. Uma sombra que deixa tudo para trás. Ele está lá, sofrendo, enquanto você se afunda na sua própria insignificância.

As lágrimas escorriam pelo rosto de Gumer, enquanto ele se lembrava do olhar do irmão, tão pequeno e vulnerável, sempre sorrindo apesar da dor. O peso da culpa e da tristeza o esmagava, como se uma sombra o estivesse consumindo.

— Eu... eu... — ele tentou protestar, mas as palavras se transformaram em um soluço, seu peito se contorcendo com a dor.

— Você não pode, porque é fraco. Você não consegue proteger ninguém. Você deixou sua mãe morrer, deixou seu irmão sofrer. Olhe ao seu redor. Ninguém se importa, Gumer. Eles nunca se importaram. E você sabe disso.

Gumer começou a tremer, sua respiração se tornando rápida e superficial. As palavras da voz pareciam se infiltrar em sua mente, torturando-o. Ele queria gritar, mas as palavras se recusavam a sair. Um nó se formou em sua garganta, e ele se engasgou, a dor crescente em seu peito.

— Não... — ele finalmente conseguiu gritar em pensamento, sua mente fervilhando de desespero.

Mas a voz persistiu, como um eco de pesadelo.

— Mostre-me, Gumer. Prove que você pode ser mais do que um fracasso. Deixe de ser um prisioneiro da sua própria dor, ou vai ficar sozinho.

A batalha interna se intensificava, e Gumer sentiu-se mergulhar em um abismo de solidão e desespero. Ele queria se libertar, queria gritar para o mundo, mas a voz misteriosa continuava a ressoar em sua mente, lembrando-o de suas falhas, de sua fraqueza, enquanto o chão sob seus pés parecia desmoronar.

Firefy saiu do banheiro secando suas mãos e imediatamente percebeu Gumer parado, imóvel. Ela se aproximou dele enquanto chamava seu nome, olhando para seu rosto, seu coração disparou. O rosto dele estava coberto de sangue; seus olhos estavam inchados e a respiração parecia ausente. A mandíbula de Gumer estava aberta, como se tivesse quebrada, e ela não conseguia acreditar no que estava vendo.

— Gumer?! — ela gritou, a voz tremendo de medo e desespero. 

Firefy se agachou a frente dele, suas mãos tampando a boca enquanto tentava gritar, mas a expressão no rosto dele era de dor e sofrimento. O desespero começou a consumir Firefy enquanto ela olhava para ele, suas mãos tremendo e lágrimas escorrendo pelo rosto. Ele não respondia.

— Alguém, por favor! Ajuda! — ela gritou, a voz ecoando pelos corredores, cheia de angústia.

Nesse momento, Glomme, que estava dentro do banheiro, ouviu o grito e saiu rapidamente, seu olhar se transformando em preocupação ao ver Firefy chorando no chão. Ele correu em direção a eles, a expressão horrorizada.

— O que?! — perguntou, olhando para Gumer com olhos arregalados.

— Glomme... — disse Firefy, a voz falhando pela tristeza. — Ele está ferido! Precisamos de ajuda!

Os alunos que estavam por perto começaram a se aproximar, atraídos pelo alvoroço. O murmúrio de vozes crescia, e todos queriam entender o que estava acontecendo, mas a imagem de Gumer inerte, com o sangue escorrendo, os deixava paralisados.


Minutos depois, Gumer foi levado para a enfermaria. O medo pairava no ar, e a tensão estava palpável enquanto os amigos que aguardavam do lado de fora. Ártemis, Glomme, Firefy e Trrira estavam todos ali, com expressões preocupadas.

— O que será que aconteceu com ele? Será que ele... — disse Ártemis.

— Por que ele faria isso? Ele estava bem antes de sair no banheiro — Glomme disse, seus olhos fixos na porta, esperando por qualquer sinal de que Gumer estava bem.

Firefy estava em um estado de desespero, as mãos tremendo enquanto ela se apoiava na parede.

— Ele é forte. Ele vai sair dessa — Trrira sussurrou, olhando para o chão pensativa. 

As horas pareciam se arrastar. O silêncio era cortante, até que a porta da enfermaria se abriu e um dos cirurgiões apareceu, a expressão seria.

— Ele está estável, mas passará por um período de recuperação. Sua mandíbula foi quebrada, mas conseguimos consertá-la. Ele está inconsciente por enquanto.

Os amigos suspiraram aliviados, mas o medo ainda pairava em suas mentes. Eles sabiam que a luta de Gumer estava longe de acabar.

Quando Ártemis, Trrira, Glomme e Firefy perguntaram se podiam entrar, um estrondo violento ecoou dentro da enfermaria, como o som de uma explosão surda. Todos se entreolharam, e o pânico tomou conta. Sem pensar duas vezes, correram para dentro, os corações batendo acelerados.

Dentro da sala, o caos estava instalado. Gumer estava de pé, acordado, seus olhos vermelhos. Ele segurava duas enfermeiras pelo pescoço, suas mãos apertando com uma força esmagadora enquanto as enfermeiras tentavam, em vão, se libertar. Elas gemiam, sufocadas, lágrimas escorrendo por seus rostos, suas vozes abafadas pelo aperto implacável.

A cena congelou todos em choque. Ártemis e seus amigos ficaram paralisadas, incapazes de processar o que estavam vendo. Gumer, o amigo que tanto conheciam, agora era uma sombra da dor que antes o consumia. Seus movimentos eram violentos, quase bestiais.

Sem qualquer aviso, Gumer jogou as enfermeiras contra a parede com uma força brutal, o impacto ecoando pela sala, como um trovão. Elas desabaram no chão, inconscientes. Sem perder tempo, Gumer correu em direção a Ártemis e Trrira. Em um instinto de autopreservação, as duas se afastaram, mas foi inútil. Ele era rápido demais. Antes que pudessem reagir, ele já as tinha agarrado pelos pescoços, erguendo-as do chão.

Com um movimento poderoso, Gumer bateu-as contra a parede. O som do impacto foi mostruoso, e a parede rachou com o choque. Ártemis e Trrira gemeram, os rostos ficando vermelhos enquanto tentavam desesperadamente puxar ar. Seus pés batiam fracos contra o ar, lutando para se libertar, mas a força de Gumer era esmagadora.

Com uma aura vermelha irradiando do corpo de Gumer, os olhos dele estavam completamente diferentes, brilhando em tons de vermelho sangue.

O cirurgião ao lado, visivelmente apavorado, gritou para Glomme e Firefy:

— Rápido, peguem o sedativo na minha bolsa! Vou chamar o diretor!

Glomme, em um movimento rápido, correu em direção à bolsa. Mas Gumer, ouvindo tudo com uma precisão aterrorizante, largou Ártemis e Trrira de repente. Ele se virou com uma velocidade que parecia desafiar as leis da física, quase como se tivesse se teletransportado, e apareceu atrás de Glomme em um piscar de olhos.

Ele segurou Glomme pela cabeça, girando-o com força e batendo o rosto dele contra a parede com um impacto tão forte que o som de ossos quebrando e a parede rachando foi audível. O sangue jorrou, cobrindo a parede e o chão. Glomme desmaiou instantaneamente, seu nariz quebrado, o rosto deformado pelo golpe.

— Glomme! — Firefy gritou, o desespero crescendo dentro dela.

Com lágrimas nos olhos e sem saber o que fazer, Firefy ergueu suas asas, levantando voo em direção a bolsa com o sedativo. Mas Gumer, mais rápido que o pensamento, a empurrou contra a parede e agarrou um dos pés dela. Girando-a com uma força aterrorizante, ele arremessou Firefy contra a parede do fundo da enfermaria. O impacto foi tão brutal que a parede se quebrou, arremessando-a para o pátio externo da escola.

Firefy atravessou a parede, caindo no chão do lado de fora com um som surdo. Ela rolou, seu corpo aparentemente inconsciente, e suas asas rasgadas enquanto destroços, poeira e fumaça cercavam-a.

Ártemis respirava com dificuldade, sentindo o peso da batalha nos ombros e o aperto no pescoço, que ainda ardia pela falta de ar. Ela olhou para Trrira, que estava de joelhos ao seu lado, o rosto coberto de suor e pavor. O medo ainda pulsava em seu peito, mas algo dentro de Ártemis a puxava irresistivelmente para a luta. Uma chama de coragem se acendeu, e, como uma força incontrolável, ela se viu movida para a ação. Não conseguia mais ficar parada, sabia que, se não agissem imediatamente, todos estariam perdidos.

Ártemis se levantou, movendo suas mãos em um gesto mágico. O ar ao redor começou a girar, respondendo ao chamado de sua magia. Ártemis concentrou sua energia, se virando para Gumer e manipulando o vento ao seu redor. Com um movimento rápido, ela criou uma rajada de ar que arremessou Gumer juntamente com a parede inteira ao lado dele, que se despedaçou no ar.

Gumer foi arremessado juntamente com os fragmentos de concreto, caindo pesadamente no centro da enfermaria, coberto pelos destroços. Alguns pedaços da parede também caíram sobre Glomme, que estava próximo. Sem hesitar, Ártemis usou o vento para se impulsionar, saltando com agilidade e caindo pesadamente sobre as costas de Gumer que se levantava, empregando toda a força que conseguiu reunir.

Gumer se contorceu violentamente, o corpo tomado por uma energia vermelha intensa. Seus movimentos eram erráticos, furiosos, enquanto Ártemis tentava, desesperadamente, mantê-lo sob controle. Ela se segurava com força nas costas dele, tentando mante-lo sob controle.

No entanto, a força de Gumer era avassaladora. Ele agarrou os braços de Ártemis, puxando-os para longe do corpo dela com uma muita força. O grito de dor de Ártemis ecoou pela sala. Ela sentia seus braços sendo lentamente arrancados, os ossos prestes a se deslocar das articulações.

— Gumer... por favor... — ela implorou, com os olhos cheios de lágrimas.

Enquanto isso, Firefy, que ainda se recuperava do impacto, conseguiu se levantar, vendo o terror através do buraco na parede. Desesperada, ela correu em direção à bolsa que estava no chão da enfermaria, seus pés batendo no chão com pressa, enquanto vasculhava freneticamente o interior da bolsa, buscando o sedativo.

— Onde está... onde está?! — Firefy murmurava para si mesma, os dedos trêmulos ao procurar pela pequena seringa.

O cirurgião e o diretor apareceram na porta em desespero. Enquanto os gritos de Ártemis continuavam rasgando o ar com intensidade. Trrira, ainda se recompondo, subiu em uma das camas, com um plano rápido formando-se em sua mente. Ela gritou para Firefy:

— Joga o sedativo para mim, rápido!

Firefy com a seringa em mãos, olhando para Trrira em desespero. Sem pensar duas vezes, ela a jogou com toda a força para Trrira enquanto gritava.

Trrira saltou da cama, suas mãos estendidas no ar para pegar o sedativo. Com uma habilidade impressionante, ela conseguiu agarrar a seringa no meio do ar. Ao cair no chão, rolou para se levantar novamente, seu olhar fixo em Gumer, que continuava a torturar Ártemis.

Sem hesitar, Trrira deslizou em direção a ele e, em um movimento preciso, enfiou a seringa cheia de sedativo na perna de Gumer. A reação foi quase imediata. A força começou a esvair-se do corpo de Gumer, seus movimentos ficando lentos, até que, em poucos segundos, ele caiu no chão, desmaiado. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.

Ártemis caiu ao lado dele, exausta e com os braços completamente imóveis. Ela mal conseguia respirar. 

Trrira, ainda ofegante, ajoelhou-se ao lado de Ártemis e Gumer, tocando em seus ombros com cuidado.

— Con... seguimos — sussurrou Trrira, sua voz falhando.

Firefy, ainda atordoada pela intensidade da situação, aproximou-se rapidamente, mas suas pernas mal conseguiam sustentá-la. Ela olhou para os destroços ao redor — paredes rachadas e quebradas, sangue espalhado pelo chão, e seus amigos inconscientes — e deixou escapar um soluço abafado.

Aelzy, o diretor da escola, observava a cena, paralisado pela mistura de medo e descrença. Cada detalhe do ambiente parecia distorcido sob a intensidade dos eventos que haviam acabado de acontecer. 

Aelzy vasculhou a sala com o olhar, tentando entender o que aconteceu, mas a devastação ao redor deixava tudo ainda mais surreal. Seus olhos pararam em Glomme, ensanguentado e imóvel no chão.

— Eles precisam de cuidados mais avançados... Vou ligar para uma ambulância. Eles precisam de um hospital! — disse, retirando-se rapidamente para providenciar o socorro.


Dias se passaram desde o incidente. Agora, na calmaria forçada de seus lares, cada um tentava se recuperar não apenas das feridas físicas, mas também do trauma que aquela experiência havia deixado.

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