Volume 1 – Arco 1
Capítulo 15: A Primeira Lâmina - Parte 2
Ártemis saiu dos escombros com um resmungo de raiva, empurrando os fragmentos da parede caída com os ombros enquanto se erguia. O buraco que levava à enfermaria se aproximava, e ela avançou sem hesitar, os pés batendo contra os restos de concreto e tijolos, desviando dos pedaços soltos no chão. Ao atravessar o vão, o ar denso e empoeirado se misturava com o cheiro metálico do sangue, e de imediato seus olhos se encontraram com Gumer. Ele estava parado, imóvel, a respiração pesada e o corpo rígido, os olhos vermelhos e frios como brasas, emanando uma fúria silenciosa que não lembrava nada do garoto que ela conhecia.
O choque de ver Firefy caída do lado de fora — os ossos rangendo, as asas rasgadas — e Glomme ao chão, o rosto despedaçado, jorrando sangue, disparou nela uma mistura de horror e desespero que fez o coração de Ártemis bater descompassado, enquanto ela respirava fundo, tentando organizar os pensamentos e calcular cada próximo movimento no ambiente caótico.
— Gumer! — ela gritou, a voz rouca e cheia de raiva, avançando alguns passos, tentando alcançar algum resquício de razão. — Porra, para com isso... volta comigo, me escuta...
Ele não respondeu, não houve hesitação, apenas avançou com velocidade assustadora.
Ela nunca tinha lutado tão perto da morte, nunca havia encarado alguém dominado por uma fúria que parecia drenar cada parte de si. Mas Ártemis ajustou o corpo, sentindo o peso e a textura do chão, o pó que subia e caía sobre os pés, cada estilhaço sob a sola como pequenos alvos a esquivar. A força brutal do corpo dele se lançando contra ela, pronto pra esmagá-la. Ártemis reagiu no reflexo — um movimento puro instinto. Em vez de recuar, ela deu um impulso lateral, jogando o corpo contra a parede ao seu lado e empurrando firme os pés na estrutura vertical. Por um instante, parecia que ela corria sobre a parede, deslizando pelos azulejos trincados e usando o impacto para ganhar impulso e rotação. Quando Gumer parou, confuso, ela saltou. Girando no ar e colocando-se de cabeça para baixo sobre ele, ela agarrou os ombros dele e desceu com brutalidade, chutando as costas de Gumer, e rolando pelo chão logo depois para absorver o impacto e se posicionar novamente.
Gumer tropeçou para frente, colidiu violentamente com um dos aparelhos de cama, o metal rangendo e vibrando sob o impacto. Ártemis rangeu os dentes, riu baixo, animada de forma brutal, e se preparou para a próxima aproximação, pronta para acertar outro golpe antes que ele sequer percebesse.
Anaru, invisível, observava cada movimento com atenção, os olhos fixos na linha de frente, deslizando silenciosamente pelo chão em busca do frasco de sedativo. Ela pegou a seringa, cada gesto rápido e discreto, preparada para agir assim que Ártemis criasse a abertura necessária.
Glomme gemia ao fundo, o rosto despedaçado pingando sangue que se espalhava pelo chão, e Firefy permanecia imóvel, quebrada e coberta de poeira e sangue, os braços pendendo sem controle, mas ainda emitindo sinais de vida mínima.
— Porra, Gumer! — Ártemis gritou, sentindo o ar vibrar ao redor de seus punhos enquanto desviava de um soco que cortou o espaço ao lado de sua cabeça. Ela girou rapidamente, usando a corrente de vento que levantava pó e fragmentos do chão, impulsionando o próprio corpo para se lançar contra ele. Cada salto era instintivo, força e leveza se misturando, os pés usando as paredes como trampolim, girando no vazio com movimentos imprevisíveis. Ela não sabia lutar com técnica refinada, mas usava o ambiente, o impulso do vento e a própria energia para criar rotações e empurrões que confundiam Gumer, transformando cada destroço, cada espaço vazio, em extensão do corpo, flutuando entre ataques e esquivas como se estivesse dançando com o caos.
No corredor, Trrira emergiu lentamente dos destroços da parede que desabou sob ela, o corpo ainda sacudido pelo impacto e tossindo alto, o rosto levemente enrubescido, os olhos semicerrados por causa da poeira que insistia em arranhar a garganta. Cada respiração era arrastada e difícil, e mesmo sentada entre os escombros, ela observava o corredor com atenção. Os outros alunos começavam a se aproximar, os passos apressados ecoando pelo piso quebrado, alguns olhando com fascínio, outros com medo genuíno. Trrira levantou uma mão, trêmula, tossindo mais de uma vez, tentando falar, quase engasgada, para que chamassem os professores e diretores, a voz embargada pela fumaça e pelo choque. O corpo dela ainda doía por baixo das roupas, mas o olhar permanecia vigilante, cada expressão, uma mistura de medo e determinação, consciente de que cada segundo contava.
Dentro da enfermaria, Ártemis pairava no ar, impulsionada por um salto rápido, equilibrando-se com precisão no ponto exato do buraco onde não havia parede lateral — uma escolha estratégica para não ser atingida pelo próprio ataque mágico que estava prestes a liberar. O corpo dela permanecia tenso, os músculos firmes, cada gesto controlado, os olhos fixos em Gumer enquanto calculava a distância, a força e o ângulo do movimento que transformaria a sala em um turbilhão de destruição, sem que ela própria sofresse com o impacto.
Gumer a observava com estranheza, os músculos rígidos, como se tentasse prever cada ação dela. Por um instante, tudo pareceu desacelerar, o mundo girando mais lento ao redor deles. Ártemis respirou fundo, os olhos se acenderam num brilho em tons de branco e cinza, firmes e intensos, transmitindo força e concentração absoluta. Ela ergueu as mãos com determinação, cada dedo rígido, cada músculo contraído, e então, num movimento fluido e explosivo, girou os braços para a esquerda, como se desenhasse um arco largo no ar.
A atmosfera obedeceu os movimentos mágicos de seus braços, e uma rajada de ar esmagadora invadiu, como se a própria sala tivesse se tornado um vendaval contido. A parede do lado direito da enfermaria cedeu com violência, macas e armários foram lançados como brinquedos, vidros estilhaçaram-se com o som agudo e cortante, e cada pedaço de concreto ou equipamento se espalhou pelo ambiente como se uma tempestade os tivesse arrastado. O barulho era ensurdecedor, uma mistura de metal retorcido rangendo, vidro quebrando e concreto desmoronando. Trrira, por um golpe de sorte, foi arremessada contra uma parede lateral e conseguiu se segurar, respirando com dificuldade, os braços tremendo para se equilibrar. Mas Glomme, Firefy e Anaru não tiveram a mesma sorte. Todos foram lançados pelo vento violento para fora da enfermaria.
Anaru caiu no gramado, seu corpo reaparecendo magicamente, mas perdeu a seringa de sedativo no caos da destruição, os olhos fixos no cenário devastado. Glomme deslizou pelo gramado, ainda inconsciente, a cabeça sangrando e o corpo tremendo sem controle. Firefy também rolou pelo chão com o braço quebrado, contorcendo-se de dor, as asas retorcidas e o corpo coberto de poeira e sangue.
E Gumer não teve como se esquivar. A avalanche de destroços atingiu seu corpo em cheio, lançando-o com força descomunal pelo ar e fazendo-o cair pesado no meio do caos. O rastro de destruição se estendia pela enfermaria, pelo gramado e pelo corredor, cada objeto, cada móvel, cada fragmento de concreto espalhando caos e poeira pelo chão. O ar parecia vibrar, carregado de tensão e magia, como se a própria atmosfera estivesse comprimida, e então, de repente, tudo ficou em silêncio, pesado, mortal. O som do vento, do metal e do concreto havia cessado, deixando apenas o som irregular da respiração dos sobreviventes e o batimento acelerado dos corações, enquanto o cenário devastado se mostrava em toda sua brutalidade e quietude.
Mas Gumer ainda estava vivo. A poeira escorria pelo seu corpo enquanto ele afastava com brutalidade as pedras que esmagavam seus ombros e arrancava de cima de si os pedaços retorcidos de metal, colchões rasgados e estilhaços de vidro que o prendiam como correntes improvisadas. Ele respirava com dificuldade, mas os olhos não deixavam margem para fraqueza: faiscavam em vermelho como brasas prestes a explodir. Ergueu-se devagar, com uma calma inquietante, os músculos tensos, o peito arfando, mas a postura ereta, tão imponente que parecia impossível ignorar. O silêncio que tomou os corredores ao redor não era natural — era o silêncio que precede um colapso.
Eu não sabia que podia fazer aquilo. Nem sabia que existia esse tipo de força dentro de mim.
E no instante em que aconteceu... foi como se o mundo tivesse parado, só para me mostrar o que eu era capaz de fazer.
A enfermaria não era mais um lugar, era um buraco, uma cratera que eu mesma cavei com minhas mãos e meus poderes. E no silêncio pesado que se seguiu, eles chegaram. Os Professores.
Um a um, aparecendo do nada, formando uma linha sólida no corredor, como se fossem a própria lei da gravidade se materializando. Hanvasa na frente, inquebrável. Atrás dela, Aelzy, Kevin, Marla, Mierla, Alden, Gallum, Daeros e Lira. Cada um com seu próprio jeito de lutar, cada postura contando uma história de força, de controle, de ameaça mágica.
Eu olhei para eles e percebi que não havia mais volta. Estavam prontos. Todos. E eu estava sozinha com meu pânico, minha culpa, e a certeza esmagadora de que Gumer... podia não sobreviver.
Eu podia sentir a vida dele pendurada por um fio invisível, e o peso disso esmagava meu peito. Cada segundo que passava era um eco de desespero: o que eu fiz, o que vai acontecer agora, como eu vou consertar isso?
O caos estava contido ali, nas paredes quebradas, nos olhares firmes dos professores, na incerteza da vida de alguém que eu me importava. Mas dentro de mim, nada estava contido. Nada.
No fundo do corredor, alunos se amontoavam, alguns espiando por entre as frestas dos ombros dos mais altos, outros segurando os braços dos colegas, tensos, sem saber se corriam ou se ficavam.
Ártemis, ainda encostada no canto da parede, permanecia parada, as mãos ainda sujas de poeira, o olhar preso no corpo de Gumer como se tentasse decifrá-lo. O contraste entre a brutalidade dele e a frieza calculada dela criava uma tensão insuportável, e nenhum dos dois desviava os olhos.
Gumer, no entanto, não parecia exatamente presente. Ele tremia, como se fosse explodir por dentro. O peito arfava de maneira irregular, e um som estranho escapava não da garganta. As pupilas vermelhas faiscavam como faíscas elétricas misturado ao estourar de vidro, como carvão prestes a apagar — ou incendiar.
Os professores não entendiam. O que ele era naquele momento? O que estava prestes a fazer?
Ele ergueu a perna direita de repente, o gesto tão simples que por um instante ninguém entendeu. Mas quando o pé de Gumer tocou o chão com brutalidade, o impacto não apenas ecoou pelo ambiente — foi como um trovão seco que atravessou o peito de todos, vibrando nos ossos. O chão da enfermaria tremeu, rachaduras nascendo sob a sola e se arrastando em linhas negras que corriam velozes, como veias no corpo. As fendas se estenderam para além dos destroços, cruzando o corredor, avançando para salas vizinhas, rasgando paredes e atravessando andares abaixo, o som seco do concreto partindo ecoando em ondas pelo edifício.
O ar se dobrou em choque. A onda invisível empurrou todos em um movimento brusco: professores sendo lançados alguns passos para trás mesmo em suas posições firmes, alunos caindo contra os batentes das portas, Ártemis se agarrando ao vão da parede estilhaçada para não ser levada junto. Poeira se ergueu em turbilhões, cortando a visão, enquanto o prédio inteiro parecia respirar junto com o impacto, rangendo e estremecendo como se fosse desmoronar a qualquer segundo.
Hanvasa não hesitou. Avançou sozinha contra Gumer, o corpo dela pulsando com a aura azulada de sua habilidade de cópia. Ela mergulhou para frente, os olhos fixos nele, e no momento em que encostou nos braços dele, o impossível aconteceu.
Gumer simplesmente desabou. O corpo tombou com brutalidade, pesado como pedra, e ela só teve tempo de segurá-lo para que não batesse de cabeça no chão rachado. Os olhos dele apagaram, as faíscas vermelhas sumiram, a respiração voltou a ser apenas o som frágil de alguém exausto.
Hanvasa ficou de joelhos, segurando-o nos braços, a expressão dura se transformando em pura confusão. Não havia ferida, não havia ataque, apenas um colapso repentino. Ela não entendia. Aelzy não entendia. Ártemis não entendia. Nenhum deles entendia.
Os alunos que olhavam de longe trocaram olhares assustados, inseguros se a ameaça havia realmente acabado ou se era apenas o prelúdio de algo ainda pior. Ártemis desviou o olhar para o lado, desconfiada, tentando juntar peças de um quebra-cabeça que não fazia sentido.
O silêncio tomou o lugar do caos, pesado e mortal. Naquele cenário destruído — paredes em ruínas, chão aberto em cicatrizes negras, poeira ainda suspensa no ar — ninguém ousou dizer nada. Só o peso da respiração dos presentes se misturava ao vazio. O silêncio não era de alívio. Era o silêncio de quem sabia que aquilo não havia terminado. Era apenas o meio.
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