Volume 1
Capítulo 2: Gelo e Força
Ao voltar no momento em que o príncipe e a águia se adentraram na floresta, um som em sequência acelerada se rompia dos galhos e folhas pisoteados, som no qual só cessaria na iminência de um local apropriado para o duelo.
Olhos cruzados com fervor se desafiavam a ousar um primeiro movimento corajoso. E assim é feito.
Em seu avanço, a águia levantou uma de suas mãos para fazer surgir, com um estrondo de ar ensurdecedor, uma lança idêntica à arremessada no príncipe anteriormente.
Era um truque interessante à primeira vista, mas a segunda só fez com que o príncipe mudasse seu trajeto rapidamente enquanto declamava sua insatisfação.
– Nada de ataques repetidos! Quer me entreter!? Então que seja com algo novo!
O príncipe investiu com vigor na direção da águia, que reagiu, quase de imediato, com o arremesso de sua arma contra o príncipe.
Sem diminuir seu avanço, o príncipe desviou-se facilmente da lança, e a alcançou, o que lhe deu a oportunidade de desferir um ataque direto com sua espada.
Porém, a águia se esquivou do ataque, e levantou voo com suas enormes asas para a cima da copa das árvores, que bloquiavam a visão do céu sobre elas.
Sem conseguir ver a águia, o príncipe, com satisfação em seu rosto, falou.
– É... Isso é novo!!
E neste momento, enquanto olhava para cima, ele andava de um lado para o outro ao mesmo tempo em que girava sua espada sorrindo, pronto para que seu momento de diversão chegasse logo.
Até que então, começam a se precipitar do céu vários conjuntos de setas, envoltas em bolsões de ar, que vão na direção do príncipe.
Séries e mais séries dessas setas foram lançadas em sua posição, que quando atingiam o chão, causavam explosões de ar sob pressão, fortes o suficiente para criarem buracos profundos no terreno atingido.
Contudo, o príncipe se desviava de cada uma delas, com manobras extremamente fluidas e velozes, que tinham como objetivo algo maior do que uma simples defesa contra a investida que vinha do céu.
E quando finalmente a chuva de setas pareceu ter o encurralado, o príncipe posicionou seu escudo em direção a origem dessas setas, e assim, uma aura azul cintilante surgiu ao redor de seu corpo.
Esse fenômeno transbordava frio e desconforto para todo ser vivo que observava este confronto. E, praticamente ao mesmo tempo em que essa aura surgiu, uma figura de ar gelado começava a aparecer enquanto o príncipe dizia em voz alta e ecoante.
– VÉTO DO ORVALHO!
Logo essa figura se tornava o busto de uma espécie de serpente marinha, que se fixou no escudo do príncipe, e lançou uma labareda de ar gelado em direção à suposta posição da águia.
Esta labareda era tão concentrada e potente que mesmo as copas das árvores em seu caminho foram levadas ao céu sem dificuldade, o que possibilitou ao príncipe ver que sua suspeita sobre a posição da águia estava correta.
Pega de surpresa, a águia buscou se desviar do ataque, mas foi atingida em sua perna esquerda, que congelou no mesmo instante.
A labareda se manteve contínua, e o príncipe insistiu na tentativa de acertá-la diretamente em seu voo.
No entanto, a águia foi mais veloz ainda nos céus, e conseguiu se esquivar com manobras hábeis, onde nem sequer demonstrou dificuldade em se evadir do príncipe.
E após um pequeno período de perseguição pelos ares, o príncipe finalmente cessou seu ataque, baixou seu escudo, e olhou para o céu, que agora se tornou visível sem as folhagens das árvores que o escondiam, só então ele percebeu que a noite estava próxima.
E Tendo isso em mente ele gritou para a águia.
– Eeeiii!! Nossa dança acabou!! Faça o que você tem de mais interessante e morra sem arrependimentos!!
Mesmo sem revelar nenhuma expressão em seu rosto, a águia ouviu o príncipe e, assim, começou a bater suas asas de maneira frenética. Lembrava até mesmo o bater das asas de um beija-flor. E, ela, formou uma corrente de ar que a circulou violentamente, culminando depois finalmente em uma rajada de dezenas de setas que deu dano em toda uma grande área. Era impossível desviar.
Contudo, o príncipe franziu uma de suas sombrancelhas com desdenho, e sabendo o que lhe espera, simplesmente levantou o seu escudo para se proteger, assim sendo atingido diretamente pela chuva de setas que causava destruição por toda paisagem onde tocava.
Porém, enquanto a águia continuou a atacar sem intervalo, uma Bruma leve começou a se precipitar sobre ela, de maneira rápida e sutil.
E então, suas asas pesam, o voo se dificulta, a visão fica turva, e o clima se esfria.
Forçada a encerrar seu ataque, a águia tentou se afastar em uma reação de puro instinto, já que não sabia exatamente de onde estavam vindo todas essas condições adversas em seu corpo.
No entanto suas asas subitamente travam por completo, o que provocou sua queda direto ao chão de maneira violenta.
A águia se vê ao chão, com seu braço direito virado em uma posição que era totalmente contrária ao funcionamento normal de suas articulações, todavia, mesmo assim ela não emitiu nenhum som, e seu rosto ainda não moveu nenhum músculo além dos necessários para lhe ajudar nesse combate.
Ela então o encarou diretamente com seu olhar morto e profundo, e se levantou lentamente, enquanto puxava seu braço direito com sua outra mão para o colocar em seu lugar novamente.
Dessa forma, finalmente em pé, a águia voltou sua atenção para suas asas, e logo identificou o porquê elas travaram a tal ponto que nem mesmo fechá-las era mais possível. E o que ela viu a deixou confusa. Suas asas congelavam cada vez mais com o passar do tempo. Isso não era possível segundo o seu entendimento, já que ela só foi atingida em sua perna esquerda.
Ainda assim, a águia tentou invocar novamente sua lança para quebrar o gelo que restringiam seus movimentos, contudo ela se surpreende novamente. Seu ombro direito também congelava pouco a pouco, a impedindo assim de levantar seu braço para invocar sua arma.
Sem conseguir entender, a águia finalmente começou a prestar atenção ao seu redor, e viu que uma névoa densa dominou toda extensão do campo de batalha, tornando difícil ver até mesmo as árvores próximas a ela.
Então a águia forçou seu braço para cima até que, depois de muito custo, o gelo que impedia o movimento de seu ombro se quebrou, o que a permitiu invocar mais uma vez a sua lança. Essa ação demonstrou que esse gelo era destrutível, o que motivou a águia a forçar também suas asas, até que o mesmo enfim se quebrou também.
Batendo suas asas mais uma vez, a águia levantou voo, entretanto não conseguiu ir muito longe, já que, suas asas se enrijeceram outra vez, e ela caiu ao chão.
O gelo tomou a base de suas asas, e a águia demonstrou perceber, enfim, a armadilha que acabara de cair. Nesse momento a voz ecoante do príncipe pareceu irromper de todos os lados de onde a névoa tocava. E assim ele falou para ela.
– Nunca tinham usado esse truque como rajada, sabia?! Geralmente se solta a névoa como uma cortina lenta que toma todo o lugar ao meu redor. Provavelmente meus antepassados não eram tão proeminentes quanto seus egos pensavam.
A águia olhou rapidamente para todos os lados, e tentou identificar de onde vinha a voz que se dirigiu a ela, porém foi inútil, não importava para onde se olhava e nem para qual posição se muda-se, o som sempre vinha de todos os lugares ao seu redor.
Mesmo assim, a águia forçou suas asas e lançou diversas setas, para todos os lados, na esperança de atingir o príncipe em um ataque de sorte.
Esse ímpeto somente se encerrou quando sua vitalidade começou a ceder, o que tirou sua energia para quebrar o gelo que surgia em todas as suas juntas. De pé, ofegante e sem poder se movimentar livremente, a águia guardou suas forças e segurou sua lança em guarda.
Ela esperava o momento certo, em que o príncipe chegaria perto para tentar o ataque decisivo desta luta.
E atenta, a águia começou a ouvir novamente a voz do príncipe.
– Não se preocupe! Logo isso vai acabar! Você ainda vai me ajudar em mais um teste... É algo que disseram ser proibido para mim no momento... Mas nós sabemos que velhos, com egos gigantes, costumam frear o progresso de tudo que é novo, não é mesmo?!... Talvez... Por medo do que não entendem!?... Talvez... Por inveja do que não são capazes!?... Seja lá o que for, eu não os culpo... Só os ignoro... Mas caso você não esteja entendendo o que estou falando... Não se preocupe...
A voz cessou, e a águia, apesar de alerta, sentiu que é a oportunidade de descansar para recuperar suas energias.
– Não é preciso entender!! – Sussurrou, de repente, o príncipe no ouvido da águia enquanto a levantava pelo pescoço com uma de suas mãos.
Novamente no embate do bárbaro com o Leão, os dois continuavam sua troca de golpes tão violentos que até mesmo o chão tremeu a cada encontro da espada, de empunhadura firme, com o machado, sempre turbulento e pesado.
Nesse encontro de perícias em combate, o leão entendeu que a simples disputa de força não iria lhe trazer a vitória. Diante disto, ele mudou seu manuseio da espada para algo mais focado em estocar o bárbaro, onde ele a utilizava com somente uma das mãos, o que aumentava o alcance de sua estocada.
Na primeira tentativa de estocada, o bárbaro se defendeu através de um golpe, de baixo para cima, com seu machado pesado, de maneira que o leão não aguentaria a força do impacto, e soltaria a sua arma.
Porém, o leão mostrou grande habilidade quando aplicou a força do golpe para girar seu corpo, a tal ponto, que transferiu o poder da machadada para um contra-ataque, o que obrigou o bárbaro a entrar em uma posição mais defensiva.
Esses movimentos que definiram a tática do leão se repetiam com diferentes variações, onde o bárbaro se vê com poucas oportunidades de exercer um ataque efetivo.
– Há! Há! Ha!! Que bom que você não fica só balançando metal afiado pra cima e pra baixo!! – fala o bárbaro com satisfação em seu rosto. – Vamos esmagar cidades só com a presença do nosso confronto meu amigo!! E sua pele será uma ótima lembrança da sua passagem pelo meu caminho!! Há! Há! Há!!
Então, rapidamente o bárbaro pegou seu machado pesado pelo meio do cabo, e começou a girar-lo em seu centro de gravidade, de tal forma, que esse movimento criou um som sob pressão no qual foi capaz de causar dano aos ouvidos de quem estava próximo ao confronto.
O Leão via essa cena mas ainda assim não se intimidou, e continuou a tentar estocar o bárbaro. No entanto, ao primeiro choque de suas armas, o leão teve sua espada quase arremessada ao longo de suas mãos, contudo, manteve sua empunhadura somente graças ao contínuo uso de sua técnica de esgrima.
– He! He! He!! Você tem pulso firme criatura!! – diz o bárbaro parando de girar seu machado – Mas e agora!? Quer tentar de novo!?
Como não conseguiu mais trocar golpes com o bárbaro, o Leão fechou seus olhos, tencionou seus músculos, segurou sua espada em sua frente e entrou em um estado de concentração profunda. Até que, uma pequena corrente elétrica amarelada, se iniciou de seu ombro e percorreu até a ponta de sua espada.
Tais correntes continuavam a aparecer de segundo a segundo, e cada vez mais se tornavam constantes, porém sutis. De forma que o bárbaro não se impressionou, e começou novamente a girar seu machado, no entanto, dessa vez, ele o fez enquanto avançava ferozmente.
O leão, por consequência, empunhou sua espada com as duas mãos, e com sua nova habilidade, ele o esperou. Aparentemente sem temer o avanço dramático do mesmo.
Prestes a chegar ao alcance do bárbaro, o Leão girou seu corpo e maximizou o ataque de sua espada.
A fúria do golpe era ascendente, e o bárbaro se viu obrigado a desferir sua carga na própria espada que o agredia, e com seu machado, ele transferiu toda a potência do giro para um ataque descendente na espada ofensora.
Dessa forma então, as duas lâminas vivas e maciças se chocavam com extrema força, o que reverberou poder, através de som e impacto, por toda floresta. E dessa forma o leão não suportou o terrível impacto, que o forçou a soltar sua espada, que cravou profundamente no chão, entre os dois desafiantes.
Contudo, ao invés de aproveitar a chance de atacar o seu inimigo, o bárbaro vacilou, e parou repentinamente de atacar com seu machado, o que demonstrava confusão, causado por algo que estava ocorrendo com seus braços.
Uma dormência sem explicação tomava os braços do bárbaro, o que tornou mais difícil o manuseio de seu machado, diminuindo consideravelmente sua força.
O leão logo aproveitou a oportunidade de pegar sua espada cravada ao chão, e desferiu vários ataques seguidos contra o bárbaro, que somente se esquivou, aparentando estar evitando o contato direto com a espada.
– Há! já saquei qual é a da sua espada! – fala o bárbaro enquanto se desviava.
Assim, ele começou a girar seu machado novamente, mas dessa vez, embalado por um mantra, que fez o chão do campo de batalha tremer mais e mais.
– HuuuuuummMMMM! – proferiu o bárbaro enquanto executava seus movimentos.
O leão não queria perder sua vantagem estratégica na batalha, então, de imediato, ele continuou a pressionar incessantemente o bárbaro, o que impedia uma possível reação do mesmo.
No entanto, o mantra do bárbaro se transformou em um grito poderoso, e a força do giro no machado se transferiu para um ataque direto e extremamente potente, de baixo para cima, que pegou o leão completamente desprevenido.
Mesmo assim, o leão reagiu rapidamente, e conseguiu usar sua espada como escudo quando a colocou encostada em seu peito, onde o machado acertaria em cheio.
Ele sabia que ao encostar seu machado em sua espada, o bárbaro perderia suas forças, e isso o manteve inicialmente despreocupado com as consequências de receber um ataque tão poderoso assim. Com tudo, no momento exato do contato entre as duas armas, o bárbaro soltou seu machado, e transferiu toda a potência do ataque sem precisar encostar em sua arma.
Esta ação teve força suficiente para arremessar o leão ao alto, o que deu a oportunidade do bárbaro completar o que começou com um mantra de tremor de terra, continuou como um grito de fúria e terminará com a frase ecoante.
– AFKA ADUUNKA : A boca do mundo!!
E com tremenda força o Bárbaro pisou no chão, e abriu uma cratera grande o suficiente para engolir o leão junto com toda extensão da estrada, o que abalou toda estrutura dessa região da floresta e além.
Jogado ao ar, o leão, viu que ia cair diretamente na rachadura criada pelo bárbaro, e tenta desesperadamente alcançar qualquer apoio que o impeça de cair, porém foi inútil, o leão caiu diretamente no buraco, que logo após se fecha com imensa força, e o selou assim em seu destino.
– Há! Há! Há! Serviço completo! – exclama o Bárbaro – Derrotado e de quebra já enterrado! Hé! Hé! Éh... Éh...Hummm...Aff...Mas que droga! Esqueci do casaco que eu ia fazer!
Um pouco frustrado, o Bárbaro pegou seu machado do chão e foi de encontro a mulher, que ainda estava à direita do caminho na floresta. À encontrando o bárbaro viu que o homem-cão ainda estava parado em frente a mulher, que falava sozinha em seus devaneios.
– E aí!? Acabou?! – pergunta o bárbaro.
– Há sim! acabou sim!– responde a mulher.
– Mas e esse cara?! Vai ficar aí pra sempre?
– Estou pensando!! – responde a mulher de maneira distraída.
– ... Do que que você tá falando? Pensando em que!?
– Essa criatura não é um lycan! E isso é no mínimo intrigante. Já peguei uma amostra. Mas... Será que é suficiente?
– Você quer um braço!? Eu arranco um pra você! Aí a gente pega seu brinquedo e vai pra algum lugar comer! Ou fritamos esse bicho aqui mesmo! Pode ser!? Porque se não sairmos fora logo eu vou comer seu bicho aí!!
A mulher pensou que não iria ficar carregando um braço durante toda essa viagem suspira e responde.
– Aff!...Acho que só o sangue já tá bom!
– Beleza! – fala o Bárbaro.
Assim o bárbaro levantou o homem-cão pelo pescoço, girou e o arremessou no despenhadeiro próximo a eles.
– Hum!?... Vamos deixar ele vivo?! – pergunta a mulher.
– Hã!? num sei!?! - responde o bárbaro. – Droga! Num pensei muito!... Caramba! Tô com fome! Primeiro a gente come! Depois pensa nisso! Vamos bora!
Então o bárbaro e a mulher vão em direção a estrada de onde vieram e lá eles encontram o príncipe.
– Deu um jeito no seu!? – fala o Bárbaro.
– Está morta!! E os seus? – responde o Príncipe.
– Há! Há! Há! Já até enterramos!! – afirma o bárbaro – Agora podemos ir comer satisfeitos! he! he! he!
Dessa forma, os três continuavam seu caminho floresta adentro. A procura de uma cidade próxima onde iriam finalmente descansar.