Volume 1
Capítulo 4: Paris
Ponto de vista de Dante
Precisava pensar imediatamente em alguma magia que fosse forte e rápida o suficiente para matar o gorila em milésimos de segundos. Era por situações como essa que se tornar um cavaleiro real ajudaria tanto. Usar magia era como atirar com uma arma de fogo, se você não for autorizado, é crime.
O problema é: não tem como controlar o despertar de uma magia, as autoridades pareciam não entender isso, ou talvez entendiam e só queriam manter o poder nas famílias mais fortes
Deixando isso de lado, consegui pensar apenas em usar fogo, mas estávamos no meio de uma floresta, usar isso aqui era como acender um isqueiro em palha desfiada.
Qualquer outro ataque poderia até ser mais rápido, mas a força de derretimento nem é comparável.
Eu tinha apenas uma chance.
“A floresta ou a Emilly?”
“É isso!”
Usando o braço que ainda podia se mexer, peguei a espadada caída no chão e conjurei uma cadeia de fogo negro ao redor de toda a lamina.
Essa era a parte fácil, o problema era como eu faria essa espada chegar a algum ponto vital do gorila e o fizesse soltá-la rapidamente.
Quase instintivamente arremessei a espada, era a única opção que raciocinei na hora. Não teria tempo de correr em direção ao gorila novamente e nem mesmo pensar em outra magia mais elaborada.
Sem o tempo de calcular a minha força, a espada percorreu o caminho todo até o gorila em menos de meio segundo e acertou seu pulso, antes que eu pudesse captar a informação, a lamina teria atravessado seu punho.
Sorri aliviado enquanto pensava:
“Acertei!”
Presa em uma árvore, lá estava a espada, cheia de rachaduras e exalando o calor.
Olhando ao redor, o fogo começou a se espalhar, mas estava tudo bem. O fogo negro tinha um limite de área e usar isso na hora foi o melhor jeito de diminuir a queimada.
O punho do gorila havia sido aberto e estava em uma espécie de derretimento, em poucos segundos sua mão cairia.
Ele soltou Emilly juntamente de um grito alto e arrepiante.
“Ok, isso foi melhor do que eu esperava”
Antes que ela pudesse ao menos encostar no chão, corri em sua direção, fiz com que minhas panturrilhas “explodissem” e em uma investida rápida a alcancei. Em baixo da mão do gorila, sangue quente pingava, ou melhor, escorria, como uma cachoeira. Passando por isso, peguei-a em meu braço não fraturado e me afastei.
O fogo negro consumiria todo o corpo do gorila, o ataque final já tinha sido dado, não teria com o que mais me preocupar.
Pude senti-la recuperando o folego em meus braços.
— Você está bem?
— Estou só um pouco tonta. Sabe… poderia me deixar no chão? — ela disse.
— Ah, posso sim… achei que você não fosse conseguir andar por um tempo depois dessa.
— Não sou tão fraca assim, ele só me apertou um pouco — disse ela, virando o rosto — não deveríamos apagar esse incêndio?
— Não se preocupe, ele apagará sozinho, trate de não contar para ninguém o que viu aqui agora.
— Minha boca é um túmulo — ela disse sorrindo — E o seu braço? Já que nós dois usamos magia, se você deixar, eu posso curá-lo.
— Você também consegue? Por que não usou e deixou ser pega pelo gorila?
— Pelo mesmo motivo que você, não é seguro utilizar perto de desconhecidos, estou indo para o teste também.
— Como assim vai para o teste? — Minha expressão confusa foi mostrada, olhos arregalados e boca aberta.
— É exatamente isso, e por sinal, você está todo vermelho, parecendo um tomate, e com um cheiro de morte horroroso.
— Não estaria assim se a donzela aqui não fosse pega desprevenida!
Parece que depois de tudo isso finalmente ela conseguiu ter alguma confiança em mim.
Em nossas conversas finalmente pude ver o seu rosto, ela tinha olhos verdes que mesmo na escura noite brilhavam, seu cabelo branco passava dos ombros e suas roupas, agora manchadas de sangue, pareciam novas e caras.
Emilly curou meu braço com sua magia, eu já conseguia o mexer sem dor nenhuma.
A minha espada se despedaçou após todo o ocorrido, eu apenas decidi pegar outra em um dos cadáveres dos sequestradores.
Continuamos andando um pouco em busca de algum outro lugar calmo para dormir.
— Olha aqui, Dante! — ela gritou enquanto subia no topo de uma árvore.
— O que foi? Plena madrugada e você com tanta energia.
— Vem aqui logo, rápido.
Subi na mesma arvore e em minha frente eu me deparava com um grande lago.
A luz da lua refletia em suas águas calmas, pedras ao redor transmitiam paz da paisagem, animais noturnos bebendo mostravam sua pureza.
— Sua hora de brilhar! Não aguento mais te ver sujo assim — ela disse enquanto me empurrava de cima da árvore.
— Aaah, você é maluca? Olha a altura disso! — Ficando na ponta do pé, um segundo antes de cair, me agarrei nela — Não vou sozinho nessa!
Me olhando com uma expressão surpresa, gritando ao mesmo tempo que aproveita a queda ela fica ainda mais manchada com o meu sangue.
Batendo de costas contra a água eu afundo.
A coloração transparente me revela diversos animais, peixes brilhantes, cobras marinhas e até alguns tipos que eu nunca havia visto.
Eu parecia até hipnotizado pela beleza do lago.
Um animal estranho começa a nadar do meu lado, não parecia como os outros, era algo como uma espécie de peixe com chifres.
Parado do meu lado, ele me olha, ele me olha fixamente, me olha incansavelmente, seu olhar parecia até um ser humano.
Antes hipnotizado pela beleza do lago, agora pelo olhar de um peixe com chifres.
O tempo parecia até demorar a passar. Cessando seu olhar fixo, ele começa a se movimentar lentamente em minha direção.
De repente sinto uma força no meu peito me empurrando para baixo.
“Opa, me desculpe, Emilly”
...
— Porra, você é maluco, Dante? Quer me matar?
— Não é como se fosse eu que tivesse te empurrado, além disso, a paisagem estava muito bonita.
— Esquece… vamos dormir por aqui mesmo, o que acha?
— Deveríamos mesmo.
Acendemos uma fogueira para nos secarmos e preparamos um tipo de cama caseira feita de galhos e folhas.
Amanhecendo um novo dia, nós decidimos que seguiríamos juntos em direção a Paris, a final, nosso objetivo era o mesmo.
— Ei, Emilly, você não me contou como foi pega por aqueles caras.
— Então… você quer mesmo saber? — ela diz enquanto vira o rosto — digamos que foi voluntario, era muito longe o caminho a pé, então decidi pegar uma carona.
Faltou palavras em minha boca em meio a tamanha irresponsabilidade. Como alguém que parecia tão responsável faria isso?
“Bem, parecia…”
No caminho para Paris, ela me disse sobre a minha pressão, algo que eu não sabia, mas já tinha sentido. É basicamente a habilidade que faz os demônios mais fracos não se aproximarem de mim. Às vezes fugindo de inquisidores na cidade eu podia sentir a pressão de alguns deles me sufocando.
A compressão da minha pressão era algo que eu fazia instintivamente quando queria me esconder de alguém, nunca precisei aprender, só tive o conhecimento dos termos agora.
A pressão também só era coloca a mostra em situações de perigo, como um sensor de adrenalina.
Ela me mostrou como controlar na hora e do jeito que eu bem entender, bem fácil, por sinal.
No caminho me senti a vontade de perguntar sobre sua magia também, como ela fez para despertar.
— Eu não sei, eu tenho certa facilidade, mas não é como se eu me expusesse a demônios.
Uma resposta confusa, mas que me fez entender um pouco.Ela era como eu, tinha habilidades magicas desde que nasceu, apenas precisou aprender a usar.
Fico feliz que existia pessoas iguais a mim nesse mundo. Até hoje eu só tinha a Sra. Bella como referência, o resto parecia me odiar e me maltratar, ela era a primeira pessoa que conversava comigo de igual para igual.
Ao subir em uma árvore alta, já era possível observar a cidade, mais alguns minutos de caminhada e nós chegaríamos lá. Se tudo ocorrer bem, antes do pôr do sol já pisaríamos em Paris.
— Que lugar lindo — dizia Emilly, esbanjando um sorriso em seu rosto.
— Nunca veio aqui antes?
— Nunca, só costumava ver vídeos e fotos.
De longe era possível observar pessoas e blocos bem organizados de casas, muitas árvores e lugares para visitar.
Depois de mais algum tempo andando, finalmente chegamos a cidade.
O ar era frio, típico de Paris. Ao adentrá-la pude perceber ruas bem iluminadas e movimentadas. As casas tinham seu estilo próprio e eram bonitas de se ver, as árvores eram finas e pareciam modeladas a mão.
Pude perceber Emilly encantada com cada detalhe presente na cidade, a ponta do seu nariz e suas mãos ficavam vermelhas por conta do frio, que estava pior que o normal no dia.
As pessoas não andavam com suas espadas ou qualquer tipo de arma aparente, suas vestimentas eram bem características, as mulheres tinham vestidos longos e volumosos, salvas exceções que usavam calça ou saias curtas, os homens costumavam se vestir formalmente com peças pretas e sapatos chiques.
— Ei, Dante, o que acha de irmos em uma cafeteria antes de procurarmos o ponto de encontro?
— Não temos muito tempo, Emilly e provavelmente a transportadora nos dará tudo que precisamos.
— Ah, poxa, estamos aqui e não aproveitaremos nada? Pelo menos um café, vamos lá. — Ela me olhou parecendo um pouco triste com a situação.
— Acha que consegue em menos de uma hora?
— Claro que conseguiremos, venha! Sei uma ótima — disse sorrindo enquanto me puxava pelos braços.
...
Passando-se as horas, como imaginei, estávamos atrasados.
Fomos correndo em direção ao local de encontro, uma grande praça em Paris. Era um local todo decorado com flores bonitas e fontes que jorravam água. Tinha um número grande de pessoas entrando em uma espécie de avião dez vezes maior que o normal, tinha uma estética parecida com um navio futurista.
Eu me pergunto, o que isso estava fazendo em uma praça em Paris.
Sem precisar pagar nenhuma taxa, eu e Emilly entramos no avião e como eu imaginava era como um interior de navio de luxo, tinha quartos, sala de jantar e tudo que um navio, ou avião, de alto nível podia oferecer.