Again Brasileira

Autor(a): Roux


Volume 1

Capítulo 3: Perigo

Ponto de vista de Emilly

“A situação ficou feia, não esperava a aparição de um demônio, muito menos desse nível”.

De longe podia sentir sua pressão assassina me forçando a recuar ao mesmo tempo que me fazia suar frio.

Forçando a vista e olhando pelo lado de fora da carroça percebi uma silhueta grande e forte, não identificando exatamente que tipo de demônio era, voltei-me a posição original e comecei a planejar.

“Duvido que esses imprestáveis consigam fazer algo a respeito, é melhor eu preparar minha fuga”.

— Chefe, talvez não seja a melhor ideia comprar briga contra um gorila gigante.

— Tomaremos cuidado, não se preocupe, além disso, não há como fugir agora. Fique aqui e vigie a garota.

O homem que recebeu a ordem não parecia satisfeito, mas a expressão em seu rosto deixava claro que ele não comentaria mais nada.

Agora o principal problema era como eu me deslocaria sem chamar a atenção do guarda em minha frente.

Uma das opções seria eliminá-lo, mas não me parecia mais simples que simplesmente fugir sem deixar rastros.

— Robert e Rafael, venham comigo, Joseph fica. Faremos a formação padrão em formato triangular.

 — Você teve sorte, Joseph — disse Rafael.

— Não pense que não fará nada, se a garota por acaso sumir, considere-se acabado.

— Sim senhor, capitão! — exclamou Joseph.

Virando-se, olhou dentro do meu olho e não disse uma palavra sequer, aquilo era o suficiente para qualquer um entender como uma ameaça. No exato momento que processei isso comecei a rir internamente e pensei: “Será que ele acha mesmo que consegue fazer algo”.

Deixando os pensamentos intrusivos de lado, conjurei uma pequena faísca na ponta do dedo, o suficiente para queimar lentamente a extensão da corda. Eu podia sentir o calor viajando lentamente por todo o meu corpo desde os polos até sair pelas pontas entrando assim no material.

Se eu exagerasse nem que apenas um pouco, era provável o guarda ouvir ou sentir o cheiro queimado exalando no ar que nos rodeava, além de possivelmente ocasionar um incêndio na carroça de madeira.

A solução para evitar ainda mais qualquer problema foi não pulverizar toda a corda imediatamente.

Comecei queimando-a internamente e em pouco tempo, percebi a liberação do meu pulso. Quando se afrouxou totalmente, retirei minhas mãos das amarras e sem exprimir nenhum tipo de vibração ou som, larguei-as para que continuassem a queimar totalmente e, quem sabe, queimar a carroça junto.

Levantei em silêncio e pulei por trás da carroça.

Ao pisar no chão, senti que não estava sozinha, um calafrio percorria meu corpo, cada pelo se arrepiou como se um choque elétrico passasse por mim, havia mais alguém por ali, e esse alguém era forte, talvez mais forte que eu.

Antes de fugir, precisava recuperar meus pertences, junto a carroça eles prenderam minha espada e mochila, peguei-as com rapidez e saí.

Corri na direção oposta a carroça, meu coração batia forte e a cada passo meu coração parecia querer fugir pela boca. Parando em uma das árvores escuras da floresta, me limitei apenas a observar e esperar seus próximos passos.

De longe podia perceber que as coisas só começavam a piorar para o lado dos sequestradores, ficar muito tempo ali era perigoso.

Tomei um susto quando percebi alguém com uma vestimenta predominantemente preta saindo de uma das árvores e silenciosamente se aproximando da carroça em que eu estava.

Tinha cabelos longos, mas não parecia mulher. A escuridão dificultava ver, mas eu tinha certeza, aquele não era um simples homem.

“Quem é ele? Estava me vigiando? O que quer de mim?”

Perguntas inundaram minha mente como uma grande onda no mar.

Tentei convencer a mim mesmo que deveria tomar iniciativa, pelo menos obter informações, dar as costas para o inimigo poderia ser perigoso, eu nem mesmo sabia se ele tinha me visto fugir e estava simplesmente fingindo não saber, ou se realmente não sabia.

“Se não resolver isso agora, pode ser que futuramente venha a se tornar um problema, essa é minha chance.”

A principal questão era como.

“Eu deveria aproximar-me de maneira sorrateira? Ou chamá-lo? Talvez ele nem queira meu mal, mas preciso estar sempre precavida”.

Observando sua aproximação silenciosa em direção à carroça, preparei-me psicológica e fisicamente, saquei minha espada e esperei passo por passo.

Em um piscar de olhos o vi atrás do homem que me guardava e sem qualquer hesitação sua espada perfurava a garganta do sequestrador. Era uma cena forte, o sangue pingava e tingia o chão florido como uma pintura abstrata.

Seu próximo passo foi subir na carroça. Naquele momento, o meu corpo moveu-se em sua direção, não foi algo voluntário, pelo contrário, eu estava com medo, mas meu corpo sabia que essa seria a melhor hora para atacar, reflexo de anos de treino me transformaram em uma caçadora.

Chegando, me deparei com ele de costas para mim, olhando fixamente para as minhas amarras queimadas, eu não conseguia ver sua expressão, mas tinha certeza que ele estava confuso. De costas, eu pude ver um cabelo branco da mesma cor que o meu e uma grande altura.

Não me deixando admirar muito, peguei minha espada e delicadamente coloquei-a em volta de seu pescoço, apoiando assim, minha mão em seu ombro esquerdo. Ele não fez nenhum movimento brusco, pelo contrário, não mexeu um fio de cabelo e ficou totalmente estático.

— Boa noite? O que faz aqui? — eu disse enquanto evitava tremer a espada.

— Acalme-se, eu não vim te fazer mal algum — disse ele.

— Como espere que eu acredite nisso?

— Estou apenas de viagem para teste de cavaleiro real e ouvi homens passando perto de onde eu acampava. Além disso, não acha que tem um problema muito maior lá fora?

Interessante, eu também estava indo fazer o teste de cavaleiro real, e ele estava certo, mais um pouco aqui e nós seríamos esmagados por um demônio sem nem chance de reação.

— Não espere que eu vá acreditar fácil assim. — Retirei minha espada de seu pescoço.

— Temos que resolver um problema antes, não pense que vá fugir — eu disse.

— Não é como se tivesse para onde fugir agora.

Pude sentir um olhar em minhas costas, um calafrio passou pelo meu corpo, ficar perto desse homem significava perigo.

Devido a toda enrolação, o demônio nos viu e começou a andar em nossa direção.

— Posso pelo menos saber seu nome? — ele perguntou, achei no mínimo estranho, mas não vi problema.

— Me chame de Emilly. — Apenas meu primeiro nome seria suficiente, não precisaria de mais informações.

Ele pulou de onde estávamos, e sacou sua espada, parecia uma espada velha e comum. Pela primeira vez pude ver o seu rosto, era apenas um garoto, da minha idade talvez, eu imaginava algo totalmente diferente, ele era branco igual uma nuvem e seus olhos escuros davam a impressão de engolir o espaço em volta como um buraco negro.

— Não espere que eu te acompanhe, Emilly.

Sinceramente nem eu esperava o acompanhar, mas faria o que pudesse para não dar uma impressão de fraqueza.

Dei apenas um leve sorriso em sua direção e decidi começar a aproximação.

Passando por mim, pula em direção em sua direção. Um golpe de espada, o seu ataque era previsível e o demônio iria bloqueá-lo de um jeito ou de outro. Eu teria que fazer algo para que seu ataque não fosse inútil, deveria aproveitar essa chance para causar algum dano no gigante gorila.

Como previsto, sua espada foi impedida pelos braços gigantes do gorila. Saindo da inércia, movi em sua direção, tendo o flanqueado, em um movimento curto e rápido, desferi um corte no seu tendão de Aquiles.

A dor latejante do corte o fez desequilibrar e cair de joelhos, o chão tremia com sua queda.

Surpreendentemente, nenhum barulho de grito foi ouvido, a expressão surpresa era visível no rosto do garoto também.

Achei que nossa vitória já estivesse certa, virei meu rosto para ele um pouco aliviada esperando ver o que mais ele faria.

— Ei...  — Em um movimento inesperado fui pega pelas mãos do gorila demônio, eu não conseguia me mexer, eu não tinha força para fazer algo.

Assustada, tentei gritar, mexer, espernear, nada parecia dar certo, todo o meu treinamento de autocontrole e cuidado em campo parecia ter sido levado por água baixo nesses últimos segundos.

Meus braços fraquejaram, a espada em minha mão foi solta, minhas pernas pareciam estourar.

“Maldito garoto, me fazendo desviar atenção”

Eu sentia o aperto mais e mais forte a cada segundo que se passava, minha respiração estava começando a dificultar.

Meus batimentos cardíacos aceleraram junto de minha respiração, meu pulmão não conseguia se encher por inteiro, precisando assim, aumentar a frequência.

Esperava que o ele fizesse algo a respeito, mas quando percebi ele estava segurando seu braço com uma expressão de dor em seu rosto e a pelo menos 15 metros de distância.

Eu não vi o que acabara de acontecer, ele sofreu um golpe e eu simplesmente não consegui fazer nada, foi algo mais rápido do que pude perceber.

De repente o demônio começou a me apertar duas vezes mais forte, involuntariamente soltei um grito de dor, eu não poderia morrer aqui, não queria. Minha visão ficava cada vez mais turva e meu pulmão começou a realmente não inflar mais.

“Por favor... alguém”.

Supliquei pela última vez, como uma criança chorando, desmaiei.



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