Again Brasileira

Autor(a): Roux


Volume 1

Capítulo 5: Primeiro teste

“É impressionante como todo esse lugar simplesmente não tem custo para os participantes”

Ao entrar, demos de cara com uma segunda Paris, vários vendedores de armas, estabelecimentos famosos e até ruas iluminadas.

— Não é possível… vamos aproveitar, Dante. Nem parece que estamos indo diretamente para o inferno! — disse Emilly enquanto parecia querer explodir de apreensão.

— Não parece uma má ideia… mas isso não me parece certo, sabe? Tenho a impressão de que algo está errado.

— Como assim? Você está se preocupando muito, não acha?

— Olhe todas essas pessoas, a maioria nem chega perto das vendas, além disso, você não sente os olhares vindo em nossa direção? Sinceramente, sinto até repulsa… é como viver na floresta, se os animais comem de um fruto, significa que você pode também, caso contrário, é melhor evitar.

— Hm… não sei não — ela disse enquanto olhava ao nosso redor — tudo me parece bem o suficiente, não é como se a todo momento o governo quisesse matar seus participantes.

Ela me puxou pelo braço e levou-me em direção ao que parecia uma loja de roupas.

— Pare de loucura, você vivia em uma floresta por acaso? Aproveite a vida, poxa!

— Na verdade, eu… — Sem sucesso em completar minha fala, ela me corta, dizendo: — Na verdade nada, venha logo, pare de ser chato.

— Se morrermos a culpa é sua — eu respondi.

— Sem drama, se não morreu até agora, não será hoje.

Loja vai, loja vem. Algumas horas perdidas apenas em lugares assim.

Descansando em um banco, vejo ela saindo de mais um estabelecimento, dessa vez com mais sacolas na mão. Suas roupas mudaram completamente desde que começamos a andar.

— Emilly, essas roupas não são um pouco… inapropriadas para luta? Como você planeja usar isso?

— Uma dama precisa sempre estar bem vestida, não quer sair por aí com uma baranga mal vestida, quer? — ela disse enquanto me mostrava o seu grande vestido florido — além disso, agora você parece gente, conseguiu roupas no mínimo apresentáveis.

— Não é esse o problema aqui, vamos para os quartos, chega de andar, meus joelhos já começaram a doer e olha que minha saúde é de ferro.

Como chegamos ao mesmo tempo, o meu quarto e o de Emilly foram selecionados um ao lado do outro, recebemos um cartão que mostrava o número e instruções de como usar.

Subindo alguns andares, fomos recebidos com um corredor cheio de portas, em cada uma tinha um número específico, um lugar relativamente vazio, exceto por um homem apoiado na parede queimando um cigarro ao fundo.

— Hm, aqui diz para passar o cartão na frente do sensor… assim? — Tentei seguir a instruções e nada acontecia.

— Você parece um caipira, Dante — Emilly pega o meu cartão e explica: — Está vendo esse código QR? É ele que você passa no sensor.

Quando ela aproxima o cartão, um barulho agudo e curto é feito e a porta magicamente abre.

“Eu acho que realmente sou um caipira…”

— Viu? — ela disse apontando para o quarto.

— Ah, mas poxa, eles nem explicaram direito — eu disse envergonhado.

— Enfim, até mais tarde.

Quando entrei, logo a minha direita, um banheiro chique, alguns móveis simples no quarto e uma cama de solteiro. Coloquei minha bagagem em uma mesa de madeira e decidi que deveria tomar um bom banho e lavar minhas roupas antes de pensar em sair novamente.

O banheiro era iluminado com uma lâmpada amarela, tinha uma banheira e foi ali mesmo que decidi tomar banho.

Após sair, deixei minhas roupas lavando e me rendi ao cansaço, deitei-me na cama e cai no sono.

Abrindo os olhos, um local branco.

“O que é isso? Onde eu estou?”

A partir do absoluto nada, grama verde começa a surgir, flores, animais, arvores, frutos…

O conforto parecia inundar o meu corpo.

De repente, um líquido preto começou a escorrer pelos meus dedos, sair pelo meu olho e pelo meu ouvido.

— Aguente mais um pouco.

Um quarto, o mesmo do avião. O fogo o dominava e meu corpo queimava com o calor. Olhando pela janela, eu podia ver pessoas, eu estava em Paris e ao que parecia no último andar de um grande prédio.

“Para onde foi o belo lugar?”

Pedaços de madeira bloqueavam a porta de saída, a cada segundo minha respiração piorava, o calor ia aumentando e eu estava cada vez mais apavorado.

Nenhuma magia funcionava, eu não tinha o que fazer.

— Aguente mais um pouco

Porra, essa voz ficava repetindo isso toda hora dentro da minha mente.

— Faça alguma coisa — gritei desesperado.

— Suporte a dor.

— Não me venha com essa, me tire daqui!

O fogo começou a aumentar cada vez mais, minha única saída era uma janela.

— O desespero não é a solução.

Meu nariz mal conseguia receber oxigênio do ar, eu não tinha outra saída.

A janela em minha frente era muito alta, mas eu não tinha o que fazer.

A visão de fora parecia tão atraente, pela primeira vez, quis sentir o frio congelante de Paris.

— Não se deixe ficar cego.

— Eu não acredito em você, a vida lá fora parece melhor — eu disse.

— A dor lá fora não é real.

Eu não aguentava mais, uma junção de desespero com confusão me fez tomar a pior decisão.

— Suporte a dor.

Ignorando qualquer aviso, me joguei do último andar do prédio esperando que eu sobrevivesse a queda.

Minha visão escurecia cada vez mais, a sensação do vento batendo em minha pele de repente desapareceu e eu estava novamente em uma sala vazia, mas dessa vez, totalmente preta.

Uma figura preta de forma irregular apareceu, ela tinha olhos vermelhos que pareciam um tipo de fumaça.

Ela olhou fixamente para mim, eu não senti medo, fiquei curioso para saber o que era aquilo ao mesmo tempo que ficava feliz por sobreviver a queda, ou pelo menos parecia ter sobrevivido.

Ela se movia em minha direção, não com pernas, era algo como um fantasma flutuando.

— A vida é dura, garoto. Ainda aprenderá muito.

Essa era a voz que ouvi antes, aparentemente era esse “fantasma” que estava dizendo isso.

— O que você quer de mim?

Antes que ele pudesse me responder, ouvi um barulho de porta batendo, como se alguém estivesse me chamando.

— Ódio.

— Ódio? Como assi…

Eu finalmente acordei, era tudo um sonho.

A luz do quarto estava ligada e o dia já tinha sumido, eu só caí no sono, nem roupas eu havia colocado.

— Ei Dante, você está vivo? — disse Emilly batendo na porta do meu quarto.

— Estou saindo, acalme-se.

Vesti-me com as roupas que havia deixado lavando, e coloquei minha espada na cintura.

Dessa vez, troquei minhas antigas vestes pretas por mais vestes pretas, mas dessa vez, em bom estado.

Abri a porta e dei de cara com ela.

— Agora? Já estou aqui sabe se lá quanto tempo — ela disse com raiva.

— Me desculpe, eu me perdi no horário. Para onde vamos?

— Chegou um aviso dizendo para os todos os participantes se encontrarem no pátio principal da locomotiva, você não viu?

— Eu estava dormindo, nem prestei atenção.

— Um pouco irresponsável você — disse ela com um tom de deboche em sua voz.

— Falou a garota que pegou carona com criminosos para chegar até aqui — eu disse rindo — até trocou de roupa, parece que as coisas ficarão sérias.

— Junte todas as suas coisas, não parece que voltaremos mais aqui.

Fomos em busca do pátio principal, esse avião era quase como uma cidade, tudo aqui era monitorado e vigiado por inquisidores, qualquer briga aqui podia resultar em algo muito pior, pelo menos deveria.

Descemos um lance de escadas, passamos por alguns estabelecimentos e chegamos em um lugar com uma grande aglomeração de pessoas, tinha algumas fontes que jorravam água, o chão era branco e liso, o lugar era todo rodeado por plantas e na frente tinha um grande palco.

Imaginamos que ali fosse o pátio principal e então esperamos.

As pessoas ali presentes utilizavam as mais diversas armas, espadas, facas, arcos e até ferramentas que eu nunca havia visto antes.

Um homem alto e bem-vestido, subiu no palco.

— Boa noite, queridos participantes — disse o homem animado.

As pessoas se viraram em sua direção e começaram a escutar.

— Primeiramente queria desejar meus parabéns aos corajosos que decidiram fazer o teste. Desde já aviso que não será fácil, não nos responsabilizamos por mortes ou acidentes. A minha direita, tem um botão para os desistentes, quem quiser se render, pode simplesmente apertá-lo.

O botão dito, estava localizado no palco, era grande e vermelho, bastante chamativo.

— Devem estar se perguntando, que horas chegaremos ao destino? Como serão os testes? Tenho a felicidade de informá-los que o teste já começou.

Pude perceber as mais diversas reações das pessoas ao meu redor, desde confusão, medo, animação até os mais sádicos sorrisos.

Emilly se manteve inabalável, seu rosto não expressava nenhum sentimento de medo ou insegurança.

— Depois dessa informação, devo ressaltar que o botão de desistir continua livre. Continuando, quem não passar aqui, não irá avançar para o próximo estágio. Como vocês imaginam, tem muitos participantes de todo o mundo querendo se tornar cavaleiros reais, precisamos de uma peneira adequada. Desejo boa sorte a todos.

Saindo do palco, dessa vez era perceptível a confusão da maioria das pessoas. Pude ouvir questionamentos ao meu redor.

— Que tipo de teste?

— Ele quase nem deu informações!

Gritos de dor ecoaram no ar, uma noite sangrenta começava.



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