Aelum Brasileira

Autor(a): Marin


Volume 3

Capítulo 80: Cafezal em Terras Vermelhas

GRIS

 

Depois da encruzilhada ao leste de Lumínia, cavalgamos em direção ao sul pela estrada que leva ao porto. À nossa direita, a paisagem era repleta das já conhecidas plantações de trigo, vistas do outro lado do rio. Porém, à medida que avançávamos, o chão e a poeira se tornavam escarlates.

Junto do carmesim da paisagem, plantações de café foram cada vez mais frequentes do nosso lado esquerdo. Alguns plantados ao longo da planície; outros, em curvas de níveis nas partes mais baixas e menos íngremes das montanhas vermelhas.

Com o dom da visão, vislumbrei os wyverns de fogo saltarem no alto das cordilheiras. Por não serem hostis com o povo de Galantur, servem como cães de guarda das plantações e afugentam qualquer estrangeiro destas terras.

Nos encontramos agora na bifurcação da estrada entre os caminhos que levam a Galantur e o Porto de Lumínia. Uma ave branca voa em nossa direção e pousa no braço de Kali, a qual cavalga na garupa da égua branca guiada por Alienor.

Por evidente, a ruiva não quis ficar tão próxima do rapaz bronzeado, cuja má reputação já o precede. Assim, restou a lumen como opção.

— Owa! — comando o cavalo e puxo suas rédeas. Garibaldi diminui seu ritmo até pararmos.

— Oi, minha menina. Achou algo? — questiona a lumen.

Uh! Responde a ave à sua maneira e contorce seu pescoço para a direção das montanhas vermelhas. Ul-uh!

Conor desce da garupa de Garibaldi e argumenta: — Não acho que deveríamos seguir à cavalo, são muito chamativos.

— Enquanto estiverem comigo, os wyverns não atacarão os animais, mas não garanto nada se eu precisar entrar nessa gruta que vocês falaram — responde Alienor, enquanto desce da sela, seguida por Kali.

— Se os deixarmos aqui, é quase certo que serão roubados — argumenta a lumen.

— Acho que eles já fizeram um bom trabalho. Ganhamos algumas horas com isso. — Desço do animal também, o puxo até perto da égua e amarro suas rédeas uma na outra. — Bom trabalho, vocês dois. Garibaldi, volte e guie a Neve até o Sr. Carlos.

O alazão bufa e balança sua cabeça para cima e para baixo, então caminha em direção ao norte.

— Ele conseguirá voltar sozinho? — questiona Kali.

— Sim, o Garibaldi é um cavalo esperto. Cintia me disse que ele resgatou o pai dela, desacordado, desde os pântanos até Lumínia, durante a guerra de Galantur.

— Essa ela nunca me contou... — comenta Alienor, ela olha pra a direção das montanhas e franze a sobrancelha. — Vamos logo, precisamos encontrar a Cintia.

— Tem razão, vamos.

— Voe, Fix, e nos mostre o caminho — determina a lumen ao estender seu braço para o alto, e a ave a obedece.

Devemos estar há umas quatro ou cinco horas atrasados em relação aos supostos sequestradores, agora que nos adiantamos com os cavalos. Já é tarde, e começará a escurecer em breve, porém dentro dessa gruta não fará diferença alguma, suponho.

Enquanto caminhamos a passos largos pelas fileiras das plantações de café e guiados pela coruja do luar a pairar pelos ares, decido perguntar: — Por que vocês acham que um comandante ogro estaria interessado em Cintia?

Hum... Nem ideia — aduz Kali. — Demônios só se interessam por território e recursos, pelo que sei. São como gafanhotos.

— Nem todos — interrompe Conor.

Ah! Desculpe, não quis ser rude. Na verdade, eu não me referia aos humanos de Nila Velum...

— Eu sei, Kali. Só estava te aborrecendo.

— Talvez o domador tenha matado algum bandido ou comerciante com aquela coisa escrita no bolso e ficou com ela... — a ruiva retoma o tema.

— Até que faria algum sentido. Afinal, ele deve ter assaltado as caravanas que passavam pela estrada perto do bosque — comenta Conor. — Por outro lado, isso não explica o porquê da escrita estar na linguagem de Nila Velum. Comerciantes ou bandidos não fariam algo assim.

— Tem razão. Será que alguém ordenou que ele rastreasse a Srta. Cintia?

— Improvável, só um lorde ogro poderia ordenar um comandante em uma missão desse tipo. Não consigo imaginar um motivo para que fizessem algo assim — explica Conor.

— Então estamos na estaca zero. Ainda por cima, seguimos o rastro de bandidos, não de ogros. Nada se conecta.

— A Alienor não era foragida de Galantur? — interroga Conor. — Quem sabe isso não seja uma artimanha para atrai-la até aqui.

— Definitivamente é algo que algo que Loise faria — responde Alienor. — Não sei se ajuda, mas antes da minha mãe morrer e eu fugir, haviam alguns rumores de que alguém de Nila Velum estava em Galantur.

— Isso é ruim? — questiona Kali.

— É crime tratar com pessoas daquele continente, traição segundo as leis de Thar. A pena é morte por decapitação. Uhum! Uhum!

— Mas e quanto ao Conor? — questiono.

— Digamos que não sou exatamente o estereótipo de um niliano, já perdi o sotaque há muito tempo, como vocês já devem ter percebido. Normalmente, me confundem com os nativos das terras áridas. Apesar que Cintia percebeu bem rápido de onde eu era... — Conor leva a mão ao queixo e observa o céu, pensativo.

— Resumindo, não sabemos praticamente nada... — Escuto um som bem baixo de guizos de cascavel, o qual só noto por conta do impetus. — Qual a chance de encontrarmos algum wyvern no caminho?

— Baixas, eles preferem o alto das montanhas. Só descerão aqui se chamarmos muita atenção — responde a ruiva.

— Fix estará de olho lá no alto. Se ela vir algum perigo, nos avisará — complementa Kali.

— Ótimo.

— Se entrarmos na caverna, precisaremos tomar alguns cuidados. Rocha calcária não é das mais estáveis e, mesmo se fosse, não é bom causar explosões ou usar magia de fogo lá dentro — aduz Conor.

Aaah! Já vai começar... A Cintia está em perigo, não posso pegar leve.

— Ele está carto, Alienor. Não use magias que poderão causar desmoronamentos, a própria Cintia pode estar lá dentro.

Hum... Você está certoresmunga a ruiva e diminui o ritmo de seus passos.

— Nada de fogo também — explica Conor. — Não sabemos se podem haver gases voláteis lá dentro e...

— Gases voláteis?! — Questiona a ruiva, enquanto volta acelerar seus passos, agora mais interessada na conversa.

— Sim, mas mesmo que não tenha nada disso, o fogo consumirá o oxigênio e poderá nos intoxicar lá dentro. Então nada de fogo lá embaixo.

— Tá... — Ela volta a se murchar. — Só que eu não conseguirei fazer muita coisa então...

— Eu também não conseguirei usar a convergência. Abaixo do solo é impossível e de noite também. — Ela olha para o céu alaranjado, cuja cor denuncia o eminente fim do dia.

— Espero que não haja algo tão poderoso quanto aquele ciclope.

— Aquilo foi um infortúnio — responde Conor. — Não deverá se repetir tão cedo.

Uh! Pia a ave albina, após pousar em uma árvore de café situada em uma das curvas de níveis da montanha. Abaixo dela, existem rochas de coloração branca, que contrastam com a terra vermelha e cafeeiros verdes.

— Ela encontrou a entrada. — Aponto para uma gruta com a abertura estreita.

A coruja voa de volta até o braço de Kali. — Bom trabalho, Fix. Encontre um lugar seguro e nos espere.

Sigo adiante pela caverna, sua descida é íngreme e escura. Entretanto, tal breu já não é um problema.

Alienor, por outro lado, é a única que não consegue ver aqui. Por isso, Kali conjurou magia de luz para guiá-la mais atrás, e Conor segue com elas para o caso de algum imprevisto em nossa retaguarda. Assim, sigo mais a frente e me esgueiro pela gruta como batedor.

Após caminhar por uma longa galeria, vejo no fim dela a entrada para uma câmara mais ampla, denunciada por uma iluminação trepidante proveniente de fogo. Além disso, escuto vozes cada vez mais nítidas de alguns homens a discutir.

— Será que é valioso, Maneta? — diz um deles.

— É de prata com certeza. Então deve valer algo — responde o outro.

Consigo me esgueirar em silêncio até a beirada da galeria e vejo cinco bandidos ao redor de uma fogueira. Ao lado deles, alguns barris de cerveja e mesas cheias de canecas e pedaços de carne.

O local está repleto de alguns baús, caixotes e diversos itens aparentemente roubados das caravanas de comércio ou do porto. Aqui cheira a chiqueiro de porcos.

— Será melhor derreterem isso aí. Os soldados de Lumínia reconhecem esse símbolo — argumenta um rapaz cuja voz me é familiar, mas não lembro de onde.

— Cala a boca, Cicatriz. Ninguém pediu sua opinião.

Hey, Caolho! Agora que o novato falou, essa cicatriz que ele tem é igual a dessa parada aqui.

— Caralho, é verdade. Porra, Cicatriz! Se você sabe o que é, então por que não soltou a letra direto?

Escuto meus companheiros se aproximarem, olho para trás e faço um sinal para ficarem em silêncio. Kali desativa sua magia, e eles se esgueiram até mim.

— Será que o novato queria esconder isso da gente, Caolho? Acho que tava tentando ganhar a mais nas nossas costas.

— Como assim, esconder? Se eu mesmo que disse para terem cuidado. Além disso, vocês só conseguiram essa coisa porque eu sabia a melhor hora de pegá-la...

— Então foi você, seu monobola desgraçado! — exclama a ruiva.

— Não, Alienor... — diz Conor, depois tampa o rosto e abaixa a cabeça.

Lá se vai o elemento surpresa. Os bandidos se levantam e sacam suas espadas. — Que pena, se perderam no lugar errado — aduz um homem caolho, com um colar prateado em sua mão esquerda.

Dada a distância, não é possível confirmar, mas estou seguro que é o colar de Cintia.

— Gostei da branquinha. Hehehe... — comenta um ruivo com um sorriso doentio no rosto, cuja mão direita parece ter sido cortada.

— Eu acho melhor não... — tenta dizer o rapaz alto e robusto com uma cicatriz de caveira na bochecha, ele olha para mim e arregala os olhos.

— É bom você ter uma boa desculpa, Diego di Ricci.

 

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