Aelum Brasileira

Autor(a): Marin


Volume 3

Capítulo 78: Palavras Nilianas

GRIS

 

Enquanto lia o livro de Ariel Beltrate, entendi melhor sobre os níveis de ameaça dos demônios e bestas. Apesar de suas forças em combate serem importantes para a avaliação, nem tudo se resume a isso.

Se levada em consideração apenas a sua força, o domador sombrio seria um demônio de classe “e”, enquanto o ciclope seria um ser de classe “c”. Porém, a ameaça do domador está justamente no seu poder de domar feras por meio de magia de morte e comandá-las de forma estratégica.

Por outro lado, em que pese sua força e resistência descomunal, o ciclope é um demônio irracional. Portanto, ambos são classificados como criaturas desastre. Porém juntos... — Que combinação problemática — eu comento.

— Concordo, um ciclope comandado por um domador. Esses não foram adversários comuns — responde Conor. — Além disso, corvos embusteiros só existem naquele continente. Na minha antiga tribo, eles acreditavam que esse demônio era um mau presságio.

— Não sei o porquê, mas tive a impressão de que esses corvos procuravam por algo... — comento.

— Então o Lorde Khan tinha razão — intervém Kali. — Esses demônios são de Nila Velum, e é quase certo que esse domador era um comandante.

— Galera, isso foi muito maneiro. Não quero mais caçar aqueles cães fedidos.

— Logo poderemos caçar demônios mais fortes, Alienor. Depois disso, faremos a missão de avaliação...

— Creio que nem precisaremos — comenta Kali. — Se levarmos o corpo do domador até a guilda, é quase certo que subiremos para a classe “e” por mérito.

— Tem razão, será bom levarmos o corpo. Eles precisam saber que um demônio desse tipo esteve aqui... Pessoal, eu sei que vocês me indicaram como líder, mas a verdade é que vocês dois têm muito mais experiência do que eu.

— Na minha opinião, você foi muito bem — aduz Kali.

— A questão é que o domador conseguiu chegar até você. Se o Conor tivesse só seguido meu plano, não sei o que poderia ter acontecido.

— Não se preocupe, Gris. Esta foi a primeira batalha difícil que tivemos até agora. Você foi bem e vai pegar o jeito com o tempo.

— Obrigado, mas se perceberem algo que eu não vi, peço que me aconselhem.

— Uhum! — responde Kali, e Conor balança a cabeça para cima e para baixo em concordância.

A ruiva, toda acanhada e cabisbaixa, coça sua bochecha e olha para o lado. — Conto com você, Alienor — eu digo.

Ela levanta a cabeça, lança um sorriso e diz: — Pode deixar!

Enquanto Alienor presta continência, toda desengonçada, coleto o arco longo do domador do chão e uma aljava com uma dezena de flechas. — Este arco não se rompeu com o disparo transpassaste, é bem resistente.

— Deixe-me ver — aduz Alienor e pega o arco de minhas mãos antes que eu possa respondê-la. Ela tenta tencionar a corda, a qual mal se move — Uhm... Ai, que pesado!

— É um arco feito para um comandante ogro. Você não conseguirá movê-lo — explica Kali. — Mas creio que seja útil para o Gris.

— Ele é muito grande e será difícil transportá-lo.

— Dá ele aqui então. Acho que consigo resolver isso — contesta Kali.

Alienor entrega o arco para a lumen, a qual faz um esforço tremendo para carregá-lo até uma rocha. Ela senta ali, analisa o objeto e olha para mim. — De um nome para o arco, Gris.

— Um nome? Por quê?

— Só confie em mim.

Ahm... Arco de Domador?

— Bom, deve servir... — Ela toca o objeto e proclama: — Ligare Rem: Arco de Domador.

O arco brilha em verde em resposta. Kali se levanta, deixa o objeto com cuidado sobre a rocha e vem até nós.

— Vamos ver se deu certo — ela diz e toca o chão com a palma da mão. — Invoco Te Rem: Arco de Domador.

O arco desaparece, enquanto um círculo verde com alguns símbolos e escritas estanhas se espalham pelo chão. Então, o arco ressurge dentro do círculo e aos pés de Kali.

— Agora você pode guardá-lo em um local seguro que eu conseguirei invocá-lo quando precisarmos.

— Que incrível, Srta. Kali. Você sabe um monte de magia diferente.

Com as bochechas coradas, Kali vira o rosto para o lado. — Eu fiquei muito tempo isolada, estudando...

— Sinto muito.

— Ah! Não entenda errado, não estou reclamando. — Ela abana suas mãos, toda aflita. — É verdade que eu vivia presa naquele lugar, mas sei que tem muita gente com vidas mais difíceis.

— Bom, a conversa está muito agradável, mas creio que será melhor retirarmos os espólios desses demônios e sairmos daqui — diz Conor, ao passo que se agacha para vasculhar os pertences do domador. — Não sabemos se o bosque pode guardar outra surpresa.

— Tem razão, Sr. Conor. Melhor sairmos daqui o mais rápido possível.

Conor retira um pedaço de couro de animal de dentro de uma escarcela rústica. — Hum... linguagem niliana — comenta o rapaz, enquanto leva a mão ao queixo e analisa o objeto.

Escuto o galopar de algum animal. Um cavalo grande de pelo marrom a trotar pela estrada vem em nossa direção. — É o Garibaldi? — pergunto.

— Parece que é ele — responde Alienor.

— Gris, você precisa ver isto. — Conor me entrega o pedaço de couro, com uma escrita em símbolos estranhos, a qual parece deter três palavras distintas.

— O que está escrito?

— Lumínia; Mulher e... — Ele olha de novo para o papel em minhas mãos e engole saliva, com uma expressão de dúvida em seu rosto.

O cavalo nos alcança, vem até mim, relincha enquanto balança a cabeça, depois empina sobre duas patas. — Calma, Garibaldi. Owa! Owa! — Estendo minha mão para ele e toco seu focinho, e o alazão se apazigua.

— Já vinha notando que o comportamento desse cavalo não é comum — aduz Conor, ao se aproximar.

Garibaldi volta a ficar inquieto ao ver o rapaz, ele relincha novamente e dá dois passos para trás. — O que foi, Garibaldi? Por que você escapou?

O animal morde minha camisa e me puxa. — Calma, calma...

Hum... Parece que ele quer que você o siga, Gris — comenta Alienor, ao passo que cruza os braços e leva a mão ao queixo, pensativa.

O cavalo bufa e balança a cabeça para cima e para baixo, como se concordasse com o que Alienor diz.

— Que cavalo inteligente — comenta a lumen. — Parecido com a Fix.

— Sim, o Garibaldi é esperto... — Mas quem é Fix?

Talvez seja coisa da minha cabeça, mas me deu a impressão de que ele está’ orgulhoso por conta do elogio. O cavalo concorda batendo duas vezes com a pata direita no chão, ao passo que balança a cabeça.

— Gente, estou com uma sensação ruim. Acho que eu deveria voltar para Lumínia com o Garibaldi.

— Creio que tem razão — comenta Conor, enquanto olha para o pedaço de couro em minhas mãos.

— Quase me esqueço... O que está escrito na última palavra?

— Eu consigo conversar com certa fluência, mas não sou muito bom na escrita daquele continente, e posso estar errado na tradução. Esta marcação aqui indica se tratar de um nome próprio. — Conor aponta para um risco horizontal na primeira letra da terceira palavra. — Creio que o nome escrito é Cintia.

Olho para o oeste, na estrada que leva à Lumínia. — Eu preciso ir na frente.

— Quero ir também!

— Nós precisamos de você para queimar os corpos dos demônios. Eles podem atrair outros ou causar doenças se ficarem aqui — argumenta a lumen.

Ah! — A ruiva olha para mim, em busca de aprovação, mas eu balanço a cabeça para os lados. — Tá bom... Vá até ela, Gris. Nós te alcançaremos.

Coleto o arco longo e o amarro na lateral da sela do Garibaldi. — Certo, tentem não demorar muito. Este lugar é perigoso. — Olho em direção ao bosque, o qual permanece em total silêncio.

— Só precisaremos de alguns minutos aqui — responde o moreno.

Subo no animal e toco seu pescoço. — Vamos, Garibaldi. Leve-me até a Srta. Cintia.

Assim que me aproximo dos estábulos da Srta. Cintia, um senhor grisalho me intercepta com sua mão estendida ao alto. — Ah, que alívio! Você encontrou o Garibaldi, um problema a menos — aduz Carlos, o atual cavalariço do lugar.

Desço do alazão e começo a desamarrar o arco sua sela. — O senhor disse um problema a menos?

— Sim, é porque...

— Gris! — grita Laura, assim que sai da estalagem. — Que bom que você chegou.

— Pode deixar que eu guardarei esse cavalo fujão — aduz o cavalariço, ao passo que toma as rédeas de minhas mãos.

— Obrigado, Sr. Carlos — assim que respondo, o cavalo balança sua cabeça, bufa e bate com a pata direita algumas vezes no chão. — Obrigado também, Garibaldi. — Assim, ele se deixa guiar pelo condutor, o qual franze a sobrancelha, sem entender nada.

Laura chega até mim, pega minha mão e diz: — Gris, você viu a Srta. Cintia?

— Não, eu não a vi desde o café. O que aconteceu?

— Desde antes do almoço, ela não voltou e não me avisou nada. Tive que aprontar tudo sozinha... — Ela olha para a estalagem.

— Já viu com os comerciantes, talvez esteja comprando mantimentos para a estalagem.

— Eu também pensei nisso, mas já fui lá e ela não estava.

— Vocês a encontraram? — pergunta Verônica, assim que se aproxima de nós. — Perguntei aos soldados, na guilda e igreja, mas ninguém a viu também.

— Imagino que já foram na casa dela — comento.

— Sim, mas está trancada. A chamei várias vezes, e ela não respondeu — contesta Laura.

— Eu vou conferir, só para ter certeza — digo e caminho até casa do lado esquerdo da estalagem, acompanhado pelas duas garotas.

Tento abrir a porta, mas ela não se move, trancada. As janelas estão fechadas, com suas cortinas a cobrirem a visão. Ativo o impetus em meus olhos, mas não vejo qualquer vislumbre de aura lá dentro.

Agacho-me perante a porta ao ver pegadas diante dela. Algumas são de Cintia, mas há pelo menos três outras de botas masculinas.

Ao me apoiar com a mão na maçaneta, dou uma ombrada contra a porta, arrancando-a da moldura e a romper suas dobradiças. A solto, e ela cai para o lado de dentro e causa um som abafado.

— Ai, Caramba! — assusta-se Laura.

— É só uma porta, depois eu pagarei para... — Vislumbro o interior da casa da Srta. Cintia, a qual está com alguns móveis arrastados e outros objetos destruídos pelo chão. — Ela foi levada. Um grupo de homens.

— Ahm! — Verônica toma ar e leva a mão à boca, espantada. — Por Dara.

— Não pode ser... — comenta a garotinha loira, com um olhar perdido e rosto apático.

— Ah! Cá estão vocês — diz um homem de cabelo castanho, com um bigode característico, ao parar do lado de fora da porta arrancada. — Vim assim que soube que procuravam pela senhoria da estalagem. Hum... Quanta bagunça, que tristeza.

 

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