Aelum Brasileira

Autor(a): Marin


Volume 3

Capítulo 77: A Suporte do Grupo

GRIS

“As grossas muralhas da cidade de Dákila sempre foram consideradas impenetráveis. Por séculos, suportaram as investidas de todos os exércitos, desde as crias de Nila até a magia dos poderosos feiticeiros de Lumínia.

É com vergonha que admito que, justo na minha geração, vi os portões de aço da capital do Deserto de Adarik sucumbirem diante do cerco do exército demoníaco.

Certamente resistiríamos tempo suficiente para a chegada do apoio de Galantur, se não fosse o surgimento de uma enorme criatura. Era como um ogro, mas muito mais alto, robusto e animalesco, com a força de dez comandantes.

Nem mesmo as grandes balestras das torres foram capazes de penetrar a pele daquilo. Ele mal sentiu quando tombamos os caldeirões de óleo fervente sobre seus ombros. Conseguimos perfurar seu único olho, mas somente depois que ele tombou as portas principais da capital, como se fossem feitas de papel, permitindo que as hordas entrassem.

Assim que a criatura deu seu último fôlego, o general do exército inimigo bradou algo em sua língua para os soldados demônios. O escriba ao meu lado soube traduzir tudo o que ele disse, salvo por uma única palavra até então desconhecida: Ciclope.”

(Trecho do livro: A Guilda de Aventureiros: Um guia sobre as bestas e demônios mais comuns, por A. B.; Relato de Adamir Voran, a 12ª Mão de Dassir; ano de 1145 e.a.)

 

Levo a mão ao meu pescoço, estou sangrando. Nem mesmo aquele disparo de flecha perfurou tanto meu peito, mas a guilhotina me cortou. Se não fosse a técnica, minha cabeça rolaria pelo chão agora. Sinto um frio na barriga por pensar no quão imprudente eu fui por me deixar ser golpeado pelo demônio voador.

Mas elas são os menores dos problemas, um dos demônios de nível desastre mais poderosos sai do bosque, um ciclope.

A criatura me ignora, olha para Kali e marcha em sua direção. Um ser tão animalesco não identificaria a suporte do grupo tão fácil, só pode ser influência do domador.

— Creptus Mas — recita Alienor, e a explosão se forma no peito do ciclope, o qual detém sua caminhada por um instante, mas segue sem qualquer lesão logo depois.

— Nos olhos, Alienor! — exclama Kali, enquanto recua em direção às plantações.

— Tá!

Coleto outro projetil do chão e lanço outra flecha transpassante. Como um relâmpago, ela viaja, impacta contra o joelho direito do demônio e explode em vários fragmentos de madeira e metal. Mesmo reforçada com impetus, ela não atravessa o couro da aberração.

Lanço o arco para longo para longe do bosque e empunho a espada negra. À medida que invisto contra a criatura, golpeio-a com a espada no joelho, sobre o mesmo local que a flecha acertou. A arma afunda alguns centímetros, mas não corta a pele do ciclope.

O inimigo volta seu único olho para mim, após receber o golpe. — Uargh! — Ele levanta o tronco de árvore e o golpeia contra o solo. Dou duas cambalhotas para trás e desvio do golpe, sinto apenas o ar se deslocar e o som do impacto da arma contra o solo. Poeira se levanta.

— Kali, proteja-se! O restante, foquem nos menores. Eu vou distrai-lo — digo aos demais, e aponto para o gigante.

— Certo! — responde Alienor, então ela estende seu braço para o alto. — Crepta. — A magia estourar mata duas guilhotinas de uma só vez. Depois, a ruiva continua a bombardear as criaturas voadoras uma por uma em uma sucessão rápida de explosões.

Enquanto Conor avança com sua lança em punhos ceifando e perfurando os cães pretos no solo, Kali lança um feitiço de cura em mim e estanca meu sangramento no pescoço.

Guardo minha espada na bainha. Ela só seria útil para ferir os olhos, mas não posso correr o risco de ser agarrado, ao tentar isso.

O ciclope segura o tronco com ambas as mãos e investe contra mim, ele balança a arma improvisada de um lado para o outro. Salto por cima arma, enquanto ela passa rente aos meus cabelos. Ao tocar o solo de novo com meus pés, corro em direção ao demônio, o qual solta a o tronco para tentar me agarrar com as mãos.

Passo por debaixo dele, entre suas pernas. — Urgh!? — ele reclama. A criatura observa as próprias mãos, incrédula por não conseguir me pegar. Ao passo que o ciclope tenta entender o que ocorreu, desfiro três murros na fossa poplítea, região oposta ao joelho direito. — Aaaarg! — ele urra, se desequilibra e ajoelha no chão.

Uma explosão avermelhada surge diante dos olhos do ciclope, o qual só tem tempo de levar o braço esquerdo para se proteger. Quando a poeira abaixa, vejo a mão dele escorrer um sangue escuro. A magia mais poderosa de Alienor só é capaz de fazê-lo sangrar um pouco?

O ciclope se levanta e lança um berro: — Uaarrr! — Frenético e raivoso, ele larga o tronco e investe contra a ruiva.

O mais rápido que posso, corro e me coloco entre a monstruosidade e Alienor. O intercepto com dois poderosos socos no joelho direito. Ele abaixa a cabeça, mostra os dentes e balança sua mão em um pêndulo, acertando-me em cheio na altura do ombro como se fosse uma marreta.

Mesmo com o aumento de massa, sou jogado para longe. O ciclope tem mais força que o Barathun ou aqueles gigantes.

Enquanto tento me recompor, percebo que o golpe do ciclope deslocou meu ombro do lugar, não consigo mexer meu braço direito.

Levanto minha face, escuto o som de uma explosão. O impacto da magia de Alienor diante dos olhos do ciclope o joga para trás, e ele cai de costas no chão.

Assim que Kali lança um feixe de luz e ceifa a vida da última criatura voadora, vislumbro uma espécie de corda preta sair de dentro da plantação de trigo e envolver o pescoço da lumen. — Ahm!? — ela reclama, sem entender.

Kali se debate enquanto segura com ambas as mãos na corda em seu pescoço e é arrastada em direção à plantação. Na outra ponta, o domador sombrio se revela, enquanto puxa a lumen até si. Ele conseguiu dar a volta, enquanto nos distraíamos com o ciclope.

O comandante demoníaco agarra a garota, coloca uma espada em seu pescoço e grita algo em uma língua estranha, enquanto Conor mata o último cão. O moreno solta sua lança e levanta as mãos. — Alienor, vamos nos render. Confie em mim — ele diz.

A contragosto, a ruiva levanta as mãos também. Entretanto, com uma expressão raivosa em seu rosto grotesco, o ciclope se levanta e esmaga Conor contra o solo com um soco. — Não! — grito.

Foi muito rápido, não tive tempo de reagir. Prendo minha mão direita entre os joelhos e com um movimento súbito, forço meu ombro de volta ao lugar. — Aaah! — urro. A dor é excruciante.

Assim que coloco a mão na empunhadura da espada, o domador olha para mim e esbraveja algo que não entendo. Ele pressiona ainda mais a lâmina contra o pescoço da lumen.

Solto a empunhadura da espada, enquanto levanto minhas mãos lentamente, porém noto a luz se distorcer atrás dele em algo translúcido, comparável à água e com aspecto humanoide, que aos poucos revela a forma de Conor.

Volto minha atenção ao ciclope, o qual olha para seu punho cheio de barro, era um clone. Conor agarra o domador pelo pescoço em um golpe de gravata, o desmaia com magia e passa a desferir uma dezena de golpes perfurantes contra o pescoço e peito do demônio.

Meu companheiro solta o comandante, que cai já sem vida contra o chão. Kali se solta e toma ar finalmente.

— Uaaar! — brada o ciclope, ao ver o comandante morrer, e corre em direção à ruiva.

Ao passo que avanço para interceptar o ciclope, Conor faz o mesmo e salta em direção à monstruosidade. — Lupus Groteska! — ele grita em pleno ar.

Seu corpo é tomado por uma névoa escura e espeça à medida que transmuta para a abominação, que crava suas garras no torço e seus dentes no pescoço dele, embora não atravesse o couro resistente do inimigo.

— Segurem-no o máximo que puderem! — grita Kali, após recobrar de seu fôlego.

O ciclope passa a socar a cabeça da abominação lupina grudada em seu pescoço.

— Superno Vincula — recita Alienor e prende a perna esquerda da monstruosidade.

Astro-rei, soberano dos céus... — recita Kali.

Dou a volta no ciclope e esmurro três vezes o joelho direito dele com o máximo de força possível. Escuto o estalar dos ligamentos que se rompem, enquanto a criatura se prostra no chão.

Conor se aproveita e dá a volta agarrando-o pelas costas, ele segura os braços do inimigo e o imobiliza.

— Groooar! — O ciclope se debate, mas não se livra.

Inimigo da escuridão e joia da coroa da criação...

O sol no horizonte perde força, deixando as montanhas vermelhas em uma penumbra. Em contrapartida, a luminosidade se intensifica cada vez mais perto de nós, aumentando a temperatura do ambiente.

Uso o aumento de massa, ao passo que agarro a coxa direita do ciclope, o qual tenta se desvencilhar e se levantar de forma inútil.

Suplico-te que volte seus olhos aos meus inimigos: Lux Mas Convertis.

Um estrondo ensurdecedor ocorre junto de uma luz ofuscante proveniente sol. Cerro meus olhos e continuo a segurar o ciclope, cujos gritos de agonia ele lança aos céus. Ao passo que a criatura se debate, o calor escaldante do feixe de luz alcança minha pele e ela passa a exalar um cheiro de pelos chamuscados.

Por fim, a monstruosidade para de se mexer, e a magia se encerra. Quando abro meus olhos, vislumbro o ciclope jaz sem cabeça, derretida junto de parte do seu peito com um sangue preto cauterizado.

O chão treme assim que o ogro desfalece e cai, revelando a mim a lumen prostrada no chão a suar frio e com a respiração pesada, prestes a desmaiar.

Conor olha para todos os lados e volta à sua forma humana. — Ufa! Essa foi pesada. Parece que acabou... — Ofegante, ele volta seus olhos para Kali. — Lembre-me de nunca te irritar. Hehehe...

A garota levanta sua cabeça e devolve um sorriso. Alienor se aproxima dela e estende a mão. — Hey, tudo bem? Eu te ajudo a levantar.

Ao olhar para meus braços, constato que as mangas se incineraram e possuo algumas marcas de queimadura. O feixe sequer encostou em mim, mas atravessou a defesa do impetus.

Então essa é a Convergência de Luz Solar vista de perto. A Srta. Kali é incrível mesmo... Talvez eu não seja bom o suficiente para ser o líder deste grupo.

— Caramba! Você não era para ser a suporte? — questiona Alienor. — Vou ficar sem emprego assim. Hahaha! Aquilo foi muito maneiro, você pode fazer de novo?

 

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