Aelum Brasileira

Autor(a): Marin


Volume 2

Capítulo 66: Vitari

GRIS

 

Coberto por uma luz avermelhada, a qual contrasta com o azul predominante do restante do ambiente, deparo-me com um canteiro repleto das mais belas flores: Tulipas coloridas, vívidas e muito bem-cuidadas.

Antes mesmo de entrar, já posso sentir um leve cheiro de tabaco e escuto uma suave melodia provinda de algum instrumento de cordas.

Ao passo que abro a porta, sou recebido por um brutamontes de cabelos pretos, o qual franze o cenho e diz: — Parado aí... Ah! É você.

— Boa tarde, Sr. Bruto.

O grandalhão se abaixa um pouco para dizer em baixo som: — Hey! Não veio aqui para arrumar confusão, verdade?

— Não.

— Olha, eu sei que a Madame Vitari permitiu sua entrada, mas você é bem jovem e tal... — Ele olha para os lados, um tanto envergonhado.

— Eu só passava pela rua, percebi que as tulipas não foram irrigadas hoje e estão morrendo ali fora. Resolvi entrar para avisar.

Ah! Entendi, mas eu já falei não sou a porra de um jardineiro. — Ele se aproxima ainda mais de meu ouvido e sussurra: — De que cores eram as tulipas?

— Vermelhas.

Humpf! — ele resmunga e cruza os braços. — Como eu te disse, isso não é problema meu. Se tem alguma reclamação, faça isso lá. — Ele aponta para uma porta ao fundo que se destaca por ser a única vermelha.

Enquanto cruzo o estabelecimento, algumas garotas cochicham entre si e riem com seus rostos escondidos por leques coloridos. Começo a pensar que os leque servem para isso mesmo, eis que o clima é agradável.

Desta vez, não vejo a donzela de vermelho, mas outra garota loira está a tocar música em seu lugar com uma harpa.

Não entendo de musicalidade e essas coisas. A Alienor é melhor nesse aspecto que eu. Mas até alguém com o ouvido rústico sabe que a música da Madame Vitari é mais bela.

Ao passar pela porta indicada pelo guarda, deparo-me com a mesma sala vermelha que estive da outra vez, com sofás nos cantos e uma mesa no centro. Porém, desta vez, está tudo muito mais calmo e silencioso, salvo pela melodia que vem de fora, a qual é abafada assim que encosto a porta.

Sento-me no sofá, diante da poltrona que a anfitriã se acomodou da última vez e aguardo sua chegada, pacientemente.

Alguns minutos se passam, até que a porta se abre. Uma linda lumen, com um vestido longo e florido de cores vermelhas e pretas, entra no recinto.

Sem olhar para mim, ela pega um cigarro alongado e fino que estava em uma carteira sobre uma prateleira, se senta na poltrona a minha frente com a postura ereta, cruzas as pernas com elegância, aponta o dedo indicador para o objeto e diz sua primeira palavra: — Ignis.

Após tragar, a donzela finalmente me percebe e comenta: — Apesar de ser bem-vindo, não esperava sua visita tão cedo. — Ela traga novamente de seu cigarro e me analisa dos pés à cabeça. — Você parece mais determinado.

— É mais fácil seguir em frente quando sei o caminho que preciso percorrer, Madame Vitari. Venho aqui por isso, busco informações.

— Veio ao lugar certo, portanto. Todas as informações terminam ou começam na casa dos prazeres.

— Duzentas moedas de ouro é meu orçamento inicial, Madame Vitari.

— Antes de mais nada, permita-me retificar uma informação que eu passei anteriormente.

— Por favor — eu respondo.

— Você perguntou sobre o que eram os profanos, mas há um conhecimento que não tínhamos disponível antes, e agora temos. Para não macularmos a reputação da Vivenda de Alvitres, transmitirei isso sem cobrar nada a mais, caso você concorde em manter segredo sobre tudo.

— De acordo.

— É de conhecimento comum que santos podem manifestar magias únicas. Nós descobrimos recentemente que isso se aplica aos profanos. Como eu te disse da outra vez, eles podem criar ilusões na mente das pessoas, sem tocá-las. Porém, houve um tempo em que eles possuíam uma magia única e muito preocupante.

— Qual?

— Controle mental: A capacidade de coagir os corpos de outros seres vivos a cumprirem suas ordens, mesmo que suas mentes não concordem.

— E por que não podem mais?

— Era um tipo de conjuro que abalou o equilibro de Aelum, portanto ele foi selado por um ser poderoso. A existência da magia foi removida dos registros históricos e se perdeu com o tempo.

— Compreendo. Se essa informação só retornou agora, deve ser porque algum profano manifestou tal habilidade.

A donzela de vermelho responde com um singelo sorriso, antes de escondê-lo tragando de seu cigarro.

— Não posso confirmar ou refutar seu comentário, a não ser que você pergunte e pague os devidos honorários.

— É algo preocupante, mas não tenho tanto interesse nisso agora. A razão pela qual eu vim é outra e específica: Como posso encontrar a maga de vida Ariel Beltrate?

— Você nunca me deixa entediada com suas perguntas, Gris — contesta a bela lumen, ao passo bate seu cigarro no cinzeiro para remover as cinzas. — Ariel Beltrate era a rainha do Reino de Vitari, o qual não existe mais. Hoje ela se encontra dentro do Castelo Itinerante, o castelo voador, e ninguém pode entrar nele sem ser convidado. Atualmente, ele sobrevoa a região norte deste continente.

— Por qual motivo ninguém consegue entrar nele?

— Além do fato dele voar e nunca pousar, o castelo é guardado por centenas de wyverns dos céus. Individualmente, eles são seres de Classe “C” de perigo, ou como popularmente dizem: Catástrofes. Essas informações custaram cento e vinte moedas de ouro.

— Como eu posso ser convidado para entrar no Castelo Itinerante e falar com Ariel?

Madame Vitari traga de seu cigarro e me corrige: — Por favor, não a trate com tanta informalidade. Lady Ariel Beltrate é alguém muito importante.

— Perdão, eu não quis ofender. Como eu posso ser convidado para o castelo e falar com a Lady Ariel Beltrate?

— Sua alteza era rainha de um país que não existe mais; porém, antes mesmo dessa nação ser criada e destruída, ela foi e ainda é algo muito mais importante: A criadora e líder máxima daquilo que hoje conhecemos como a Guilda de Aventureiros.

— Sinto muito, Madame Vitari, essa informação é útil, mas não responde a minha pergunta.

Ao expelir da fumaça do cigarro por seus lábios vermelhos de batom, ela continua seu raciocínio: — O líder do grupo que alcançar a  Classe “C” é convocado para conhecer a fundadora. Ali, ela julga o caráter do membro. Isso não é dito pela guilda, salvo quando o aventureiro alcança tal grau. Essa informação custou mais cinquenta moedas de ouro.

— Quem é o apóstolo de Erun de nome Breo?

Madame Vitari se espanta ao ouvir minha pergunta, mas logo se recompõe. Ela repousa seu cigarro sobre um cinzeiro da mesa, junta a ponta de seus dedos, levanta seu rosto, fecha os olhos e diz: — Loquir Motis.

O fluxo branco se reúne ao redor do rosto de Karine por um tempo, até que a magia se encerra e, enfim, ela me responde: — Não há informação a respeito de alguém chamado Breo, e não há relatos de um apóstolo de Erun na atualidade. Trinta moedas de ouro, e seu orçamento se encerrou com essa pergunta.

Isso me pegou de surpresa. Se Conor estiver correto, o fato da Vivenda não ter informações a respeito dele só pode significar que se trata de alguém muito poderoso e meticuloso.

— Acrescento mais cem moedas. Desejo saber mais.

— A informação da existência desse suposto apóstolo é confiável? — questiona Vitari.

— É um relato de um assassino de Erun, o profano que disse se chamar Malak e participou do campeonato. Ainda não tenho certeza da veracidade.

Madame Vitari coleta de seu cigarro novamente e admira os entalhes floridos dele em suas mãos delicadas, até que decide dizer: — Comprarei essa informação como um rumor por cinquenta moedas de ouro. Concorda?

— De acordo — contesto e logo lanço outra pergunta tão importante quanto as anteriores: — O que é um apóstolo de Erun?

— Imagine uma ampulheta de areia, e ela flui seu conteúdo de uma extremidade a outra em uma quantidade constante. Mas, quando alguma anomalia ocorre, e a areia interrompe seu curso natural, surge alguém para fazê-la fluir novamente.

Não pensei que encontraria esse tipo de história figurativa aqui. Mas, em consideração às respostas assertivas que recebi até então, decido deixá-la prosseguir com seu raciocínio. 

Após uma breve pausa em sua fala por tempo suficiente para fumar, Madame Karine conclui: — O império de Thar dominou todo este continente e, desde a guerra contra Galantur, o mundo está calmo. Faz sentido que um apóstolo tenha surgido para fazer a morte fluir novamente. Não é muito, mas é tudo que a Vivenda de Alvitres sabe sobre os apóstolos. Isso custou trinta moedas de ouro.

O objetivo deles é que as pessoas se matem? Então o que ele ganharia por revelar meu paradeiro ou com minha morte?

— Onde os membros da Mansão Negra se reúnem?

— Não possuímos informações sobre o esconderijo da Mansão Negra. Mas, caso você descubra e não conte a ninguém, podemos comprar esse conhecimento por dez mil moedas de ouro.

— Obrigado, Madame Karine. Essas eram minhas dúvidas até então.

— Antes de terminarmos, gostaria de oferecer-lhe não uma informação, mas um conselho, o qual é, dada a sua natureza, gratuito.

— Eu aceito, Madame Karine.

— Se a Mansão Negra te persegue, então deveria apagar seus rastros e se esconder.

— É o que normalmente eu faria, Madame Karine. Fugir e ficar vivo para voltar em outra oportunidade mais preparado é o código do caçador, mas eu não sigo mais essa doutrina. Desejo respostas, e elas estão fora da Floresta de Prata.

— Se você estiver vivo até o próximo festival, venha até esta Vivenda, nem que seja para tomarmos um chá — a bela mulher me responde.

— Aqui estarei, Madame Karine do reino de Vitari.

A donzela me devolve um sorriso que pararia o coração de um certo coiote.

 

Peço que deixem suas impressões (👍|😝|😍|😮|😢) e comentem o que acharam deste capítulo,

esse é o melhor presente que um escritor pode receber.

Clique aqui e siga Aelum nas redes sociais



Comentários