Aelum Brasileira

Autor(a): Marin


Volume 2

Capítulo 42: Ars Gigas

GRIS

 

Passaram-se dois dias desde a última etapa. Cada etapa das batalhas possui alguma peculiaridade, e precisamos nos adaptar ao novo nível.

Pouco antes do início, foi anunciado pela Sra. Vi Kari que dois círculos seriam marcados nos vértices opostos do campo de batalha. Um círculo vermelho, outro verde.

Há uma bandeira em cada um dos círculos, com cores iguais que as deles. Um dos participantes deve ficar dentro do seu próprio círculo e não pode sair, já sua dupla não pode entrar no círculo da sua própria bandeira, mas pode invadir a do inimigo.

Ganha aquele que pegar a bandeira inimiga e trazê-la consigo para sua área.

É considerada derrota automática destruir a própria bandeira ou a do inimigo. Também é considerada uma derrota retirar a própria bandeira do círculo.

— Estamos com um problema, creio.

— Nada... Vai ser moleza — responde Alienor, toda confiante.

— Você tem um poder ofensivo maior, Alienor. Creio que o mais intuitivo seria que você ficasse fora do círculo. Mas, se eles juntarem forças para te atacar no lado oposto, eu não poderei ajudar em nada à distância. Você estará sozinha. Não posso usar meu arco ainda.

Hum... — Alienor leva sua mão ao queixo e inclina sua cabeça para o lado, ao passo que olha para o alto. Isso nunca é um bom sinal. — Você vai usar aquela sua adaga ainda?

— Na verdade, não. — Só consigo usar a espada com a mão esquerda. Não tenho como usar uma segunda arma.

Coleto a adaga de minha mochila e a entrego a Alienor.

— Obrigada, depois eu devolverei.

Tenho uma sensação ruim sobre isso, porém que mal ela pode fazer com uma simples adaga?

 — Pode ficar no ataque, já eu cuido da defesa. Você verá que eu sei fazer mais do que explodir coisas. Muahahaha. — caçoa a ruiva.

Cada círculo está muito distante do outro, e sei que a magia de explosão não alcançará tão longe, porém ela é a melhor conjuradora que conheço e tenho certeza que se sairá bem.

Alguns participantes já lutaram. A maioria são lumens mais habilidosos que a dupla que enfrentamos, eles usam magia de criação para se transformar em bestas ou manipular a terra, mas vi alguns deles usar magia de morte em conjunto com a de criação. Esses últimos parecem bem problemáticos.

Transformados em bestas e sem a necessidade dos sinais ou dos conjuros, um simples toque pode nocautear o adversário. Bestas ou demônios usuários de magia de morte devem ser adversários terríveis.

— Pierre e Charlote de Galantur! Contra Pur e Ifan da ilha de Anak! — Vi Kari anuncia os novos combatentes.

— Olha, são de Galantur! — exclama Alienor, ao passo que aponta para a dupla de ruivos.

— Onde fica a ilha de Anak, Alienor?

— Não tenho certeza, mas acho que é em Nila Velum, no continente demoníaco — ela responde.

— Como será que eles lutam? — pergunto, mas ela dá de ombros.

 Escuto um alvoroço pelo estádio. Posso apenas distinguir uma das palavras que são bradadas pelos espectadores: Gigas. É o mesmo bradar que ouvi antes de ontem.

O ruivo de Galantur se coloca em seu círculo e está munido de uma espada e um escudo, já a garota fica do lado de fora sem qualquer arma em mãos. Quanto aos lutadores de Anak, o loiro fica dentro, e o de cabelos pretos, fora.

Os lutadores de Anak possuem dois tacapes grandes de duas mãos, feitos de madeira com protuberâncias de metal na ponta e vestem roupas simples, feitas de couro de animais.

Os espectadores continuam a bradar e fazem alvoroço. Alienor e eu nos levantamos da cadeira, ambos sentimos que algo está para acontecer.

— Ao meu sinal... — anuncia a árbitra. — Comecem!

A competidora ruiva pula do chão e é envolvida em chamas em pleno ar, das quais surge um gavião vermelho, igual a Durandal.

Do outro lado, o guerreiro loiro pega sua bandeira verde e se ajoelha no chão. Os dois guerreiros de Anak posicionam seus punhos fechados contra o chão, na medida em que um fluxo verde se distorce e é atraído em direção a eles. Junto ao fluxo, o ar do ambiente é tragado como uma implosão.

É quando eles proclamam: — Ars Gigas!

Duas explosões ocorrem vindas dos corpos dos guerreiros de Anak, mas é impossível ver o que ocorre depois, por conta da poeira que se levanta.

— Era magia de explosão, Alienor?

— Não! — ela responde. — Tenho certeza que não, o fluxo era verde: foi criação.

O chão passa a tremer.

Urgh! Aaaahhh! — Escuto uma voz gutural vinda da poeira que ainda não se dissipou, momento em que finalmente algo colossal se revela e parte em direção ao gavião flamejante.

— É um gigante! — exclama a ruiva.

Eu já vi bestas grandes, como o nixus de Khan ou aquele Karakhan transformado em um urso gigante, mas isso está em outro nível. É um humanoide com cinco metros de altura, grotesco, de cabelos e barbas pretas e longas, com um tacape que deve medir uns dois metros de comprimento nas mãos.

— Eles terão de enfrentar aquilo? Será difícil — diz Alienor. — Ela usou criação para se transformar, então não deve ser uma maga de destruição. Por outro lado, se for usuária morte, ela precisará tocar no adversário.

Alienor me ensinou alguns detalhes sobre o fluxo. Magias de morte afetam a mente dos inimigos, porém os usuários precisam tocar em seus adversários na maioria delas. Diferente das magias de destruição que são lançadas à distância.

— Tocar naquilo?

De fato, não há como encostar naquele ser, sem ser esmagado no processo. Talvez com impetus eu consiga resistir, mas não tenho certeza.

O gigante moreno continua sua investida e chega ao círculo adversário, já seu companheiro permanece sentado com a bandeira e seu tacape em mãos.

A turiana transformada em gavião retorna para ajudar seu colega na defesa. Creio que o garoto de Galantur não conseguiria resistir sozinho.

— Ignis! — grita o ruivo, e uma labareda surge há dez metros dele na direção do rosto do gigante.

— Urgh! — ele grunhe, e tampa seus olhos.

Tsc! Aquela técnica é um saco — argumenta Alienor.

— Também acho — eu respondo.

A ruiva olha para mim e dá uma risadinha.

O gavião se aproveita da cegueira para voar em direção ao colosso. Creio que ela use magia de criação e morte, afinal. Se encostar nele, poderá enfraquecê-lo.

Todavia, o gigante se recupera e percebe a investida da ave avermelhada, momento que ele solta seu tacape.

— Soltou a arma?! Por quê? — eu indago.

A resposta para minha pergunta vem a seguir, um fluxo de cor esverdeada reveste os braços do gigante moreno, o qual golpeia a palma de uma das mãos contra a outra.

Pam! O som chega primeiro até meus ouvidos, seguido da onda de choque e poeira. Foi pura força bruta, tão grande que produziu um som ensurdecedor que ecoou pelo campo de batalha e a onda de impacto atordoou o gavião.

A ave avermelhada cai no chão, dando forma a uma garota de cabelos ruivos. O colosso coloca as duas mãos no chão, ao passo que raízes negras saem do solo e prendem a garota.

— Ignis hasta! — grita o combatente de Galantur. Uma lança de fogo voa e chamusca a perna do gigante.

O colosso ignora o turiano, pega seu tacape e caminha em direção à garota.

— Ignis hasta! — outra lança é arremessada contra as costas do guerreiro colossal, mas ele não se importa.

O gigante coleta a ruiva do chão e caminha em direção à borda do campo de batalha. Mais uma lança flamejante o alcança, mas ele praticamente não sente nada.

Um fluxo negro se forma ao redor da garota. Ela é bem-sucedida na conjuração, mas não faz qualquer efeito visível naquela criatura colossal.

A ruiva grita e se debate, mas é inútil, a diferença de força é muito grande. Ao chegar na borda, o guerreiro de Anak despeja a garota no chão do lado de fora do campo de batalha.

— Vitória para Pur e Ifan da ilha de Anak! — anuncia Vi Kari.

Gigas! Gigas! Gigas! — A plateia delira com o espetáculo.

Alienor se une ao coro, toda eufórica. Engulo em seco.

— Creio que entendi o motivo daquela comoção. Eles são fortes mesmo — digo.

— Você viu aquilo, Gris?! — Ela segura nos meus ombros e olha em meus olhos. — Precisamos enfrentá-los logo. Eles com certeza aguentam umas explosões maiores! — Os olhos castanhos de Alienor brilham em vermelho ao falar.

Os guerreiros de Anak voltam às suas formas normais, levantam seus tacapes e bradam pela vitória. O público passa a aplaudir, até o momento em que a presidente os interrompe ao anunciar os próximos competidores:

Aisha e Jamal de Al Zarad! Contra Gris, apátrida, e Alienor de Galantur!

— Hora de esbagaçar. Vamos, Gris! — aduz Alienor.

****

Dois guerreiros com túnicas beges caminham para dentro do campo de batalha. Eles possuem a pele marrom, parecida com a da dríade, mas os cabelos de Aisha são lisos e estão amarrados em um rabo de cavalo, já Jamal possui o cabelo raspado.

— Wuuuul! — Escuto vaias na arena.

— Vão se ferrar, seus arrombados! — grita Alienor em resposta, mas as vaias apenas se intensificam.

Creio que eles não gostaram da última luta, talvez por quase matar o outro competidor, ou quem sabe por ter acabado muito rápido.

Segundo informações passadas pelo Karakhan, os guerreiros de Al Zarad são espadachins habilidosos que manipulam espadas com magias de vida ou criação, fazendo-as pairar e se mover pelo ar ao seu comando.

Pela forma que lutam e os movimentos graciosos das espadas, eles foram apelidados de bailarinos das espadas.

Aisha caminha para o círculo verde, conforme havíamos calculado. Por ser usuária de magia de vida, ela pode manipular os ventos para fazer sua espada curva voar como um bumerangue. Ou seja, indiretamente sua magia pode alcançar o círculo inimigo.

Desde sua área, ela pode atacar qualquer lugar do campo de batalha: Ela é um problema. Aisha tem alinhamento de suporte, contudo seu poder ofensivo ainda é considerável, se for ignorada.

— Olha, Gris. O nome daquilo deve ser espadarangue! — Ela aponta para Aisha.

Coloco minha mão no rosto e abaixo a cabeça, por vergonha. Tenho certeza que a garota ouviu.

Aisha possui duas espadas, uma nas costas que mede aproximadamente cento e vinte centímetros; outra na cintura com cinquenta centímetros. Ambas curvas e com apenas um gume, porém a maior parece um bumerangue, enquanto a menor é uma cimitarra.

Jamal, por outro lado, possui uma cimitarra na cintura esquerda e duas adagas na cintura direita. Pelo que me foi dito, ele manipula as adagas com magia de criação e as faz levitar e atacar seu alvo em pontos cegos. Parece com a forma de um assassino lutar.

— Creio que será como batalhar contra vários inimigos de uma única vez — eu digo.

— Mas não é a primeira vez que fazemos isso — responde Alienor, ao passo que caminha para dentro da área do círculo vermelho e levanta seu queixo, toda orgulhosa.

Ela está confiante na vitória, de uma maneira que somente a Srta. Raposa conseguiria.

— Porém, desta vez, tivemos tempo para nos preparar — digo.

Ela sorri em resposta.

— Ao meu sinal... — anuncia a árbitra. Saco de minha espada em resposta. Alienor revela a adaga em suas mãos. — Comecem!

— Ignis harena — diz Alienor, ao passo que ela aponta o dedo indicador para o alto.

Um círculo de fogo aparece em volta da ruiva, à medida em que ela corta a própria mão com a adaga e gotas de sangue caem no chão aos seus pés, até que a parede flamejante se interpõe entre nós.

Não compreendo o que ela fez, porém preciso confiar nela. Invisto contra o campo inimigo. Enquanto avanço, escuto Alienor dizer algumas frases:

— Ofereço do sangue e exijo sua presença...

Mas que droga ela está falando?

Olho para frente e vejo os dois combatentes se moverem em sincronia. Aisha pega sua espada maior, gira duas vezes em seu próprio eixo e arremessa a arma em minha direção. Em resposta, fortaleço meu corpo e a espada com a vontade do guerreiro, defendendo o golpe.

Katchim! É certo que a espada dela é pesada, mas com a força e resistência do impetus fica fácil de desviar seu trajeto. A espada voadora é arremessada para o alto e continua a voar e girar, enquanto Aisha usa sua cimitarra para manipular vento e conduzi-la.

Jamal joga duas adagas e elas cravam no chão, depois ele pega sua cimitarra, faz um sinal com as mãos e proclama: — Ensis Volans.

Ao dizer isso as adagas voam em minha direção. Por seu turno, a espada voadora de Aisha faz uma parábola vem em minha direção. Todas as três impactarão ao mesmo tempo. Droga, não sou rápido o bastante para defender todas, não com meu braço assim.

Se eu pular para cima ou para os lados, eles só precisarão ajustar o curso das espadas e serei atingido. Só me resta uma escolha: Defendo-me da espada de Aisha, ao passo que fortaleço meu corpo com impetus.

Ooohh! — Escuto uma comoção do público.

A espada de Aisha ricocheteia e voa para cima novamente, já as adagas acertam minhas costas, rasgam minha roupa e arranham minha pele. Sinto uma fisgada, porém não é nada demais.

— É raro um usuário de impetus da sua idade — comenta Jamal, ao passo que segura sua cimitarra e entra em guarda.

Eu o respondo ao mudar a empunhadura para a ofensiva ao passo que ativo o aumento de massa, e o chão cede aos meus pés. Jamal arregala os olhos, mas logo se recompõe e diz:

— Mostre-me do que você é capaz. — Ele faz um sinal com a mão. — Ensis volans.

— Ventus deserti — diz Aisha ao mesmo tempo que seu companheiro, na medida em dança, gira seu corpo e abana sua cimitarra.

Dá cimitarra, um vento forte vem em minha direção, passa por mim sem qualquer efeito.

— O quê?! — exclama Jamal. Ele arregala os olhos.

Entendo sua reação, todo aquele vendaval deveria me arremessar para longe.

Com minha aceleração ativada, aproximo-me dele e o golpeio com a espada. A reação de Jamal é rápida, mas tudo que ele tem tempo de fazer é defender com a própria arma.

Entretanto, a cimitarra não resiste e quebra ao meio. É natural, pois reforcei a minha lâmina com impetus; ele, por outro lado, não parece conseguir o mesmo com magia de criação.

Sei que as duas adagas e a espada voadora estão prestes a me golpear. Não deixarei esta oportunidade escapar. Invisto contra o corpo de Jamal e lhe golpeio com uma ombrada.

— Urgh! — ele reclama.

Arremesso Jamal a vários metros de distância até perto de seu próprio círculo.

Aisha usa o vendaval para impedir que seu companheiro entre na própria área.

Se ele entrasse no próprio círculo, nós venceríamos. Escuto a comoção da plateia novamente.

— Não vai usar a mão direita, pirralho?! — uma pergunta se destaca em meio à multidão da plateia.

As espadas voadoras de Jamal me alcançam e cortam a mim e minha roupa nas costas, porém são ferimentos superficiais.

Jamal cospe sangue, limpa sua boca com a blusa e diz: — Que porra é esse moleque... Aquilo é impetus mesmo? — Ele aponta para mim com a espada quebrada em suas mãos.

Aisha dá de ombros e responde: — Não sei. Pareceu criação, mas não vi ele reunir o fluxo.

É obvio que se trata de impetus, mas não há motivos para respondê-los. Corro na direção deles.

— Invocote Ensis Mas Deserti — diz Jamal, e cerca de dez espadas se formam a partir do chão. Ele pega uma delas e complementa: — Parece que te subestimei.

Ao recitar outro conjuro, todas as espadas e adagas saem do chão e pairam em volta dele. Aisha manda sua espada voadora em direção a Alienor.

Parece que eles mudaram sua estratégia. A espada da garota entra no círculo de fogo da nossa área.

Quase todos da plateia se levantam. Escuto um deles gritar algo: — É um demônio!

— Ela está invocando demônios! — exclama outro.

Um alvoroço toma conta da plateia novamente.

— Tarde demais. Muahahaha! — Alienor solta uma gargalhada. — Agora vocês verão, seus putos! Pega eles!

Do círculo de fogo, salta uma criatura monstruosa com a espada voadora entre os dentes. O demônio quebra a espada com a força da mandíbula, vira seu rosto para o lado e fixa seu olho de serpente em nós. Eu já vi esse demônio uma vez, mas ele estava muito mais longe antes.

Criaaahhh! O rugido estridente da criatura toma conta do ambiente.

— Um wyvern de fogo — eu sussurro.

 

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