A Voz das Estrelas Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 2 – Parte 2

Capítulo 37: Colapso

Possuído pelo ódio incalculável, Marcel Warren causou um impacto devastador somente ao libertar o poder oculto de seu Áster.

Rodeado pelos raios azulados, que se misturavam ao intenso escarlate irradiado do símbolo no antebraço, abraçou a falecida esposa sem se importar com mais nada.

“Não pretendo me arriscar além disso...”, Edward, já aceitando que seu plano foi por água abaixo, estreitou as vistas conforme desviava das descargas elétricas específicas por meio de saltos rápidos.

Aos poucos, ele foi aproveitando a balbúrdia intensiva criada pelo Marcado de Antares para escapar.

Layla chegou a perceber os movimentos do soturno, no entanto não teve qualquer espaço para tentar impedi-lo.

Com isso, estalou a língua em plena decepção, mas teve que voltar a dar foco absoluto ao caso que lhe rodeava de imediato.

Norman correu o mais rápido que pôde, abraçou a incrédula Bianca e passou a desviar das poderosas descargas elétricas enquanto a protegia.

Gabriel também foi forçado a se afastar. Baleado e com outros machucados incômodos, viu que não seria apto a lidar com todos os raios agressivos por si só.

Tampouco teria capacidade para terminar o trabalho, matando tanto o homem descontrolado quanto os demais inimigos ao seu redor.

Embora tivesse conseguido eliminar um dos marcados da Seleção Estelar, contando com certa dose de sorte, a frustração o dominava de forma a trazer amargor a sua boca.

Com o campo de eletricidade crescendo aos poucos, os marcados vulneráveis precisavam se afastar.

— Vamo’ voltar, Layla! — gritou Norman, recheado de aflição na voz. — Já peguei a Bianca! A gente pode deixar eles aqui e...!!

— Não. — A resposta dela veio seca, sem lhe permitir prosseguir e tampouco retrucar. — Iremos finalizar isto aqui e agora.

— Hã!?

Antes que pudesse dizer qualquer outra palavra, o Marcado de Altair precisou puxar uma das árvores derrubadas em altíssima velocidade.

Posicionou-a à frente do corpo, defendendo um raio de alta velocidade que vinha em sua direção.

O choque intenso provocou uma explosão mediana, levantando cascalhos queimados do corpo de madeira.

“Só pode ser brincadeira isso!”, resmungou consigo, de olho nos deslocamentos da Marcada de Vega. “Você vai... matar ele, Layla?”

Estampado na feição dela, o semblante frio mirava seu alvo da vez. E era diferente de todas as ocasiões vivenciadas junto dela.

Por mais que estivesse habituado com aquela expressão, dessa vez sentia algo a mais vindo dos inanimados globos azul-escuros.

Uma aura sem emoções...

Depois de ter feito a promessa de levá-la até a almejada vitória na Seleção Estelar, imaginou os possíveis cenários onde confrontaria seus futuros adversários.

Precisamos nos livrar dele.

Logo evocou a frase dita por ela no dia do primeiro embate, contra o Marcado de Polaris.

Tais palavras jamais sairiam de sua cabeça, não importava o quanto buscasse varrê-las dali.

Mas haveria outra opção?

Desde esse momento, a dupla passou por situações de vida ou morte que acabaram em perdas para todos os lados.

Mesmo que indiretamente, foram responsáveis por tomarem vidas e mais vidas.

Após o fim da batalha generalizada contra o Marcado de Regulus, Norman resolveu escolher outro caminho, à parte da trilha de mortes desenfreadas.

Só que falhou nisso logo quando a Marcada de Shaula pereceu ao alcance dos olhos, sem que pudesse fazer nada.

E, logo após isso, restava a vontade da companheira de finalizar o Marcado de Antares, descontrolado na insanidade pessoal.

“Por que nunca temos escolha!?”, rangeu os dentes irritado ao apertar o abraço em volta de Bianca. “Isso nunca vai acabar!?”

Todos abriram distância por alguns metros, até que os raios espalhados não pudessem mais os alcançar.

Gabriel respirou fundo, no intuito de recuperar fôlego suficiente para enfrentar o momento.

— Já chega por ora, não acha?

A voz foi reconhecida de súbito, fazendo-o arregalar os olhos trêmulos e virar o rosto sobre o ombro.

Sem permitir que o respectivo marcado fizesse algo a respeito, Stella tocou os dedos sobre as costas dele, de onde o brilho de sua marca escapava pelos rasgos do casaco.

O garoto tentou lutar contra aquele toque, mas o choque elétrico foi e voltou dos pés à cabeça tantas vezes em um mero segundo que sua consciência foi ao colapso.

Desmaiado, tombou na direção do solo terroso com folhas secas, mas foi segurado pelo outro braço da loira.

Ela ainda olhou por entre os arvoredos restantes naquela área, lamentosa sobre o ocorrido com o casal Warren.

Mas, ao mesmo tempo, instigada no desfecho de Norman, que protegia Bianca a todo custo.

Não só naquele caso em específico...

— Espero... que tudo isso possa terminar o quanto antes — murmurou solitária.

Sem ser ouvida por mais ninguém além de si mesma...

Do outro lado, o trio se escondeu atrás das árvores localizadas na direção oposta.

Norman ainda procurou por Gabriel e Edward por todas as partes, mas falhou em encontrar qualquer vestígio da presença deles pelo ambiente.

Ainda havia a possibilidade de estarem escondidas, só esperando um fim daquela manifestação absurda, para atacarem a qualquer instante.

Entretanto, preferiu considerar o fato de que ambos tinham se retirado.

Feito isso, voltou a atenção para a Marcada de Vega, já ao seu lado.

— Layla, não dá pra passar por isso tudo! — Insistiu, ainda recebendo o gelo do olhar da garota. — A gente vai se arriscar demais assim! É melhor a gente recuar...!!

— Não será necessário. — Ela, mais uma vez, o interrompeu com seu tom de voz soturno. — Veja só...

Conduzido pelas palavras afônicas dela, o garoto olhou junto com a criança na direção de Marcel.

Ele levou um cristal branco à boca e o engoliu em poucos segundos, o suficiente para que a influência do Áster crescesse de maneira exponencial.

Atônito diante da cena, contemplou as descargas elétricas elevarem-se em impetuosidade, conforme devastavam o cenário inteiro.

Estampidos capazes de estremecerem a terra retumbaram por toda a região.

O breu foi tomado pela iluminação cerúlea, como se o dia irrompesse a noite.

— Assim que o efeito do Fragmento do Cosmos cessar, ele perderá todas as capacidades físicas por meio do efeito colateral. Talvez, nesse ritmo de utilização, até...

Ela evitou dizer o resto. Mas o complemento era óbvio para o Marcado de Altair, que só podia ranger os dentes conforme acompanhava a explosão de ódio.

Além dos efeitos pós-ingestão do fragmento especial, o homem ainda possuía o grave ferimento no abdômen. Não deveria demorar muito até sucumbir ao próprio limite.

No entanto o caminho até esse instante...

— Voltem aqui!!!! Seus... Seus malditos!!!!!

O rugido espalhou-se por toda a área, unido às descargas elétricas de gigantescas proporções.  

— Maninho...

Percebendo o tom de puro sofrimento na voz rouca do viúvo, Bianca afundou o rosto recheado de lágrimas no peito do protetor.

— É tudo... minha culpa!... — Ela apertou a camisa dele com as pequenas mãos estremecidas. Sua voz abafada puxou os olhos do jovem até ela. — Não pude... fazer nada... Eu... não queria que terminasse assim!...

Entre o pranto entrecortado, a menina despejava suas lamúrias, incapaz de abandonar o remorso ocasionado pela trágica cena.

Mesmo Layla fitou-a de soslaio ao ouvir tudo. Não podia fazer qualquer coisa a respeito, mas, de alguma forma, tal desabafo fez com que sua frigidez fosse diminuída.

Em contrapartida, Norman a afagou ao fazer carinho em sua cabeça, mantendo-a grudada a seu corpo.

Foi quando os raios cresceram a ponto de alcançá-los, os obrigando a recuarem ainda mais.

Mesmo com todas as dores dos machucados recebidos, o rapaz fazia o possível a fim de manter uma distância segura dos estampidos.

— Não é culpa sua. — Norman sobrepôs os pensamentos ao responder à criança. — Eu que não consegui te salvar e chegar a tempo. É tudo culpa minha...

— Não é culpa de ninguém. — A jovem nívea, em paralelo, o atravessou de novo. — Não estamos aqui porque desejamos. De igual modo, por estarmos aqui, precisamos seguir avançando da forma que pudermos.

Os dois ficaram quietos perante as palavras determinadas de Layla, contudo logo tiveram as atenções retomadas por Marcel.

Ao iniciar uma nova aproximação através de passos demorados, sem largar a cabeça de Catherine sobre os membros superiores, ele obrigou os três a se afastarem mais.

Não existia maneira de revidar.

Utilizar o revólver puro seria inútil. Talvez a Telecinesia do rapaz também não funcionaria.

Só o Áster de Bianca, talvez, tivesse maior chance de funcionar. Entretanto seu estado atual descartava toda e qualquer hipótese de conseguir ativá-lo.

Nesse ritmo, a única saída seria, de fato, aguardar pelo limite do oponente ser atingido.

Aceitando as mãos atadas em vista de evitar o enfrentamento de um risco maior do que poderia apostar, Layla refugou suas intenções de lidar com o marcado pessoalmente.

Apesar disso, a maior preocupação não era essa. Tampouco o desaparecimento de Edward e Gabriel...

Balançou a cabeça para os lados, a fim de livrar-se dos pensamentos temerosos.

Foi observada pelo parceiro em paralelo, mas nada lhe foi dito.

E mesmo se fosse, talvez ela nem se importasse mais.

Tudo que a interessava residia no epicentro dos raios poderosos.

O primeiro efeito repentino ocorreu, quando a intensidade das correntes de energia calorosas diminuiu.

Deixando o rosto corado de Bianca contra o torso, Norman encarou o descontrolado junto de Layla.

Não resistiu em erguer as sobrancelhas, espantado perante o momento que o próprio foi de joelhos ao solo.

Cuspiu bastante sangue, à medida que a respiração se tornou tão ofegante que a boca se escancarou para sugar mais oxigênio.

Apesar disso, Marcel resistiu, fazendo a intensidade da energia elétrica subir novamente.

Achando aquilo muito estranho, a Marcada de Vega tirou proveito do recuo no intuito de observar, com maiores detalhes, o estado atual do oponente derrubado.

Ignorou os fracos chamados do parceiro escondido e aproximou-se por mais alguns passos.

No instante que diminuiu a distância de modo considerável, percebeu algo estranho na faceta de Marcel Warren.

“Está vazio”, diante de seus olhos esgazeados, ela compreendeu um fator crucial. “Ele perdeu totalmente o domínio das emoções...”

— Está destruído por completo do coração à alma... — sibilou.

Ele tinha a cabeça levemente inclinada para o solo, sua boca aberta recheada de sangue.

— Chegamos ao momento crucial — murmurou alto o suficiente para que os dois atrás de si pudessem ouvir. — Ele não deve conseguir manter a vitalidade por muito mais tempo agora.

Diante da determinação da alva, Norman franziu o cenho e lançou uma pergunta de garantia acerca do que entendeu:

— Isso tudo... você viu com a Clarividência?

— Sim. Esperei até o último instante, porém não houve qualquer interferência de outrem.

— E como isso vai terminar, então?...

À segunda pergunta de Norman, a nívea manteve o silêncio durante alguns segundos.

Quando as descargas elétricas tornaram a diminuir, na orientação do próprio portador...

— Está tudo bem. — Levantou o braço, trazendo o revólver a ser apontado na direção da cabeça do ajoelhado. — Vou deixar que esses dois descansem juntos...

O Marcado de Altair aguardou um pouco, como se para reconhecer aquilo que estava vendo.

Depois de fechar os olhos e soltar um suspiro pesado, ele disse:

— Se vai deixar eles descansarem... então por que ‘tá com a arma apontada? — Ao indagar, Layla estremeceu as sobrancelhas até então imutáveis. — Por que quer seguir esse caminho?

— Eu... — Fez uma pausa arrastada. — Não sei...

— Não sabe?...

— Eu devo finalizar o que deve ser finalizado. Não falta muito até o Rei Celestial deixar o trono.

O encarou por cima do ombro, na projeção de um sorriso fraco.

Incapaz de aceitar aquele cenário, Norman absorveu a dor que o semblante dela propagava.

— Não precisa fazer isso, Layla. — Saiu totalmente de trás da árvore que se escondia. — Você mesma já disse. Ele... não vai durar muito tempo.

— Não existe outra opção. — Voltou a encarar o adversário inerte ao cortar o pedido dele. — Desde o início, esta trilha de corpos já estava definida. Sua aceitação ou negação não mudará a verdade.

Perante as palavras frias de negação, o Marcado de Altair engoliu em seco, inapto a retrucá-la dessa vez.

Decidida quanto ao objetivo pessoal, ela retomou a lenta caminhada que acompanhava a redução dos raios poderosos ao redor do Marcado de Antares.

Embora tivesse explodido, dizendo que mataria a todos, a dor da perda daquela que lhe era mais importante não o permitiu proceder com a promessa.

Ao chegar perto dele, pôde escutar murmúrios que repetiam os dizeres “vou matar todos”, sem parar.

Era como se o cérebro, decidido a vencer o emocional devastado, buscasse uma maneira de consumar sua retaliação.

Enquanto bastante sangue escorria dos orifícios no rosto de Marcel, o brilho escarlate do símbolo da constelação de Escorpião passou a diminuir.

De igual modo, a influência da habilidade elétrica esvanecia.

Layla levou o indicador ao gatilho e, com o polegar, engatilhou o martelo.

Com o cessar completo das descargas impetuosas, mirou a testa do inimigo e estreitou as vistas afiadas.

Dali seria impossível errar o alvo.

Sem forças para a impedir, Norman também aceitou a própria parte na culpa.

Por conta de emoções descontroladas, descontou tudo e mais um pouco na garota antes de irem para a floresta.

Desconfiou dela, mesmo que tenha sido salvo inúmeras vezes pela própria. Sem contar o fato de ter feito sua promessa...

Mesmo que desejasse seguir outro rumo, outra forma de levá-la até a vitória naquela Seleção Estelar... suas mãos já estavam sujas de sangue.

Sangue de sua família, dos marcados que enfrentou na estação anterior. E, agora, daqueles que perdiam suas vidas, um após o outro, naquela floresta...

— Não se preocupa... — sussurrou perto do ouvido de Bianca, ainda com o rosto afogado em seu peito. — Já acabou...

Embora não pudesse acalmá-la após tudo que passou, desejava se certificar em deixá-la o mais confortável possível.

Buscou proteger seus ouvidos, em prol de abafar o som do disparo derradeiro preparado pela Marcada de Vega.

Tudo que ela menos precisava era apreciar essa cena.

A sequência esperada não ocorreu pelos próximos segundos, que logo se tornou um minuto.

O rapaz levantou as sobrancelhas, desentendido pela interrupção silenciosa da parceira afastada.

Ao perceber o leve tremor, responsável por a dominar da cabeça aos pés, completou a reação boquiaberta.

— O que está fazendo, sua idiota? — ela resmungou para si, abaixando o braço agitado.

Seguro de que ela não deveria prosseguir com tal abordagem, o marcado resolveu ir até sua posição, dotado de certa cautela.

No fim das contas, soltou um suspiro aliviado. Ela acabou escolhendo outro desfecho na iminência do ato.

Ao acariciar o cabelo de Bianca, como se para lhe dizer que já estava tudo bem, alcançou a jovem armada.

Os olhos azul-escuros encaravam o Marcado de Antares com bastante pesar.

O corpo dele já perdia cor e a íris de seus globos oculares não retinham mais luz. Os lábios, secos, continuavam a se mover em espasmos automáticos.

A voz falhava ao replicar a mesma frase, prestes a desaparecer.

Embora aparentasse estar arrependida, graças à escolha desumana de mais cedo, Layla não deixou de proferir suas palavras de tom melancólico:

— Ele já iria morrer de qualquer forma. Seu ferimento no abdômen foi grave, perfurou órgãos importantes. O sangramento interno já deve ter alcançado um nível irreversível graças a utilização do Fragmento do Cosmos...

Finalizando a explicação para sua desistência, a garota guardou o revólver de volta ao coldre na cintura e encarou o céu de poucas estrelas, graças às nuvens acinzentadas acumuladas por metade da extensão escura.

Ainda sem deixar a Marcada de Deneb virar a face para acompanhar o fim derradeiro do casal Warren, Norman encarou a companheira de soslaio.

Em seguida, tornou a observar os consortes à frente.

Com o desaparecimento da aura natural do esguio, se agachou em prol de identificar a marca no antebraço, que não tinha perdido todo o brilho.

“Constelação do Escorpião”, reconheceu o símbolo do asterismo que estava no antebraço dele, assim como no da esposa, cujo corpo estava caído a alguns metros.

Embora fosse perder a vida em breve, não aparentava que iria deixar de segurá-la rente ao torso.

Tal demonstração de amor, corroborada pelas alianças compartilhadas em seus anelares, trouxe uma sensação desagradável ao peito do Marcado de Altair.

Naquele momento pensou que, talvez, aquela fosse a única das emoções capaz de transcender a vida e a morte.

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