A Voz das Estrelas Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 2 – Parte 2

Capítulo 35: Cauda do Cisne

Tudo ocorreu muito rápido.

Depois de expulsar Gabriel com um chute forte, Layla apanhou o companheiro quase desacordado sob um dos braços e disparou o mais rápido possível.

Sem fazer barulho ou deixar rastros, ela atravessou um quilômetro inteiro só para despistar o perigoso adversário.

Esperou mais alguns segundos e, sem constatar a aura do luminoso por perto, deitou Norman com cuidado na base de uma árvore.

Entre duas pequenas explosões, semelhantes à propagada há pouco, ela verificou a perfuração perto do ombro do garoto.

Tinha um aspecto extremamente limpo, fora o sangue solto dali.

Além de o próprio ter protegido bem a área, sabia a razão de tal perfeição, pois tinha visto as lâminas de luz do inimigo em um relance.

“Eu o atordoei e tinha alguma chance de tentar matá-lo, mas...” rasgou um pedaço da barra do vestido que ia até as coxas e fez um curativo improvisado sobre o machucado.

Daquele jeito, o rapaz poderia suportar por mais algumas horas até ter os cuidados devidos.

— Layla?...

O gemido dele, ainda com dor, a fez encarar de soslaio.

— Sim.

Escutando a resposta seca, o garoto rangeu os dentes.

Ela logo terminou de fazer o curativo, ao que ele tentou levar a mão ao ferimento. A agonia dessa tentativa o fez lembrar do antebraço também machucado.

Sem pestanejar, a Marcada de Vega rasgou outra parte do tecido para o segundo curativo.

Por fim, ela limpou o sangue do nariz dele, verificando que, apesar do leve inchaço, não tinha fraturado os ossos.

Nesse meio tempo, o cacheado recuperou boa parte da consciência. Verificou que a jovem estava ilesa por inteiro, então respirou com alívio.

Terminados os cuidados, ela se ergueu, passando a encará-lo de cima.

O rosto sombreado não permitiu ao parceiro fitar suas vistas, tão densas quanto o clima do ambiente.

Mesmo assim, podia enxergar a expressão carregada naquela face.

“Algo aconteceu?”, perguntou a si mesmo.

Só depois que outras explosões ecoaram pelo local ele conseguiu perguntar algo:

— O que houve? Por que sumiu de repente?

Esforçou-se para se levantar do solo, apesar dos machucados.

— Apenas me perdi. Isso aparenta ser mais simples de ocorrer do que imaginava em uma região como essa. — A garota, de voz fria, desviou o olhar à direção de onde vinham os estampidos. — O importante é que pudemos nos encontrar de novo. Devemos seguir em frente para recuperar a Marcada de Deneb.

Norman não conseguiu deixar de sentir estranheza na forma de falar da garota

Por algum motivo, tudo nela tinha mudado. Como se os papéis de minutos atrás e agora fossem invertidos entre ambos.

Marcada de Deneb...”, reforçou aquele teor unido a tal denominação em sua mente.

Entretanto, antes que pudesse dizer qualquer coisa...

— A janela para minha Clarividência regressou. Dessa vez, tenho certeza de que as coisas que eu vi não serão modificadas. — Ela dirigiu ao garoto um olhar de canto pesaroso. — Embora seja um desfecho complexo, não posso contar por ora. Terá que acreditar em mim, caso ainda deseje sair daqui com aquela criança.

Sem abandonar a entonação quase sem emoção, Layla estendeu a mão até o cacheado, que seguia irresoluto sobre as raízes da árvore.

Ainda repleto de ressalvas quanto à cadeia de eventos, desde o encontro no shopping, ele ignorou as dores dos ferimentos e aceitou pegar a palma aberta dela.

Foi puxado, como se fosse uma pluma, até ficar de pé.

Em silêncio, a Marcada de Vega retomou a caminhada pela trilha aberta com passadas alongadas.

Norman permaneceu na posição durante mais alguns segundos.

Encarou a própria palma que tinha acabado de tocar a da garota e, depois, voltou a observá-la, avançando sem se importar com o que vinha de trás.

Com a nova “realidade” em sua frente, o escolhido pela constelação da Águia balançou a cabeça para os lados, em prol de varrer os pensamentos pesados.

Sem outras opções, acompanhou-a pelo caminho definitivo até Bianca.

Coincidindo com os acontecimentos atuais, as explosões responsáveis por atiçar toda a floresta vinham da batalha inicial daquele lugar.

Com seu estilingue feito à mão, Edward atirava as bolas de papel banhadas no líquido amarelo que, ao entrarem em contato com algum corpo sólido, reagiam de forma explosiva e devastavam parte do cenário.

Nitroglicerina... uma invenção e tanto”, pensava consigo, conforme se escondia após uma detonação.

Era o bastante para ganhar tempo e preparar projéteis explosivos. Mas, com o tempo, o líquido terminaria.

Sabia disso, porém estava dedicado a seguir com o posicionamento.

Junto dele estava Bianca, a Marcada de Deneb.

Ainda apavorada diante daquela experiência, apertava as mãos contra o peito enquanto tentava se manter segura.

E, por fim, do outro lado...

— Querido! Você está bem!?

Desesperada enquanto carregada pelos braços do marido, com queimaduras leves, Catherine gritou sem se importar com a entrega de sua posição.

— De alguma forma... Agh, que dor! — Marcel resmungou, um dos olhos fechados. — Ah, ainda bem que consegui... te pegar antes daquilo explodir.  

— Você já sabia que iria?

— Foi no instinto, mas lembrei rápido de ter visto isso em alguma aula de química... Merda, mas arde legal!

Debilitado por ter sido atingido em demasia pela detonação repentina, o homem continuava a soltar leves gemidos.

Aguentava firme a fim de manter sua amada em segurança à frente do peito.

Mesmo se ela tentasse se livrar no intuito de preservar seus ferimentos, a seguraria com firmeza sem deixá-la sair.

— Vai ficar tudo bem. Não é nada demais... — murmurou a ela, que apenas contorceu de leve os lábios unidos.

Contanto que ela estivesse bem, nada mais importaria.

“Mas como a gente pode vencer tanta gente doida!?”, o rosto virou com cuidado, assim como o tronco, a fim de observar parte do perímetro.

Por estarem em uma área isolada, podiam se preocupar menos com os arredores.

No entanto, tudo indicava que o mesmo beco sem saída do confronto no centro da cidade poderia ocorrer.

“Se eu ‘tivesse sozinho...”, arriou as sobrancelhas, mas logo renegou aquele tipo de pensamento ao balançar a cabeça para os lados.

Logo pensou na possibilidade de bater em retirada.

Mas ao ver-se diante dos olhos avelãs recheados de desejo de sua mulher, ele apenas abriu um sorriso leve, voltando a ficar confiante.

Por ela, encararia qualquer obstáculo, por mais difícil.

— Você me protege... eu te protejo — mussitou ao dar um passo rápido à esquerda.

— Sempre, meu amor. — Ela fechou as vistas com placidez, também abrindo um sorriso. — Na saúde... e na doença.

A energia começou a fluir ao redor do casal Warren.

— Vamo’ vencer!

Marcel, então, correu para outra árvore próxima.

Edward, um pouco distante, seguia cauteloso.

Sem ter mais o brilho do alerta em sua marca, além da pouca quantidade de nitroglicerina para banhar a munição de papel, ele parou em um ponto específico.

Ficou ali, em completo silêncio, durante o tempo que se seguiu.

“Ter esses dois ativos por aqui vai dificultar minha estratégia. Aquela maldita...”, olhava de um lado a outro, atento.

Bianca seguia escondida em um tronco localizado por sua retaguarda.

“Se eu tiver que fazer isso...”, banhou outra bola amassada em nitroglicerina. “Vai ser por um bem maior.”

Preparou-a na fita de couro ligada às tiras de elástico.

De repente, Marcel apareceu por trás de um dos troncos com Catherine ainda em seus braços.

Ambos estavam cercados por energia elétrica. E uma porção dessa foi reunida e disparada de maneira fulminante pela palma do homem, apontada à vertente do desbotado.

Bifurque.

A ordem da Fala Mística fez com que a camada de eletricidade retilínea se bifurcasse, passando pelos flancos dele.

Ao atingir os troncos atrás de si, assustou Bianca, que voltou a se afastar cambaleante.

Logo na sequência, mais próximos, o casal aproveitou a brecha para Catherine ativar sua Magnetocinese.

“É uma combinação bem complicada de lidar”, Edward girou em altíssima velocidade e, com um salto, aproximou-se de Bianca e a agarrou para se afastar.

A explosão magnética empurrou diversos corpos presentes a um raio considerável da geração de energia.

“Que rápido!”, no epicentro, Marcel ergueu as sobrancelhas.

Depois que a onda repelente parou de alastrar, o rapaz voltou a colocar a estremecida Marcada de Deneb no chão.

— Eu odeio me desgastar além do planejado — rezingou ao retomar a postura. — Mas aqueles dois ainda não chegaram. Ainda posso...

— Eu ouvi... — O murmúrio repentino de Bianca o cortou. — Pude ouvir... a mente daquelas pessoas...

“Ouvir a mente? Telepatia, então?...”, foi rápido em determinar o Áster dela.

Imaginou que ela poderia ouvi-lo daquela distância, só que como nenhuma resposta veio, entendeu que estava desativado no momento.

— E o que ouviu? Que desejam vencer e ganhar a Seleção Estelar? Eu já sei disso. — Deu de ombros ao virar o rosto para a região devastada.

— Eles querem... ter os filhos de volta...

A resposta entregue pela menina, entre fortes soluços, o fez interromper a primeira passada ainda em ação.

Fitou-a com o canto dos olhos frígidos, ainda que mantendo a inexpressividade em sua feição.

— Entendo. Essa foi a Provação deles — sussurrou em um pensamento quase que pessoal. — Todos que foram escolhidos pelo Rei Celestial passaram por isso. E por isso lutam...  

Edward jogou o primeiro frasco vazio de nitroglicerina na mata. Restava apenas, preso a seu cinto.

— Lamento por todos vocês. Mas meu objetivo aqui é...

Antes que pudesse completar, Marcel e Catherine voltaram a avistá-los pelos caminhos fechados entre arvoredos.

Estalando a língua, o rapaz de cabelo arrepiado disparou a bola cheia de nitroglicerina que sustentava no estilingue com agilidade.

Ao bater com o tronco mais próximo, explodiu de maneira a fazer os resíduos cobrirem a visão do casal.

Sem saber por onde viria o próximo, o homem decidiu recuar por meio de um salto imediato.

Por outro lado, o desbotado usou aquela distração em prol de abrir o outro frasco e derramar o líquido explosivo em outra bola de papel.

Quando a cortina de fumaça se foi, ele que saltou, aparecendo no caminho contrário ao da dupla com a munição já preparada na tira de couro da arma.

De repente, sentiu os braços serem puxados pelo estilingue.

Os olhos se esgazearam diante do efeito estranho. Mas logo compreendeu ao ver a mão de Catherine esticada em sua direção.

Seu corpo todo sofreu um solavanco poderoso, até ser puxado com toda força na direção dela.

Só uma explicação lógica existia para que sofresse tal atração provocada pela Magnetocinese.

“Os pregos!”, os pequeninos objetos metálicos responsáveis por prender as tiras elásticas na forquilha de madeira.

No puro reflexo, pensou em atirar a bola explosiva no gatilho do disparo, mas Marcel o eletrocutou no meio do caminho em pleno ar.

Edward fechou um dos olhos, resistindo às dores através de um forte estalo de língua.

Ele era mais resistente do que o casal esperava.

Bianca, caída de joelhos, não conseguia reagir de outra maneira que não fosse boquiabrir com os olhos estremecidos.

Aquela eletrocussão durou alguns segundos, até que o esguio passou a sofrer com os efeitos colaterais e precisou interrompê-la.

O desbotado voltou à terra, precisando apoiar a palma canhota para não desabar por inteiro. Linhas de fumaça subiam de seu corpo.

Nenhum movimento adicional foi visto desde a queda.

Portanto, Marcel, enquanto soltava um suspiro de alívio, imaginou que tinha conseguido o desmaiar com os choques poderosos.

Ainda com a esposa nos braços, ele se aproximou com passadas curtas.

— Ven... cemos?... — O próprio indagou num murmúrio grunhido entre os dentes.

Tinha usado o máximo de potência que era capaz durante a manifestação elétrica.

E, pela primeira vez, atingiu alguém em cheio por uma considerável quantidade de tempo.

De todo modo, seguia desacreditado.

— Ainda não. — Catherine franziu a testa, trazendo de volta o olhar temeroso dele. — Temos que terminar, querido...

Ela também tinha ressalvas quanto àquilo.

No entanto, já tinha se mostrado um caminho sem retorno.

Diante desse cenário cruel, Marcel suspirou:

— Verdade...

Apesar das dores, ele avançou na direção do jovem de joelhos sobre a terra com folhas secas.

E, embora estivesse muito relutante quanto a isso, aparentava-se determinado a seguir por aquele rumo.

Ajeitando o corpo da mulher, abraçada a seu pescoço, estendeu o outro braço e abriu a palma com as pequenas queimaduras das explosões sobre a cabeça abaixada dele.

— Por favor... me perdoa — sibilou conforme reunia o que restava de sua energia elétrica ao redor do palmo.

No instante que os estalos iluminaram aquela região...

“Parem...”

Uma voz sussurrante ecoou na cabeça de marido e mulher, antecipando a grande conclusão.

“Por favor... não façam isso...”

Incapazes de entenderem, se entreolharam dúbios por um instante até dirigirem a atenção à criança ao lado, prestes a despejar o pranto dos olhos marejados.

Da camisa social levemente rasgada na altura do braço destro, um ínfimo e repartido brilho branco emanava pelo espaço, no formato de feixes luminosos.

No mesmo instante, não muito longe dali...

— Essa foi a voz da Bianca? — Norman também pôde escutar, assim como a companheira armada. — Layla!?

— Estamos próximos. Vamos rápido.

Com a afirmação soturna da garota, Norman pouco se importou em vencer as dores dos ferimentos acumulados em prol de prosseguir o mais rápido possível pelo trajeto escuro.

“Parem de matar uns aos outros. Só vai trazer dor e mais dor...”

A sofrível voz da Marcada de Deneb continuava a se espalhar pela mente de todos que estavam próximos.

Marcel refugou de forma inconsciente por causa de tal súplica. A energia elétrica envolta a seu palmo perdeu intensidade.

Sem palavras perante o ocorrido, voltaram a se entreolhar durante alguns segundos, como se buscassem qualquer crença nas vistas de cada um.

Mesmo tendo passado por experiências fantasiosas ao limite, receberem a voz interior daquela criança fez tudo ser superado.

Nem pelo fato da Telepatia.

E sim por ser uma criança.

Não se movam.

A voz ressonante de Edward alcançou os tímpanos do par à frente e, a partir daquele instante, foi como se correntes congelantes prendessem seus braços e pernas.

“O qu...!?”, Marcel foi o primeiro a perceber, pois apenas foi capaz de mover os globos oculares estremecidos.

Da boca levemente aberta de Edward, o brilho branco-amarelado se pronunciava.

Ele, ainda com dificuldades por conta do baque sofrido há pouco, voltou a se erguer, destroçando as expectativas dos marcados em sua frente.

Um mínimo segundo de descuido causou uma reviravolta aterrorizante.

“Merda!! Não consigo...!!”, Marcel rangeu os dentes, incapaz de se desprender daquela posição.

Catherine sentia o mesmo.

— Vocês me desgastaram além do planejado. — O desbotado tinha as sobrancelhas contorcidas. — Aquela maldita... Eu vou ter que dar uma lição nela depois disso.

Edward já planejava um meio de dar fim àquele “problema extra” na floresta.

No entanto, assim que deu um passo, sentiu uma onda de energia poderosa vir da direita.

Encarou de canto e, num movimento de instinto, saltou para trás. A onda de luz branca rasgou o ambiente, entre ele e o casal.

Marcel e Catherine não demoraram a reconhecer a influência daquela energia luminosa.

Já Edward franziu ainda mais o cenho, cercado por novos obstáculos inacabáveis.

— Vocês conseguiram... — rosnou Gabriel, ferido com o buraco do tiro recebido perto do ombro esquerdo. — Vocês conseguiram me tirar do sério!

Ele surgiu quase que do centro daquela cortina de luz, já com uma katana condensada em seu palmo destro.

Sem pensar duas vezes, perfurou o abdômen de Marcel e, perante todos estarrecidos, o chutou junto com Catherine.

Os dois foram empurrados para fora da zona de paralisia, até que a queda fez a espada de luz sair naturalmente da região empalada, liberando sangue pelo ar.

Nesse instante, o esguio soltou a esposa, o que fez ambos caírem separados por alguns centímetros.

Depois de superar a dor do golpe e da queda, a mulher abriu os olhos e viu o sangramento que vertia pelo ferimento grave do marido.

— Querido!!! — gritou à plenos pulmões.

“Esse cara...”, Edward semicerrou os olhos. “Ela conseguiu um problema e tanto.”

 Naquele exato momento, sabia que o plano pessoal tinha ruído.

Por outro lado, Bianca não acreditava no que via. Fios de lágrimas começaram a verter das vistas, ela nem conseguia piscar.

Queria implorar para que o fator novo daquele cenário caótico não seguisse com o que pretendia.

Mas sua voz entalou na garganta dolorida.

Sem piedade, Gabriel puxou o cabelo de Catherine, levantando o corpo dela que ficou de joelhos à sua frente.

— Para... — Marcel, o braço esticado na direção da mulher, implorou: — Por favor... tudo menos ela...

O rapaz o ignorou completamente.

À medida que o homem preparou o grito derradeiro... a voz foi engolida assim que encontrou o sorriso plácido surgir no rosto da esposa.

Também demorou a perceber o nascimento das lágrimas nos cantos de suas vistas.

Quando os lábios instáveis dela se moveram numa última declaração inaudível, as vistas de íris avelã foram cerradas.

Por fim...

— Paraaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!

Ao passo que o bramido deturpado de Marcel tomou conta do ambiente, coincidindo com a chegada de Norman e Layla...

A espada de Gabriel cortou o pescoço inteiro de Catherine.

Opa, tudo bem? Muito obrigado por dar uma chance À Voz das Estrelas, espero que curta a leitura e a história!

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