A Voz da Névoa Brasileira

Tradução: Saberhero

Revisão: Tiago Costa


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 22: O sonho de Nero.

Carlos Andrade viu o róseo céu cair contra as montanhas em pura languidez nas planícies carmesins do distrito de Eneida, norte de Roma. Acompanhado do som dos pássaros negros, pendurados em arbustos cinzentos e cactos agourentos, o caminhão de campanha os levava por um caminho sinuoso, enlameado, dos rostos pardos e cansados de quinze diferentes homens e mulheres parecendo cadáveres, estando abraçados em seus fuzis elétricos de pólvora iônica, enegrecido, com o visor mostrando a quantidade de balas no pente; escutando uma música simulada na cabeça que se perdia em cada acorde, nas tímidas crescentes — não havia nada. Seu humor não era dos melhores, parecendo reflexivo. Anne na cabeça, pensando em Um e no tempo isolado, onde questionou se era assim que viveria o resto da sua vida. A música sendo gymnopédie nº2, composta por Erik Satie, mas executada por Aiko Mishima, do conservatório de Márie Tolaux, em Human’Vein — se perguntando quando começava a guerra de verdade, a sua guerra pressagiada.

Era o terceiro dia naquele caminhão de campanha, tendo no começo apenas Carlos e um jovem recruta chamado Maurice Antunes. Depois, com o caminhão escalando entre alguns postos avançados, pegaram a sargento Natalie Biancucci, o cabo Giancarlo Mattia e os recrutas Amanda Magalhães, Ernando Garcia Pérez, Ícaro Lykaios, Antonio Bacci e Juan Versalhes. Foram três paradas, antes do caminho seguir de verdade até a base Lúcio Antunes, no extremo norte de Roma, próximo da fronteira da Nação Pontifícia. Já conseguiam ver a cadeia de montanhas que separava os países, além das planícies que se perdiam pelo caminho, com aquele ar suspenso, aquele ar gelado próximo do centro de marte. De início, haviam feito uma rápida apresentação entre eles, nada mais do que o nome e o sobrenome e o posto. De resto, um massivo silêncio restou, um silêncio incômodo de 400 quilômetros.

Com o horizonte fixo, Carlos começou a rabiscar algo no computador de pulso. E por mais que seu cérebro estivesse conectado em outro lugar, fazendo alguma outra coisa mais relevante, o oficio de escrever o alegrar internamente, por mais que sua expressão ininteligível desse uma má impressão aos seus companheiros de viagem.

Diálogos esparsados entre um e outros surgindo, coisas banais, sobre o posto, o clima, sobre paradas, quem precisava mijar, sobre mudanças de rotas (várias, profana estava rondando Eneida, bombardeando todas as estradas).

Ao chegarem na base, sob o sol crepuscular das 19:00 horas da noite, a maioria era silêncio, quando foram deslocados primeiro a um ginásio onde seriam apresentados ao corpo veterano do esquadrão, junto do capitão encarregado. Ficaram lá por meia hora, até um recruta que fazia parte do corpo da base, não do esquadrão, dizer-lhes que por conta de alguns fatos recentes, a introdução estaria suspensa até o dia seguinte e que eles seriam conduzidos para uma ducha e para a janta.

A sargento Biancucci reclamou, disse que era um problema sério e que o responsável teria que se tratar com determinado tenente-coronel. O cabo Mattia também tomou as dores, argumentando que era um absurdo, que eles já não teriam muito tempo disponível ao treinamento, propriamente dito, e que todo tempo perdido era mais uma morte no fronte. No fim, Carlos tomou a iniciativa, sendo acompanhado pelos recrutas Magalhães, Bacci e Pérez. Você sabe o caminho? O recruta do corpo da base perguntou.

— Sou como um camelo.

Os recrutas riram, não pela graça. Mas eles não esperavam. Ao final das contas, Carlos foi o único que sequer havia se apresentado até então.

Tanto que na ducha, Bacci e Pérez comentaram, assim como também comentaram sobre o corpo da recruta Magalhães, comparando com a da sargento Biancucci. O cabo Mattia, que se ensaboava próximo deles, não estava disposto a esse tipo de conversa, sendo breve no banho, apenas pedindo licença e sumindo no vestiário. Carlos, por outro lado, escutava atentamente, rindo dos comentários de um e de outro, tendo, depois, os recrutas Versalhes e Lykaios participando da discussão e se aprofundando para putas, acompanhantes e namoradas.

— Eu estava numa festa — Lykaios comentou, — e eu estava ficando doidão já, sem entender nada do que estava acontecendo. Festa de um amigo meu, em Alexandria, D.F. Tem uma parte lá, acho que vocês nunca foram, chamado Helios, um bairro. Um buraco, na verdade, uma favela. As casas sem acabamento, se é que me entendem, um lugar feio, esgoto a céu aberto, essas coisas. Então... eu estava lá numa festa, numa festa de um amigo meu, chamado Eurípedes Antetokounmpo e ele tinha uma prima, e tipo, era festa dela, mas ele que bancou. Eles tinham uma relação estranha. Era prima, mas chamava ele de tio. Tinha uma coisa aí. Enfim, eu estava doidão e essa prima dele gostava de mim, e eu era adolescente, tinha o quê, uns 16 anos? Ela tinha 15. A festa acabando e papo foi, papo veio, acabou que ela tava muito a fim de me dar. A gente ficou se beijando por um bom tempo e vocês sabem né? Meti o dedo lá, vi que tava molhadinha e só chamei. Sabia que ela ia. Só que tinha um porém. Família dela não tava em casa, cês sabem, tio, tia, mãe, madrinha. Só quem tava era esse primo e umas amiguinhas que iam dormir por lá. Tá bom, subimos a casa — detalhe, tinha dois andares e um quintalzão de terra batida, a gente tava se pegando no quintal, o que não vem ao caso, mas é só para situar vocês. Aí nessa de subir, me deparei com o primo dela, o Eurí, e ele chegou em mim e disse que viu a gente se pegando e sabia o que a gente ia fazer. Ele, com 18, me disse que era o seguinte, que ia nós dois nela. Ela nos meus braços, cheia de medo, concordou. Tá bom né, ela era virgem, nem sabia o que ia acontecer, tinha medo do que o primo podia falar pra mãe dela, pro pai. Aí... bem, aí fomos para a sala, para o sofá. Eu a beijando, ela o beijando. A coisa tava fluindo bem, até que eu fui botar e não entrou. O Eurí me olhando lá, disse que era para ela mamar eu e ele. Que ia ser mais fácil. E eu fui na dele, tava na onda, tava doidão. Foda que foi uma merda. Ela era tímida, quase arrancou um pedaço do meu pau fora. Experiência traumática, mas fomos tentar meter de novo. E nada. Ele tentou. Também não conseguiu. Ele falou: “alguém vai ter que cair de boca”. E eu: “vai tu”. Ele disse que não, era prima dele. Botar o pau, tudo bem. A boca já era demais. Eu ri, ela riu. Foi aí que ela virou no meu ouvido e disse: “porra, ele é meu tio! To pensando que to afim mais não”. Tá, caí de boca. A foda foi que tava só o sal. Meu amigo, a cara que eu fiz ela não viu, porque se tivesse visto, eu tava era fodido. O Eurí foi pegar cerveja, e ficou rindo da minha cara. Mas bem, nessa de cair de boca, acabei conseguindo meter, e fiquei lá, de boa. Ela toda tímida, começou a quicar, fazer coisas que me fez duvidar se ela era virgem mesmo ou qualquer outra coisa. No fim das contas, primo dela voltou e a gente tava no meio da foda. Ele viu, chegou de finininho e ia encaixar. Eu falei: “irmão, sai daí. Ela não quer!” e ele falou que porra nenhuma, que ela era uma puta e que faria o que ele quisesse. Tá bom, ela fez pra ele se afastar, parou de quicar e eu puto falei mais alto, gritei: “Irmão, ela é sua sobrinha porra! Vai tomar no cu. Sobrinha é que nem irmã porra.” E o meu pau lá durasso dentro da prima dele. Eu sei que ele parou, refletiu e então saiu, talvez por medo ou sei lá. Eu só sei que no final das contas, tava tão doidão, que acabei vomitando nela.

Carlos e Versalhes se encararam, depois encararam Lykaios. Que porra de história é essa? Não sei, Lykaios respondeu.

— Porra, ele protegeu o que era dele. Se o viado lá tentasse comer, ninguém ia comer ninguém. — Carlos disse.

— Eu conheço um cara que passou pelo mesmo, só que nessa de afastar o corno, ele acabou trancando a porta. A foda foi que moravam no quinto andar e o corno do primo quase se matou tentando entrar pela janela. — Pérez acrescentou.

— Só por que não conseguiu comer ninguém?

— A gente pensa com o pau, leva a mal não.

— Morreria por uma buceta?

Quem não? Bacci disse com o rosto inchado de tanto rir.

Foram cear assim, naquela noite, rindo, falando merda. Tudo que não fizeram durante a viagem. Versalhes ria timidamente, mas seus comentários pareciam certeiros. Quando o tópico pulou para esportes, o grupo começou a destrinchar os motivos pelo qual quase ninguém gostava nos distritos.

— Futebol é simplesmente a mais pura emoção que alguém pode sentir. Me lembro de quando era pré-adolescente, vocês sabem, uns 12, 13 anos e eu me juntava com os meninos do bairro pra fazer meio campo, 11x11, essas coisas. Posso dizer, era uma batalha — dedicávamos toda nossa vida para vencer. Nada mais. — O cabo Mattia comentou. — Deve ser por isso que eles não tem o costume de jogar nos distritos. Não existe batalha ali. Não existe guerra. Eles não tem que lutar por nada. Ele sabem que nenhuma bomba vai cair no seu quintal, eles sabem que não precisam pegar em armas. Por isso o futebol não existe, por isso eles preferem boxe, preferem artes marciais mistas. É alguém lutando, sim: mas não eles.

Comiam arroz com carne ensopada. Uma mistura que tinha na ração. Não era ruim, mas também não era um primor. Carlos observava os rostos, a diferença entre todos eles, como Lykaios, que era baixo e tinha uma cabeça gigante, todo compacto e com olhos de espectro azul, parecendo a pequena versão de um homem imenso; em contraste de Bacci, que era grande e magro, quase uma espécie de lagarto com pequenos olhos furtivos e um largo sorriso estranho. Pérez era negro, retinto, e seus músculos mal conseguiam se esconder naquela desajeitada blusa de algodão verde fornecida pelos militares. Carlos, por outro lado, era moreno, no sentido antigo, pardo, 1,75, cabelos curtos e olhos castanhos. Não se sentiam diferentes, por alguma razão. Versalhes era o mais bonito, com olhos castanhos, parecendo de alguma forma um franzino erastes, sem barba, com cabelos cacheados caindo sob os olhos lânguidos. Um viadinho, Bacci diria depois, mas um viadinho bem apessoado.

E por um motivo ou outro, eles não conseguiam dormir mais, nem em paz, nem de forma alguma. A quadrilha formada pelos 5 mediterrâneos era sem dúvidas uma indiscrição militar, ou melhor dizendo: uma vontade de retorno ao comum, a vida civil.

Na parte externa do alojamento, onde Carlos, Pérez e Mattia fumavam, acompanhados por Bacci e Lykaios, a sensação era de que não estavam mais em guerra, que o UHD havia recuado suas tropas e que todas as agressões contra Roma eram apenas um simulacro. Uma pena que Nero visse as chamas ferver aos redores de Eneida, esperando o Átila com sua espada de ferro fundido.

Pérez comentou que mais tarde seria o fim. E ao terminar o cigarro, Carlos completou, dizendo que isso era o fim.

Eles dormiram às duas da manhã, para acordar antes do sol e correr como nunca correram. O café foi triste, sem dizerem nada de verdade uns aos outros. A introdução ao corpo de armas acontecendo como se fosse um velório — rostos dependurados, olheiras e anemia. As roupas largas demais para caber, a ausência de sorriso; além o fato da unidade militar que reporiam, ter apenas um membro com o rosto enfaixado, um veterano — além de dois superiores, que de militar, nem o uniforme tinham.

O esquadrão era nomeado como tropa técnica auxiliar, tendo sido exterminada na última semana por uma esquadrilha de profana que sobrevoava as planícies de Eneida. O veterano sobrevivente, um tenente, loiro, gigante, chamado Hans Reiter, comentou que a função básica era o desarme dos escudos de PEM que os tanques de guerra do UHD mantinham como apoio.

Não houve muita firula, nem tempo para apresentações, indo direto ao ponto desde o princípio.

— Existe algo vital nessa tática, veja só: nossos mísseis estão sendo desviados ou antecipados pelo domo de ferro que protege as unidades pesadas do UHD — ele tinha um dispositivo auxiliar dentro da manga, que emitia hologramas — unidades pesadas é a denominação que damos aos VNT e os instrumentistas. Aliás, VNT é o nome dado a veículos não tripulados; e entre suas categorias, estão listadas três gêneros terrestres, que são: 1) os tanques de artilharia, equipados com mísseis de prótons, canhões de antimatéria e metralhadoras iônicas; 2) os Artrópodes de escudo, que fornecem proteção a contramedidas eletromagnéticas via anulação do movimento quântico por vibração de xenônio; e 3) Autônomos antibélicos, que até confundem ao se parecer com os tanques de artilharia, entretanto, sua função é fornecer munição contra projéteis explosivos, dotados de uma perspicaz inteligência artificial no tratamento do seu domo antiaéreo.

— Como podem notar, nosso maior problema é o segundo e o terceiro item, pois são essas unidades de apoio que impedem o contra-ataque dos nossos bunkers e postos avançados. Basicamente, estamos levando todo dano sem que consigamos desferir. O domo de ferro tem uma eficiência de 99,32% e os escudos PEM protegem seus autônomos de interferência.

— Assim sendo, essa é uma unidade experimental, ultrassecreta. A pura existência de um esquadrão focado na sabotagem além linhas inimigas já é uma situação desesperadora, qualquer vazamento em relação a vocês seria suficiente para o alto comando ordenar o não envio. Entretanto, essa unidade é uma das poucas esperanças que ainda nos resta.

— Alguma pergunta?

Carlos Andrade foi o primeiro a levantar a mão, sem que o restante dos militares tivessem tempo de considerar a situação.

— Não vamos ter tempo para sermos instruídos nas condições técnicas.

— O que isso quer dizer? — Natalie Biancucci perguntou, com seus pulsantes e verdes olhos arregalados, como se afrontada por algo ou alguém.

— Não vamos ter tempo, realmente... — Maurice Antunes respondeu, de braços cruzados.

—  Essa operação claramente não é uma operação de Roma. As nações estão agindo e estão com medo do ataque ao norte. E é engraçado, depois de tanto tempo, tanta discussão, parece que as nações eclesiásticas estão se juntando as helênicas e as afro-asiáticas, além do A.T.M[1]. Pensei que nos mataríamos antes de chegar a esse ponto. — Amanda Magalhães comentou.

— Isso não são perguntas, são teorias. — Reforçando, Hans Reiter observou Carlos Andrade com curiosidade, — vocês não vão trabalhar com sabotagem em si. Os instrumentos são automáticos e já temos dois técnicos prontos. Vocês só precisam manter eles seguros.

Os técnicos eram os superiores calados de canto. Suas peles pálidas e cabelos negros os revelava não como militares, mas de uma classe de civis que todos reconheceriam de longe, com suas unhas bem cortadas, barba aparada, músculos delgados e olhares castanhos e austeros. Um, apresentado por Hans Reiter, era o tenente-coronel Titus Augusto, e tinha o cabelo raspado na máquina, baixo nos lados, maior em cima. O outro, brevemente introduzido por si mesmo, tinha os cabelos cortado na tesoura, e se chamava Leônidas Adriano. Eles introduziram a proposta tática baseada em três argumentos técnicos, dois seguimentos tecnológicos e um sentido estatístico.

— Os drones do UHD não vão ser capazes de nos reconhecer. Nosso equipamento já começa com trajes de alótropos de carbono, equipados com unidades de inteligência. Isso vai facilitar nossa comunicação, vai permitir uma passagem segura e quebrar a lógica de reconhecimento do pessoal do UHD. Os VNT são comandados por operadores que seguem as tropas terrestres, então eles só atacam o que é determinado para eles atacarem. Não é o caso do suporte, que reconhece uma mina explosiva num raio de até cinco quilômetros.

— Isso não quer dizer nada — Lykaios contra argumentou — meu superior, o tenente-coronel Andel Grear, me informou que apesar de tudo, uma penetração nos escudos PEM precisaria ser feito para os comandos não precisarem passar pelo canal de comunicação UHD.

Sorrindo, Adriano e Augusto responderam com entusiasmo, um completando o outro, como se o tempo que passaram juntos os tivesse conectado neuralmente.

— Sim, não temos a opção de enviar comando pelo canal de comunicação codificado pela mais brilhante inteligência artificial já concebida pela humanidade. Até porquê, dizem que demoraria um bilhão de anos para todas as unidades de processamento disponíveis conseguir acessar, entende? — para só descobrir a porta de entrada. Decriptografar o que eles falam ali demoraria outros um bilhão de anos...

— Temos um dilema então? — Versalhes, por incrível que pareça, tinha um dos seus olhos tão avermelhados, que parecia profundamente irritado.

— Não. Criamos uma linha de conexão entre pontos. Vamos conseguir invadir os escudos PEM desde que algumas condições nos satisfaça.

O grupo não parecia animado. A conexão entre pontos, como eles explicaram, poderia facilmente ser detectado por agentes, eles poderiam ser identificados pelos drones, além de variáveis dos artrópodes, cujo poderiam confundi-los com instaladores de minas terrestres.

Carlos ficou pensativo, vendo os hologramas sobrevoar a sala. A conexão entre pontos seria feita por pequenas bases, onde lasers infravermelhos de baixa frequência forneceriam a conexão entre si. As bases não tinham mais de 3 centímetros quadrados, e eram retangulares. Cabia no dedo de Lykaios e Mauricio Antunes, que observavam descrentes.

— Uma dúzia não custa mais que 3 dólares e foi a resposta certa no tempo certo. Sua baixa frequência passa despercebido pelos radares, e os lasers rompem a configuração do Xenônio, pela ausência dos elétrons.

Carlos perguntou:

— Mas esses lasers... no que eles vão se conectar realmente?

— Bem, ele vai ativar um conversor de frequência, transformando o código enviado no laser em informação ao canal de emergência do suporte dos VNT, a única brecha que existe em ter um firewall tão fodido.

Eles passaram os três primeiros dias no campo. O ideal era criar redes de pelo menos 3 quilômetros, tendo cada dispositivo um alcance de 350 metros. O conversor era um pequeno tetraedro de polímero com uma entrada losângica com um receptor fosco. Em tese, a operação já era complexa. Em combate, eles nem conseguiam determinar ao certo.

O treinamento também era complicado, dependendo de esquadrões de pessoas, e alguns radares ultrapassados. E como a equipe era dissonante, se dividindo em afinidade, no que eles tiveram de primeira mão uns dos outros, já se imaginava inúmeras dificuldades na comunicação.

Ao final do terceiro dia, pra piorar, alarmes e sirenes foram acionados no meio da noite. A base estava sob o bombardeio de profana, forçando o esquadrão a se dividir e fugir em moto iônicas pelas planícies, conforme foi previsto pelo alto escalão da base. Eneida havia sido invadida e as planícies não tinham cobertura contra ataques aéreos. Iriam se encontrar além das montanhas, na Nação Pontifícia.

Naquela noite, Carlos conseguiu se encontrar sozinho, subindo a serra por uma trilha sinuosa, sob o céu cheia de estrelas. Pelas memórias que tinha, sentiu triste — no estrondo dos mísseis, dos V.N.T arrasando tudo como pequenos pontos descortinados pelo mirante. Era a queda de Roma, a vitória decisiva do U.H.D contra uma pequena nação emergente das planícies.

A primeira, de muitas vitórias de Um.


[1] Araba Tera Maro. Em Terra Arabia, diferente da maioria das nações que adotaram o inglês como língua primária, o Esperanto é principal língua falada e disseminada. Considerada uma medida radical, pró-marte.



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