Volume 1
Capítulo 2: Lembranças Ruins
Pegue o Olho!
Enquanto eu era motivado por aquela voz dentro de mim, cada vez mais me afastava do vilarejo; adentrando a floresta.
A luz do dia estava lentamente desaparecendo, o que era uma má notícia.
O anoitecer era cheio de perigos; a visibilidade era baixa e os monstros se tornavam mais ativos. Andar por esses locais agora era literalmente um ato suicida.
No entanto, não estou com medo.
Tirei a faca que estava na minha bolsa, a usei em uma árvore próxima — para que a seiva escorresse — e espalhei por todo o meu corpo.
Alguns dos monstros nesta área não gostavam do cheiro de resina, e os que não se importavam eram divididos em dois tipos: Monstros que não gostavam de fogo, e os que não atacavam até que invadisse o seu território.
Deixando o cheiro da seiva no ar, segurei uma tocha no alto. Verifiquei também as árvores, para ver se tinha marcas de monstros.
Desde que respeitasse essas regras, eu poderia caminhar pela floresta sem problemas — ao menos foi o que a voz me falou.
"De quem é essa voz, e por que meu corpo segue seus comandos?"
Enquanto me indagava, continuei andando. Talvez eu tivesse enlouquecido, e, se fosse isso, minha vida acabaria nessa floresta em algum momento próximo.
Caso aquela voz fosse apenas uma alucinação, então estas medidas contra os monstros seriam inúteis também. Mas, quando lutei contra o javali-toupeira hoje cedo, pude salvar uma pessoa acreditando no que ela estava dizendo.
Portanto, se eu fosse capaz de andar em segurança pela floresta desta vez, acreditaria definitivamente que o "Olho da Verdade" existia.
Sendo assim, por enquanto, irei apenas seguir em frente, porque eu não tinha muito tempo.
Após considerar a distância, a menos que eu começasse a correr a partir de agora, não seria capaz de chegar a tempo… Aumentei o ritmo.
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Já se passaram quatro dias desde que deixei o vilarejo, e só tinha mais um dia para chegar ao meu destino.
Só seria possível se conectar ao mundo espiritual no momento em que as estrelas se alinhassem — por isso não dormi nada ontem, simplesmente continuei a viajar pela floresta.
A fadiga em meu corpo tem se acumulado, e não só isso, além de não dormir, meu corpo enfraqueceu consideravelmente, pois só pude comer plantas e frutas pelo caminho.
Minha visão estava nebulosa, mas confirmei algo depois de percorrer tudo isso: Acredito de todo o coração naquela voz. Se não fosse por ela, eu não teria conseguido sobreviver até aqui.
Eu caminhei, caminhei e caminhei. Finalmente, na noite do quinto dia, cheguei ao meu destino.
Entre todos os tipos de árvores, havia um belo lago no meio.
As estrelas começaram a brilhar no céu… Eu as li — algo no qual não deveria saber — e compreendi seus significados.
Finalmente chegou a hora. Pegue o Olho da Verdade; faça isso e se lembrará de tudo.
Segundos depois, o lago começou a sugar a luz vinda das estrelas.
Minha boca se abriu. — Λ VIПGΛПᄃ̧Λ ƧΣMPЯΣ ƧΣЯΛ́ PᄂΣПΛ… — E pronunciei palavras antigas.
Ocasionalmente os espíritos que vagavam pelos dois mundos — humano e espiritual — davam uma bênção para a pessoa que cumpria seus requisitos.
Os espíritos recompensavam com algum poder aqueles que eram capazes de achar este tipo de lugar, compreender o significado das estrelas e recitar seu cântico.
Claro, não era como se eu soubesse dessas coisas antes, estou apenas usando o conhecimento de outras pessoas que já lidaram com isso, de alguma forma.
Logo parei de pensar no porquê de saber sobre essas coisas... Tinha a certeza de que todas as minhas dúvidas seriam respondidas se eu apenas conseguisse o olho do tal espírito.
O lago, que cintilava intensamente, momentos depois liberou todo seu brilho. Em seu centro emergiu dois pilares azuis, e, no meio deles, uma parede de luz se formou — um portal — de lá, uma bela mulher, usando um manto azul semi-transparente, saiu.
— Ó criança humana, eu sou um espírito estelar… Visto que cumpriu todos os requisitos até aqui, é meu dever conceber a ti um poder. Qual deseja?
O espírito me deu quatro opções: Os Braços que Podem Esmagar Tudo, os Pés que Podem Atravessar Tempestades, os Ouvidos que Podem Escutar a Quilômetros de Distância ou o Olho que Tudo Vê.
Bem, a minha escolha já havia sido decidida há muito tempo.
— O-o olho, por favor, me dê o Olho da Verdade — falei com a voz trêmula.
Logo o espírito estelar começou a flutuar em minha direção, aproximando seu rosto do meu. Involuntariamente, fechei minhas pálpebras, e senti que uma delas foi tocada.
— Criança humana, como prova de nosso contrato, eu lhe dei o Olho que Tudo Vê.
Senti meu olho direito secar, mas não era doloroso, apenas estranho. Abri meus olhos.
— I-incrível — falei em surpresa.
Eu conseguia ver coisas que não eram visíveis antes... A mana no ar, as informações de tudo, desde o nome verdadeiro do espírito, suas habilidades e atributos.
Aquela voz, que ressoava dentro de mim, me dizia que essa era uma habilidade absolutamente necessária para a classe que despertarei logo.
Me aproximei do lago e agachei; na superfície refletia o meu rosto, que agora tinha um olho direito verde reluzente.
Com um desejo interno, decidi utilizar tal poder no meu reflexo.
Em choque, paralisei. A minha mente foi preenchida com lembranças.
Eu finalmente fui capaz de rever a realidade podre desse mundo.
Agora entendia o motivo daqueles malditos sonhos e os sentimentos perturbadores que me atacavam todos os dias... Era o desespero e o sofrimento que passei, buscando serem relembrados — gravados tão fundo na minha alma ansiando por vingança.
Assim...
— Kekeke... — Um sorriso surgiu em meu rosto. Um sorriso doloroso e deturpado.
Após a epifania de lembranças horríveis, levantei o meu rosto e falei: — Obrigado, espírito.
Após receber o meu agradecimento, a bela moça sorriu e desvaneceu junto ao portal.
Felizmente, os meus planos iniciais foram concluídos. Em dois dias, despertarei a minha classe, e serei um Curandeiro.
Mas também ganharei a Marca Heroica, um símbolo em minha mão esquerda... Algo que apenas dez pessoas escolhidas no mundo possuiriam.
"Certo, terei que seguir a história como antes, pelo menos seu começo..."
Obviamente eu já sabia o que iria acontecer, mas como não tinha as habilidades passadas — como a Resistência a Drogas — então, se seguir o meu passado, serei drogado e forçado a curar os guerreiros feridos nas batalhas futuras.
Claro, copiar as habilidades desses indivíduos não seria algo ruim.
Mas enfim, em primeiro lugar, preciso voltar logo para o vilarejo. Então me encontrar com a princesa e dar início a minha doce vingança.