Volume 2 – Arco 1
Capítulo 56: A Era de Escuridão
Na Bela-Casa, longe dos conflitos no núcleo de Cyberion, todos continuavam na espera da próxima rodada do Coliseu Anisium. O leão rugia enquanto bebia no restaurante da Bela-Casa. Os outros gladiadores torciam em volta pelo felino, que foi desafiado a virar um barril inteiro de alguma bebida alcoólica comum daquele planeta. Estranhamente, mas não tão inesperadamente assim, tinha um gosto que o leão dizia ser semelhante a tinta de polvo.
— ARREEEE! — rugiu, quando terminou de virar o barril inteiro. O lançou para o alto e cuspiu chamas com bafo de álcool.
Luke Harris, que estava sentado ao lado do leão, não demonstrou reação nenhuma. Seus olhos observavam sem emoção as chamas de um leão orgulhoso.
— Seu bafo, tá podre — disse, revirando o rosto.
O leão bateu a pata no ombro de Luke, rindo, bêbado.
— Arre, moleque! Quando um daqueles peixes asquerosos cuspirem piche na sua cara, você vai sentir o que é fedor. — O leão deu uns tapinhas na cabeça de Luke. — Não te vi sorrir desde que cheguei aqui. Eu acho que cê devia beber um pouco, deixar essa marra cair! Arre.
Hifumi havia desaparecido desde sua rodada contra o ogro no Bastião do Titã. San acreditava que logo ele chegaria, então, estava esperando por ele no meio da calçada. O grande portão de entrada para o casarão e as tendas da Bela-Casa estava aberto. Mas ninguém usava aquele portão, afinal, ficava em uma plataforma flutuante por cima da cidade.
San estava junto de Kyoko e Arashi. De alguma forma, podia sentir a espreita de Kali Iyer também. Mas não podia a ver em lugar nenhum. Talvez, fosse apenas impressão.
“Zephyria…” pensou San, esperando que a estrela lhe respondesse.
“Sim?”
A voz doce de Zephyria era inconfundível. San sempre se sentia mais seguro quando ela estava disposta a conversar. Às vezes ele chamava por ela, mas ela desaparecia por um longo tempo.
“Que bom que está aí… Ultimamente, sinto que tem algo errado acontecendo.”
“Você ainda está no Coliseu, não é? Você não deveria estar aí. Se descobrirem quem você é, eles caçarão você.”
“Sim, eu sei. Você também sumiu já faz um tempo. Queria te perguntar… uma coisa.”
“Eu já sei exatamente o que você está pensando.” Por um momento, San se esqueceu que seus pensamentos, todos eles, estavam conectados com os de Zephyria.
— Então… você sabe… quem ele é de verdade? — perguntou San, referindo-se ao misterioso faraó de seus sonhos. Seu nome escrito naquela tumba nunca, em momento algum, deixou seus pensamentos.
— Ele quem, San? — questionou Kyoko ao lado.
San se descuidou e acabou falando ao lado dos outros. E como já esperado, Zephyria não respondeu.
— Arh… — San suspirou. — Não foi nada. Eu só estou… pensando alto.
Kyoko ignorou. Acariciou os cabelos alaranjados de San gentilmente para confortá-lo. Ele não diria o que estava o incomodando, não disse para ninguém afinal. Mas era visível que o garoto não estava nada confortável.
Enquanto isso, Arashi observava os arredores. Energético como sempre, buscava algo para fazer. Até que avistou Cornélia triste em um canto, encolhida, observando o movimento.
— Aquela menina — ele apontou para ela. — Ela não disse muita coisa desde que aquele cyborg quebrou. Aiden o nome, não era?
— Acho que sim — respondeu Kyoko. — Bem, ela devia considerá-lo um amigo bem próximo…
— Mas ele era só um robô.
San sentiu uma pitada de raiva com aquela frase. As memórias de Kaelan Blackwood vieram à tona… Aquele homem, um dos VIPs. Os cabelos em formato de cachoeira, os acessórios dourados. Todas essas características, mesmo pequenas, traziam indignação.
Na ala hospitalar, as coisas permaneciam bem desertas. Vorthis Crepitus acabou espantando todo o movimento naquele local. O ambiente estava pesado, assustador. Uma névoa escura envolvia todos os corredores, cada quarto. Ishida Majutsu ainda estava desacordado, e Vorthis dominava seu corpo. Usou uma magia para disfarçar sua aparência, e agora, estava se passando pelo Ishida original.
— Meu mestre… — Kaelan estava de joelhos, de frente à Ishida. De frente ao infame Vorthis. — Daqui alguns dias haverá um eveito em Las Stellaire. Um amontoado de pessoas, e sem a presença do deus Eterno.
Vorthis riu, encostado em uma das paredes do corredor.
— O que foi? Está com medo da presença de Eterno? — O olhar de Vorthis se fixou em Kaelan, desta vez, de um jeito hostil. — Não se esqueça de quem eu sou, de quem nós somos. Nada nos mata.
Kaelan não se atreveu a levantar a cabeça para observar Vorthis diretamente, então permaneceu ajoelhado.
— Nada pode me destruir. Por que eu o temeria? Só prezo que seus planos sejam bem-sucedidos.
— Heh, se é assim, então também tenho planos para você. Você é VIP nesse lugar... faça com que uma de suas rodadas seja contra o Hiroyuki.
Kaelan não gostou nem um pouco da resposta. Seus olhos se fecharam, o corpo perdendo a resistência.
— Mas, meu lord, aquele pirralho é um ninguém. Por que se importa tanto com ele?
Vorthis pensou um pouco antes de responder a essa pergunta.
— Ele tem algo que eu não tenho... mas ao mesmo tempo eu não sei o que é. E suponho que talvez, ele também não saiba.
— Certo... — Kaelan decidiu não relutar. — Isto se ele sobreviver à próxima rodada — ele sorriu, confiante. — O próximo turno, será com o Takeshi. E aquele homem é uma muralha.
A risada consumiu o silêncio dos corredores obscuros daquele lugar. Vorthis não riu junto de Kaelan, o que parecia estranho. Seu semblante estava sombrio, um olhar perdido, pensativo.
— Levante-se e fique quieto. Tem alguém se aproximando.
Kaelan obedeceu sem questionar, o mais rápido possível. Se levantou e se encostou na parede do outro lado do corredor. Os dois aguardaram a chegada da tal pessoa. Minutos se passaram, ninguém apareceu.
— Você… tem certeza? — perguntou Kaelan, e se arrependeu imediatamente. A espreita sombria de Lord Crepitus era fatal, persuasiva. Os nervos vibravam como se fosse um veneno.
Os passos apreensivos vieram furtivos. Os corredores, ofuscados pela densa neblina obscura de Vorthis, lentamente mostravam um semblante feminino. Vestia uma yukata branca, tinha cabelos castanhos e olhos azuis cristalinos. Era Amélia Harris.
— Você… sumiu já faz um tempo. Então, vim checar para ver se estava tudo bem. Seu nome é Ishida, não é?
Amélia estava um pouco tímida. Mas não era simples timidez. Ela se sentia esmagada o tempo inteiro, impotente. Como uma pétala apodrecida de uma flor ao outono.
— Estou bem, eu acho. Encontrei esta pessoa enquanto estava voltando — disse Vorthis, apontando para Kaelan. Ele imitava perfeitamente a voz de Ishida.
Amélia encarou Kaelan e ele sorriu para ela. Aquele olhar causava uma sensação estranha.
— Espera… este não é… — Amélia se lembrou de sua face quando estava na arena da Zenith Mortal, no desafio das borboletas. Kaelan era um dos competidores de Anionius.
— Você parece nervosa. A senhorita aceitaria um pouco de chá? — Kaelan tentou fingir gentileza, mas pareceu mais estranho do que antes.
— Afaste-se deste homem, Ishida! — exclamou Amélia. — Ele tem uma aura ruim…
— Ei, ei! Não precisa de tanto alarme. Ele não… — Vorthis tentou acalmar a situação, mas apenas o peso de suas palavras, sua entonação, fez com que Amélia sentisse perigo genuíno, mesmo tentando se passar por Ishida. Amélia deu dois passos para trás, aproximou as mãos emanando magia, em pânico.
— LUKE!! — o berro ecoou várias vezes pelo corredor, foram várias ondas sonoras tão fortes que distorciam o espaço. — Por favor…!
Após o berro os três ficaram completamente quietos. Amélia suava frio, Kaelan olhava ao redor, esperando que algo acontecesse. Vorthis parou de falar ou se mover, se tentasse, iria piorar as coisas. Mas também não esperava que fosse acontecer alguma coisa de fato. Até que…
— Amélia. — A voz veio de trás, das sombras do fundo do corredor, do lado oposto de onde Amélia chegou. O som estridente da ponta da lâmina se arrastando sobre o chão enquanto ele se aproximava. Das sombras, completamente do nada, Luke Harris deu as caras. Os olhos verdes como esmeralda acompanhados pelos cabelos castanhos, a imagem e a semelhança da própria irmã.
— Quem é esse moleque? — questionou Kaelan, observando por cima do ombro. Vorthis deu as costas para Amélia e encarou Luke enquando ele vinha com passos lentos. Os olhos do infame ficaram vermelhos, o olhar demoníaco que teoricamente fazia todo e qualquer ser capaz de sentir medo cair de joelhos.
Mas, surpreendentemente, não teve efeito algum. Vorthis olhava fixamente nos olhos verdes de Luke, dentro da pupila. Ele não se sentia intimidado, muito menos parecia estar com medo. A única coisa que teve de reação foi devolver um olhar apático e constante.
— Eu vejo, seus olhos profundos, me observando das trevas — murmurou Luke. Parou de se aproximar e apontou a katana ao Vorthis diretamente. — Você está me desafiando?
Vorthis não sentiu prazer em ouvir aquelas palavras, como aconteceria de costume. Sempre teve satisfação em ver novos desafiantes, corajosos, capazes de resistir a sua calamidade. Com Luke, porém, era diferente. Vorthis não se sentiu desafiado ou questionado com aquela frase, mas se sentiu insultado, desonrado.
“Você está me desafiando? Ele perguntou como se eu ousasse encará-lo dessa maneira. Como se ele fosse… superior a mim…” pensou, uma raiva crescendo por dentro.
— O que você disse? — O tom de voz de Vorthis apareceu. Uma voz grave, imponente. Muito diferente da de Ishida.
— Perguntei se isso é um desafio.
Luke mantinha a postura, enquanto Vorthis lutava para não perder a sua. Por um instante se esqueceu de que Amélia ainda estava assistindo, então, voltou ao personagem.
“Ishida” sorriu.
— É que eu não entendi o que você quis dizer com isso.
Luke resmungou e abaixou a katana. Ishida se virou e seguiu em frente aos corredores sombrios. Quando passou ao lado de Amélia, olhou friamente para ela, como se fosse um aviso. Seguiu caminhando com as mãos nos bolsos do casaco de bruxo.
— É, tenho que ir verificar como está o Sagitário — disse Kaelan, era uma desculpa para fugir dali também. — Sabe como é, corações bons podem ser bem frágeis…
O corpo de Kaelan derreteu até se tornar apenas um resquício de água no chão. Foi se alastrando até o ralo de um dos quartos da ala hospitalar e a água desceu pelo esgoto.
A tensão de Amélia se dissipou, estava recuperando a calmaria aos poucos.
Luke passou ao lado de Amélia também, pelo mesmo caminho que Vorthis e não disse mais nada a ela. Ela ficou sozinha no escuro, pensando sobre o que de fato tinha acontecido ali.
No subsolo, entre canos, goteiras, vácuo e metal. O confronto de Marine e o centauro continuava. O navio Caleuche estava bem ao lado do núcleo de Cyberion, protegido por uma barreira azul. A energia das duas barreiras do núcleo era dada pela pilha de cyborgs destruídos que estava jogada próxima. E em meio a pilha, um dos cyborgs havia acordado.
— Quem são… aquelas pessoas? — O cyborg tinha sua visão falha, os sistemas de reconhecimento facial deteriorados. Tudo que podia ver através da barreira azul, era um grande navio com duas pessoas batalhando em cima dele. — Eu não… entendo…
Marine estava prestes a fazer algum movimento com o seu sabre. Seu corpo sobrecarregado pela armadura dos mares que absorveu. Seria um ataque poderoso, talvez, o suficiente para destruir a defesa suprema do Sagitário.
— Pare — a voz ecoou do nada. Alguns passos vinham por trás de Marine. — Não é necessário usar o Kamenyaku completo contra um inimigo assim. Vai desestabilizar o seu corpo.
Marine tentou olhar para o lado para ver quem era, mas seu corpo estava completamente paralisado. Apenas conseguiu mover os olhos. Era Chrono, com seus cabelos loiros e os olhos vendados por um cinturão de metal.
— Mas…
Chrono esticou o braço e absorveu o poder dos mares de Marine. A armadura lentamente se desfez e as águas seguiram o caminho até adentrarem a manga do casaco de Chrono.
— Já chega. A sua luta terminou.
Depois de retirar o Kemenyaku de Marine, Chrono deu dois passos à frente em direção ao Sagitário, levou as mãos à cabeça para retirar o cinturão que tampava seus olhos.
— Esta tristeza que acompanha o seu coração desaparecerá, e você seguirá como um garoto feliz. Encontrará o seu caminho de iluminação… — prezou o Sagitário, enquanto sorria serenamente ao Marine.
— Por quê…? — Marine caiu de joelhos, seu olho cinzento ardia, os gritos de agonia que espalhava pelo ambiente não afetavam mais aquele ser puro. — Por que ele continua sorrindo pra mim?
Marine sentia ódio genuíno daquele centauro.
— Eu posso ver nos seus olhos. Você é uma pessoa justa. Um dia estará sorrindo para o mundo.
Quando Chrono finalmente retirou o cinturão, o centauro não fez absolutamente nada para tentar fugir. Os olhos de Chrono foram revelados, mas ninguém foi capaz de vê-los. Uma luz cobriu a visão de todos que tentaram ver através, até mesmo o cyborg que observava de dentro do núcleo. Então, ele tapou os olhos com o cinturão mais uma vez, e o centauro estava caído desacordado no convés. Os outros que estavam dentro do navio saíram para fora, e Charlotte apenas atravessou o teto para sair.
— Por que o deixou enfrentá-lo sozinho? — Chrono perguntou, de costas para Tsukasa. Mas ele já sabia que a pergunta foi para ele. Tsukasa não respondeu. — Ele poderia ter se comprometido.
O navio já estava de frente para o núcleo que queriam alcançar. Ghost pegou o centauro e o carregou nas costas, era meio pesado então precisou da ajuda de Myaku também para carregá-lo.
— É uma barreira holográfica — começou Charlotte, analisando de cima a baixo o grande círculo azul com linhas brancas à frente. — Ou seja, é só um holograma. Mas provavelmente vai repelir vocês se tentarem atravessar.
Charlotte flutuou até encostar as mãos na barreira. O holograma se contorceu, a influência de Charlotte repelia esse tipo de tecnologia. Um pequeno buraco no holograma lentamente foi se estendendo.
— Nada mal. Até que foi útil trazer a garota.
Todos pularam para dentro. O núcleo do planeta estava logo adiante, próximo o suficiente para sentir a energia nuclear que percorria naquele lugar.
Por trás da barreira holográfica, todos caíram em um grande anel de metal. Adiante, um campo magnético verde que estabilizava a verdadeira fonte de energia do planeta. Os cyborgs jogados pelo anel de metal que envolvia a barreira serviam apenas para energizar o campo magnético.
— Então… este é o verdadeiro núcleo de Cyberion — ponderou Myaku, encantada com a ideia.
Um pequeno buraco negro servia como fonte de energia no centro do campo magnético. A força magnética era atraída para dentro do buraco negro ao mesmo tempo que removia Alquimia vazia de dentro do astro.
— Bom, é aqui que nosso plano começa.
Mas ninguém esperava que um dos cyborgs estava ativo ainda. O Atlas-K17 veio andando, com um curto circuito em uma das pernas. Seus olhos azuis se fixaram bem na face de Tsukasa, tentando fazer uma leitura, mas era impossível.
— Onde está a Srta. Cornélia? — perguntou, com falhas na voz.
Ghost largou o corpo do centauro para pegar suas lâminas, ficando em guarda. Myaku não aguentou o peso do Sagitário sozinha e caiu com tudo no chão.
— Está tudo bem — Charlotte flutuou até o cyborg. — É só um android doméstico. Podemos apagar as memórias dele para não atrapalhar nos seus planos. Não gosto quando os machucam…
Charlotte enfiou as duas mãos dentro da cabeça do cyborg. Elas atravessaram seu crânio, ela era uma fantasma, afinal, e começou o processo de reinicialização dos arquivos de memória.
— Proteger a senhorita… Cornélia… — O robô estava lentamente se desativando para encerrar a sessão.
— Ótimo — disse Tsukasa, o gelo crescendo em suas mãos. — Então vamos começar.
— Eeh, o povo de Cyberion vai ficar um tempinho no escuro. Ou um tempão, talvez — caçoou Ghost, se esquecendo totalmente de ajudar Myaku com o corpo do centauro.
Na plataforma voadora da Bela-Casa, San se preparava para tomar um banho. A espera pelo amanhã era bem maior do que de costume, os dias naquele planeta eram maiores, afinal. Já nas fontes da área de lazer, deixou que apenas uma toalha de algodão cobrisse suas partes íntimas enquanto entrava nas águas. Estranhamente, não havia ninguém nas águas quentes àquela hora também, o que dava uma certa privacidade ao San.
Estava tudo extremamente relaxante, o que seria bom se permanecesse assim. De repente, o som de ponteiros de relógio se movendo atingiu fundo nos ouvidos de San. Ele olhou em volta para descobrir de onde vinha este som, e achou um grande relógio romano pendurado acima da entrada daquela área.
— Por que tem um relógio logo aqui? E ele ainda é romano…
San tentou ignorar o som irritante, era meio difícil, mas era possível. Olhou para baixo, a fumaça subia das águas quentes da fonte. O reflexo de seu rosto estampado abaixo, na superfície das águas. Ondulando com as pequenas ondinhas que vinham com cada movimento.
Em um piscar de olhos, o reflexo na água mudou. Agora refletia um homem de cabelos negros, longos, de olhos vermelhos. Era parecido com Tsukasa, mas era muito mais velho para comparar. San observou por alguns instantes, enquanto o reflexo observava de volta.
— Este é… Lity? — perguntou, ficou tão vidrado na imagem que o som do relógio desapareceu de sua mente.
— Não — respondeu o reflexo. Não fazia sons, mas San podia ler os lábios do homem da imagem. — Eu sou você. Este, somos nós.
E quando San piscou mais uma vez, o reflexo havia sumido. Agora refletia sua própria face mais uma vez.
— Que esquisito…
Momentos depois, San finalmente deixou aquele lugar. Se secou e vestiu suas roupas novamente e saiu para fora, onde estava o movimento das outras pessoas. Mas acabou se esquecendo de colocar o cachecol para tampar a marca do X…
Somente a aura emanada da marca pesou o ambiente inteiro. Como se a gravidade tivesse ficado mais forte, o corpo de todos que passavam ficou mais pesado. Seus olhos se arregalaram, uma neblina avermelhada dominou o lugar. Ninguém se atreveu a se mexer e nem dizer nenhuma palavra. San também não percebeu que estava com a marca exposta, e nem a reação das outras pessoas a isto.
— San — Um braço segurou o seu ombro, acompanhado da voz de Luke. — Esqueceu o cachecol.
Luke deu o cachecol meio preto meio cinza nas mãos de San. O único que não tinha efeitos na exposição da marca.
— Ah, valeu. Eu devo ter deixado ele no meu quarto.
San enrolou o cachecol no pescoço, e tanto a neblina vermelha quanto o peso no ar desapareceram. Todos voltaram a agir normalmente, como se nada tivesse acontecido. Como se literalmente sequer tivessem percebido o peso de antes.
— Eu estava pensando — começou San, após apalpar para checar se o cachecol estava firme. — Estamos aqui em cima já faz um tempo. Podemos ir lá embaixo, dar uma olhada na cidade, desbravar esse lugar um pouco. Talvez encontrar o Hifumi, vocês precisam se conhecer. Você faz parte do time agora, afinal.
— Não acho necessário — Luke respondeu, ainda com seu olhar apático. — Mas, se quer que eu te acompanhe, não tenho nada contra isso.
Com essas palavras, os dois seguiram para o ponto de teleporte dentro da mansão principal. Seguiram pelo corredor das ondas douradas por um tempo, até reencontrarem o local de teleporte para a cidade de Cyberion. San ainda se impressionava no quão instantâneo aquela coisa era, mas não parou para ficar pensando sobre isso.
Quando finalmente estavam de volta às ruas animadas daquele lugar, observando a variedade de espécies de alienígenas e formas de vidas que coexistiam em harmonia por ali, algo estranho aconteceu. Uma a uma as luzes foram se apagando, das casas, postes, estradas, trilhos magnéticos das carruagens, os próprios carros, todo o planeta foi se apagando gradualmente. No fim, se tornou apenas uma bola escura dividida ao meio. Apenas as arenas flutuantes e a Bela-Casa estavam com energia, pois eram plataformas separadas do próprio planeta.
— Um apagão? Não achei que isso pudesse acontecer aqui — comentou San, as outras pessoas ao redor pareciam tão confusas quanto ele.
Luke olhou para baixo, raciocinando. Sentia uma presença desconfortável ao redor.
— Não, definitivamente não é comum. Não aqui. Algo está acontecendo… estão agindo nas trevas…
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
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