A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 2 – Arco 1

Capítulo 51: Após a Morte

 

Foram longos segundos em que fiquei preso na escuridão, caindo em um vazio sem fim em busca dos meus irmãos que foram engolidos também. Talvez eu morreria ali mesmo junto com os dois, caindo no infinito para sempre. Três minutos se passaram, que para mim pareciam uma eternidade, e meu corpo continuava em queda.

Foram três minutos longos o suficiente para me fazerem refletir sobre minhas decisões até agora. Será que tudo isso realmente teria valido a pena? Tive tanto medo de evoluir, tanto medo de fracassar, tanto medo de lutar que acabei decepcionando todos que acreditavam em mim. Mas de que adiantou a confiança deles, se eu mesmo não confiava em mim. Eu estava de cara com a morte, e eu não poderia fazer mais nada.

Mas, e se fosse diferente? Por que eu sempre tive tanto medo? De quê exatamente eu tinha tanto medo? Se eu morresse agora, eu concluiria meu objetivo de fugir dos treinamentos e morrer como um ninguém. Mas no fundo, eu realmente estava satisfeito com isso?

Eu não tive mais tempo para refletir sobre minha possível morte. Logo, a escuridão foi ofuscada pelo fim da queda livre. Eu pude ver um céu completamente avermelhado e apocalíptico. Minhas costas colidiram com um solo rochoso, de pedras carmesins. Eu estava em um lugar completamente diferente do que qualquer lugar que eu já havia visto na minha vida. Mesmo não podendo afirmar, eu podia sentir que aquele era algum lugar distante nas profundezas do inferno. Por algum motivo era familiar para mim.

— Arashi… Hori! Vocês estão bem?!

— Meow!

— Kuro! — Eu me agachei para abraçar o gato. — Pelo menos você ainda pode me ouvir…

— Tsukasa! — A voz de Arashi ecoou por todo o local. — Merda!

Eu segui os ecos da voz de Arashi, que levavam até a beira do solo rochoso. Quando cheguei na beirada, um abismo avermelhado com nuvens negras me esperava adiante. Arashi estava pendurado lá embaixo, no final do penhasco, por um triz de se soltar e cair na imensidão.

— Arashi! Fica calmo e me escuta! — eu tentei tomar a liderança, mas eu mesmo não sabia o que fazer. — Não se mexe! Eu vou dar um jeito de te tirar daí…

— Você também não tem um plano! Eu tô ferrado, não tô?!

— Fica calmo!

— Eu tô calmo!

— Se estivesse calmo não taria aí berrando! — pela adrenalina do momento, a única reação que eu tive foi saltar para tentar salvá-lo. Deslizei meu corpo pelo penhasco ingrime, saltando de pedra em pedra com uma certa maestria aparente. O treino das flechas no fim foi útil para alguma coisa.

— Eu tô berrando porque você tá berrando!

— Beleza, então continua berrando! — de pedregulho em pedregulho, eu saltei em busca de Arashi. Mas na mesma hora em que eu o alcancei, ele não aguentou mais e se soltou. Nós trocamos olhares por um momento, tudo parecia mais lento. Ele caiu apenas alguns centímetros no abismo, e então eu o agarrei pelo pulso. — Vai ficar tudo bem!

— E como é que a gente vai voltar?!

Ignorando as reclamações de Arashi, eu fechei os olhos para me concentrar mais uma vez. Esperei alguns segundos para o impulso certo, e quando senti o vento passando suavemente entre meus cabelos, era o momento perfeito.

Lancei Arashi para o alto com toda a força que eu tinha acumulada, e ele foi arremessado até a metade do percurso para o topo do precipício. Não durou nem dois segundos; saltei de pedra em pedra mais uma vez, desta vez tão veloz que apenas o vulto negro era visível, o mesmo vulto negro do treinamento de antes. Peguei Arashi nos braços e subi o penhasco inteiro, o intervalo foi de apenas dois segundos e meio.

Pousamos na superfície e então deixei Arashi no chão novamente, nós dois ofegantes pela adrenalina do momento.

— Agora que acabou… nós temos que achar a Ho-

Um grito agudo quebrou minha fala um pouco adiante. Arashi e eu olhamos na direção do grito e ficamos aterrorizados com o que presenciamos. Era a nossa irmã Hori, nas mãos de uma criatura gigantesca. O monstro era magro e emanava uma aura muito escura, que acabava ocultando a sua pele. Um corpo humanoide com grandes garras nas mãos, e uma cabeça similar a de um carneiro. Era um demônio da era antiga, sua raça era wendigo.

— Um wendigo?! — eu pude distinguir pelo tamanho colossal. O demônio estava sentado em cima do santuário Hayami, como se fosse um trono. Ele era pelo menos três vezes maior que o santuário.

— Devolve a Hori! — Arashi apontou um dedo ao Wendigo. — Você não pode pegar ela assim e achar que tá tudo bem só porque tem tamanho!

— Meow! — Kuro estava indignado também.

— Ha! — O demônio riu. wendigos eram inteligentes o suficiente para poderem se comunicar. — Quanta coragem em um ser tão pequeno quanto você.

— Tu é grande mas não é dois! Já eu, sou pequeno, mas meu irmão é um gênio — bradou Arashi, com orgulho. — Não é, Tsukasa? — naquele momento eu estava completamente perdido. — Tsukasa?

Mais uma vez eu estava com medo. Meus olhos não saíam do chão enquanto os gritos de agonia da minha própria irmã ampunhalavam meus tímpanos. Eu me sentia impotente de novo, e já havia desistido de tentar fazer alguma coisa sem nem começar a tentar.

— Tsukasa… — Arashi se aproximou de mim, tocando meu rosto com sua mão. Provavelmente iria tentar me confortar agora, mas palavras de conforto não iriam funcionar. — Tá peidando pra um bode? Fala sério. Parece que espancaram a cara dele com um taco de golf, olha só para aqueles chifres ali!

Eu genuinamente ri do comentário. Como pude esperar que logo Arashi diria algo para me encorajar? Talvez, eu estava deixando os princípios de lado.

— Você tem razão… — eu me levantei, meus olhos esbanjando determinação. — Ele só não é mais feio que a Akane.

— Ha! — O demônio riu de novo, Hori continuava berrando presa em sua mão. — Suponho que seus objetivos sejam recuperar a garota… — O wendigo deu uma forte pisada no chão, tremendo todo o solo e fazendo Arashi quase cair. Várias paredes de mármore cinza se ergueram perante nós, uma a uma, fazendo curvas e caminhos aleatórios. Um verdadeiro labirinto que terminava na entrada do santuário em que o demônio usava como um trono. — Então faremos um pacto. Se cruzarem o labirinto em cinco minutos, liberto a garota… Se não, darei suas almas como oferenda ao meu criador.

— Moleza — Arashi estalou os ossos dos ombros, caminhando até a entrada do labirinto de mármore. Eu me juntei a ele, lado a lado. — Já começamos?

— Cinco minutos… — A contagem começou.

Com pressa nós dois partimos fundo no desafio. Arashi correu para a esquerda e eu para a direita. Mas o demônio não seria benevolente ao ponto de apenas assistir.

Slytherak… — recitou um feitiço demoníaco.

Duas fendas negras se abriram acima do labirinto, bem no final. Conforme os dois buracos se abriam no espaço, um líquido negro escorria sobre o labirinto como se fosse tinta. Em seguida, duas serpentes brancas gigantescas rastejaram para fora das fendas, caindo nos corredores paralelos do labirinto.

Mas isso não nos abalou, nem eu nem meu irmão estávamos muito a fim de desistir da Hori, independente do desafio que o wendigo propusesse. Os dois lados do labirinto pareciam espelhados; eu virava uma vez e Arashi virava também. Quando apareciam duas curvas, apareciam duas curvas para Arashi também. E quando ele encontrou uma das cobras, eu encontrei a outra também.

Nós dois recuamos, era impossível passar da cobra a não ser que quiséssemos ser engolidos. Enquanto eu corria para voltar, uma mão esquelética saiu do chão e quase me agarrou pela perna. Foi tão rápido que eu nem percebi e apenas continuei correndo.

— Três minutos…

Eu e Arashi viramos mais um corredor e demos de cara um com o outro. As cobras estavam vindo das duas direções, e agora, estávamos cercados.

— Vem, Arashi! — eu gritei, pensei muito rápido. Segurei a mão do meu irmão, usei a parede como apoio, saltei e então o impulsionei para o alto. Arashi pôde agarrar o topo do labirinto e subir na parede.

E no fim, eu fiquei no caminho entre as duas cobras. Foi a única ideia que pensei para salvá-lo e acabei não deixando saída para mim mesmo. Mas no fim, eu pude salvar meu irmão. As serpentes se aproximavam famintas, e quando estavam prestes a encostarem em mim, a mesma mão esquelética saiu de dentro da parede e me puxou para ela. Eu fui absorvido pelo mármore do labirinto, e as duas serpentes colidiram uma com a outra.

— Tsukasa! — Arashi gritou, mas ao mesmo tempo não parou para ficar olhando. O foco no momento era a Hori, ele sabia que eu iria ficar bem.

— Dois minutos…

A parede me trouxe para um lugar novo, completamente escuro, sem sons aparentes. Eu cambaleei pela força que a mão usou para me puxar, mas logo consegui o equilíbrio de novo. A entidade que havia me puxado logo apareceu para mim.

Era um shinigami, um demônio da morte. Um esqueleto cinza coberto por uma capa negra, carregando uma foice velha e enferrujada na outra mão. Tinha longos chifres por baixo da capa, e olhos tão vermelhos quanto os do wendigo.

— Prazer em te conhecer, Hayami.

— Não tenho tempo pra você, me leva de volta!

— Te trazer de volta…? Por que você quer voltar?

— ME LEVA DE VOLTA! — berrei, o grito ecoou e retornou aos meus ouvidos várias vezes, como se um eu distante tivesse gritado de vários lugares diferentes também.

— Você não vai conseguir salvá-la de qualquer jeito… você nunca conseguiu fazer nada direito. Por que conseguiria agora? Ela vai morrer… você não precisa estar lá para ver isso.

— Ela não vai morrer, não a Hori!

De repente, ouvi uma risada que me pareceu familiar… sim, eu conhecia aquela risada. Era a risada da Akane.

— Logo você falhando, Tsukasa? Pensei que fosse o escolhido.

— Escolhido… foi o que ela me disse quando tentei usar aquele feitiço…

O shinigami havia tomado a forma de Akane para perturbar a minha mente, aproveitando meu estado mental fragilizado.

— Que foi? Não consegue me derrotar? Não sabia que era possível o escolhido perder um duelo.

Foi o que ela me disse quando duelamos nos fundos do colégio. Ela simplesmente chegou e me desafiou do nada.

— Escolhido, por que só me chama disso…?

— É irônico o escolhido não saber responder de onde vem a Alquimia.

Foi o que ela disse na aula de magia, a professora fez inúmeras perguntas para mim, e eu não soube responder nenhuma.

— Eu não sou o escolhido… eu nunca fui… Por que não consegue parar de me chamar disso?!

Ela era tão irritante, tão odiável. Mas no fim, eu acabei me apegando ao jeito irônico de me tratar. Comecei a adotar uma face mais exibida, apenas para estimular as críticas de Akane. Talvez, eu gostasse da presença dela.

— Exatamente… você não é o escolhido. Eles sempre colocaram tanta expectativa em você pensando que mudaria alguma coisa, mas na verdade você sempre foi aquilo que você desejava ser. Você sempre foi “um ninguém”.

O shinigami retornou à sua forma original, caminhando em direção ao escuro e me deixando sozinho no vazio.

— Ele tem razão…

“Eu não consigo fazer nada.”

Meu espírito havia desistido, meu corpo também. Não havia nada que pudesse me levantar mais uma vez, exceto por uma coisa… Aquele grito ecoou de novo, dessa vez mais forte e mais agudo, demonstrando o desespero absoluto da minha irmã. Eu não podia abandonar a Hori agora, mesmo sendo um ninguém, eu teria que lutar para que ela não fosse como eu um dia. Para que eles fossem melhores do que eu, só assim, eu teria algum papel de verdade nesse mundo.

Com o grito desesperado de Hori eu corri mais uma vez, e no fim da escuridão encontrei uma porta branca. Eu não perdi tempo em tentar abrí-la; arrombei com tudo que eu tinha, e do outro lado, o shinigami me esperava de volta no labirinto.

— É tarde demais, faltam apenas quinze segundos — disse ele, mas eu não parei. Meu punho foi adornado em Alquimia, e logo desferi o soco mais potente da minha vida no crânio daquele demônio fantasma. Ele atravessou a parede de mármore, destruindo-a e deixando sua foice cair. Eu a segurei, partindo de volta até o final com a ponta da foice se arrastando nas paredes do labirinto.

Arashi estava quase alcançando o final passando por cima das paredes.

— Dez segundos…

Com a foice em mãos, avancei por trás de uma das cobras e comecei a esfatiar seu corpo. Correndo em zigue-zague, de uma ponta a outra o corpo da cobra se dividiu em sete metades.

— Oito segundos…

Avançando mais um pouco, a segunda serpente apareceu. Levantou sua cabeça para me dar um bote, porém eu fui sagaz. Desconectei a cabeça do corpo dela enquanto avançava rumo ao final.

— Três…

Arashi desceu de cima das paredes, caindo logo em frente a saída. O santuário com o demônio em cima estavam mais próximos do que nunca.

— Dois…

Eu me juntei ao Arashi, e estávamos a um passo de concluir o desafio.

— Um…

Nós dois cruzamos o labirinto ao mesmo tempo, mas foi tarde demais. Assim que pisamos no chão, o demônio cravou sua garra no peito de Hori, fazendo seu sangue jorrar pelo chão. Ela gritou uma última vez, e o wendigo deixou com que seu corpo deslizasse sobre sua longa garra e despencasse até as escadas do santuário, rolando até que seu corpo perfurado parasse diante dos nossos pés.

— HORI!! — berrou Arashi, seus olhos se enchendo de lágrimas.

Eu fiquei paralizado; meus braços congelaram e meus olhos arregalados. Uma expressão assustada, aterrorizada, surpresa e confusa ao mesmo tempo. Ali estava o corpo da minha irmã, morta, a apenas um passo de mim. Eu naturalmente deixei a foice cair.

— AAAAAH! — a Alquimia de Arashi se reuniu em seu corpo, uma magia dourada que lentamente tomava a forma de pequenos raios. A coloração foi alternando de amarelo para azul, um azul brilhante que refletia seu ódio. Seus olhos cheios de lágrimas piscaram com eletricidade, e eu nem fui capaz de me impressionar com sua nova forma de Alquimia. Eu me sentia vazio, perdido.

Arashi avançou com tudo, ultrapassando a barreira do som, chegando e se igualando com a minha velocidade. Ele correu sobre os pés e pernas do wendigo, subindo em direção ao seu rosto. O demônio sorriu com prazer, e usou apenas um dedo para perfurar a barriga de Arashi também. Sua eletricidade desapareceu instantaneamente.

Perfurado, o corpo de Arashi caiu inerte no chão, ao lado do corpo de Hori. Sua pele ainda emanava um pouco de eletricidade. Só restou apenas eu, o único que desejaria que ficasse para trás e morresse no lugar desses dois.

Correntes negras surgiram do solo e amarraram o corpo dos dois, puxando-os para o chão. Logo, as mesmas correntes surgiram para me puxar também, e eu não fiz nada para tentar impedir. Minha expressão continuava a mesma.

As correntes nos trouxeram para o mesmo vazio escuro de antes, onde o shinigami apareceu. Os dois corpos continuavam inertes na minha frente, e eu já havia desistido. Desistido até ver um resquício de respiração em Arashi.

Meus olhos se arregalaram mais ainda, ele ainda estava vivo de alguma forma, mesmo com a barriga perfurada. Ainda tinham esperanças.

— Arashi! — Eu me agachei para verificá-lo. — Vai ficar tudo bem, tá me ouvindo! Eu vou tirar a gente daqui!

Mas então, um corte passou pela lateral do meu rosto, me jogando no chão. Era a foice do shinigami pronto para me executar.

— Não tão fácil, Hayami.

— Merda!

Me levantei, procurando pelo shinigami, mas tudo que encontrei foi um segundo corte dessa vez na perna. Ele estava se ocultando nas sombras, era como lutar às cegas…

“Lutar às cegas, foi pra isso que eu treinei.”

Fechei meus olhos e me concentrei mais uma vez no som. Adotei novamente a posição defensiva, preparado para qualquer ataque. Mas tinha uma coisa que eu não esperava… O shinigami não fazia som nenhum.

Eu não pude prever nada. Foram inúmeros cortes nas pernas, braços, rosto, tronco, e eu não fazia a menor ideia de onde estavam vindo.

Naquele momento, eu lembrei do meu último recurso.

“Aqui diz que uma das propriedades da lua é criar um campo de magia que funciona como um rastreador lunar. Isto é, qualquer coisa que entre em contato com esse campo de magia fará você sentir o movimento. Seria como enxergar sem poder ver.”

Era minha única saída, o feitiço impossível de controlar. Mas eu tinha que tentar… tinha que funcionar. Ergui dois dedos em frente ao meu rosto, emanando mais uma vez a aura de magia dourada.

— Lumen Solidáriun!

Nada aconteceu. O sangue fervente borbulhou por baixo da pele, subindo rapidamente até o cérebro. Eu comecei a perder a noção da realidade mais uma vez, mas minha consciência lutava para resistir.

— Lumen Solidáriun!! LUMEN SOLIDÁRIUN! — meus gritos ecoaram por todo o lugar, mas novamente, nada aconteceu.

Meu corpo estava quase cedendo aos efeitos negativos, ainda mais que eu tentei usar o feitiço três vezes seguidas. Meu cérebro estava prestes a explodir dentro do crânio. Mas uma coisa tocou minha alma na hora. Alguma coisa estava tentando escalar o meu corpo, subindo nas minhas pernas e então se apoiando nos meus braços. Era Hori, se esforçando para ficar consciente também.

— Tsukasa… me escute… — quando ela disse essas palavras, minha mente se limpou, como se os efeitos do feitiço falho tivessem desaparecido. — Nunca mais… deixe ninguém te dizer que você é incapaz de fazer alguma coisa. Se estamos aqui hoje, se Arashi acorda sorrindo todos os dias mesmo com a situação precária em que estamos, se você consegue se levantar dia após com um sonho mesmo não sendo o mais bonito, se eu espero por vocês a todo momento para vivermos mais momentos e sorrir todos juntos mais uma vez… Isso significa que somos todos especiais. Nosso laço é especial… e se alguém nasceu para ser escolhido, estes foram nós. Que nascemos escolhidos… para amar você. — Hori se levantou um pouco mais, segurando as minhas mãos com as dela. — E mesmo se um dia nós desaparecermos ou… formos incapazes de te acompanhar… saiba que sempre estaremos confiando em você. Porque você é especial para nós.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, e então caiu no vazio. Eu estava chorando, mas desta vez, não de tristeza.

— Então vê se tira essas lágrimas do rosto porque eu ainda estou aqui… o que significa que você não precisa fazer as coisas sozinho. Então, que tal tentarmos mais uma vez? Juntos desta vez. Repita comigo…

Ela segurou minhas mãos com mais firmeza, e a aura de magia adornou o corpo dela também.

Lumen Solidáriun!

— Lumen Solidáriun!

A escuridão foi coberta por luz, pequenos fragmentos cintilantes de magia pairaram no ar como faíscas e então se queimaram. A magia subiu rodopiando, circulando-nos como uma ventania em um jardim florido. Ao alto, ela se juntava, formando a imagem perfeita de uma lua minguante dourada. Nossas magias estavam juntas como se fossem uma só, e a lua pairou acima.

— A gente… conseguiu… A gente conseguiu!

Mas minha alegria durou pouco. Por um momento me esqueci que o shinigami ainda nos espreitava, e esse foi o meu maior erro. A ponta da foice se cravou na cabeça de Hori, e o sangue saiu de suas narinas e boca.

Nekrath… — recitou o shinigami, o feitiço da morte.

A alma e o corpo de Hori foram rapidamente absorvidos pela lâmina da foice, ceifando-a para sempre. Foi como uma facada no meu coração, agora ela estaria definitivamente morta. Depois de todas aquelas palavras, eu deixei com que minha irmã morresse de novo. Mas desta vez, não haveria perdão. Em vez de tristeza, a fúria consumiu a minha mente.

Fechei os olhos pela última vez, agora eu podia sentir os movimentos do shinigami como se eu estivesse em uma grande teia de aranha.

— Vamos, seu merda… vem pra cima…

Confesso que ele era rápido, mas ao mesmo tempo lento demais. Me esquivei com pequenos e suaves movimentos que já eram o suficiente para que a foice não me tocasse. Mas o shinigami continuava insistindo, a cada tentativa falha de me ceifar parecia o deixar mais agressivo.

Não demorou muito para que ele se equivocasse e viesse para cima com tudo, tentando um ataque frontal, mirando no peito. Mais uma vez, a brecha perfeita…

Me esquivei fluidamente para o lado, poucos milissegundos antes da foice me tocar. Meu punho canalizou mais uma vez a magia do meu corpo, e o soco foi certeiro na caixa torácica do demônio. Ele foi repelido com o ataque, deixando a foice para trás mais uma vez, e eu obviamente a peguei para mim.

Desnorteado, o demônio se manteve de pé e retomou o foco, mas eu já havia desaparecido. Ele apenas via um vulto negro se movimentando na escuridão, veloz demais para prever algum ataque. Não demorou muito para que o primeiro corte atravessasse seu corpo, sem ele saber de onde veio.

— Moleque maldito!

— Infelizmente fui escolhido pela minha irmã… para ceifar você.

Eu decidi não entrar no mesmo joguinho idiota do shinigami, e Arashi não podia esperar para sempre. Finquei a ponta da foice em seu crânio.

Nekrath — era o mesmo feitiço que ceifou minha irmã, um feitiço demoníaco usado por shinigamis, que agora ceifaria o ceifador.

Sua alma e corpo foram absorvidos pela lâmina da foice enquanto ele gritava agoniadamente por socorro, mas não havia nada que pudesse fazer. O demônio já tinha sido ceifado.

— Então… você quer ser o próximo? — disse, enquanto ouvia o wendigo se aproximar com passos pesados. Eu parecia uma formiga perto dele.

— E aí? Planeja me ceifar também?

— Melhor medir suas palavras. — Apontei a mão para a cabeça do wendigo. — Não tenho mais medo de carneiros.

A lua dourada instantaneamente seguiu meu comando, flutuando veloz no ar até se cravar na cabeça do demônio. A ponta da lua atravessou seu crânio também.

Nekrath.

A alma e o corpo gigantesco do demônio foram absorvidos pela lua, ceifando-o eternamente no meu feitiço. A magia do ceifador só era possível de se utilizar caso o portador estivesse segurando a foice da morte.

Quando tudo acabou, larguei a foice no chão e corri até o corpo de Arashi. O segurei em meus braços, e quando o wendigo foi ceifado, o plano demoníaco começou a desaparecer. A escuridão foi transformada em um vazio esbranquiçado, e logo, fomos ejetados para fora do santuário. Ele estava embaixo d'água por algum motivo, no lago próximo a casa do Sr. Zhang. Nadei para cima com Arashi pendurado em meu ombro, e então o coloquei no chão.

— Arashi… por favor, esteja vivo…

Tentei ouvir seus batimentos cardíacos ou respiração, mas não tinha nenhum sinal vital restante. Fiquei três minutos ali, tentando ouvir alguma coisa, mas nada. Arashi Hayami estava morto.

 — Meow. — Kuro apareceu do puro nada, apenas para farejar o corpo de Arashi ao meu lado.

— Pelo menos você ainda está comigo…

— Meow…

Mais uma vez sentindo a sensação do vazio, carreguei o corpo de Arashi pelo bosque até a minha casa. Chegando na porta, vi sinais de invasão pela casa. Janelas quebradas, porta aberta e a madeira das paredes envolta danificada, como se tivessem forçado a porta.

— Merda!

Gentilmente coloquei o corpo de Arashi no chão e corri para dentro, e me deparei com mais uma cena terrível. Três homens armados, um deles era meu pai, e minha mãe estava de pé no meio. Três furos espalhados pelo seu peito, escorrendo sangue. Ela olhou para mim, um sorriso ensanguentado no rosto.

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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