Volume 2 – Arco 1
Capítulo 47: Despertar do Carrasco
O Domo da Glória havia terminado, com a vitória de Aniônius. Agora os dois lados da casa estavam empatados em pontuação, e os sobreviventes da grande arena da glória foram levados para recuperação nos fundos da Bela-Casa, onde havia uma ala hospitalar. O leão não precisou ser levado, não teve hematoma nenhum em seu corpo. Mesmo que seu desempenho tenha sido perfeito em batalha, ainda foi atacado por aquela besta dragão que encontrou na arena. Mas impressionantemente seu corpo já estava perfeitamente curado dos ferimentos. Myaku também estava bem e se recusou a ir até a ala hospitalar.
Ishida foi o único entre os três que foi levado; estava sendo carregado em uma cama por três médicos. Enquanto eles adentravam Ishida para um dos quartos, Arashi Hayami saía do outro. Mancando um pouco e com uma boa parte do corpo enfaixado, sentindo os efeitos da Zenith Mortal. Estava ansioso para se juntar aos outros e assistir ao último evento do dia no coliseu: O Bastião do Titã.
Os médicos colocaram a cama de Ishida em um canto e começaram os preparativos para sua recuperação. Enquanto um dos médicos instalava os aparelhos para verificar o batimento cardíaco, percebeu que a aparência de Ishida estava um pouco diferente.
— Ei, este garoto não tinha cabelos castanhos quando entrou aqui?
— Sim, seus cabelos são castanhos — disse o outro médico, que estava preparando o soro.
— Então por que o cabelo agora está negro?
Os outros dois pararam com os preparativos e foram checar para ter certeza. De fato, Ishida estava com os cabelos completamente negros e a pele mais pálida que o comum. Uma tensão cobriu todo o quarto, mas os médicos voltaram ao trabalho.
— Peça a enfermeira que traga as faixas do curativo, tem muito sangue saindo da barriga.
Um dos médicos deixou o quarto para pegar os curativos com a enfermeira. Os outros dois observaram Ishida na cama, intrigados com a mudança dos cabelos. Mas estavam tão imersos nisso que nem perceberam que o ferimento na barriga repentinamente havia se curado.
— Você não disse que a barriga estava sangrando muito? Me parece normal… apenas as roupas estão sujas de sangue.
— O quê? — o médico observou, intrigado. — Já curou? Isso é impossível.
O terceiro médico vinha com a enfermeira e os curativos em uma bandeja. Os outros dois abriram espaço, e a enfermeira começou a desenrolar o rolo com as faixas.
— Onde está a ferida aberta?
— Já curou…
A enfermeira achou que entendeu errado.
— Oi?
— O ferimento fechou sozinho em questão de segundos.
Ela parou de desenrolar as faixas na mão e olhou fixamente para Ishida adormecido na cama, com a mesma expressão de confusão que os outros dois médicos carregavam. O terceiro que havia saído para procurar a enfermeira parou para analisar também, e percebeu que a barriga já estava curada.
— Mas mesmo assim, é melhor prevenir… não temos certeza, não é? Nunca vi algo assim antes. Vamos enfaixar até ter certeza de que…
A enfermeira se aproximou da barriga de Ishida com as faixas, mas uma mão agarrou o seu pulso com firmeza. Ela levou um pequeno susto, e era a mão de Ishida, que se ergueu tão rápido que ela sequer percebeu.
— Aponte para mim… onde é que está vendo feridas abertas neste lugar? — disse a mesma voz grave de antes. Os olhos se abriram, vermelhos como sangue. Era a personificação de Vorthis mais uma vez, já que Ishida estava desacordado.
— E-eu…
— Aponte, eu lhe disse. — A enfermeira ficou paralisada. A mão de Vorthis ainda segurava seu pulso, e estava começando a doer. Ela tentou se soltar, o desespero subia lentamente. — Se não tem feridas, não há motivos para colocar estas faixas, ou há?
— Claro que não senhor… foi erro meu…
Vorthis soltou com agressividade a mão da enfermeira, que cambaleou para trás e derrubou a bandeja com os curativos no chão. Os três médicos não tiveram reação nenhuma. Vorthis se levantou da cama e caminhou lentamente para uma estante.
— Percebi que não sabem efetuar o trabalho corretamente. É uma decepção, vindo daqueles que se dizem profissionais. — Os quatro olharam fixamente para Vorthis, com medo de dizer qualquer coisa. Apenas observaram o que ele faria a partir dali sem tentar relutar. — Existe uma erva chamada Lumathis, e de longe pude notar que vocês possuem unidades dela por aqui… Tenho certeza de que não fazem a menor ideia do que ela faz.
Vorthis abriu um dos armários, onde tinham várias ervas guardadas em recipientes. Uma delas era estranhamente roxa, e tinha um brilho único e incomum vindo de uma planta. Ele pegou a erva Lumathis e pegou mais alguns líquidos em outras gavetas. Pegou um recipiente maior e começou a misturar tudo enquanto esmagava a erva no líquido.
— Nós… não temos ideia, senhor. Em nenhum livro ou curso nos ensinaram sobre esta planta… por isso nunca usamos…
— Que desperdício de conhecimento… vocês deveriam ser mais curiosos com o material que trabalham. Deveriam estudar o desconhecido. Lhes falta… ambição. Esta erva quando ingerida causa reações quase que divinas no corpo. Eu seria um tolo se explicasse como uma iguaria como esta funciona para amadores como vocês…
Quando a mistura ficou pronta, Vorthis pegou uma seringa e encheu com a mistura. Levou a agulha até a cabeça, fincou no próprio crânio, e injetou tudo. Seus olhos refletiram uma cor roxa por um instante, e então voltaram para a cor avermelhada de antes.
— Você injetou pela cabeça…? Você é maluco?
O clima ficou tão tenso naquele instante que as pernas dos quatro presentes começaram a perder forças, quase não aguentando ficar de pé.
— Está questionando meu conhecimento sobre medicina?
— Não foi o que eu quis dizer…
Mas Vorthis não teve perdão. Se aproximou daquele que comentou aquela frase, e tocou o seu ombro com uma mão.
— Olhando de perto, você realmente tem um rosto belo.
A pele daquele médico começou a derreter e ficar negra. Quando tentou gritar, sua voz falhou e deixou de existir. Suas cordas vocais estavam derretendo também. Segundo por segundo, sua pele negra que agora parecia uma meleca no chão começou a sujar os sapatos dos outros três.
Os dois médicos que acompanhavam aquele gritaram e tentaram fugir, mas o ambiente não estava ao seu favor. As paredes do quarto ficaram negras, e tentáculos saíram de dentro das paredes, puxando os médicos para ela e os prendendo com as gosmas nas paredes. Apenas seus rostos agonizando ficaram para fora, com os tentáculos tampando suas bocas.
A enfermeira apenas se ajoelhou diante de Vorthis, prezando que ele não tirasse sua vida também. Ele sorriu para ela, se agachou e acariciou as bochechas da enfermeira.
— Você também tem um rosto belo. Aprecio suas atitudes, mas aqueles outros dois aparentemente temem a morte. Se prezam tanto pela vida… eu lhes concederei. Mas apreciarão a vida sem a essência da ambição…
Vorthis se levantou e deu a seringa nas mãos da enfermeira.
— O que você… deseja que eu faça?
— Arranque os olhos dos dois. Não ter ambição é o mesmo que ser cego pelo medo… Sem os seus olhos, eles não poderão mais ver o medo.
A enfermeira hesitou mas não tinha escolhas. Se aproximou de seus dois colegas de trabalho enquanto eles a olhavam com aquele olhar desesperado, as bocas tapadas pelos tentáculos das paredes. Um a um ela foi fincando a seringa em seus olhos, apagando o brilho de seus seres para sempre.
Com uma expressão sombria, a enfermeira soltou a seringa ensanguentada ao chão, com o corpo tremendo. Vorthis não a agradeceu e nem a vangloriou, apenas deixou a sala a passos lentos e ecoantes, fazendo com que a enfermeira se afogasse em seus próprios remorsos.
Nos calabouços do Bastião do Titã, Tsukasa Hayami permanecia preso entre as grades de sua jaula. Charlotte estava descansando um pouco à frente no corredor, nunca deixando Tsukasa sozinho. Ela gostava da companhia dele mesmo sabendo que ele sempre iria preferir Akane Hiroyuki para ser sua companheira.
Tsukasa despertou seus sensos quando o impacto de todo aquele poder de fogo deixado pelo leão na arena do Domo da Glória chegou até o Bastião do Titã. O espectral estava solto, o Pilar do Leão finalmente havia despertado.
— Então ele resolveu acordar… Está na hora de começar a minha missão.
Tsukasa se levantou e passou pelas grades da jaula, que desde que fez uma “amizade” com Charlotte, agora ficavam sempre abertas. Começou a caminhar pelos corredores, até que Charlotte resolveu falar.
— Sua missão… é matar aquele espectral, não é? — Tsukasa parou de caminhar naquele instante, sem responder à pergunta de Charlotte. — Ele é o único que tem todas as informações sobre o faraó da Jade Vortex e o planeta de Zahrah. É óbvio que logo você não deixaria isso escapar… É por isso que deixou com que meu irmão te prendesse nesse lugar tão pacificamente?
— Você não precisa se preocupar comigo. — Tsukasa olhou para ela por cima do ombro, o rosto coberto pela máscara negra. — Só perdi uma batalha na minha vida. Não vai ser um leão quem vai arranhar a minha máscara.
A única batalha que Tsukasa teria perdido foi contra Eterno, em Nefer Rá, em seu plano fracassado de tentar dizimar o reino do Sol.
— Não se arrisque demais… você prometeu que iria matar o Oliver pra mim no coliseu…
— Ele é só uma pedra no meu caminho. Mas não posso deixar de agradecer por me ocultar nessa prisão esse tempo inteiro. — Tsukasa voltou a caminhar, lentamente desaparecendo na escuridão do corredor. — Valaric e aquele leão já estão condenados. Serei o carrasco dos dois… estarão mortos em um prazo de cinco dias.
Charlotte permaneceu um tanto preocupada mas sabia que não havia nada que pudesse fazer. Tsukasa virou as costas e seguiu em frente, desaparecendo na escuridão dos corredores metálicos do calabouço.
Em Cyberion, em um lugar mais isolado da cidade, a fábrica onde faziam os experimentos do elixir misterioso se estendia até a superfície, ficando metade da fábrica enterrada no interior do planeta, e metade exposta à superfície. Atrás da fábrica havia uma pequena área cercada por grades elétricas, provavelmente algum local usado para testes com as cobaias do elixir. As luzes dos postes que iluminavam toda aquela área falhavam às vezes, soltando faíscas a cada piscada.
Um dos VIPs da Bela-Casa, um velho que particularmente odiava a presença de Kaelan Blackwood, era dono da fábrica em questão. A maior parte dos funcionários eram polvos negros, uma espécie de alien muito comum em Cyberion principalmente nas áreas do subsolo. Eram extremamente inteligentes e executavam com perfeição tarefas administrativas, além de terem uma grande vantagem quando estão em grupo. O feitiço perfeito dos fracos só predomina quando um grupo numeroso se une para guerrear.
O velho que comandava toda a fábrica estava de frente aquela área aberta nos fundos. Todos os polvos da administração estavam presentes ali também, vestindo jálecos brancos. Praticamente ocupavam todo aquele confinamento.
— Por culpa da incompetência de vocês, o leão agora está competindo naquele coliseu neste momento. E para piorar nossa situação, está do lado Elysium. Conseguimos extrair boa parte do sangue do espectral, deve estar extremamente fraco por ora. É a única chance que vocês têm para recuperar aquela besta.
Todos os polvos concordaram em ordem, cheios de confiança. Já tiveram que lidar com o leão em seu auge uma vez, agora enfraquecido seria muito mais simples. O ataque combinado dos polvos era capaz de atordoar qualquer indivíduo vivo.
O velho se sentiu satisfeito por um momento, mas não esperava o que vinha a seguir. O ar estava ficando cada vez mais gelado, as luzes antes um pouco falhas agora oscilavam o tempo inteiro. Quando estava prestes a finalizar seu discurso, o velho sentiu uma presença tenebrosa às suas costas.
— Não tema… — o corpo do velho estremeceu com aquela voz abafada vindo bem por trás de seu pescoço. — Não vou te matar caso diga onde está o Pilar do Leão…
A cabeça do velho lentamente se virou para trás, e por um momento, por um único segundo, ele pôde ver aquela máscara negra com detalhes vermelhos tão próxima de sua face que ocultava todo o resto da visão. Os olhos vermelhos e penetrantes por trás da máscara corroeram a mente do velho. Mas o mascarado desapareceu assim que os polvos começaram a atirar lasers com suas armas em direção à ele. Todos eram bem treinados, então nenhum dos lasers acertou o velho.
— Quem é você?! Não te diremos nada! — toda a bravura do velho retornou quando Hawk desapareceu de suas costas. — Nova ordem! Destruam o intruso!
O vulto negro passou transitando pelos ares do confinamento. Os olhares de todos os polvos se focaram nos vultos que vinham e voltavam no ar, pulando das cercas elétricas para os postes, dos postes para os telhados. Vários lasers das armas dos polvos iluminaram os céus com feixes coloridos, levando a atenção de alguns civis para o que estava acontecendo na fábrica. Nenhum dos lasers conseguiu acertar Tsukasa.
Os polvos pararam de atirar e olharam em volta, o velho que os ordenava não se sentiu imponente o suficiente para tentar atacar também. Tsukasa estava escondido dentro de uma das ventilações da fábrica que dava no confinamento, entrou ali tão rápido que ninguém pôde acompanhar em meio a tantos feixes no céu. Tsukasa colocou uma luva biônica em sua mão esquerda, que logo se energizou com um poder alaranjado.
— Então eles querem jogar com lasers — Tsukasa mirou a mão com a luva para fora a tampa da ventilação, mirando em uma fileira de polvos. — Então com lasers vamos jogar.
Uma rajada alaranjada saiu da luva biônica, levando tudo em seu caminho. Os polvos negros da fileira que a rajada acertou foram incinerados completamente, deixando um rastro de destruição marcado no confinamento.
— Ele está na esquerda! Destruam!
Os polvos começaram a correr na direção que o velho ordenou. Guardaram suas armas e prepararam suas habilidades. Ao mesmo tempo, todos soltaram um líquido negro parecido com piche nas entradas de ventilação, esperando que Hawk ficasse preso nos dutos. O líquido escorreu pela parede, tampando toda a estrutura. Porém, o ar continuava frio, e quando todos os polvos olharam para trás, Tsukasa estava parado acima das grades elétricas que aparentemente não faziam efeito nele.
— Este homem não pode sobreviver com a informação que adquiriu agora! Usem tudo o que têm!
Aquela foi a ordem para que os polvos usassem sua habilidade suprema em conjunto. A habilidade que fez até mesmo o espectral das chamas perder os movimentos do próprio corpo. Os polvos olharam para o alto em conjunto e ergueram seus tentáculos. A tinta negra evaporou de seus corpos e subiu aos céus em forma gasosa, uma nuvem negra de vapor que tomava proporção a cada segundo. Estava óbvio para Tsukasa que se encostasse naquela nuvem poderia lhe resultar em algo mais grave, então decidiu levar o assunto um pouco mais a sério.
— Se não estou enganado… — Tsukasa ergueu dois dedos à frente de seu rosto mascarado, o ar frio ficando cada vez mais agitado. — Isto é uma expansão de magia… sendo assim, usarei a minha também.
Uma expansão de magia é diferente de um feitiço de domínio. Enquanto feitiços de domínio tendem a dominar uma área e prender seu inimigo no seu território, expansões de magia servem para amplificar a canalização de feitiços em uma área que vai além do próprio corpo, podendo canalizar magia com fluidez de qualquer ponto, até mesmo do próprio ar. Porém, duas expansões de magia não podem ser ativadas ao mesmo tempo, e quando um impacto entre elas acontece, a mais fraca perecerá e o feitiço será desativado. Mas seria improvável vencer contra um feitiço jogado por vários indivíduos em conjunto.
O ar ficou cada vez mais agitado, e a Alquimia de Tsukasa já estava preparada para a canalização de sua expansão de magia.
— Lumen Solidáriun.
O ar frio correu com fúria pelo confinamento, desestabilizando um pouco os polvos abaixo. O vento ficou tão gelado que se moldou em gelo puro no ar, formando uma estrutura no céu. Uma lua minguante perfeita de gelo, que irradiava o ar frio e transparecia por trás de Tsukasa em cima da grade.
A nuvem negra criada pela união de todos os polvos se sustentou por um momento, mas o vento congelante liberado pela lua de gelo era forte demais. A nuvem foi dissipada com o vento, e os polvos perderam a chance de usarem seus feitiços mais poderosos. O clima estava frio demais, seus membros prestes a congelarem, seus tentáculos tampando os rostos do vento enquanto os mais próximos da lua congelavam sem poder reagir.
Porém aquele ainda não era o final. Os polvos já haviam sido condenados quando perderam a guerra de amplificações de magia. Nenhum era capaz de se mexer pelo frio e nem de tirar os tentáculos do rosto pelo vento. Mas aqueles eram apenas os efeitos da lua de gelo, os feitiços viriam a seguir.
— Aquila — recitou, e várias penas de gelo foram criadas no ar adornando todo o amontoado de polvos. Quando todas as penas se formaram em pleno ar, juntas criaram a estrutura de uma asa de falcão que prendeu todos os polvos ao mesmo tempo. O velho não teve reação nenhuma, apenas assistia o desastre.
— Quem… quem é você? — perguntou o velho, desacreditado.
— Se não me disser onde está o leão, todos os seus funcionários dentro da asa de gelo vão morrer. A cada segundo uma lasca das penas se quebra e cai sobre as cabeças dos azarados que estiverem embaixo. Serão estilhaçados conforme a estrutura cai aos pedaços…
O velho sabia de uma coisa, toda expansão de magia tem uma fraqueza e um jeito muito óbvio de ser dissipada. Retomando a calma e analisando melhor a situação, ele percebeu como destruir a amplificação de Hawk.
— A lua de gelo… — O velho sacou sua bengala e apontou para a lua de gelo de Tsukasa. Seus olhos brilharam em uma cor amarela, e a bengala foi eletrificada por raios também amarelos. — Ictus!
Um raio amarelado saiu de sua bengala com potência total, acertando em cheio a lua de gelo no ar em um instante. Uma neblina fria foi liberada do impacto do raio com o gelo, e o vento frio cessou. Tsukasa não teve reação em cima da grade. O velho pensou que agora teria chances, mas quando a neblina no ar começou a desaparecer, notou que a lua de gelo não havia sumido. Na verdade, em vez de ter uma coloração esbranquiçada como o gelo, agora era avermelhada, como um cristal de rubi.
— A lua… ficou vermelha?
— Eu te disse que os deixaria sobreviver se me dissesse onde ele está… mas você escolheu a morte.
“O gelo vermelho é uma fortificação do gelo comum… um segundo estágio. Aquele jovem realmente usou uma fortificação de magia em uma expansão de magia?! Isso sequer é possível?!”
— Tempestas Glacialis — recitou Tsukasa, e a asa de gelo que cobria os polvos começou a tremer. De repente, quatro espinhos de gelo vermelhos explodiram a asa e fincaram todos os polvos ao mesmo tempo. O tamanho dos espinhos se estendeu até a lua vermelha, fazendo uma curva em espiral no ar.
Todos os funcionários caçadores do espectral estavam mortos diante dos olhos daquele velho. Se sentia impotente, não poderia fazer mais nada. Sua bengala caiu ao chão metálico enquanto via o sangue dos polvos escorrer pelos espinhos vermelhos que saíam do solo. A lua vermelha no céu se estilhaçou e caiu em cacos no chão, e quando o velho olhou para baixo, viu uma lâmina de gelo atravessando as suas costas e saindo pelo seu peito. O sangue saiu de sua boca, escorrendo e pingando no fio da lâmina fria.
— Quem… é você?
O velho caiu de joelhos ao chão, a lâmina se desconectou de seu peito e ele se virou para olhar a máscara de Hawk uma última vez antes de cair de costas no chão, mas ainda permanecia consciente.
— Eu sou a sua morte.
Foram as últimas palavras que o velho ouviu, e sua última visão, foi a mesma lâmina fria suja pelo seu próprio sangue perfurar a sua cabeça no chão. Tsukasa desapareceu momentos depois, sem olhar para o cadáver que tinha acabado de executar.
Algum tempo depois, alguém vinha reclamando de dentro da fábrica.
— Por que está demorando tanto, Eldric?! A distribuição do elixir começa amanhã e não fizeram a verificação dos estoques ainda…
Era Valaric, se aproximando da área de confinamento com seu cajado particular. Quando passou pela porta de metal, seus olhos se arregalaram com toda aquela cena. Quatro grandes espinhos vermelhos caindo aos pedaços, apunhalando os corpos de todos os polvos como se fossem carne em um palito de espeto.
— O quê…? O que aconteceu por aqui, Eldric?!... Eldric?
Porém, ficou realmente impressionado quando viu o corpo do velho um pouco à frente das escadas, com o peito ensanguentado e a cabeça apunhalada por uma lâmina, uma lâmina que o assassino nem se deu o trabalho de retirar da cabeça do velho. Uma lâmina que Valaric conhecia muito bem, uma arma que exalava um ar frio conforme o vento passava por ela. Uma lâmina de gelo.
— Tsukasa… Hayami…
Valaric continuou a observar o cadáver daquele velho, que por mais que não gostasse muito dele, continuava sendo um de seus companheiros na Bela-Casa, um dos únicos que o apoiava.
Do topo da fábrica, em cima de uma das saídas de fumaça, Tsukasa observava Valaric no confinamento com os braços cruzados.
— No coliseu, você será o próximo.
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
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