Volume 2 – Arco 1
Capítulo 45: Guerra dos Duzentos
A Zenith Mortal foi fechada quando a competição se encerrou, mas a ponte de fogo no céu que se estendia até ela continuou erguida, esbanjando plenitude sobre Cyberion. Na área de lazer da Bela-Casa as pessoas esperavam pela próxima rodada em uma arena diferente, que começaria em breve.
Arashi foi enviado para a ala hospitalar junto de Zorvax, que havia quebrado um braço. Amélia estava quase sem fraturas, então decidiu não os acompanhar. Se reuniu ao grupo na área de lazer, ansiosa para reencontrar seu irmão.
— Luke! Nós… nós conseguimos!
Luke a olhou, estava encostado em uma parede no canto.
— Ótimo, continue assim.
A resposta seca de Luke acabou afetando um pouco Amélia. Ela baixou a cabeça, e aguardou ao lado dele.
— Podia demonstrar mais alegria às vezes… Quando viajávamos juntos, você era… mais feliz…
Luke a olhou por cima, um olhar frio, mas ainda compartilhava dos mesmos sentimentos que sua irmã. Ele acariciou o ombro de Amélia, mas ela virou a cara com raiva.
— Será que ele vai ficar bem? Ele ficou em um estado horrível… — disse Cornélia, referindo-se ao Arashi.
— Vai ficar bem — respondeu San, desta vez, sem aquele ar de opressão que refletia antes. — Ele tem mais energia que todos nós juntos… não duvido que em duas semanas já esteja andando normalmente por aí.
San ouviu passos se aproximarem, uma mulher usando salto alto com o som de seus utensílios do deserto tinindo a cada movimento. Era Kali Iyer, chegando e se sentando logo ao lado de San. Kyoko não gostou nada daquilo, então se apressou para abraça-lo com os braços envolvidos no pescoço atrás de San.
— Você deve ter razão — respondeu ela, os olhos fixo em Kali.
— Que foi? — o olhar de San transitava entre Kali e Kyoko atrás dele. — Não tô te entendendo…
— Só estou com frio, San. Você tem que se aquecer.
— Mas não é você quem está com frio?
Kyoko fingiu que não ouviu, e enterrou a cara nos cabelos ondulados e alaranjados de San. Kali os observou com um sorriso meigo, cruzando os dedos acima do balcão.
De repente o leão se levantou do banquinho, olhando atento de um lado para o outro do salão. Todo o grupo o encarou, com exceção de Ishida, que estava dormindo na forma de pássaro nas mãos de Cornélia.
— O que foi? — perguntaram Kana e Kanako juntas. As mãos cruzadas em frente às cinturas.
— Vocês ouviram…? — o leão parecia sério desta vez.
Todos ficaram em silêncio para tentar ouvir alguma coisa também. Kali cutucou o balcão repetidamente com a unha, causando estalinhos a cada segundo. Kyoko olhava ao redor com o rosto nos cabelos de San, que parecia não ligar muito para o que estava acontecendo ao redor. Ele estava com uma sensação péssima de culpa, que vinha e voltava de tempos em tempos.
— Ouviram o quê? — questionou Thomas, que estava ao lado de Luke e Amélia.
— Ou vocês são surdos, ou eu sou maluco.
Mas ninguém precisou dizer nada para obter a resposta; um grande estalo acompanhado por um ruído que lembrava um trovão rangeu sobre o salão. Todos voltaram-se para trás, e um portal enorme se abriu bem no meio. Ele era amarelado, com pequenos raios brancos saindo de dentro dele e então retornando.
— É um portal de Elysium? — perguntou San.
— Tem outro lá no outro lado! — disse o leão, aponta do para a outra ponta do salão, onde um portal vermelho com raios negros se abriu, e os competidores da Aniônius entravam animados.
— Deve ser a convocação para a próxima arena! — exclamou Kyoko.
— Se este for o caso… — Kali se levantou do banquinho, e com elegantes passos se aproximou do portal. — O que estamos esperando?
Não demorou muito para que o salão ficasse vazio. Todos os gladiadores dos dois lados haviam passado pelos portais que se abriram. O caminho de fogo que levava até a arena do Domo da Glória se iluminou, saindo de chamas vermelhas para chamas roxas. Os competidores passaram por ali como raios, com auxílio do portal, chegando até a arena.
Apenas os aleatoriamente selecionados competiriam naquela rodada, e os demais ficariam nas arquibancadas como espectadores.
A arena era gigante se comparada às outras, na verdade, era imensa. Cem gladiadores de Aniônius apareceram de um lado da arena, e cem da Elysium apareceram do outro com a influencia do portal. Valaric aguardava no topo da arena como locutor, com seu cajado suspeito em mãos e um microfone mágico.
— Senhoras e senhores! Fadas e goodies! Com imensa felicidade tenho a honra de apresentar-vos mais uma vez um grande espetáculo que acompanha o coliseu neste dia!
Uma chuva de palmas ecoou na arena por um breve momento.
— Obrigado, obrigado. Para os recém-chegados, esta arena é a mais antiga e violenta arena entre os três grandes torneios. O Domo da Glória. Arena esta em que cem gladiadores de cada lado travarão uma guerra até a morte por vinte minutos inteiros. A cada morte, um ponto é recebido para o lado correspondente. Vale de tudo nesta rodada, então é necessário criar suas próprias estratégias. É tudo ou nada, é matar ou ser morto.
“Os gladiadores poderão escolher entre lutar ou tentar sobreviver em meio ao caos. Não importa, sempre terão aqueles que almejam a vitória, e farão de tudo para aniquilar o exército inimigo. Mas para aqueles que prezam pela própria vida e não desejam arriscar, o senso de sobrevivencia é o que mais importa neste momento.”
“É crucial que mantenham a guarda a todo momento… não queremos perder cem competidores logo no primeiro dia, não é mesmo? Então uma boa sorte a todos. Estes serão tempos ruins… Que os deuses estejam conosco.”
Quando Valaric terminou o discurso, o portão no centro da arena lentamente foi descendo para baixo, levantando poeira e criando uma cortina que limitava temporariamente a visão dos outros cem adversários. Myaku Yukari, Ishida Majutsu e o leão estavam entre os cem de Elysium.
Ishida mal tinha acordado, e já teria que lutar contra cem gladiadores ao mesmo tempo. Pelo menos, não estava sozinho no campo. Se aproximou lentamente para ficar lado a lado com o leão, e Myaku estava nas linhas de frente, preparando sua enorme foice de rubi com excitação nas veias.
A arena continuou silenciosa por alguns segundos. A tensão era tanta que alguns dos gladiadores já estavam passando mal, caindo de joelhos com dores na cabeça e nas palmas das mãos de tanto nervosismo. A cortina de poeira levantada pelo portão ainda preenchia o centro da arena.
Duzentos olhares fixos na poeira, gotas de suor caindo ao chão, espadas sendo desembainhadas, respirações profundas e devagares. Corações tão acelerados que faziam as veias pulsarem.
De repente, em meio a cortina de poeira, alguns corajosos de Aniônius avançaram sem medo. O número de inimigos ia aumentando conforme os da frente avançavam gritando, liderando todo o exército. Aliens, homens, criaturas místicas e feiticeiros, todos lutando juntos no mesmo lugar, lado a lado.
As primeiras colisões começaram quando Elysium decidiu agir. Alguns que estavam na linha de frente, mesmo hesitantes, rugiram com um grito contagiante de guerra e avançaram. A maioria eram humanos, ou quase humanos na linha de frente.
Um gladiador de Aniônius empunhando uma espada alcançou os de Elysium, e já chegou apunhalando uma fada com sua lâmina. Revirou o corpo, dilacerando o corpo da fada e então partindo para cima do resto, mas não durou muito; três gladiadores de Elysium o acertaram com golpes diretos no corpo, e o puxaram para dentro da aglomeração. Foi brutalmente mutilado, até que uma explosão lançou os de Elysium para os ares.
Era um alien verde, com uma cabeça que se parecia com uma máscara de gás. Usava uma túnica preta acinzentada, com retalhos brancos.
— Parece ser um feiticeiro — comentou Ishida.
— Arre, tanto faz. Vamos acabar com esses otários, moleque!
O leão deu dois passos em direção a batalha que continuava logo adiante, mas Ishida tentou o parar. Segurou seu pulso mas tirou a mão na mesma hora, pois os pelos do leão queimavam como uma panela ao fogo. O leão olhou para ele. — Que foi?
— É melhor ficarmos por aqui de início… Estive pensando, nós não sabemos quem são do lado Aniônius e nem do Elysium. Podemos reconhecer apenas pelas marcas na testa. Duvido que você vá prestar atenção nisso quando estiver no meio deles.
— É só isso?
— Não. Também é interessante ficarmos aqui para não correr tanto perigo… São muitos inimigos, e seus aliados podem te confundir também. Se entrar naquele meio, ficará cercado de todos os lados.
— Essa é exatamente a graça da coisa! Arre, moleque, vão bora. Se você morrer pode ter certeza que eu pego quem te matou.
Ishida suspirou, mas não tentou insistir mais. O leão seguiu em frente, gritos e sons de armas colidindo ou explosões de magia vinham de toda parte. O leão logo desapareceu da visão de Ishida pela poeira que percorria toda a arena. Agora estava sozinho, e esta sensação em um lugar tão caótico dava calafrios. Ele e o leão não eram os únicos do grupo que estavam entre os cem, Myaku Yukari da Nakamori também estava. Ishida sabia que ela fazia parte desta ordem de criminosos, mas ao mesmo tempo estava preocupado com ela. Se perguntava onde estaria Ruby naquelas horas.
No alto da arena, Valaric contabilizava o número de abates por uma tabela de Alquimia que criou logo acima de sua cabine. Ela marcava dezesseis a oito para Aniônius. Se Valaric fosse comentar por conta própria a cada morte que ocorresse na batalha, ficaria tagarelando a rodada inteira. Não como se já não o fizesse, no caso, tentava explicar os principais eventos vistos de cima.
— Impressionante! Uma cortina verde de fumaça apareceu no norte da arena. Gladiadores estão recuando, e os corajosos que adentraram na fumaça estão caindo como moscas!
Os lutadores ao redor da fumaça recuavam todos juntos, preparados para o que viria dali. A maioria não se importava muito se eram de Aniônius ou Elysium, então era cada um por si em uma guerra entre lados.
— Aquilo é veneno! — gritou um gladiador que temia a fumaça verde. Ele pôde ver o semblante ofuscado de alguém descendo da fumaça, era uma mulher com um chapéu e uma arma nas mãos. Se parecia com uma lança, mas tinha uma grande lâmina curvada na ponta. Era uma foice feita de rubi, que logo estaria com sua ponta fincada no crânio daquele que anunciou o veneno.
— Quer mais ou já chega?! — caçoou Myaku, erguendo a foice e retirando-a da cabeça do homem que morreu aos seus pés.
Quando viram o veneno sair de dentro do buraco feito na cabeça do cadáver, os mais inteligentes decidiram correr e se separar pela arena, procurando um alvo mais fácil. Os corajosos que restaram se juntaram para tentar abater Myaku. Eram todos humanos, mas não completamente. Tinham partes de cyborg ou membros a mais, como um deles que tinha quatro braços.
— AAHR! — berrou o de quatro braços, correndo até Myaku com uma bola de fogo em uma das mãos, e uma espada nas outras três.
Myaku se preparou, levantou guarda com a foice e esperou o ataque vir. Um dos homens era arqueiro, e atirou uma flecha contra Myaku. Ela defendeu com a foice, aproveitou o embalo do movimento para girar no chão, e então cravou a ponta da foice em um dos braços do homem que estava avançando. Ele soltou a espada que segurava naquele braço com a dor, e o ataque foi tão brutal que arrancou o braço dele quando a jovem continuou girando.
O homem pareceu furioso e assustado ao mesmo tempo. Levantou a mão com a bola de fogo, e tentou acertá-la em Myaku. O golpe quase acertou, pois Myaku estava ainda girando com o embalo da foice. Mas quando parou, segurou o braço que carregava a bola de fogo e trouxe o homem para perto, deu um sorriso a ele e cuspiu veneno em seus olhos. Ele berrou, se debateu e tentou cravar as duas outras espadas em Myaku. Mas ele não conseguiu se mexer; alguém havia pulado em seu pescoço e estava o puxando para trás. Os braços que puxavam seu pescoço estavam cobertos por prata, como se fossem feitos de ferro.
Myaku não parou para tentar ver quem a ajudou. Seguiu em frente com a foice, fez um corte curvo no ar que furou a cabeça do que estava na frente, fincando a foice no chão de novo com o resto do corpo do primeiro homem. Myaku soltou a arma, segurou o outro pela armadura, sua mão esquerda se encheu de veneno naquele instante e ela começou a espancar a face daquele que segurava. Quando bateu o suficiente deixou o corpo cair no chão, e o arqueiro logo atrás já estava mirando uma flecha a ela. Porém, não foi rápido os suficiente. Myaku quando virou deu um chute na foice que estava fincada na cabeça do primeiro homem, e a foice rodopiou com veneno na ponta até atingir o coração do arqueiro. Ele deu uma última olhada nos outros três que estavam ao seu lado antes de cair ao chão, agonizando porém paralizado pelo veneno.
Myaku parou para respirar, mas baixou a guarda. Aquele que teve a face espancada tinha metade do rosto implantado em partes de cyborg, o que fazia o veneno não causar efeito sob ele. Sorrateiramente pegou a espada no chão, e se ergueu, prestes a apunhalar Myaku pelas costas. Ela percebeu o ataque, mas já seria tarde. A espada vinha em direção às suas costas tão rápido que não daria para desviar, se não fosse pelo braço decepado que atingiu a face do homem. Ele caiu ao chão de novo, berrando por causa do braço que atingiu seu rosto.
— O quê?! — exclamou Myaku.
— Eeh, Ruby, me diz aí, o que é que foi? Tava precisando de um bracinho? — caçoou Ghost, com metade do corpo saindo para fora do reflexo de uma das espadas no chão.
— Que é que você está fazendo aqui?! — questionou. Ghost era um dos membros da Nakamori, junto de Ruby. Era conhecido como o Fantasma Caçador pois tinha a habilidade de adentrar nos reflexos perdidos.
— Eeeh, vou dar um fora — despediu-se e então retornou para o reflexo. Ghost reapareceu nas arquibancadas da arena, ao lado de Marine, outro membro do grupo de criminosos.
— Melhor não ficar invadindo o torneio assim, se te descobrirem, vai ser um problemão…
Marine tinha uma voz cansada, tinha que aturar aquele bando todos os dias afinal.
Mesmo tendo derrotado os outros três, o homem dos quatro braços ainda restava. Mas não estava mais vivo, foi eliminado por aquele que ajudou Myaku antes. Um jovem de cabelos loiros e olhos bem azulados, com rabo de cavalo e alguns piercing pelo rosto. Merlin, era o seu nome.
— Te achei interessante. Onde conseguiu esse veneno? — perguntou, o braço antes de ferro lentamente transmutava para pele normal novamente.
Myaku o olhou com cara feia, desconfiada. Um rastro de fogo passou bem atrás dela, levando alguns inimigos consigo. Era o leão passando a todo o vapor, arrastando a cabeça de um polvo negro no chão. Polvos negros faziam parte da espécie de aliens que o aprisionaram na fábrica anteriormente, e ele tinha um ódio pessoal por esse tipo de alienígena.
Os que ficavam em seu caminho não se davam muito bem; eram arrastados pelo rastro de fogo, e os que estavam na frente o bicho apenas chutava enquanto corria arrastando o polvo.
— Arre! Maldito! — berrou, a cauda balançando e as garras enfiadas na cabeça do polvo. Até que parou de correr, e começou a bater no chão com a cabeça do polvo. Cada batida levantava uma onda de chamas que engolia todos em volta. Foram quatro batidas estrondosas no chão, até ele girar com o polvo e o lançar com toda a força num amontoado de inimigos. Quando o polvo chegou até eles explodiu em tamanho, trazendo a morte daqueles que admiravam o poder do Pilar de Leão.
O leão parou de se mover. Estava olhando para baixo, vendo a cratera que causou na arena ao bater no chão. Os feiticeiros ao redor carregavam seus poderes para tentar atacá-lo de longe, pois de perto já previam que seria impossível. O som da energia se acumulando ao redor fez o leão rugir, um rugido tão feroz que fazia o clima aquecer. Uma aura de chamas adornou o leão, irradiando sobre os mais fracos.
O fogo foi tão forte que fez os feitiços à volta serem dissipados. Vendo isto, um alien negro que se parecia um dragão pequeno correu até o leão, o agarrando pelo peito e rolando com ele pelo solo. A besta mordeu o ombro do leão, cravou suas garras no pelo e tentou arrancar um pedaço de carne, mas sua mandíbula foi fritada logo depois. Dois monstros lutando e berrando com uma quantidade de poder imensa.
O leão rugiu mais uma vez e agarrou a cabeça do dragão com as duas patas. As escamas dele ferveram com o calor, e o leão deu dois socos com uma mão bem na cabeça, que não fizeram muito efeito. O dragão lançou o leão para o alto e balançou a cauda, e os espinhos que estavam grudados nela voaram até o leão no ar. Ele irradiou uma aura de calor tão forte que derreteu os espinhos no caminho, e quando caiu ao chão, ergueu as duas patas. Lentamente começou a dançar com os braços sem tirar o corpo do lugar. Os braços do leão se moviam tão harmonicamente que causava uma pequena hipnose na besta adiante. Conforme os movimentos se entrelaçavam, uma bola gigantesca de fogo queimava e crescia no céu.
— Surreal! — exclamou Valaric. — Uma bola massiva de fogo apareceu no leste da arena, queimando os olhos dos desnorteados abaixo! Devo admitir, que golpe espetacular!
— ARREE! — berrou o leão, movendo os braços para baixo no movimento final. A bola de fogo começou a descer, e o dragão ficou sem ação. Tentou cuspir lava de volta para destruir a bola de fogo que caía, mas não fez efeito algum.
— Vai matar todos nós… vai matar todos nós! — gritou um homem que presenciava de perto a destruição que viria. Todos começaram a correr e gritar tentando se agarrar em algum meio de salvação, mas era impossível. A bola imensa de fogo se chocou com o chão e a arena inteira tremeu. As ondas de calor consumiram o corpo de todos que estavam em volta, o pequeno dragão desapareceu nas chamas como se não fosse nada.
— Argh! — gritou Myaku, quando sentiu o fervor vindo ao lado. Não teve tempo para ver o que estava acontecendo nem o que causou tanto impacto, pois Merlin e mais uma garota não a deixavam em paz por nenhum momento.
A garota jogava adagas em Myaku, mas ela conseguia desviar. E Merlin se aproximava transformando o solo em ferro, preparando o local para o seu combate.
— Eu só queria saber de onde vem o seu veneno.
— Vai a merda!
Uma das adagas acabou acertando a bochecha de Myaku, causando um arranhão. Quando Merlin juntou todo o ferro que podia, o chão inteiro ficou prateado e reluzente. Myaku cerrou os dentes e apertou sua foice nas mãos. Vários espinhos de ferro se ergueram em sequência do solo transformado, e ela curvou o corpo para trás, escapando por um triz de ser perfurada. Ela rolou no chão em seguida, saltou no ar, e os espinhos de ferro vinheram se formando abaixo, criando caminho para ela continuar a subir enquanto tentavam a perfurar. Myaku saltou de espinho em espinho, e Merlin não tirava os olhos dela, um olhar que carregava um interesse pessoal.
— Ela é impressionante…
Os espinhos continuaram a subir por um tempo, e Myaku a pular entre eles. Formaram-se montanhas e montanhas de espinhos de ferro pela arena, e a jovem estava no topo da maior delas. Merlin subiu em um dos espinhos que criou também, para ter uma visão melhor.
— Não sou um coelho para ficar pulando… — disse Myaku, ofegante depois de desviar de tantos espinhos.
— Tenho que perguntar ao Thomas o que ele acha de você também…
— Nem está prestando atenção?!
Myaku se enfureceu. Olhou para a situação, viu todos os espinhos gigantes de ferro erguidos e teve uma ideia. Guardou a foice nas costas, e juntou as mãos, fazendo um símbolo mirado para o chão. — Então agora você vai prestar…
O veneno começou a tomar toda a parte de baixo dos espinhos em uma área enorme, crescendo cada vez mais gradualmente.
— Nebula Noxia… — recitou, e a cortina subiu tanto que o cenário ficou semelhante às grandes montanhas que ultrapassam as nuvens e suas pontas ficam acima de um mar branco de nuvens. Porém, em vez de montanhas eram espinhos de ferro, e em vez de nuvens era uma neblina verde extremamente fatal.
— Então no fim, seu veneno vem da Alquimia…
Dentre os poucos que sobraram, um homem extremamente forte e careca espancava alguns inimigos. Ele era bem grande, com músculos volumosos e força além do comum. Agarrou dois homens de uma vez, ergueu-os e tombou para trás, batendo as cabeças dos dois no chão com eficiência.
— Hah! — ele riu, e marcou seu próximo alvo com o olhar. Um jovem bruxo que estava parado desde o início, se escondendo para não ter problemas. O homem não perdeu tempo e correu até Ishida com sangue no olhar.
— Ah, não… eu não!
Ishida se afastou com passos para trás, mas o homem era muito rápido. De alguma forma, sua força e velocidade ultrapassavam o limite comum de um ser humano. Brandiu o cotovelo, prestes a acertar a cabeça de Ishida. O jovem bruxo puxou uma varinha das vestes e lançou um raio dourado no homem, paralisando-o no meio de sua corrida. O corpo foi envolvido por raios dourados que o paralisavam e o faziam flutuar levemente no ar.
— Certo…
Mas Ishida não pôde se vangloriar. Com apenas força bruta o homem se libertou do feitiço, e correu até Ishida, desferindo um soco bem na lateral de seu rosto. Ishida não teve tempo para reagir, o máximo que conseguiu fazer foi defender o soco com os braços bloqueando o rosto, mas mesmo assim foi jogado para longe. Era tanta pressão que os pés ainda se arrastavam no chão após caírem, mas o bruxo conseguiu manter o equilíbrio.
Não durou muito tempo, o homem já havia alcançado Ishida. Deu uma joelhada bem no queixo do jovem, que o fez voar para os ares. Pegou a varinha e criou uma barreira dourada em volta do corpo para se manter no ar.
O homem saltou e se agarrou a barreira, e Ishida lhe ergueu a varinha, cuja ponta brilhava com uma faísca de poder. Uma pequena explosão dourada jogou o homem de volta ao chão, e ao mesmo tempo que tocou no solo, arrancou um pedaço de pedra e jogou na barreira. O pedregulho não fez efeito, se despedaçou quando alcançou o escudo.
O homem não desistiu; saltou com tanta força que as pedras saíram do chão e acompanharam o salto. Deu um soco bem no meio da barreira, que se estilhaçou em pedacinhos, mandando Ishida de volta para o chão. Assim que aterrissou, o homem o agarrou pelos ombros e deu quatro socos bem na barriga, e para completar, girou e chutou com a canela o rosto de Ishida, o jogando para longe mais uma vez.
Ishida rolou pelo chão, a varinha caiu de sua mão e se distanciou dele. Quando se levantou, o rosto estava ensanguentado, sem a varinha, apenas um inimigo surreal à sua frente. O homem estalou os ossos do pescoço enquanto se aproximava.
— A varinha… eu a perdi… — disse Ishida, a voz fraca. Olhou lentamente para o homem adiante.
“Transformou Alquimia em força física… a Alquimia está nos braços, pernas e músculos… Mas ainda existe uma forma de vencer alguém assim.”
Ishida se concentrou, alcançou o cúmulo de sua alma. Uma corrente segurava seu espírito, alimentando-se dele gradualmente. Mas então, uma segunda corrente apareceu, entrelaçando-se com a primeira e acorrentando mais uma vez a alma de Ishida. Símbolos se moldaram sobre seus braços, saindo de uma marca em suas costas. Os símbolos eram verdes, de correntes tatuadas em seus braços.
— Hahah, ora ora… Ele tem um estado xamã — disse o homem que continuava a se aproximar.
— Tenho que acabar com isso rápido. Tenho que acabar com isso agora…
As veias de Ishida queimavam com poder, e as marcas em seu corpo irradiavam cada vez mais forte. O homem avançou muito rápido, prevendo que as coisas poderiam sair do controle. Desferiu uma sequência de ataques em Ishida, que bloqueou tudo com os braços e caminhando para trás. Ele estava prestes a dar o último golpe, mas este, Ishida desviou para o lado e deu um contra-ataque na barriga do homem, o lançando para longe com a energia verde acumulada na palma da mão.
— Arh! Poder desgraçado! — o homem se estressou, e arrancou mais uma pedra do chão. Ishida se apressou também e apontou dois dedos na direção do braço que estava com a pedra.
— Mão de Arashi…
Uma corrente de eletricidade saiu do chão e adornou o braço do homem, o fazendo soltar a pedra e agonizar de dor. Seus olhos se arregalaram em busca de Ishida, mas ele havia desaparecido. Na verdade, estava bem atrás do homem, com as duas mãos miradas a ele.
— Mão de Namida…
De repente, vários espelhos de Alquimia apareceram por toda parte em volta do homem. Estressado, ele saiu quebrando um por um em sequência. Um pássaro voava acima da arena serenamente, e Ishida quando o viu, apontou o dedo a ele.
— Mão de Hifumi…
O pássaro naquele instante explodiu em chamas, fazendo pequenos fragmentos de fogo caírem sobre o homem, levantando ainda mais o seu estresse e o fazendo baixar a guarda. Quando percebeu, Ishida já havia recuperado a varinha, e ela estava encostada bem nas costas do homem, com Ishida agachado logo atrás dele.
— Mão de Aquiles…
Um som de gota caindo sobre a água tiniu nos ouvidos do homem. Pequenas ondinhas saíam da ponta da varinha, como se ela estivesse tocando um lago. Logo, várias correntes brancas saíram deste “lago” invisível às costas do homem, se enrolando em cada membro de seu corpo e o deixando completamente paralizado.
As correntes de Aquiles tinham a propriedade de absorver Alquimia para si. E em contato com as correntes, os músculos do homem começaram a murchar, e seu corpo foi ficando velho e enrugado, até que só restassem os ossos por trás da pele.
— Acabou…
Myaku e Merlin ainda estavam sobre os espinhos de ferro, tentando um embate sem cair à neblina de veneno abaixo. Merlin tentava alcançar Myaku, enquanto ela corria para tentar fazê-lo cair. Mas aquela perseguição não demorou muito tempo; Merlin saltou de um espinho ao outro, e finalmente alcançou Myaku por trás. Materializou um grande martelo de ferro no braço e estava prestes a golpeá-la com ele. Mas sem sucesso. Myaku contra-atacou com sua foice, partindo o ferro ao meio e rasgando o braço de Merlin, que teve que recuar para cima de um dos espinhos.
— Que droga… — disse, passando a mão sobre o braço cortado. — Mas por sorte, tudo que seu veneno atingiu foi ferro. Não vai fazer diferença se não chegar no sangue, né? — o braço de Merlin lentamente se reconstruiu do corte usando ferro.
Myaku suspirou, cansada, e então olhou para o tempo que restava acima de Valaric. Eram oito minutos, com sessenta e oito pontos para Elysium e setenta e um para Aniônius.
— Não quero gastar o resto do tempo brincando de pega pega nos espinhos. Sabe, você é um saco — disse, e então fechou os olhos.
“Chrono… está na hora.”
“Vai mesmo usar contra esse pirralho…?” questionou Chrono, no subconsciente de Myaku.
“Anda logo.”
“Tudo bem…”
Chrono conectou todos os seis membros da Nakamori naquele instante: Ruby, Marine, Ghost, Chrono, Phoenix e Hawk. Ghost e Marine fecharam os olhos na plateia, e um pentagrama branco apareceu em suas testas. Nas celas do Bastião do Titã, Tsukasa também fechou os olhos, e o pentagrama apareceu abaixo da franja. Akane, em um navio naufragado de GrayStorm também fechou os olhos e o pentagrama apareceu. Por fim, Chrono, que estava em algum lugar entre as realidades, flutuando em um espaço roxo. Com os olhos vendados por uma venda de aço.
Na venda de Chrono, um pentagrama apareceu irradiando luz também. E para finalizar, na testa de Myaku, o último pentagrama se acendeu, e ela recitou.
— Evoctus Noxlurath…
A neblina de veneno que adornava os espinhos abaixo se ergueu, e se moldou em um gigantesco lagarto de veneno. Com olhos vermelhos brilhantes, e um corpo nebuloso esverdeado. Estava se esgueirando pela extensão do maior espinho de ferro, com a cabeça olhando fixamente para Merlin, soprando uma nuvem de veneno.
— O… o que é isso? Essa mulher… isso é impossível… Como um humano sozinho tem poder suficiente para invocar o Lorde Noxlurath no pleno nada…?
Ishida estava começando a ficar cansado pelos efeitos do estado xamã. Viu os oito minutos restantes do torneio, e agora era a hora certa de agir.
"Vorthis não vai querer aparecer por aqui caso eu perca a consciência... Ele tem medo da presença do Rei dos Deuses. Então... acho que posso arriscar isso por apenas oito minutos..." pensou, e então deslizou um dedo pelo seu braço, aumentando os símbolos que adornavam as correntes do estado xamã. Naquele momento, uma terceira corrente se prendeu a sua alma.
— Estado Xamã: Segundo Julgamento...
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
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