A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 2 – Arco 1

Capítulo 40: Audácia do Leão

Arashi Hayami e San haviam levado Myaku Yukari para o hotel após o pequeno evento com Kaelan Blackwood. Kali Iyer, Kyoko Yoshizawa, Ishida Majutsu, Cornélia e Aiden, San, Arashi e Amélia Harris estavam todos reunidos no quarto de Kali. Ela estava sentada na cama com Cornélia e Aiden ao lado, e Ishida do outro lado, sentado também. Os outros estavam todos de pé à frente.

— Então vocês esbarraram com o Blackwood, hum… — falou Kali.

— San ficou bem nervoso quando viu ele prestes a matar aquela cyborg. Pirou, dizendo que ela era inocente. Bom, de qualquer forma, mataram ela só porque não tinha mais ninguém para culpar na hora — explicou Myaku, com uma mão na cintura.

— Ela era inocente. Eu tenho certeza — disse San, ficando zangado mais uma vez. — Não podemos deixar Aiden perambulando por aí agora.

— Por que não? — perguntou Cornélia. — Aiden nunca fez nada de errado!

— Matou outros cyborgs para proteger você — disse Kali. — Se descobrirem isso, com certeza não vão deixar barato.

— Ela tem razão… mais um motivo para ele ficar aqui! — exclamou San. — Você não vai deixar ele sair, não é? — perguntou, lançando um olhar profundo à Cornélia.

— Não… não vou arriscar meu android assim. Aiden vai ficar aqui, comigo…

Ela se apertou contra os braços de Aiden, ficando preocupada com a situação. Em resposta, Aiden acariciou os cabelos de Cornélia, com um sorriso artificial no rosto.

— Se você não quer que eu saia, não vou sair — disse ele.

San encarou Aiden, com um olhar triste, imaginando o que poderia acontecer se Kaelan encontrasse ele. Os dentes rangeram, e os punhos cerraram mais uma vez. Kali percebeu a indignação de San, e deu um sorriso de satisfação.

— Blackwood vai participar do coliseu, San. Ele sempre compete.

Os olhos de San se arregalaram. Seria a oportunidade perfeita que ele teria para tentar dar uma lição naquele canalha. Kyoko, porém, agarrou o braço de San, com ciúmes e ao mesmo tempo aflita com a ideia de San competir em um torneio como aquele.

— Ele não vai! Ninguém quer que você faça isso, San…

— Ah, mas eu quero! — exclamou Myaku. — Também vou participar. Nós dois vamos dar uma surra naquele cara!

— Kyoko tem razão… eu não devo ser forte o suficiente… e se ele me vencer? E se eu não conseguir revidar?

San se sentiu frustrado. Kyoko acariciou os cabelos de San enquanto abraçava o braço direito dele, encarando Kali com cara feia. Aparentemente estava tentando mostrar que o garoto já era dela, e não de Kali.

— Não se preocupe com isso aí! Tem uns caras no bar falando sobre um elixir capaz de aumentar sua força em umas dez vezes por cinco minutos. Está sendo desenvolvido em uma fábrica de Cyberion, justamente para o coliseu. Mas quando começarem as vendas, vai estar bem caro o preço. Mas você sabe San, se tem venda, tem estoque… — comentou Myaku, e quando disse a palavra “estoque”, seus olhos cintilaram com emoção.

— Nem preciso perguntar. Você quer roubar essa coisa, não é?

Kali não gostou nada da ideia. Seu sorriso logo desapareceu, e ela agora parecia um pouco incomodada, como se já soubesse o que esse “elixir” poderia causar no corpo de quem o ingerisse. Mesmo tendo um ótimo efeito de início, o depois, era algo não muito agradável.

— Olha, eu acho melhor vocês não se envolverem com isso…

Quando Kyoko viu Kali discordar da ideia, logo teve a opinião contrária.

— Nada disso! Acho que seria uma ótima chance se vocês conseguissem essa coisa. Já são incrivelmente fortes, sabe, imagina dez vezes mais fortes!

— Ela tem razão, a gente precisa dessa coisa — encorajou Myaku uma última vez antes de puxar Arashi e San pelas blusas e correr para fora do quarto.

— E lá vão eles… — disse Ishida, soltando um suspiro. — Estou com um mal pressentimento…

Kali não gostou nada da situação. Olhou para Kyoko com um certo desgosto, mas então cruzou os braços e olhou para baixo. Mesmo que San não tenha seguido o que ela disse agora, ela ainda tinha tudo sob controle, e não deixaria que San se envenenasse com aquele elixir de fanáticos.

Já fora do hotel, Myaku, San e Arashi seguiram mais uma vez pelas ruas metálicas de Cyberion. Myaku parou na calçada de frente para a estrada, observando os veículos esquisitos passarem em alta velocidade. Às vezes, eles paravam para deixar pessoas atravessarem nas linhas vermelhas no chão. Aquelas linhas criavam uma barreira magnética, deixando os veículos incapazes de prosseguir até que o pedestre terminasse de atravessar.

— Você sequer sabe onde é a tal fábrica? — perguntou Arashi.

— Óbvio que sei! Não os levaria para qualquer lugar assim do nada. Apesar de que seja exatamente isso que eu estou fazendo, mas eu sei onde fica.

— Nós vamos de “carro”? — perguntou San.

— Nope, vamos de esgoto.

— De esgoto?

— Vem, vocês vão entender.

Os três seguiram até um bueiro no fim de um beco, e Myaku usou sua foice para alavancar a tampa para fora. Arashi e San se rastejaram para dentro, e Myaku entrou por último. Quando caíram, o tal esgoto era bem diferente. Em vez de estarem dentro dos canos, aquela tampa de bueiro levava para cima dos canos. Com uma passagem entre os canos com paredes de metal bem apertadas, e todo um sistema de saneamento naquele subsolo.

— Está certo isso? Não era para o bueiro dar dentro do esgoto, e não em cima dele? — questionou Arashi.

— Vai entender a estrutura desse lugar. Mas venham, o caminho não é tão complicado.

Myaku liderou o caminho enquanto conversavam. A passagem foi ficando cada vez mais esquisita conforme iam andando. Às vezes tinham viradas para todas as direções, até para a diagonal. A gravidade daquela área era bem diferente também, às vezes eles ficavam de pé em cima dos canos, outrora do lado, ou então de ponta cabeça.

— Como é que você conhece tão bem esses lugares, Myaku? — perguntou San.

— Eu e Ghost costumamos explorar lugares esquisitos que nem esse daqui quando estamos sem fazer nada. Marine por mais que seja chato às vezes, não deixa de nos levar para qualquer lugar que quisermos ir. Por mais que reclame de vez em quando, acho que ele também gosta de viajar pelo universo nos tempos livres conosco.

De repente, a visão abaixo ficou caótica. Chegaram ao fim da extensão do cano em que estavam caminhando sobre. Todos os encanamentos acabavam naquele local, era como um gigantesco buraco, com vários canos nas paredes que jogavam água até um enorme ciclone no fundo.

Nos canos um pouco abaixo, havia um jovem de cabelos pretos e uma franja que tampava um olho. Ele estava correndo pelos encanamentos, tramando fazer alguma coisa no subsolo também. San e Arashi logo reconheceram o delinquente.

— Espera, aquele não é o Kisaragi?

Kisaragi era um membro da Infinity-Z, equipe de Kyoko e Ishida. Por algum motivo, ele estava em Cyberion, e estava dentro dos esgotos fazendo alguma coisa que ninguém sabia o que era.

— Ei! Kisaragi! — gritou Arashi. O grito ecoou por todo aquele buraco.

Kisaragi deu um olhar rápido a eles, e então desapareceu nas frestas entre as paredes.

Em uma rua deserta, Thomas Grace estava encostado em um beco. Poucos veículos passavam nas estradas, mas eram rápidos demais para os motoristas notarem alguma coisa. Ele e uma jovem de cabelos pretos estavam parados ali, observando se vinha algum movimento. Quando tiveram certeza de que estava tudo limpo, Thomas tirou algumas moedas douradas do bolso e despejou nas mãos da garota, que logo abriu passagem para Thomas adentrar-se no beco.

No final da viela, havia uma escadaria que levava à um portão. Um grande homem, musculoso e barbudo guardava a entrada. Quando viu que era Thomas, ele abriu o portão e o deixou passar. Dentro daquele galpão, havia apenas uma mesa iluminada por uma lâmpada pequena. Duas pessoas estavam ao redor da mesa. Eram duas mulheres, uma de cabelos castanhos e a outra era loira.

— Onde ele está? — perguntou Thomas.

— Estou aqui — disse uma voz na escuridão. Logo, um terceiro jovem se juntou. Tinha cabelos loiros, presos em um rabo de cavalo, olhos azuis, vestindo uma jaqueta de couro preta com espinhos e uma tatuagem de caveira na mão. Tinha piercing no nariz e na orelha. — Do que precisa hoje, Thomas?

— Quero saber mais sobre os cabeças do coliseu.

— Uma informação perigosa, sabe. Me dê um bom motivo para te falar sobre isso.

Thomas hesitou por um momento em responder, mas logo ajustou seu óculos no rosto com uma cutucada dos dedos, e o encarou diretamente.

— Quero fazer alguma coisa a respeito. Justiça, você sabe como eu sou. Não quero ter que ver todas aquelas pessoas morrendo por ambições patéticas que acabam deixando todos cegos. Tão patéticos, sem amor à vida… Quero trazer justiça, e se ninguém a trará, então eu trarei.

Thomas deu um bom discurso inventado. Na verdade, aquilo fazia parte de sua missão. Era para isso que estava em Cyberion, era para isso que precisava do coliseu. A equipe X foi enviada justamente para espionar esse tipo de coisa, e é claro, trazer o prêmio ao Kenny Williams. Mas não era apenas isso, Thomas também sentiu algo quando chegou. Sentiu a energia de Tsukasa Hayami por ali. E isso, o fez ter mais interesse nesse caso. Talvez, se Tsukasa fosse um dos mestres do torneio, seria uma informação bem valiosa para se ter guardada. Mas Thomas também estava bem curioso.

— Sendo assim, vou te responder. Mas é melhor tomar cuidado com o que você vai fazer a partir daqui. Não quero achar seu cadáver censurado nos holofotes do jornal amanhã.

— Não vai, porque eu não erro, Merlin — disse Thomas. Desta vez, a frase foi de verdade. — Eu nunca erro.

— Tá bem então — Merlin colocou um braço sobre a mesa. — Olha, eu não sei muito sobre esse cara. Não sei quem ele é, nem sei o nome dele. Só sei que ele é um idiota da Bela-Casa que fica se exibindo porque sabe fazer uns truquezinhos de mágica. Tem uns cabelos loiros, usa umas roupas vermelhas bem chamativas. Bem, é só isso que eu sei sobre ele. Mas uma coisa eu posso te afirmar, ele não tá sozinho. Tem mais alguém nessa, e eu não faço ideia de quem seja — explicou Merlin, jogando todos os pontos na mesa de uma vez.

— Bom, é isso então… valeu, Merlin. A gente se vê depois.

— A propósito, não sei se você percebeu, mas tem um cara atrás de você há um tempão.

Thomas olhou para trás e tomou um leve susto. Um jovem alto, de cabelos castanhos e olhos verdes o observava tão de perto que sua respiração estava quase batendo contra o ombro dele. O jovem vestia um quimono preto, e tinha um semblante sério. Aquele, era Luke Harris.

— Vim averiguar o que estava tramando, Grace. Mas agora vendo tudo o que disse, eu concordo com sua opinião. Se precisar do meu apoio também, peça a Amélia para me procurar. Pois sem sorte, duvido que você vá me encontrar — disse Luke, e então se afastou e desapareceu na escuridão.

Thomas desconfiou de Luke, aparentemente aquelas palavras não eram de se confiar. Aquele garoto parecia inteligente, e Thomas não abaixaria a guarda tão facilmente. Logo, ele saiu do galpão e retornou para as ruas.

Thomas sentiu uma presença estranha, e olhou para o alto. Acima de um poste, havia um jovem de cabelos bem longos com a face coberta por uma máscara. Estava sendo iluminado pela lua, com os cabelos voando com o vento. Logo, ele desapareceu, como um vulto negro. O rastro de uma fantasma seguiu este vulto até os dois desaparecerem no céu.

Myaku e os outros ainda estavam de frente àquele buraco imenso com um ciclone no fundo.

— Bom, é ali a entrada da fábrica. Pensando bem, preciso resolver umas coisas com o Ghost, vocês vão ter que continuar sem mim.

— Não tem problema… — começou San. — Eu vou. Volte também, Arashi. Se acontecer algo comigo, não quero que afete você também.

— Você tem certeza, San?

— Absoluta. Não se preocupe comigo, estou bem, e vou ficar bem.

Não deu tempo de Arashi responder, e San saltou para dentro do ciclone. Arashi tentou seguí-lo, mas Myaku o segurou, arrastando-o para voltar.

— Confie nele, ele consegue. É o Hiroyuki, afinal.

No meio da queda em direção ao ciclone, San começou a se arrepender de tentar dar uma de valente e avançar sozinho. Queria poder voltar atrás, mas já era tarde demais a partir daquele ponto. Seguiu despencando até o centro do ciclone. Quando caiu na água, foi arrastado girando e seguindo o movimento do ciclone até o final, onde havia um pequeno buraco em que ele atravessou. A água não passava daquele ponto por algum motivo, e a partir do buraco, San caiu sem água.

Era uma queda curta, logo já estava ao chão. Caiu em um quarto bem escuro, iluminado apenas pela fresta da porta semi-aberta mais à frente. Ele caiu de quatro, com as mãos e os joelhos enfiados em um monte de meleca vermelha, que parecia uma carne, porém bem mais mole que o comum, quase como uma gosma. Ele logo se ergueu e limpou as mãos na parede, e seguiu até a porta.

San hesitou um pouco em abri-la, então olhou apenas pela fresta. Na mesma hora, um polvo bem alto passou caminhando com os tentáculos parecendo uma aranha. Estava vestindo um jaleco azul, anotando algumas coisas numa agendinha em seus tentáculos dianteiros. O polvo seguiu adiante, e San espiou apenas com a cabeça. Ele parou no fim do corredor, dando de cara com alguma criatura muito horrenda. Era feita da mesma meleca de carne que ele caiu antes, mas adotava um corpo humanóide porém sem metade dos braços. Não tinha rosto, apenas uma cabeça enorme em formato de ovo, que palpitava como se tivesse um coração no lugar do cérebro. A criatura fez alguns grunhidos estranhos para o polvo, que parecia entender o que ela estava dizendo.

San aproveitou que eles estavam distraídos e se moveu para fora daquela sala. Seguiu o caminho contrário que o polvo tinha feito, passando por cima do rastro de gosma que seu tentáculo deixou no chão enquanto ele se rastejava.

De repente, um baque de metal ecoou logo ao lado. San virou o corredor, e tinha uma vidraça que dava visão para toda a parte de baixo da fábrica. Havia três grandes pistões no teto que desciam e prensavam um líquido vermelho e branco em três bacias abaixo. Quando os pistões batiam no líquido ele voava, soltando também várias pequenas criaturinhas que se pareciam com fetos se arrastando no chão. Do outro lado, mais um funcionário, dessa vez um alienígena branco muito estranho, estava de frente a um tubo com um grande morcego dentro. Um líquido vermelho foi injetado no morcego por tubos, e ele começou a se contorcer, ficou agressivo, e seu corpo parou de responder. Ele deitou no tubo, com suas veias ficando incandescentes, como se lava corresse pelo corpo do morcego.

San ficou enojado com a cena que viu, mas decidiu não fazer nada. Logo à frente, uma grande gosma que parecia ter um corpo passou pelas grades de uma jaula. Estava tentando se arrastar para fora, fugir daquele pesadelo. Mas logo as grades a eletrocutaram, e o bicho gosmento verde explodiu. Um segundo polvo ouviu a explosão e subiu as escadas correndo para ver o que estava acontecendo. San, para não ser visto, entrou na primeira sala que viu ao lado e fechou a porta.

Diferente da primeira, esta estava bem iluminada. Parecia um laboratório, com dois balcões nas paredes com várias ferramentas em cima. Tinham também muitos recipientes com líquido vermelho estocados no balcão, com uma etiqueta embaixo com letras em uma língua muito estranha.

— Isso é o elixir…? — perguntou San, apreensivo.

— Arre, moleque — disse uma voz vindo de uma jaula escura naquela sala. San deu um pulo para trás achando que foi descoberto, mas aparentemente era apenas um dos presos daquela fábrica esquisita. — Tentando roubar essa coisinha, é? Você não é o primeiro. Veio do meu sangue, isso aí, hah. Não sabem o quanto é chato ter seu sangue extraído para os outros tomarem.

— Seu sangue? O elixir vem de você? — perguntou San, pegando duas amostras e guardando no bolso.

— Isso aí, arre. O pior é que modificaram o meu sangue como se fosse amoeba. Agora, se eu tentar tomar de volta, vai dar bem ruim. Perdi sangue à toa… esses otários.

San ouviu alguém se aproximar da porta e se escondeu atrás de umas caixas. Antes disso, fez algum movimento perto da jaula em que o aprisionado não pôde ver. O polvo entrou na sala, verificou tudo, e então olhou para a jaula.

— Alguém passou por aqui, leão?

— Não sei, você que devia saber. Não são vocês que cuidam de quem entra e quem sai?

— Não banque o idiota.

O polvo se aproximou e apertou um interruptor. Uma lâmpada no topo da jaula ligou, e o aprisionado ficou visível. Era um grande leão laranja vestindo uma jaqueta preta e calças jeans. Ele estava de pé, como uma pessoa comum, e com os braços nos bolsos.

— Tá tudo certo comigo, babaca — disse, e estava prestes a mostrar as algemas que continham ele dentro da jaula. Mas antes de mostrar, percebeu que elas agora estavam desativadas. San de alguma forma conseguiu desligar a energia delas antes de se esconder ali.

O polvo desconfiou, mas ouviu um barulho vindo atrás das caixas. San havia espirrado, pois ali estava bem empoeirado. O polvo olhou, e viu um jovem de cabelos alaranjados, encolhido naquele canto. Sem dizer mais nada, ele pegou San pelo pescoço e o arrastou para fora da sala. San ficou sem ar, incapaz de fazer qualquer coisa contra.

Alguns minutos depois, o garoto se via em uma cela no andar de baixo da fábrica. Estava bem escura, e ele estava sentado no chão. Não via nenhuma forma de como poderia fugir dali, e estava receoso de que poderiam o usar como cobaia naqueles testes malucos. Mas de repente, ouviu uma voz atrás dele.

— Valeu por desligar aquela coisa, moleque — disse o leão, que apareceu dentro da cela de San completamente do nada.

— Eita! Como você chegou aqui?!

— Como é que você chegou aqui. A cela está fechada, pivete.

— O polvo me trancou aqui. E agora, você está aqui também. Como é que a gente vai sair?

— Ih, é mesmo. Calma, xo resolver.

O leão se levantou, caminhou até as grades e elas começaram a aquecer. Foram de preto para laranja, e de laranja para vermelho. Quando o leão chegou bem perto, quase ao ponto de dar de cara nas grades, elas derreteram completamente, abrindo um grande buraco na cela. San ficou boquiaberto, mas não se atrasou para sair de lá atrás do leão.

Vendo aquela fuga diante de seus olhos, o polvo se preparou e largou sua agenda no chão. Pegou uma arma a laser em seu casaco, e a apontou para os dois.

— Parados! — ordenou, com a voz esganiçada, como se alguém estivesse segurando seu nariz.

O leão riu. Logo, ergueu a mão em direção ao polvo, e tanto ele quanto San tremeram com a tensão. O leão parecia habilidoso, e quanto mais erguia seu braço, mais quente o clima ficava. O polvo deu um passo para trás, amedrontado, e o leão estalou os dedos. Nada aconteceu.

— Ih, deu errado.

— Deu errado?! — exclamou San, indignado.

— Que eu me lembre, tem que fazer um sinal pra mandar uns feitiços, né? Acho que esse aqui deve servir.

O leão fechou o punho, e ergueu o dedo do meio para o polvo. Ele soltou um gritinho de indignação ao ver aquele ato sendo lançado à ele, como se fosse a coisa mais sem classe que ele já viu. Mas surpreendentemente, o sinal inusitado funcionou. O dedo do meio do leão entrou em chamas, e o corpo do polvo também. Ele queimou e sacudiu até morrer e queimar no chão.

— Ha! Otário!

O leão segurou o braço de San e começou a subir as escadas correndo.

— Ei, para onde estamos indo? E quem é você afinal?! — exclamou San.

— Vamos sair daqui, moleque. Tu me salvou, vou te salvar dessa também. E pode me chamar de… o Pilar do Leão! — exclamou ele, e San ficou surpreso. Era o segundo espectral que encontrava naquele dia. — Na verdade, me chama só de leão mesmo.

Mais adiante, na imensidão de corredores da fábrica, várias criaturas apareceram para tentar impedi-los de avançar. Tinham que continuar extraindo sangue do espectral para criar o elixir, afinal. Não poderiam deixá-lo escapar assim.

— Arre! Os pivetes querem lutar! Quem chegar perto vai virar carvão, hein! — Ninguém deu ouvidos, e todos avançaram ao mesmo tempo. Alguns voando, outros correndo, outros lerdos como lesmas, como os polvos, por exemplo. — Eita, mas são muitos! Faz alguma coisa, moleque!

— Eu?! — berrou San, com a freneticidade da situação. — Fazer o quê?!

— Tu não sabe?! Então nós corre!

O leão segurou o braço de San e começou a fugir na direção contrária. Colocou as três patas no chão, a outra segurando San, e começou a correr o mais rápido que pôde, como um felino. A massa de monstros atrás vinha furiosa, lançando lasers com as armas. Mas cada tiro que se aproximava evaporava antes de tocar o leão ou o jovem. A cauda do leão raspou no chão, criando um rastro de fogo que se estendeu nas paredes e no teto, criando um corredor de fogo. Os que apenas corriam não puderam avançar, apenas os que voavam. Mas quando estavam na metade do caminho, o corredor aqueceu mais, e o fogo cobriu completamente a passagem, carbonizando os que estavam no meio.

O leão mirou a cabeça para cima, sugou o ar que conforme ia entrando em sua boca, ficava incandescente como fogo, e então cuspiu uma rajada de chamas no teto, que atravessou todas as camadas de metal até chegar na superfície de Cyberion, e jorrar como uma erupção na terra. O buraco aberto pela rajada era grande o suficiente para o leão arremessar San com tudo por ele, e logo o garoto voou pelos ares com velocidade, sendo jogado como se fosse uma bolinha de tênis. Ele chegou à superfície do planeta, e com um único salto, o leão o agarrou no ar e os dois caíram ao chão.

— Caraca! — exclamou San, ofegante. — O que foi isso?!

— Arre. O clima esquentou, né não?

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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