Volume 2 – Arco 1
Capítulo 38: A Baleia Interquântica
A visão inteira de San ficou verde após olhar nos olhos da Srta. Miller. Foi trancado espiritualmente no domínio de Eva. Seu corpo físico naquele momento estava vazio, e sua alma presa naquela realidade paralela. Tudo à sua volta era adornado por uma fumaça verde clara. Ele tentou gritar, chamar por alguém, mas sua voz era inexistente naquele plano. Sua alma estremeceu, e os pelos arrepiaram. A fumaça verde fazia tudo ficar bem mais frio do que o comum, e alguns vultos passavam diante de seus olhos.
San sentiu o vento passar pelo seu braço. Um vulto tinha acabado de passar por ali, mas ele não foi capaz de vê-lo. Talvez fosse alguma entidade, mas era improvável, aquilo tudo eram frutos dos poderes de Eva, ela não poderia conjurar entidades. Pelo menos, era o que San pensava.
Mais uma vez o vulto passou, mas dessa vez iria acertá-lo se San não tivesse desviado. Ele se esquivou apenas por um triz, e o mesmo vulto ia e voltava tentando acertá-lo várias vezes, ficando cada vez mais rápido. Não dava tempo de ver a forma real daquela coisa, se era um espírito, um monstro, uma entidade, uma pessoa. San apenas podia sentir a fumaça sendo levada com a velocidade dos movimentos daquela coisa tentando atacá-lo incessantemente.
De repente, nas mãos de San, a fumaça verde se uniu na forma de uma espada. Logo, a mesma fumaça tomou uma coloração amarelada. San agora empunhava uma espada de fumaça amarela, mas ela apareceu ali sem que ele fizesse nada. Quando sentiu o vulto vir até ele novamente, brandiu a nova espada na direção da criatura tentando pará-la. A espada era de fumaça, então se desse algum impacto, San não sentiria nada. Mas foi notável quando o vulto tentou atravessar a lâmina gasosa e foi ricocheteado para dentro da fumaça mais à frente.
Ele conseguiu repelir um ataque, mas não era suficiente ainda. O vulto continuava a vir de várias direções e San não conseguia acompanhar perfeitamente. Não havia sons e nem indícios de que o ataque viria. A única coisa que San conseguia sentir era a presença daquela coisa o rodeando, cada hora de uma direção.
Quando tentou expelir mais um ataque, ele errou feio o alvo. Mirou na direção errada, e a criatura passou direto em seu braço, arrancando sua mão e o pulso que empunhavam a espada. No local onde o pulso foi decepado, em vez de sangue, saía uma fumaça também verde, como se seu corpo estivesse evaporando.
San ficou horrorizado. Ele não sentia nada, nem dor e nem desconforto. Porém, ao mesmo tempo, não sentia sua mão que havia sido levada para longe. Agora ele não podia contra-atacar, e tudo que podia fazer para se manter vivo naquela situação era tentar desviar eternamente, esperando por um fim.
Com a mão de San arrancada, a criatura não atacou mais. Ela apareceu bem à frente de San, rodeando-o com lentos passos enquanto lhe lançava uma espreita mortal. Era um lobo, também verde, com olhos vermelhos e um cristal alaranjado incrustado em sua testa. O lobo se aproximou lentamente de San, e sua forma começou a mudar. De lobo, seu corpo cresceu e se moldou em uma garota fantasma esverdeada de olhos vermelhos. Sua aparência era idêntica à filha de Eva, Charlotte Miller.
— San… — murmurou a Charlotte falsa. — San…
San deu um passo para trás. Charlotte não se moveu, continuou o observando com aquele olhar triste, melancólico.
— San…
Ele tentou dar mais um passo para trás, bem lentamente, mas quando seu pé tocou o “chão”, a fantasma enlouqueceu. Seus olhos se arregalaram com ódio, suas pernas desapareceram para dentro do roupão e ela começou a flutuar rapidamente até o jovem.
— SAN!
Ela atravessou o peito de San, e o corpo dele flutuou lentamente com o impacto. A fantasma seguiu para o além, levando uma parte da alma de San consigo quando passou por dentro dele. Um buraco foi aberto onde era para estar seu coração, e a fumaça saía do buraco, da mesma forma que saia do pulso perdido.
O corpo flutuante de San foi descendo devagar, até se deitar ao chão com os braços abertos. A fumaça foi se afastando lentamente, e um corpo iluminado apareceu acima dele, pairando, com os olhos fixados nele. Estava de pé horizontalmente no ar, de frente para o corpo deitado de San. Era a imagem de Eva Miller, também como um espírito verde. Ela estava carregando um pequeno relógio preso a uma corda, e estava balançando lentamente diante dos olhos de San, criando um efeito de hipnose.
Mas o que o hipnotizava não era o movimento do relógio, e sim o irritante e penetrante som de “tic… tac…” que ressoava em todo o local como um eco. Porém, o relógio parou de tocar. Uma mão dourada o segurou, a mão de alguém muito familiar para o garoto. Era a imagem de Kazuma Hiroyuki, completamente dourado, segurando o relógio para que não causasse mais efeitos. Kazuma, o irmão desaparecido de San, que ele vinha buscando já fazia um ano. Kazuma olhou para San, e lhe deu um sorriso. Um pouco mais adiante, uma fênix dourada passou como uma nave pelo corpo astral de Eva, levando-a consigo. A fênix representava sua irmã, Akane Hiroyuki, uma das integrantes da Nakamori.
“San…” disse a voz de Zephyria Astralis em seu subconsciente. “San… acorde…”
Naquele instante, ele despertou. Ofegante, suado, como se sua alma tivesse saído de seu corpo por um tempo. A primeira coisa que procurou foi pelo próprio braço, e sua mão ainda estava intacta ali. Olhou para o seu peito, tocou-o, e seu coração também estava no lugar. Ele podia sentir os batimentos cardíacos.
— San! Você dormiu por muito tempo! — exclamou Kyoko, um tanto irritada, mas sabia que a culpa daquilo era de Eva, e não de San.
— Eu… dormi…?
— Dormiu — respondeu Luke. — Aquela mulher te jogou naquele feitiço já fazem pelo menos doze horas.
— Doze?! Impossível!
— Achei que tu tinha morrido — disse Arashi, sarcástico. — Estávamos planejando jogar seu corpo no espaço para não ter que enterrar depois.
San olhou ao redor, e se viu dentro da nave de Kali Iyer. Estava deitado em uma das camas conectadas às paredes da nave, que tinha função de massagem, aquecedor, resfriador, e uma estrutura bem chamativa. Kyoko Yoshizawa estava sentada bem ao lado dele, esperando que ele acordasse.
— Por que a Sra. Miller… fez isso comigo?
— Ela sentiu alguma coisa em você, e cogitou que fosse um perigo muito grande — explicou Kali, que estava dirigindo a nave mais adiante. — Mas não se preocupe com isso, esses videntes são lunáticos.
San se sentiu culpado por tudo aquilo. Realmente, tinha algo para se preocupar no garoto, que era a marca em seu pescoço que simbolizava o renascimento do rei dos demônios. Por mais que a situação de San permanecesse estável, e que ele nunca tivesse se deparado com qualquer problema relacionado a marca, ainda era algo para se preocupar.
— E então… para onde a gente está indo?
— Cyberion — respondeu Aiden. — O planeta onde está localizado o Coliseu Anisium, que por acaso, está prestes a ser reaberto. Estranho, ainda não está na época do torneio acontecer. Na verdade era para ser daqui alguns anos ainda, mas vai ser aberto em breve. Que estranho.
— Cyberion? Por que?
— Eva Miller nos deu a informação de que sua filha talvez esteja causando problemas por lá também. O que vimos na casa não era a verdadeira, e sim resquícios da magia que restou dela naquela casa. A verdadeira Charlotte está em Cyberion…
— Entendo… — San suspirou. — E falta muito?
— Mais ou menos um dia.
Na janela da nave, uma coisa estranha apareceu. Uma criatura gigantesca passava bem ao lado da nave, vagando pelo espaço na mesma direção que eles. Todos, com exceção de Kali, correram até a janela para ver o que estava acontecendo. Era uma baleia imensa, adornada por várias estrelas e energia quântica, assim como o corpo humano de Zephyria era.
— Uou! Que coisa é essa?! — exclamou Arashi, apontando para a janela.
A baleia logo passou pela nave, e Kali pôde vê-la pelo visor. Era pelo menos quinze vezes maior que aquela nave, isso porque a nave de Kali por si só era bem grande.
— Impressionante — começou ela. — Parece que nos deparamos com o Pilar de Peixes. É bem raro ver essa coisinha voando por aí.
— Pilar de Peixes? Essa coisa é um Espectral? — perguntou Arashi. — Me lembro de já termos encontrado um em Nephthar. Era o Pilar de Capricórnio, se eu não me engano… tinha o elemento terra.
— Sim, é um Espectral. O Pilar de Peixes carrega o elemento água, acho que já é bem óbvio.
A baleia quântica continuou pairando pelo espaço, até ultrapassar completamente a nave de Kali. Mas quando chegou um pouco mais à frente, virou-se com tudo, ficando de frente para a nave. Abriu sua grande boca, e sua goela cobriu completamente a visão adiante. A nave estava rápida demais, e era impossível mudar de direção agora.
— Está tentando nos engolir! — berrou San. — Vira, Iyer, Vira!
— Não dá! — exclamou Amélia. — Já estamos rápidos demais, a Srta. Iyer não vai poder virar agora!
E assim aconteceu. Era impossível trocar a direção naquelas circunstâncias, e a nave se aprofundou para dentro da boca da baleia, sendo engolida facilmente como se fosse um grãozinho de arroz.
Em um dos bares em Cyberion, revestido por paredes também metálicas, assim como a maioria das estruturas daquele planeta, várias pessoas bebiam e comemoravam, animadas com a reabertura repentina do Coliseu. Alguns comentavam sobre os melhores competidores que iriam entrar naquele ano, outros falavam que queriam participar, ao mesmo tempo apreensivos se realmente deveriam, pois no Coliseu também era permitido matar. Era matando que se conseguia progredir.
No canto do bar, havia um homem encapuzado. Estava coberto por um manto preto da cabeça até as pernas, que se parecia mais com uma capa de chuva que ficou maior do que deveria. Sua face estava completamente ocultada pela sombra que o capuz causava na face, e o homem mantinha a cabeça baixa para que ninguém descobrisse sua identidade. Ele estava observando discretamente uma jovem que estava em meio aos bêbados nas mesinhas redondas do bar. Ela tinha uma grande foice vermelha feita de rubi presa às suas costas, usava um chapéu branco, tinha cabelos rosados e olhos vermelhos como rubi. Usando um casaco de pele marrom e peludo, com grandes botas de couro nos pés. Ela estava rindo com os homens, também fazendo parte da rodinha de papos sobre o Coliseu.
— Ruby… — murmurou o homem encapuzado.
— Não — alertou outro homem, colocando a mão no ombro do encapuzado. — Esqueça ela por agora, foque no nosso alvo…
O outro homem tinha cabelos louros e olhos castanhos claros. Estava usando roupas pretas de garçom, se disfarçando naquele bar. Deu duas palmadas no ombro do homem encapuzado, e então saiu andando para levar alguns pedidos às mesas. Por mais que fosse só um disfarce, ele realmente estava empenhado em fazer o serviço corretamente.
O encapuzado focou o olhar em um homem gordinho, com alguns cabelos faltando, um nariz bem redondo e um bigode perfeitamente curvado. Estava sentado com dois cyborgs ao lado, um android que naturalmente cuidava dos clientes nas mesas do bar, e outro que fazia a guarda do gordinho. Ele se levantou da mesa quando terminou de beber, e seu cyborg logo pagou a conta com uma troca de sinais para o outro cyborg que cuidava da mesa. O gordinho estava prestes a ir embora, e o encapuzado se preparou para seguí-lo, porém, um outro homem o parou antes de avançar.
— Opa — era o barista. — Já está de saída? Entrou aqui só para pensar, foi? Leva um caneco, vai, promoção pelo clima animado de hoje!
O encapuzado não respondeu. Deu um tapa na mão do barista que segurava em seu ombro, e se apressou para deixar o bar. O homem que ele estava tentando alcançar já estava um pouco distante. Vários cyborgs, alienígenas, criaturas e pessoas andavam normalmente na rua. A diversidade de espécies em Cyberion era bem vasta, por ser um planeta construído por uma junção de raças. Sendo assim, qualquer raça de ser vivo era bem-vinda naquele planeta.
O misterioso continuou a segui-lo, usando as pessoas e criaturas que andavam nas ruas como esconderijo para não ser visto pelo gordo. Ele desconfiou e olhou para trás, mas o homem encapuzado já havia se escondido atrás de um alien que parecia um avestruz bem grande com asas de morcego e cauda de leopardo. O bicho deu um oi bem animado ao homem encapuzado, que surpreendentemente parou para acenar de volta por um momento antes de continuar a perseguição.
Um pouco mais à frente o gordinho continuava desconfiado. Agora as ruas estavam começando a ficar menos movimentadas, sem muitas opções para se esconder na multidão. Ele olhou para trás novamente, e não viu nada de anormal. O encapuzado já havia se movido para um beco bem ao lado do homem. O gordinho resmungou e continuou seguindo com seu cyborg.
Mais à frente, ele desconfiou mais uma vez, mas agora tentou ver sem ser notado. Sem virar o pescoço, olhou por cima do ombro para tentar enxergar algum detalhe. Coçou seu bigode para abaixar a ansiedade daquela sensação estranha, mas novamente não viu nada. Quando olhou para frente novamente, o encapuzado saiu de trás de um poste bem fino, mas ele tinha se alinhado perfeitamente ao poste, ficando impossível de vê-lo.
Após passar por esse ciclo mais algumas vezes, o gordinho chegou à sua casa. Foi escaneado pela porta, e ela se abriu ao verificar que era ele mesmo. O cyborg ficou para fora, fazendo a guarda da fachada da casa de metal, que por sinal era bem chique comparada às outras.
Passaram-se alguns minutos, e o encapuzado apareceu de dentro de um beco, indo tranquilamente na direção do cyborg. Colocou a mão na parede da casa, e conforme ele ia arrastando a mão por ali, o metal adotava uma nova forma. Não era mais metal, agora era magma. A mão coberta por lava se moveu rapidamente da parede para o rosto do cyborg, segurando-o e dando falhas em seu sistema pela lava adentrando no corpo. Logo, o cyborg caiu, e o encapuzado mostrou seu corpo desativado para a porta escanear até que ela fosse aberta.
No segundo andar, o gordinho estava na cama, apenas com as roupas íntimas, prestes a tirá-las também. À frente dele tinha outra cyborg, feminina, que foi projetada para satisfazer os desejos mais ocultos dos homens. Mas sua diversão nem chegou a dar início quando o encapuzado apareceu logo atrás do gordinho, jogando-o no chão com um empurrão usando a perna.
— AAAH! — berrou o gordo, quando viu aquele homem em sua casa. — QUEM É VOCÊ?!
— Não importa. Você é um dos VIPs da casa principal, não é? — questionou o homem, em voz baixa, com uma de suas mãos sendo lentamente adornada por fogo. — Você vai me dizer tudo que sabe do Coliseu, se quiser ver a luz do dia amanhã…
— Olha só, eu… eu não sei do que você está falando, haha… — O fogo na mão do homem se enfureceu, aumentando com vigor. Ele apontou a mão reta para o homem como se fosse uma faca em chamas. — Não! Não, espera! Olha, eu não sei exatamente tudo que acontece lá, eu juro! Não sei quem organiza, nem sei o prêmio, nem…
— Me diga como ele funciona.
— O-oh! Tudo bem! São três… três arenas! O… o… a Zenith Mortal, o Domo da Glória e o Bastião do Titã… A Zenith Mortal é uma arena de desafios em que os participantes de um lado tem que concluir a fase e sair vivos, se alguém morrer, o outro lado ganha dez pontos… O Domo da Glória é uma grande guerra na arena entre vários membros dos dois lados da casa… e cada morte aumenta dez pontos… E o Bastião do Titã, é uma batalha até a morte entre um dos confinados do Coliseu e um dos competidores escolhidos de algum lado específico da casa…
— E quantos lados tem? — O fogo na mão dele aumentou mais ainda.
— S-são dois, meu senhor! Dois! O lado Aniônius e o Elysium! São os dois lados da casa principal…
— Certo…
Após conseguir todas as informações, o encapuzado segurou o gordinho pelo ombro, o puxou para mais perto, e atravessou o rosto dele com a mão em chamas. A cabeça do homem gordo foi perfurada bem no meio, e ele perdeu a vida instantaneamente. Logo, o encapuzado deixou o corpo no chão e a cyborg apenas assistiu tudo sem reação nenhuma. A cortina balançou com o vento da janela, e quando cobriu o corpo do encapuzado, ele desapareceu. Tudo que restou foi a luz do luar iluminando um cadáver com o rosto perfurado em um quarto de uma casa chique.
Descendo pelo corpo da baleia, a nave seguiu a correnteza quântica como um navio descendo uma cascata bem longa. Kali resolveu pegar o recipiente da nave às pressas e sugá-la para dentro novamente, para que a nave não afundasse na água. Quando chegaram no estômago, Todos afundaram e então nadaram até a superfície da água. A visão era bela e sombria ao mesmo tempo. O céu da barriga da baleia era revestido por energia quântica, como uma estrelada galáxia negra com energias roxas e pontilhados brancos por toda a estrutura. A água refletia o céu da barriga, causando um efeito espelhado magnífico.
Todos tinham engolido a semente que fazia com que pudessem respirar no espaço, sendo assim, podiam respirar na água também. Os cyborgs eram bem atualizados então Aiden não teve defeitos ao afundar na água. Todos seguiram Kali, que fazia movimentos com as mãos para a acompanharem. Seguindo um pouco mais adiante, chegaram até uma pérola gigante, que brilhava com luz branca e repelia a água, criando um espaço vazio ao redor da pérola. Todos nadaram até ali, e quando chegaram nas bordas da pérola, não havia mais água, então puderam se comunicar novamente.
— E agora? — perguntou Arashi. — Como saímos dessa?
— Tem… alguma coisa errada aqui — respondeu Kali. — A água está escura, isso não é normal. Era para ser algo místico, e não sombrio. Estou sentindo uma presença bem estranha por aqui… vocês também estão?
— Pensando bem — começou San. — Realmente tem algo diferente… Está vindo dali — ele apontou para uma das direções na água.
— E o que vocês vão fazer? Vão ir lá conferir o que é e ajudar o bicho que acabou de nos engolir? — perguntou Amélia, cruzando os braços.
— Ela nos engoliu porque precisava da nossa ajuda… já me encontrei com ela antes, é bem dócil — explicou Kali. — Deve estar querendo que nós ajudemos ela a remover algo que ela engoliu sem querer, e está corrompendo ela por dentro. Vamos, não deve demorar muito.
Todos foram junto com Kali para dentro da água novamente, com exceção de Cornélia e Aiden, que ficaram juntos ao lado da pérola brilhante.
— Como você está, Srta. Cornélia? Necessita de alguma coisa? Se estiver desconfortável, eu posso…
— Aiden… — ela se sentou na base das paredes da barriga da baleia. — Por que você… não pode agir normalmente? Sabe, menos robótico. Queria te ver como uma pessoa, não como uma máquina.
— Se estiver triste com isso, eu posso ativar o protocolo de…
— Não, Aiden, não… sem sistemas, eu só queria que você fosse assim normalmente…
— Srta. Cornélia, eu não tenho sentimentos dessa forma para poder me expressar assim como vocês, me perdoe se te desapontei. Mas posso tentar alterar meu sistema padrão para te alegrar.
— Aiden… — ela não completou a frase por um momento. — Esquece…
Todos os outros continuaram nadando, seguindo os rastros da energia pesada que vinha daquele canto. A água estava meio ofuscada pela sombra negra, mas tudo ainda era bem visível. Quando se aproximaram do limite da barriga, um coração carnudo estava preso ali, batendo bem forte. Todos se impressionaram, mas ninguém podia falar nada debaixo d’água.
Uma fenda se abriu em frente ao coração, e duas garras puxaram as bordas da fenda negra para os lados, abrindo o portal. Um corpo asqueroso, com membros longos, uma cabeça que lembrava a de um carneiro sem chifres, meio magro e com grandes garras saiu. Tinha olhos bem vermelhos, e emanava uma energia negra. Kali e Kyoko reconheceram de primeira, aquilo, era um demônio verdadeiro, vindo diretamente do inferno.
Quando o demônio saiu completamente do portal, todos estremeceram. Sua presença era a coisa mais assustadora que já sentiram, tão assustadora quanto a de Vorthis. Apenas San não sentiu os efeitos daquele terror. O demônio balançou as garras, e as ondas na água foram criadas, jogando metade da equipe para longe com a água. Kali se preparou, e Kyoko puxou um arco de luz na água que começou a evaporar tudo à volta. Puxou a flecha bem no final da corda, e disparou na velocidade da luz. O demônio simplesmente segurou a flecha com sua mão enorme e magra. Ele era bem grande, cerca de três metros de altura. A flecha de luz se dissipou com a energia negra da mão do demônio.
Logo, a mesma mão que segurou a flecha se esticou numa velocidade tão alta que criou ondas na água, e segurou o corpo de Kyoko. Trouxe a mão até a boca, e estava prestes a devorá-la. San ficou horrorizado, mas não sentiu medo, sentiu ódio. A marca vermelha do X se expandiu por baixo do cachecol, e seus olhos ficaram completamente vermelhos, queimando mesmo embaixo d’água.
— PARA! — berrou, e mesmo na água, as ondas sonoras foram tão absurdas que moveram a água contra o demônio, arrastando-o contra a barriga da baleia. O demônio sentiu a verdadeira energia do Rei Demônio, e ficou sem ação, paralisado, diante de San Hiroyuki.
Kali já estava se preparando desde o início. Já tinha circulado até às costas do demônio, e então, um rastro vermelho seguiu sua mão criando uma lança. Ela jogou a lança de sangue bem no coração do demônio, dissipando a energia sombria que estava ali embaixo. Ele não morreu, mas sua alma retornou para o inferno. O que o mantinha na realidade era o coração que foi destruído.
Logo, a água antes sombria se iluminou. Tudo ficou belo, azulado, com algas e todo um ecossistema dentro da barriga da baleia. Várias luzes apareceram, como aquela da pérola de antes. A estrutura quântica daquele lugar se tornou tão bela que ficou agradavelmente suave, fazendo San desejar ficar por ali mais um pouco.
Voltando para a pérola, todos se juntaram a Cornélia e Aiden. Um grande ciclone apareceu no meio da pérola, criando um buraco de minhoca para o planeta de Cyberion, como um atalho, em agradecimento da baleia por ter removido o demônio dali.
— Vejam! Um buraco de minhoca… de água — exclamou Arashi.
— É a baleia demonstrando sua gratidão. Nos deu um atalho até Cyberion…
Logo, todos pularam para dentro do buraco de minhoca. Em Cyberion, um grande ciclone d’água apareceu no céu, e o grupo inteiro saiu de dentro dele, caindo até o chão metálico do planeta. A cidade estava logo adiante, adornada pelas três grandes arenas flutuantes, e a casa principal no centro. As quatro estruturas sobrevoavam a cidade.
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
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