A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 2 – Arco 1

Capítulo 35: O Quarto da Casa 4

San Hiroyuki, Kyoko Yoshizawa, Arashi Hayami e Amélia Harris passaram o resto da tarde juntos pela cidade. Amélia não era tão boa assim para socializar ou se enturmar, mas estava gostando da companhia daquelas pessoas. San e Arashi agora fariam parte de sua equipe, e ela não queria ser excluída apenas pelo seu jeito mais conservado. Amélia nunca foi muito boa com as palavras, e às vezes ela tenta ser amigável mas acaba parecendo um pouco rude.

Os três estavam passando pela portaria de um shopping para ir ao cinema. Kyoko amava ver filmes em grupo, mas não achava graça em ir até lá sozinha. Então aquele era o melhor momento para convidar a todos. Arashi sempre toparia qualquer coisa, então não foi um problema aceitar. San também não ligava muito para o destino desde que estivesse com seus amigos e principalmente com Kyoko. Já Amélia, nunca foi em qualquer cinema na vida. Ela e seu irmão, Luke Harris, são nativos da Europa, porém cresceram em aldeias na China. Uma cultura mais fechada, sem muito uso da tecnologia.

Enquanto desciam a escada rolante até a área principal do shopping, avistaram uma discussão entre três pessoas. Era uma garota acompanhada por um cyborg doméstico. Os dois estavam tentando convencer uma terceira pessoa de alguma coisa. Este terceiro usava um manto azul de feiticeiro com estrelinhas estampadas, um grande medalhão prateado no pescoço, que simbolizava um cavalo de pé sobre as duas patas traseiras. Tinha cabelos castanhos e olhos amarelos. Este era Ishida Majutsu, um jovem da Infinity-Z, especialista em feitiços Alquímicos. Também era caracterizado por portar o Coração de Vorthis.

A garota continuava insistindo em alguma coisa com Ishida, enquanto o cyborg apenas observava a situação com os braços cruzados atrás das costas. San e o resto se juntaram aos três, para averiguar o que estava acontecendo.

— Ei, quanta falação. O que está rolando aqui? — perguntou Arashi.

— Logo você se metendo em barracos assim, Ishida? — perguntou San.

— Hum? Não, não, ninguém está brigando aqui. O problema é que essa moça continua insistindo que tem uma assombração em uma casa abandonada…

— Assombração? — Kyoko levantou uma sombrancelha. — Fala sério. Casas abandonadas, o próprio nome já diz, “abandonadas”, a única coisa assustadora nelas é que normalmente são bem antigas.

— Estou falando que vi a casa se distorcer! Como uma espécie de glitch na realidade… não sei dizer! Parecia um erro no espaço.

Todos ficaram surpresos com a explicação. Aquilo realmente não era comum em casas que se dizem mal-assombradas. Talvez a garota só estivesse vendo coisas, mas como isso era novidade, eles agora não duvidavam mais.

— Glitch? Bom, dessa eu não sabia — disse Ishida, levando a mão ao queixo.

— Afirmativo — começou o cyborg, ele tinha uma voz normal, porém um pouco robótica, como se sua voz tivesse um eco interno. — A imagem está salva no meu banco de dados, eu e a senhorita Cornélia tínhamos acabado de chegar ao planeta, na rua Dogenzaka em Shibuya. A casa número quatro, localizada em um gramado afastado dos hotéis parecia um tanto misteriosa, e quando nos aproximamos, certas partes da casa desapareceram e apareceram como um bug de software.

— Não precisa ser formal com eles, Aiden. Use o protocolo de comunicação urbano. — Aquele cyborg era um modelo Atlas-K17.

Cornélia tinha cabelos louros e olhos azuis. Era um pouco pequena comparada aos jovens presentes, mas ela aparentava ter por volta de dezoito anos também. Estava vestindo uma camisola azul com calças pretas, e uma bolsa de couro bege.

Aiden era o cyborg que a acompanhava, sua aparência podia ser modificada por comandos de voz ou de interface, mas no momento ele tinha cabelos pretos, curtos, e olhos também azuis. Usando roupas pretas parecidas com a de um garçom.

— Certo, desculpe, Cornélia. Bem, como eu ia dizendo, isso tudo aconteceu enquanto passávamos por Shibuya.

— Eu achei interessante. Que tal a gente dar uma olhada? É interessante para vermos a Amélia em ação também — comentou Arashi, dando dois tapinhas no ombro de Amélia. Ela não teve reação.

Ishida concordou também, afinal era a primeira vez que estava vendo a novata da corporação. Cornélia pareceu aliviada ao conseguir a ajuda dos feiticeiros. Ela sequer morava no planeta Terra, então aparentemente estava usando a casa como desculpa para se enturmar com os feiticeiros do Japão, que eram conhecidos pelo seu alto desempenho em missões simples ou avançadas.

O dia virou, e o sol que antes estava se pondo agora já tinha desaparecido por inteiro. Restando apenas a lua cheia iluminando o céu e as estrelas. O grupo vinha andando pelas ruas desertas de Shibuya naquele instante, alcançando a beira da rua Dogenzaka. Avançando mais um pouco, passando pelos vários hotéis que tinham naquela rua, chegaram ao fim da área residencial. Dali para frente, era só estrada ladeada por gramados com poucos hotéis ou casas isoladas.

Logo adiante, entre as árvores, era visível o teto escuro de uma casa de madeira bem desgastada. A chaminé ainda soltava fumaça, então a lareira estava acesa naquele momento. Em frente à casa havia uma jovem bela, alta, de cabelos pretos e brancos vestindo um casaco branco com detalhes vermelhos. San não demorou muito para reconhecê-la de longe, e logo se deu conta de que aquela era Kali Iyer, a mulher que havia encontrado anteriormente.

Kali olhou na direção deles, e lhes deu um sorriso que demonstrava interesse. O grupo se aproximou, e San novamente parecia despreocupado com a presença de Kali.

— Olá, Srta.Iyer! — exclamou San. — Por acaso esta casa é sua?

— Ora se não é o Hiroyuki. Na verdade não, estou apenas observando… Suponho que tenham vindo investigar? Também vi algumas coisas estranhas por aqui.

— Que tipo de coisas você viu? — questionou Arashi.

— Bom, os moradores de Dogenzaka estão falando bastante sobre uma casa mal-assombrada por um fantasma.

— Você não precisa se preocupar com isso, sabe — disse San, tímido. — Nós já estamos aqui para dar uma olhada…

Kali se aproximou da casa com lentos e elegantes passos, e uma mão ao queixo. Analisou a estrutura de cima a baixo, e então olhou para o grupo novamente.

— Não, eu quero dar uma olhada também. Posso até ajudar vocês, se necessário.

Ninguém foi contra a ideia, e todos se aproximaram. San olhou para a fachada da casa e notou que ela era bem grande, construída de tijolos desgastados pela chuva e o telhado era de um tipo de madeira bem escuro. A casa tinha dois andares, uma chaminé ao topo, que ainda soltava fumaça, mas havia algo curioso. Tinha um grande relógio romano incrustado logo abaixo do telhado da casa.

O som do relógio novamente fez com que San ficasse mais incomodado que o comum. Ele encarou os ponteiros como se fossem um demônio. Iyer colocou uma mão sobre o ombro de San, e acariciou lentamente. Ele logo ficou mais calmo, e deu um olhar confuso a ela. A jovem estava com um belo sorriso no rosto que dizia que iria ficar tudo bem.

Kyoko logo atrás olhou os dois com cara feia.

— Nós vamos investigar ou não?!

— Será que tem alguém em casa? — começou Arashi. — Nós podemos estar incomodando… Imagine, sons da porta abrindo, a madeira no chão estalando… várias pessoas entrando na sua casa a noite! Eu não ficaria contente se eu fosse o dono da casa e apenas estivesse tentando dormir…

— Pare de ser medroso, Arashi. — Kyoko deu um tapa nas costas de Arashi, que o fez arrepiar os pelos dos braços com o susto. — Se tiver algum fantasma aí mesmo, pode ter certeza que ele nem vai se interessar em pegar você.

— Bom, acho que agora é uma boa hora para vocês conhecerem o meu irmão… — disse Amélia. — Acho que ele não recusaria explorar esse lugar com a gente.

— E como é que você vai chamar ele? Não temos tanto tempo assim — comentou Ishida.

— Dessa forma… — Amélia caminhou até o meio da estrada, respirou bem fundo e fez um movimento circular e lento com as mãos. Seus dedos foram fazendo um círculo em volta de seu peito, enquanto ela ainda controlava o fluxo da respiração com calma. Logo, o vento parou de correr, e uma energia branca apareceu no centro do símbolo que ela fez com as mãos. — Luke! — gritou, e a energia branca desapareceu. O som foi tão alto que a onda sonora foi visível a olho nú distorcendo o espaço. Os pelos de todos presentes ali se arrepiaram instantaneamente.

Por um momento, tudo ficou silencioso. Ninguém disse uma palavra sequer. Até que ouviram vindo de trás de um poste de luz. Olharam para ele, desconfiados, e um garoto de cabelos castanhos claros, olhos verdes cristalinos, vestindo um quimono preto saiu de trás do poste.

— Amélia — disse Luke. Quando ele apareceu, o vento voltou a correr naturalmente.

— Então esse… é o seu irmão? — perguntou Arashi.

Luke se aproximou, passou por Arashi e ficou ao lado de Amélia. Ele não disse mais nada, apenas encarou todos, com um olhar inicialmente desconfiado, e então ele ficou tranquilo. Apenas desconfiando um pouco de Aiden, o cyborg.

Uns minutos depois, Cornélia, Amélia, Luke e Aiden já estavam de frente a porta da casa esperando os outros chegarem. Ishida puxou as bordas do manto de feiticeiro que estava usando para se cobrir por completo, pois o ar naquela área estava bem mais frio do que nas outras ruas de Shibuya.

Aiden deu duas batidinhas na porta e um pouco de poeira escorreu das guarnições da porta.

— Suponho que não há problemas em entrarmos aqui. A casa já está bem velha mesmo, qualquer um que morasse aqui antes já a abandonou já faz alguns anos.

— Muito bem Aiden, sem problemas então!

Cornélia foi precipitadamente abrir a porta. Quando tocou a maçaneta, pequenas distorções aconteceram na porta da casa. Eram glitchs azuis, que distorciam a porta por um milésimo e então ela voltava ao normal. Cornélia gritou com um pulo para trás quando aquilo aconteceu bem na sua mão.

— Mais cuidado, senhorita Cornélia! — Aiden segurou a garota nos braços após o susto. — Por favor, avance com calma.

— Eu estou bem, imbecíl. Pare de me tratar como um bebê.

— Tudo bem. Perdão, senhorita Cornélia.

Aiden tirou as mãos da garota e ficou ao lado dela, como um guarda-costas. Cornélia bateu com uma palma na testa ao lembrar que estava lidando com um robô programado sem emoções, então ele entenderia tudo de maneira literal. Isso às vezes deixava a jovem um pouco decepcionada.

Aiden logo abriu a porta com um rangido agonizante. O corredor à frente era bem escuro, sendo visível apenas o pé da escada que levava até o segundo andar, iluminado pela fresta de luz ao abrir a porta. Todos foram entrando para caçar o fantasma. Iyer achou o cenário interessante, e já se dirigiu para as escadas.

— Acho que vou para cima. Para não ter chances dele fugir, que tal cada um ir para um lado separadamente? Acho que todos aqui, com exceção da senhorita Cornélia, podem se virar sozinhos caso encontrem uma anomalia. Ou então, é só gritar pelos outros.

— Eu acho ótimo — disse San, antes que qualquer um pudesse responder. — Vou ir para a esquerda, vocês se dividem por aí.

San seguiu para a entrada da esquerda que levava até a sala de estar. Arashi estranhou um pouco a atitude repentina de San, mas decidiu que era só impressão.

— E quanto a Cornélia? Ela vai ir sozinha?

— Aiden pode me proteger — disse, segurando no braço do cyborg como uma criancinha. — Não é?

— Exato. Minha missão é proteger a senhorita Cornélia.

San já havia desaparecido pelos corredores da casa. Ela aparentava ser grande por fora, mas por dentro era imensa. O garoto já havia se perdido e não fazia ideia de como voltar agora, então a última opção era continuar seguindo em frente até encontrar uma saída. Os quadros à sua volta mudavam com glitchs breves, e então retornavam a imagem original.

Arashi subiu com Iyer, Cornélia e Aiden seguiram no corredor à frente, Ishida, Amélia e Luke se dividiram pelo corredor da esquerda.

Iyer estava usando um amuleto preso ao seu pulso que iluminava o lugar com uma luz vermelha. Caminhou até uma estante em uma das viradas entre os corredores, e acima da estante tinha uma pequena nota. Ela segurou e começou a ler.

— O que diz aí…? — perguntou Arashi, trêmulo. De repente, ele sentiu algo bem gelado tocar seu braço. Olhou para trás com medo, e viu uma silhueta prateada passar entre as paredes. — AH! TEM UM FANTASMA AQUI!

— Shhh, estou tentando ler. A letra é bem pequena.

A nota que Iyer tinha em mãos era uma lista dos contidos para o Coliseu Anisium. Ao lado uma pequena tabela com o tipo de alimentação que cada um estava tendo, e os resultados à exposição de outros seres vivos.

— Interessante…

— O que tem aí?!

— Uma lista de confinamento do Coliseu Anisium. Acho que vou ficar com isso aqui…

— Coliseu? Do que está falando?

— Não se preocupe com isso agora, daqui uns dias vai ver com os próprios olhos...

No andar de baixo, San alcançou uma porta estranha. Um forte ar frio emanava de dentro dela. Por algum motivo, ele não hesitou nem um pouco em abrí-la. Mas quando puxou a maçaneta, uma fantasma prateada saltou em sua cara. Colocou as mãos em volta do rosto de San, e começou a  sugar o ar para dentro criando um som horrível, como se a alma de San estivesse sendo devorada. Aquela fantasma era Charlotte, irmã de Valaric.

San não teve tempo de reagir e nem de gritar. Sua visão começou a se distorcer, e a casa foi coberta pelos glitchs novamente. A fantasma desapareceu de repente, e agora San estava em outro quarto da casa. A lareira estava queimando a lenha ao lado, esquentando um pouco o ambiente apenas daquele quarto. San estava de frente para um espelho, que refletia sua própria face, estendendo-lhe a mão.

O garoto estranhou a cena, mas se aproximou. O reflexo continuou com a mão estendida até que San chegasse bem perto do espelho encostado à parede. Mas logo, uma corrente de ar frio saiu de dentro do reflexo e apagou a lareira ao fundo, deixando o quarto completamente escuro. Uma silhueta de um ancestral apareceu diante do espelho, olhando para San. Um semblante verde, aparentemente era de algum deus. Tinha longos cabelos, e segurava um cajado.

A figura levantou um pouco o cajado, e antes de batê-lo no chão, ele disse.

— No controle de Eón... — começou a figura, com a voz imponênte ecoando pelas paredes. — O universo inteiro para.

O cajado bateu no chão. O tinido ecoou, e um brilho verde cegou completamente a visão de San. Agora ele não podia ver mais nada, apenas pequenos vultos se movendo cada vez mais ofuscados. O som do relógio voltou a ressoar em seus tímpanos, e com um susto, San voltou para a porta que tinha aberto no começo. Não tinha nada atrás da porta, apenas uma parede normal.

— Por que está encarando essa parede? — questionou Luke, que tinha acabado de chegar naquele lugar.

— Eu… achei que tinha alguma coisa… atrás da porta.

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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