A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 2 – Arco 1

Capítulo 33: Obsessão por Relógios

Arco 1 - Coliseu Anisium

No topo da tumba, o nome San Hiroyuki esculpido. A escrita retinha um brilho esverdeado que se fortalecia a cada segundo, e o vento que passou pelo salão apagou todas as tochas, restando apenas uma fraca fresta de luz que iluminava a tumba. Quando o santuário se apagou, os sons já não ecoavam pelas paredes. As presenças haviam desaparecido, apenas restando a areia despencando da cachoeira. A grande estátua que estava atrás da tumba então bateu com seu cajado no chão, e o relógio Eón ao topo da torre em Millennia parou de correr. O tempo parado, exatamente nas XVI horas.

Apesar do relógio estar parado, o som de ponteiros ainda ecoava. Mas não vinha da cidade, não vinha daquele lugar. Vinha de fora, o som estava saindo do relógio de parede que estava no quarto de San. O garoto acordou com o som dos ponteiros se movendo, assustado pelo sonho que acabou de presenciar. San tinha cabelos ondulados ruivos alaranjados, e olhos roxos que carregavam a linhagem dos Hiroyuki. Colocou uma mão sobre seus cabelos que lembravam a cor do fogo, e suspirou.

San não se lembrava de ter um relógio de parede em seu quarto. O som dos ponteiros era novo para ele, pelo menos na hora de acordar. Até porque o garoto já tinha um despertador na estante ao lado de sua cama, que já marcava as horas. Ele olhou para o despertador, que exibia 16:03 da tarde. Então olhou para o relógio de parede acima de sua cama, que marcava XVI - III.

San forçou a memória para tentar se lembrar de ter algum relógio romano em seu quarto, mas não conseguia se lembrar. Talvez sua memória estivesse fraca, pois não fazia sentido um relógio simplesmente aparecer em seu quarto.

Quebrou um pouco a cabeça tentando trazer sua memória à tona, mas não conseguiu resultados. Logo o garoto desistiu, levantou-se da cama e abriu as cortinas para que a claridade entrasse em seu quarto. Observou o céu azulado por um momento, e então ficou de frente para o espelho. Aquele rosto refletido na porta do armário, era San Hiroyuki, um garoto que agora tinha dezessete anos de idade. Passou-se um ano desde que entrou para a Infinity Astra, corporação de apoio geral espacial com intuito de manter a ordem da galáxia. Agora, seus cabelos estavam um pouco maiores que antigamente e se estendiam até o pescoço.

O som dos ponteiros do relógio continuava a incomodar San a cada vez que ele ouvia um segundo passar. Franziu a testa, bagunçou um pouco o cabelo para se livrar daquela agonia, e saiu apressado de seu quarto. Ouvir aquele som, para ele, era como ter uma forte dor de cabeça;

— Bom dia, mãe — disse, terminando de descer as escadas para a cozinha. — Tem algo para comer…?

— Finalmente acordou, San! Já são quatro horas da tarde! Achei que não acordaria mais.

A Sra.Hiroyuki começou a preparar um sanduíche para o garoto enquanto ele se sentava à mesa.

— Quem colocou aquele relógio no meu quarto?

— Relógio? Sempre teve um relógio no seu quarto, San. Em cima da cabeceira da sua cama.

San ficou pensativo com o que ela disse. Talvez sua memória realmente não estivesse muito boa. Porém, não teve muito mais tempo para pensar antes de ser perturbado novamente pelo som dos ponteiros se movendo. Havia outro relógio na parede da cozinha, acima da pia. San não se lembrava de ter relógios de parede em sua casa, mas aquilo realmente estava começando a o estressar. Quando sua mãe terminou o sanduíche e colocou em um prato à sua frente, ele observou, com a cabeça focada no som do “tic… tac…

O jovem não aguentou e teve que deixar a cozinha. Deixou o sanduíche na mesa, e sua mãe achou a atitude estranha. Porém, ela decidiu não questionar. Assim como qualquer adolescente, San poderia apenas ter acordado um pouco rebelde naquele dia, ainda mais que acordou bem tarde.

Ele retornou para o seu quarto, tentando ignorar o som dos ponteiros que não cessavam de forma alguma. Puxou três livros de dentro da estante de livro, e os jogou por cima da mesa de seu quarto. Sentou-se e começou a procurar nos livros alguma informação sobre relógios. Por algum motivo, aqueles ponteiros despertaram sua curiosidade.

Primeiro começou a procurar num exemplar de Criaturas Galácticas para ver se encontraria alguma relacionada a relógios. Foi virando as páginas, via coisa sobre Lobisomens, Anjos, Espectrais, Anciões, Mysthrums, Goodies, Xamãs… mas não havia nenhuma que tivesse qualquer relação com relógios.

Fechou aquele livro, deixou-o de lado e abriu o próximo. Era um exemplar de Astros Milenares. Virou página por página, viu várias pessoas interessantes e informações sobre eles. Vorthis Crepitus, o primeiro humano que se tornou um demônio sem a influência do rei. Junshin, uma entidade, antes humana, que se tornou um espírito maligno sem muitas informações sobre o mesmo. Sua maior característica eram os olhos rosados capazes de controlar a gravidade. Virando mais páginas, encontrou uma sobre Lity Numinor, e aquela arrepiou seu corpo completamente. Lity Numinor, o primeiro homem capaz de canalizar magia negra. Também tinha a habilidade de conjurar demônios do Abismo, e transmutar pessoas neles. Quando vivo, o universo inteiro temia seu poder. O infame Imperador dos Demônios.

Ler tudo aquilo sobre ele acabou jogando um grande peso no corpo daquele adolescente. Até porque, San era marcado no pescoço por um X que emanava magia negra. Esta era a marca que apenas a encarnação de Lity Numinor, o Rei dos Demônios, carregaria consigo. San tinha medo da própria identidade, mas no fundo sabia que ele era bem diferente de Lity, e não acreditava que um dia, ele já fosse um tirano como ele. Por isso tinha que esconder a marca em seu pescoço das outras pessoas, para que não pensassem que ele era um monstro encarnado.

Virando mais uma página, encontrou informações sobre Rahim Khamsin. Era um antigo faraó de um planeta desconhecido. Era também o Saikai do Vento, porém estava adormecido há séculos em sua tumba. Seu artefato divino era a Jade Vortex, que ninguém sabia onde estava localizada nos dias de hoje. Também era conhecido por ser um xamã, capaz de controlar o tempo. Sua energia moveria os ponteiros do Relógio Eón em Millennia, e por este motivo, era conhecido universalmente como O Portador de Eón.

— Portador de Eón…

San se levantou, colocou uma roupa melhor, e correu descendo as escadas para a cozinha novamente enquanto vestia o cachecol cinza que Deva Yodha havia lhe dado de presente em Nefer Ra, para esconder o X em seu pescoço.

— Onde está indo, meu bem? — perguntou a Sra.Hiroyuki.

— Hoje é a chegada dos novos integrantes da Infinity Astra, eu me esqueci! Logo eu estou de volta, mãe!

Naquele dia chegariam duas novas pessoas para a Infinity Astra. Alguns meses atrás, houve uma troca nas equipes. Eram quatro divisões no total, Infinity-Z, Infinity-Y, Infinity-X e Infinity-W. San era da Infinity-Y, e um de seus companheiros, Thomas Grace, havia deixado sua equipe. Kenny Williams — dono da Infinity Astra em Tóquio — transferiu Thomas Grace na equipe X, que faltava um membro. E para compensar a perda da equipe de San, dois novos membros entrariam, mas ele ainda não havia os conhecido ainda

O garoto seguiu pelas ruas da cidade de Tóquio, no Japão, onde ele e sua família viviam. O adorável e pacífico planeta Terra, longe dos problemas espaciais. Porém, nos últimos meses, uma dúvida assombrava a mente de San. De que talvez, suas origens não fossem japonesas como imaginava. Depois que descobriu sobre a marca em seu pescoço, várias outras perguntas surgiram na sua cabeça. Eterno, o homem que revelou o segredo obscuro de San sabia sobre todo o passado, e sabia da marca de que antes ninguém tinha conhecimento. Mas como ele sabia de tudo isso? Quem era o Eterno afinal? Todos o conheciam como Rei dos Deuses, mas ninguém sabia de onde ele veio.

“Deixando os pensamentos o assombrarem, San?” ecoou uma voz em sua cabeça. Feminina, meiga, que passava uma certa imponência.

— Ah, oi Zephyria.

Aquela era Zephyria Astralis, a estrela do planeta Nephthar. Estava conectada ao San após ele a salvar de sua própria insanidade. Agora, seus pensamentos estavam conectados.

“Já ouvi algumas histórias sobre o Rei dos Deuses, Eterno… Mas acho que você não vai querer saber sobre isso. Vejo que em seu coração, você não quer saber sobre Eterno, e sim quer aprender mais sobre si mesmo…”

— Sobre mim mesmo…

San começou a refletir, e Zephyria apenas lia suas reflexões atenciosamente. A estrela realmente se importava com o garoto, como se fosse um bom amigo de longa data.

Logo adiante, entre as pessoas que andavam nas calçadas de Tóquio, San avistou faces familiares. Eram Yami Yukari e Yui Kobayashi, duas jovens da equipe Infinity-W. Yami Hikari tinha cabelos roxos e olhos pretos. Estava usando um belo vestido branco, o que não era comum da garota. Normalmente ela usava cores escuras, ou apenas preto mesmo. Yui Kobayashi era ruiva de cabelos vermelhos e olhos azuis. Usava uma blusa amarela, com um shorts jeans. Um óculos apoiado em seus cabelos, e as duas estavam analisando roupas por uma vidraça à frente de uma loja.

— Hum? — San avistou as duas, e então se aproximou. — Vocês por aqui?

Yui e Yami viraram os rostos ao San ao mesmo tempo, e abriram um sorriso ao vê-lo.

— Já faz um tempo, Hiroyuki — disse Yami.

— Como vai, San!? — exclamou Yui.

— Estou bem, eu acho… Tive mais um sonho estranho essa noite.

Novamente, San ficou incomodado. Havia um grande relógio de parede dentro da loja em que elas estavam observando, e o som dos ponteiros penetrou com precisão nos ouvidos de San. Ele levou uma mão à testa como se tivesse levado uma fincada entre os olhos.

— O que foi? — perguntou Yami, dando um passo à frente.

— Nada… não é nada. Vamos só sair daqui — disse, e então continuou andando. — Vocês estão indo para a Infinity, não é?

— Sim. Temos mais uma comissão em breve — respondeu Yui.

— Fiquei sabendo que Hifumi saiu em uma missão secreta nesta manhã. Achei que vocês teriam ido junto a ele — comentou Yami.

Hifumi era o capitão da equipe de San, a Infinity-Y. Tinha cabelos ruivos avermelhados, e olhos que lembravam a coloração das mais puras chamas de um incêndio.

— Ele foi? — perguntou San. — Que estranho… Ninguém nos avisou sobre isso.

— Não é à toa que é uma missão secreta. Ele deve ter ido sozinho então.

Os três continuaram seguindo pelas ruas de Tóquio. Aquele era o reflexo do futuro, trens passando na velocidade acima do som por grandes tubos que cercavam toda a cidade pelo ar, painéis holográficos interativos nas fachadas das lojas e nas faixas de pedestre, barreiras nos trânsitos para controlar o movimento dos veículos automáticos, cyborgs andando pela cidade e concluindo tarefas simples como cuidar dos painéis de trânsito, recepcionistas de lojas, cyborgs para apoio e acessibilidade para deficiêntes sem ajuda, entre outras funções.

— Nunca vai tirar esse seu cachecol agora? Já faz um ano que eu te vejo usando isso — perguntou Yui, inclinando um pouco o corpo para olhar mais de perto. — É algum presente especial?

— S-sim! — San tentava disfarçar para não parecer estranho. — Era da minha irmã. Eu… achei no quarto abandonado dela, e agora estou usando…

San perdeu seus dois irmãos mais velhos quando ainda tinha doze anos de idade. Seu irmão mais velho, Kazuma Hiroyuki, desaparecido em uma missão espacial da Infinity Astra e nunca mais foi encontrado novamente. Já Akane Hiroyuki, havia desaparecido na ala hospitalar de um hospital que ficava em uma base espacial. Porém, no ano anterior, San a reencontrou no reino de Nefer Ra. Porém descobriu que ela fazia parte da maior organização criminosa da galáxia, a Nakamori, e que seu codinome na organização era Phoenix.

San usou a desculpa de que o cachecol era de sua irmã, que todos, com exceção de seu parceiro Tsukasa, pensam estar morta.

— Oh… entendi. Desculpa por perguntar…

— Não tem problema. Tem coisas que precisamos superar…

De repente, vários sons diferentes de relógios chegaram aos ouvidos de San mais uma vez. Ele tapou imediatamente os ouvidos em agonia, e olhou em volta. Seus olhar arregalado avistou vários telões nos prédios, e todos exibiam a imagem de um relógio romano, enquanto os ponteiros giravam a cada segundo, criando aquele som penetrante que cortava os neurônios.

A marca do X começou a brilhar fortemente em vermelho por baixo do cachecol, e um forte arder adornou aquela área do pescoço de San. Ele soltou um berro, se contraindo e levando uma mão até o pescoço. Yami e Yui se aproximaram dele, preocupadas, mas pararam de se mover quando viram alguém se aproximar de San. Era uma bela jovem de cabelos metade pretos, metade brancos. Com um longo casaco branco, e vestes pretas por dentro dele, e com detalhes vermelhos reluzentes em seu casaco esbranquiçado. Seus olhos eram vermelhos e hipnotizantes, assim como os de Tsukasa Hayami ou Vorthis Crepitus.

Ela colocou uma mão sobre o cachecol de San, acariciou levemente a área em que estava coberto o X, e a queimação cessou, San ergueu-se lentamente, e olhou para ela, surpreso. Ela não tirou a mão do cachecol do garoto, e apenas deslizou até a bochecha dele.

— Quem… é você?

— Kali Iyer… — respondeu, em um tom tão baixo quanto um sussurro. Um sussurro que envolve a alma, um ressoar capaz de corroer até o mais sombrio dos seres vivos.

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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