A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 32: Brilho da Morte

Parte 1

 

A revelação de Eterno abalou a todos presentes na sala do trono. Arashi e Hifumi observavam San com um pouco de medo, como se ele tivesse se tornado um monstro. Não de um modo ruim, mas não conseguiam o ver da mesma forma que antes. Kyoko estava tão confusa quanto o próprio San, mas ela não conseguia sentir medo dele. Foi uma surpresa para os três discípulos também, pois Eterno nunca revelou isso a eles. Nem mesmo Milan não podia imaginar uma coisa dessas. San, porém, tinha outra preocupação em mente. Aka, o Ghoul vermelho que estava o perseguindo todo esse tempo. O que o impediria de continuar fazendo suas travessuras? Será que ele já estava o observando em Nefer Ra?

— Mas… e se o Aka já estiver aqui?! Já estiver aqui para me atormentar de novo… — alertou San, cerrando os punhos sobre a mesa, e tomando uma expressão um pouco enraivada. — E se ele machucar alguém porque eu estou aqui? A culpa seria minha…

— Não se preocupe, San — tranquilizou Eterno, balançando o vinho dentro de sua taça dourada. — É praticamente impossível que um demônio, de qualquer tipo, entre em Nefer Ra. A presença dos anjos é predominante o suficiente para afugentá-los, e demônios normalmente têm problemas quando expostos a luz constante.

Os punhos de San se acalmaram, e seu olhar suavizou-se. Olhou para as pessoas ali presente, um a um. Todos os olhos voltados para a marca de X em seu pescoço. Ninguém teve coragem de comentar nada a partir daquele momento. Não só por medo, mas também por não saberem como San se sentia com toda aquela situação.

— Acho que você deveria dar uma volta por enquanto, San — aconselhou Eterno, notando que seria melhor para todos se acalmarem se estivessem em ambientes diferentes. San não conseguiu juntar palavras para responder, então só acenou positivamente com a cabeça, com seus olhos ainda arregalados. Levantou-se da mesa requintada de ouro, e dirigiu-se hesitante para a saída da sala do trono.

— Barão, acompanhe-o. Ele pode ficar perdido… e certifique-se de que ele não entrará em nenhuma encrenca por aí.

— Como desejar, vossa majestade — reverenciou-o Yodha, e então acompanhou San até a saída do castelo.

Já caminhando pelas estradas douradas de Nefer Ra, antes que os dois pudessem iniciar uma conversa, Athena veio correndo para alcançá-los. Estava levantando um pouco suas vestes para que não se arrastassem pelo chão enquanto ela corria.

— Esperem! — exclamou, finalmente se juntando aos dois. — Vou seguir com vocês. Acho que Hiroyuki precisa de um pouco de companhia, que não o veja com uma face assustada…

— Obrigado, Athena…

Os três foram adiante pelo reino. Algumas pessoas que passavam bem próximas, podiam notar a marca predominando no pescoço de San, e quando notavam, tomavam um pequeno e breve susto. Ela irradiava um brilho um pouco avermelhado, que a destacava em qualquer olhar. Yodha percebeu que talvez San estivesse desconfortável com isso, e então decidiu parar em frente a uma alfaiataria. Pediu que os dois o esperassem na calçada, e após poucos minutos, voltou segurando um cachecol preto e cinza nas mãos. O colocou em volta do pescoço de San, que teve um pequeno brilho no olhar ao receber um presente tão repentino.

— É para mim?

— Vai ajudar a esconder essa marca, agora que Eterno decidiu remover a magia que a ocultava…

San segurou o cachecol sobre o pescoço com as duas mãos, e sorriu para Athena e Yodha. Um sorriso simpático, que mostrava uma alma pura e inocente.

— Obrigado a vocês dois!

— Não há de quê — respondeu Athena, fazendo uma reverência com a cabeça.

O garoto ficou bem mais tranquilo, e agora tinha um sorriso sereno no rosto conforme prosseguia junto aos dois discípulos. Mas esse sentimento foi momentâneo, e desapareceu quando mais uma questão consumiu sua mente.

— O que os outros devem pensar de mim agora…? Que sou um tipo de monstro? Que estive os enganando esse tempo inteiro, e poderia devorá-los a qualquer momento?

— Óbvio que não — disse Athena, deixando escapar uma risadinha contraída. — Eles só não esperavam por isso, da mesma forma que você também não esperava. Acredite em mim, daqui alguns dias eles nem vão lembrar disso mais.

— Mas… se eu sou a encarnação do… — San sentiu um arrepio no corpo antes de terminar a frase. — Você sabe… Então, um dia me tornarei igual a ele?

— É provável — disse Yodha, que até então estava apenas ouvindo. — Não vou negar. Porém, você não precisa seguir o caminho das trevas, San…

— Mas o próprio Eterno disse antes! — exclamou o garoto, parando de caminhar. — Eu nasci destinado às trevas… não foi?

— Eterno também disse que você mudou esse destino. Rahasya te enviou para a luz, San.

— E isso muda alguma coisa?!

— Claro que muda — disse Yodha,  segurando o garoto pelos ombros. — Existem caminhos predefinidos, San… Porém, todos temos o poder de escolher. Você escolhe por qual caminho vai seguir… Somos nós, quem criamos nossos próprios caminhos. Tenha isso em mente.

San concordou com a cabeça, ainda olhando para baixo. Yodha deu um sorriso de canto, e então ele e Athena seguiram em frente. Mas San não continuou com eles, ele permaneceu parado naquele mesmo lugar. Quando os outros dois notaram, voltaram até ele, confusos.

— O que foi, San? — perguntou Athena, juntando as mãos enquanto caminhava.

A marca no pescoço de San estava irradiando um brilho tão forte que ultrapassava até mesmo o cachecol escuro. O brilho havia crescido de modo repentino, e San aparentemente tinha notado alguma coisa. Sua cabeça lentamente se virou para a esquerda, e seus olhos se arregalaram com a visão que aparecia diante dele. Uma escadaria de mármore, que levava até um beco entre as casas do reino. E no centro desse beco, estava uma entidade maligna, vestindo um manto negro e um capuz. Sua face era medonha, pele dura, carmesim, olhos negros e vazios, e um sorriso melâncólico, que agonizava até a alma.

— O que é aquilo?! — exclamou Athena, dando um pulo para trás.

— Aquilo é… — começou Yodha, mas San o interrompeu.

— Aka! — disse, e então correu pela escadaria abaixo. Aquele à frente deles era o Ghoul-Gêmeo vermelho, Aka. San não tinha a menor dúvida, por algum motivo, quando ouviu Eterno falar sobre Aka na sala do trono, a imagem de uma criatura exatamente idêntica a aquela foi projetada em sua cabeça. E agora, ela estava diante de seus olhos, sorrindo para ele provocantemente.

Quando se aproximaram, o corpo da entidade começou a entrar em um estado meio gasoso, como um fantasma. A energia que emanava era negra-avermelhada. Aka seguiu pelo beco como um fantasma, e desapareceu em um vulto avermelhado.

— Ele não vai fugir! — gritou San, correndo com mais velocidade. Ele teve uma determinação repentina ao pensar no Ghoul, e agora, seu objetivo era caçá-lo ali mesmo. Yodha não iria deixar o garoto sozinho ir atrás de um Ghoul de verdade. San nunca sequer havia presenciado um demônio além das cópias gosmentas da Mórtivus, e agora estava tentando alcançar um dos três Ghoul-Gemêos.

Os três seguiram por aquela viela, e San mantinha a necessidade de reencontrar Aka, mesmo sabendo que talvez não tivesse a menor capacidade para enfrentá-lo. O rosto de San arrebatava as roupas nos varais enquanto ele se movia pelo beco estreito. A marca por trás do cachecol de San estava brilhando mais forte gradualmente, e o próprio garoto sentia algo que nunca sentiu antes. A conexão que ele carregava com demônios era muito firme, então ele podia detectá-los nas proximidades.

Deu uma ombrada em uma porta nas paredes da viela, adentrando em uma casa dourada aleatória. Ele podia sentir, como uma espécie de cheiro, o rastro do Ghoul vermelho. Yodha e Athena invadiram a casa também, e a jovem tinha que correr levantando um pouco as vestes.

— Bom dia, senhores — disse o aldeão que morava naquela casa, não se importando com as invasões. O povo de Nefer Ra era realmente muito pacífico. — Saudações, Athena.

— Bom dia! — respondeu Athena, dando um sorriso breve para o homem antes de os três saírem novamente pela porta da frente, retornando para o centro do reino.

Os três olharam ao redor, e não havia nenhum sinal do demônio. Eram muitas pessoas usando túnicas brancas caminhando pelas ruas, então seria claramente visível se alguém usando um manto negro passasse por ali.

San não desistiu, e pôde sentir mais uma vez o rastro. Olhou para o alto, e lá estava Aka, observando-o do topo de um edifício dourado, que parecia uma torre de vigilância.

— Ei… — começou Yodha. — Existem dois Aka…?

Antes que San pudesse perguntar “como assim?”, ele notou o motivo de Yodha ter perguntado aquilo. No prédio a frente da torre, havia outra entidade parada ali, usando um manto negro também. Mas esta usava uma máscara preta com detalhes vermelhos estampados nela, e carregava uma lâmina avermelhada por debaixo da manga do manto.

— O que Hawk está fazendo aqui?! — exclamou Athena, e San tomou um susto quando ouviu a garota dizer.

— Hawk está trabalhando com Aka agora? Por que ele está aqui também?!... Eterno tinha dito que o reino era totalmente seguro…

— Os dois em Nefer Ra… Isso é demais para nós segurarmos! — disse Yodha, levantando sua espada de luz em direção aos céus. Um feixe luminescente se estendeu até as nuvens amareladas, se infundindo com o ar. Imediatamente, Milan Hoffmann apareceu ao lado dos três, surgindo de uma faísca de luz.

— O que aconteceu, Yodha?

Ele já chegou com um olhar sério, pois aquele chamado era sinal de emergência. E era realmente raro ver Yodha usando aquela sinalização. Ezekiel nos céus também notou o chamado, e o olho adornado por asas brancas saiu de dentro das nuvens, observando a situação abaixo.

Yodha não precisou explicar nada, Milan apenas sentiu as duas presenças predominando acima. A energia amaldiçoada do demônio, e a Alquimia de Hawk abalavam todo o espaço ao redor do reino.

Aka percebeu os quatro o encarando na estrada, e saltou de cima da torre. Avançando na forma de um fantasma pelo ar, fazendo todo o caminho até o chão, com a mesma expressão diabólica. Mas foi impedido por uma investida poderosa bem na costela, que jogou o demônio para dentro de um dos prédios. Era Hawk, que se movia em velocidade muito acima do comum.

No segundo seguinte, Milan se teleportou bem nas costas de Hawk, no ar, e tentou lhe apunhalar com a lança de luz. Assim como um felino, os reflexos de Hawk eram muito mais aguçados. Desviou do ataque abaixando o corpo para baixo, e então girou como uma hélice no ar, segurando a lâmina vermelha de cristal. O movimento cortou parte do tórax de Milan, que foi repelido para o mesmo prédio que Aka havia sido jogado. Mas quando retomou consciência e olhou em volta, o demônio já não estava mais ali.

Milan olhou para o buraco aberto na parede do prédio em que estava, e viu Yodha voando para cima de Hawk com suas asas de luz, e empunhando a espada luminosa em mãos. Avançava com a espada defendendo-o frontalmente, e estava prestes a cortar a extensão do corpo de Hawk. Mas mesmo na velocidade próxima à da luz, Yodha era lento demais. Hawk pôde passar por baixo da espada como um vulto, e com as luvas misteriosas carregadas de atomicidade, acertou um gancho no queixo de Yodha. A força das luvas eram demais, suficiente para o lançar para os ares com tal energia.

Ezekiel, assistindo das nuvens, notou o perigo iminente. Canalizou esferas mágicas no céu, que seguiram o movimento do vento. Acompanhando a ventania, as esferas começaram a girar e adquirir energia. Quando foi suficiente, dispararam inúmeros projéteis mágicos até as ruas do reino, em que Hawk estava. Os aldeões presenciaram a chuva de magia, e correram para dentro das casas.

Hawk esquivou-se dos projéteis saltando de prédio em prédio, com uma agilidade extraordinária, e perfeição invejável. San tentou ir para cima também, mas foi segurado pelo braço. Era Athena, impedindo-o de confrontar o inimigo.

— Comporte-se, Hiroyuki! Ele é poderoso demais! Vamos voltar para o castelo e informar ao Eterno do que está acontecendo…

San hesitou, baixou a cabeça, e então a acompanhou. Os dois correram pelas estradas e Athena guiou o caminho até o castelo dourado.

Hawk esquivou-se até o topo de um edifício mais alto, que estava bem próximo a um dos Caminhos de Anjo. Yodha também o acompanhou dos céus, e pousou logo à frente de Hawk, pronto para o embate.

O jovem mascarado desta vez não usou nenhuma lâmina para contra-atacar. Yodha tentou um corte rápido, acompanhado por um rastro luminoso de luz que seguia a ponta da espada. Hawk desviou para trás, e girou o corpo, dando um chute na armadura de Yodha. Fixou o pé na armadura, e girou o corpo novamente, dando mais um chute, desta vez no rosto de Yodha, que perdeu um pouco o equilíbrio.

Hawk não perdeu a chance, e o empurrou para frente com o ombro, e então desferiu um soco no rosto de Yodha, e segurou seu braço com as duas mãos. Girou uma última vez o corpo, e atirou o Barão para longe. Ele parou no ar com auxílio das asas, e apontou a espada para a máscara de Hawk. Três mariposas de luz foram canalizadas no ar, e rodopiaram até alcançar o mascarado. Ele desviou das três ao mesmo tempo com apenas um movimento, mas foi incapaz de avançar. Ezekiel havia atirado mais projéteis no prédio em que estavam, e a explosão entre eles separou Hawk de Yodha.

A lança da esperança, lançada por Milan ao longe, cravou-se no terraço do prédio. Ele se teleportou até a sua arma e a segurou novamente, encarando Hawk de frente. Fez um movimento com a lança no ar, canalizando um feitiço. O rastro da lança formou linhas no ar, que juntas exibiam uma constelação estelar. Os pontos que ligavam a constelação se iluminaram, e algumas áreas do chão foram iluminadas por uma luz vindo dos céus. Hawk logo entendeu o que iria acontecer, e se esquivou para um local não iluminado por aquilo.

Um feixe celestial caiu dos céus até os pontos iluminados no chão. Era como uma chuva de lasers radiantes. O ataque era realmente belo, mas não atingiu Hawk. Ele se ergueu, e deu uma investida em Milan, que não teve tempo para reagir. Foi jogado de cima do edifício, caindo em plena estrada.

O chão estremeceu, e uma sequência de espinhos de gelo surgiu da estrada em direção ao Duque, que caía de bruços aos espinhos. Ele retomou o controle rápido, e com cuidado para não cair no espinho, ele se agarrou nele. Cravou a lança no cristal avermelhado, e subiu até a ponta do espinho enquanto sua lança fazia uma cratera sobre o cristal.

Chegando no topo do espinho, Milan lançou sua lança para o alto. Ela chegou a altura do Caminho de Anjo acima, e Milan se teleportou para ela, ficando ao alto do reino inteiro. Yodha também usou suas asas para alcançar Milan, e os dois seguraram na lança ao mesmo tempo.

Mergulhando enquanto o flash de luz cortava o ar no caminho da lança, os dois concentraram suas Alquimias no ataque, que seria certeiro e fatal. Hawk não podia se deixar acertar por aquilo, mas isso também não era problema para ele. Ergueu uma mão na direção dos dois, e sua luva se reacendeu em um brilho alaranjado.

O reator no centro da luva canalizou toda a energia que tinha contida, e descarregou tudo aquilo na direção dos dois. Um explosivo rastro atômico foi desferido, forçando-se contra a lança dos dois. O choque entre as duas energias gerou ondas de choque pelo ar, porém o feixe atômico prevaleceu sobre a luz. A lança foi pulverizada, e aquela energia atingiu o peito de Yodha, e o braço de Milan. Os dois foram jogados para o alto.

Yodha caiu quebrando o telhado de uma das casas, e seu peito estava bem queimado. O feixe atravessou sua armadura, e queimou sua pele profundamente. Ele gemeu em agonia, e os aldeões que estavam escondidos naquela casa o socorreram.

Milan ainda caía no ar, com o braço queimando. A atomicidade se alastrava pela sua pele, como uma maldição. Hawk escolheu Milan como seu alvo, e avançou até ele, que ainda caía no ar. Dessa vez carregava uma lâmina vermelha, e não teve receio de esfatiar o corpo de Milan várias vezes enquanto os dois caíam.

O Duque se chocou contra a vidraça de uma casa, espalhando vários cacos de vidro pelo chão. Ainda sentindo uma dor tremenda por todo o corpo, abriu levemente os olhos, e a única coisa que pôde ver foi o próprio reflexo de seu rosto agonizando de dor sendo refletido em um caco de vidro à frente. Mas a visão ficou ainda mais terrível, quando o pequeno semblante de Hawk se aproximou através do vidro. Vinha carregando a lâmina, e os olhos vermelhos por trás da máscara carregavam uma expressão fria.

Subindo no topo do castelo, San e Athena, acompanhados pelo resto da equipe, chegaram ao terraço, onde Eterno observava a vista, bebendo vinho. San já havia alarmado o resto de sua equipe no caminho, e eles estavam determinados a ajudar também. Principalmente Hifumi, que não podia ouvir o nome “Hawk”, que já ficava excitado.

— Eterno! Nefer Ra… Aka, ele… — começou San, mas ele não precisou completar a frase.

— Estou ciente disso. Obrigado por vir me avisar, San — disse, tomando mais um gole da taça com delicadeza.

— E o que vamos fazer?! Vamos ficar parados aqui?

— É o que vocês vão fazer — disse Eterno, virando seu rosto para todos que estavam ali. — Desta vez, quero resolver o problema por conta própria.

Athena ficou boquiaberta com as palavras de Eterno, e sua cara parecia a de um gato assustado.

— Meu rei… você vai… — Athena engoliu seco. — Lutar por conta própria…?

— Exatamente. Faz um bom tempo que não mexo este corpo velho… Apesar de eu ter uma aparência bem jovem, não acham?

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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