A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 31: O Rei dos Deuses

San abriu uma pequena fresta nos olhos após acabar de acordar de seu sono profundo. Olhar nos olhos de Vorthis Crepitus definitivamente não foi a melhor ideia. Uma luz bem forte cobria seu rosto, o impedindo de enxergar qualquer coisa quando abriu os olhos. Tentou tampar a luz com uma mão, porém a luz cessou. Uma cortina de repente cobriu a janela, e o garoto pôde ver o que estava acontecendo. À sua frente estava Milan Hoffmann, o Viajante da Luz. Havia teleportado todos que estavam perto de San para um lugar seguro. Ali também estavam Kyoko, Arashi e Hifumi.

— Milan? — perguntou, erguendo-se da cama, e passando o olho por todo o quarto. — Que lugar é esse…?

— Opa! Eai San. Essa aqui é minha… ahem, requisitadíssima casa! — exclamou, abrindo os braços, revelando sua humilde casinha. Mesmo sendo meio pequena, era completamente feita de ouro maciço. — Fascinante, não?

— Sim… fascinante, eu acho.

San se levantou, deu alguns passos pelo quarto, esfregou os olhos e então percebeu. A casa era completamente composta por ouro maciço. San ficou boquiaberto quando notou, e seus olhos passaram de parede a parede, móvel a móvel, até mesmo o lustre era feito de ouro.

— Impressionado, San? — perguntou Arashi, que estava devorando tudo que tinha na geladeira de Milan.

— Como vocês conseguem agir normalmente estando nesse lugar?! Isso é definitivamente fascinante!

— Você demorou tanto tempo para acordar — começou Hifumi, que estava centrado em afiar sua espada, canalizando magia sobre a lâmina. — Que ninguém aqui tá impressionado mais. Na verdade, você demorou pelo menos uma hora.

— Como assim? A gente estava em Londres, não estava?

— Sim, mas você desmaiou ao tentar enfrentar o Vorthis sozinho. Tivemos sorte de que o Hoffmann nos trouxe para sua casa, usando a luz. Na verdade, você tem sorte de ainda estar vivo.

— Vorthis… Espera, e o que aconteceu com ele?! Ainda está a solta em Londres?!

— Talvez esteja, eu não sei. Mas pelo que Kyoko disse, isso já aconteceu antes.

Kyoko acenou positivamente com a cabeça, e então se levantou do banquinho em que estava sentada, caminhando até San.

Uhum, aconteceu só uma vez. Eu não sei o que deu nele, mas acabou liberando Vorthis por dois minutos quando Kisaragi tentou roubar uma espécie de pingente que ele tem. Mas passou rápido… acho que ele só não retornou ainda, pois ficou muito fraco lutando contra aquela Mórtivus sozinho.

Kyoko abraçou San, repousando a cabeça sobre o peito do garoto, e jogando seu peso em cima dele. Ele a acolheu, e Arashi olhou para os dois, segurando a risada.

— Entendi… então, não podemos fazer nada?

— Basicamente não — respondeu Hifumi, guardando a espada na bainha em suas costas.

Milan se aproximou de todos, com uma expressão que demonstrava entusiasmo. Ele parecia feliz de estar com todos presentes em sua casa. Ou talvez, sua felicidade derivasse de outro motivo.

— Vamos lá, pessoal. Animem-se! Estamos em Nefer Ra agora, está tudo sob-controle.

— Nefer Ra? — questionou San, lembrando vagamente desse nome.

— Sim! O Reino do Sol!

Milan correu para a porta, e todos o acompanharam. Quando abriu, a visão era chocante. Várias construções feitas de ouro, estradas também douradas e lisas, um céu completamente avermelhado com nuvens amarelas. Alguns dos edifícios eram gigantescos, estendiam-se até os céus. Mas não tinham o formato quadrado de um prédio, na verdade, eram como grandes torres com argolas douradas passando em volta delas, reluzentes pelo ouro. Com o cenário de um grande castelo ao fundo do reino, irradiando luz solar como um núcleo.

— Sejam bem-vindos a Nefer Ra: O Reino Dourado!

— Então assim é Nefer Ra — disse Hifumi, impressionado com a vista que tinha. As pessoas eram todas elegantes, vestindo túnicas brancas com runas amarelas estampadas na roupa. A maioria andava sem calçados, pois o chão era tão limpo que refletia seus próprios rostos. O clima era quente, como esperado, porém continuava encantador.

— Reino… dourado… — As memórias de San estavam vindo à tona. Quando recebeu sua Alquimia, dormindo, sonhou com um reino dourado exatamente igual a Nefer Ra. Mas também, se lembra de algo a mais neste sonho.

— A Fênix…

— Fênix?

— A Fênix de fogo! Eu sonhei com esse lugar… eu sonhei! — exclamou San, segurando os ombros de Milan no desespero. — A Fênix vai destruir tudo!

Ah! Você está falando da profecia? Disso eu já sei.

— Profecia?

— Sim. Já virou piada em Nefer Ra… mas aparentemente, vai acontecer mesmo. O Sol já está bem vermelho.

“Quando a Luz desaparecer, todo reino irá ceder. O vermelho irá vibrar, e a estrela sangrará. O céu vai se avermelhar, todo o povo vai gritar. Quando o Sol começar a chorar, penas douradas vão surgir. Para a Fênix emergir, Nefer Ra tem que cair.”

— Para a Fênix surgir, Nefer Ra tem que cair…

— Exato. Mas fique tranquilo, estamos sob a proteção do Eterno. Nada vai acontecer, e nada pode acontecer.

— Eterno?

— Não o conhece? Ele te adora. Sempre está tentando proteger você, San.

Quando Milan revelou essa informação, todos ficaram levemente boquiabertos. Kyoko ainda estava meio agarrada em San, e Hifumi tinha uma expressão mais séria.

— O que o Rei dos Saikai iria querer com o San?

— Rei do quê?! Ele está me protegendo?!

— É isso aí! — confirmou Milan, apalpando os cabelos do San. — Você é o escolhido. “Aquele capaz de mudar o destino.” Eterno confia em você, San.

— Mas porquê eu?! Eu não sou nada aqui!

— Também não sei. Mas se ele acredita nisso, então você é especial…

San suspirou profundamente, e então olhou para o chão. Não se sentia digno de algo assim, na verdade o garoto pensava que não era capaz de fazer nada sozinho. Se o Rei dos próprios Deuses confiou tanto assim no garoto, talvez ele fosse especial mesmo. Mas de que adianta isso, se na cabeça de San, ele não passava de um amador.

— Tudo bem…

Ah, não fica assim vai. Não estou falando isso de um jeito ruim!

Milan os levou para conhecer a maior parte de Nefer Ra em seu tempo livre. As iguarias locais eram únicas, flores com pétalas de luz, que quando tocadas espirravam pequenas estrelinhas cintilantes. As comidas também eram diferenciadas, como um ensopado que irradiava um brilho rosa. Milan levou San para tomar um desses, e o gosto era picante como pimenta, mas ao mesmo tempo era relaxante quando tocava na língua, como uma limonada suave.

Enquanto caminhavam pelas estradas douradas, Kyoko apontou para o alto de uma das grandes torres que levavam até os céus, com argolas que as adornavam.

— Para que servem aquelas torres?

— Aquilo? É um Caminho de Anjo. Leva até os céus, onde habitam os anjos.

— Anjos? — perguntou San.

— Sim, anjos. Existem vários pelo espaço também — explicou Milan, sorrindo pela sensação de parecer inteligente. — Se quiserem, eu os levo lá para cima!

— Como? É muito alto! — exclamou Arashi, enfiando uma maçã dourada na boca.

— Que nada. Apenas assistam!

Milan segurou todos em uma espécie de abraço caloroso, e a luz envolveu-os na mesma hora. Antes que qualquer um tivesse reação, a luz ficou mais forte e os cinco sumiram dali com um estalo. Foram teleportados para o topo de um dos Caminhos de Anjo.

— Aqui estamos! O Caminho de Anjo.

Wow… — Kyoko ficou boquiaberta com a visão que tinha dentre as nuvens no topo da torre. Toda Nefer Ra, até mesmo as fronteiras de fogo eram visíveis dali. O castelo, predominante e elegante, tampava maior parte do cenário.

— Bom… e o que as pessoas fazem aqui?

— Chamam os anjos! — respondeu Milan, estendendo as duas mãos para as nuvens, e cantarolando uma bela canção. Uma sinfonia angelical ressoava pelos céus, sendo transmitida por todo o reino. As pessoas olharam para o topo da torre, ansiosas para o que aconteceria. Aquilo era uma tradição adorada pelo povo Solar, pois demorava muito tempo para que uma pessoa chegasse ao topo de um Caminho de Anjo.

De dentro das nuvens amareladas, um olho colossal emergiu. Adornado por várias asas de penas brancas, e a íris do grande olho era azul. As asas cobriam um pouco o olho, demonstrando uma certa timidez. Seu tamanho era incompreensívelmente grande, e os três, com exceção de Hifumi, ficaram completamente paralisados com a visão.

— Olha ele aí! — exclamou Milan. — Este é Ezekiel. Um dos Seraphim que mantém a segurança de Nefer Ra.

Ezekiel girou suas asas em volta do globo ocular, como uma espécie de referência a eles. A multidão que observava de baixo aplaudiu, e as palmas ecoaram por toda Nefer Ra. Milan se aproximou de Ezekiel, e o olho balançou-se no céu, criando um caminho com as nuvens. Um caminho celestial, que dava entrada para o Lar dos Deuses. Os três caminharam sobre as nuvens, acompanhados por Ezekiel. Dali eram visíveis vários outros anjos, como o Throne, que eram vários anéis que adornavam um olho vermelho. Os anéis giravam constantemente, como engrenagens.

— Que lugar… surreal… — Arashi estava completamente vidrado naquele ambiente.

— Fascinante, não?

— Os anjos também foram criados pelo Eterno? — perguntou San, sentindo-se leve o suficiente até para voar.

— Não, Eterno não pode simplesmente criar vida. Pelo menos, não naturalmente. Os anjos já habitavam o Sol bem antes do Eterno… Eles têm uma espécie de aliança. Afinal, é impossível alguém odiar o Eterno.

— Então existem outros anjos pelo espaço?

— Claro que sim. Porém, talvez os espaciais não sejam tão acolhedores quanto os daqui…

Enquanto Milan os apresentava o Lar dos Deuses, um anjo voador veio chegando de dentro das nuvens. Este usava uma armadura dourada, tinha cabelos cacheados bem dourados, olhos azuis e carregava uma espada de Luz nas mãos. Em suas costas, tinham asas douradas de luz.

— Quem são vocês?! Forasteiros? Feiticeiros?!

— Acalma aí, Yodha. Não são intrusos, estão comigo.

O anjo se acalmou, e planou até o caminho de nuvens. Quando chegou ao chão, sua espada de luz se dissipou, e ele cruzou os braços.

— O que anda aprontando dessa vez, Hoffmann?

Hah! Acho que vai se impressionar quando saber. Pessoal, este é Deva Yodha! Um dos três discípulos reais de Eterno. O Yodha é um deles. O Barão-Arcanjo.

Deva Yodha levantou um pouco a cabeça, demonstrando seu orgulho. Ele era o mais orgulhoso e egocêntrico entre os três discípulos.

— E quem são os outros dois? — perguntou Hifumi, curioso.

— Os outros? Bom… temos o Duque… este conhecido como Viajante da Luz! Haha! Sim, sou um dos discípulos de Eterno. Acho que já era de se esperar. Sou o Duque-Viajante.

Ninguém ficou muito impressionado ao saber. Já era de se esperar que Milan era bem próximo ao Eterno, ou estivesse em uma posição elevada na hierarquia.

— E o terceiro discípulo… é a princesa… Athena. A Realeza-Absoluta.

— Já ouvi falar bastante sobre ela em alguns livros — disse Hifumi.

— Será que eu posso ver ela?! — perguntou Arashi, com ideias na mente.

— Nada disso — interrompeu Deva Yodha, posicionando-se à frente deles. — Vocês não possuem nível o suficiente para presenciar a vossa majestade.

Milan se aproximou de Yodha, apalpando seu ombro.

— O que foi, Duque lunático?

— Acho que você não percebeu com quem estamos lidando, Barão… aquele ali… é o próprio San Hiroyuki. Acho que o nível de nobreza aqui é mais elevado que o de nós dois juntos.

Yodha ficou boquiaberto, e deu um passo para trás imediatamente. Curvou-se diante de San, fazendo uma reverência a ele, e pedindo perdão cuidadosamente.

— Perdoem-me, nobres cavalheiros. Irei encaminhá-los para o castelo real imediatamente… Eterno também deseja vê-lo, Sr.Hiroyuki.

— Me ver? Por quê?

— Eu não sei, meu senhor… são ordens do Eterno. Agora, se me permitem escoltá-los até lá…

Chegando à entrada do castelo, San estava um pouco nervoso. Seus braços tremiam, e seus olhos estavam tão arregalados quanto os de um peixe. Arashi parecia ansioso, e Hifumi estava em alerta. Aquela era uma região delicada, e tinha que se certificar de que todos iriam se comportar, principalmente Arashi. Os grandes portões foram abertos por dois súditos, e eles puderam entrar no palácio real. Yodha liderou o caminho até a sala do trono, e quando chegaram, estavam de frente a vossa majestade. Ali estava Athena, com lindos cabelos negros e olhos azulados como gelo, vestindo roupas douradas com detalhes verdes, e uma tiára dourada. Estava ao lado do trono, que sentado nele, estava o próprio Eterno. O mais forte Saikai, o Rei dos Deuses. Tinha longos e ondulados cabelos brancos, olhos alaranjados, e uma requintada armadura dourada que brilhava constantemente.

— Fizeram um ótimo trabalho, Duque, Barão — vangloriou-os Eterno, e então eles fizeram reverência. Quando estavam prestes a sair, ele os impediu. — Não, não precisam nos deixar agora. Quero meus discípulos presentes para este… diálogo.

— Claro, vossa alteza.

Os dois se posicionaram em frente a entrada da sala do trono. Eterno deu-lhes um sorriso, e bateu as palmas.

— Perfeito. Athena, estes são San Hiroyuki, e seus aliados.

— San Hiroyuki? Então é ele… o garoto de cabelos ruivos. É um prazer estar diante de sua presença — saudou Athena, curvando-se.

— O… o prazer é todo meu…

— Vejo que está um pouco nervoso — disse Eterno, e então bateu duas palminhas no ar. — Tragam-nos quatro xícaras de chá, e uma mesa.

— À suas ordens. — Milan estalou os dedos, e uma mesa apareceu no meio do salão, com quatro xícaras acima. Ele se retirou, indo pegar o chá. Voltou em alguns instantes, e serviu-os.

— Obrigado, Duque — agradeceu o Rei, curvando levemente a cabeça, em respeito ao nobre Milan.

O momento ficou um pouco tenso, ninguém teve coragem de falar uma palavra sequer. Eterno estava esperando com que dessem um gole no chá, para que pudesse começar a falar. Athena estava com os olhos focados em San, e Kyoko a encarava de volta, na defensiva. Tinha medo que ela tentasse alguma coisa com o garoto. Os quatro tomaram um gole, e então Eterno deu um sorriso.

— Muito bem. Vejo que Aka está lhes dando trabalho até o momento… sinto muito pelos ocorridos em Londres. Ainda estamos tentando controlar essa ameaça.

— Aka? — perguntou San.

— Sim. Aka está perseguindo você faz um tempo, San. — Enquanto falava, ele pegou uma taça dourada com vinho, e deu um gole. — No caso, ele o persegue desde seu nascimento. Aka é um dos três Ghoul-Gêmeos, da era de Lity Numinor… Existe uma hierarquia entre os demônios, e os Ghoul estão no topo, abaixo de Lity. São três Ghouls, e eles são gêmeos. Apenas possuem cores diferentes… Estes são, Kuro: O Ghoul Negro, Shiroi: A Ghoul Branca, e Aka: O Ghoul Vermelho.

— Aka… mas como assim ele está me seguindo desde que eu nasci?!

— Ainda não descobriu, San? Todos os eventos até agora… o fato de vocês terem caído em Ice Rings, por um ataque repentino de Mysthrums… ou a estrela Zephyria em Nephthar, que cedeu ao pedido dos humanos por pura intuição? Acho que não… e agora Londres, um Mórtivus à solta exatamente no lugar de suas férias… Não acha tudo isso, um pouco estranho?

— Tudo isso… foi culpa do Aka…?

— Exatamente. Você foi amaldiçoado pelas trevas desde que nasceu garoto… Mas por algum motivo, Rahasya mudou seu destino, lhe enviando para a Luz. Você fugiu do seu próprio destino… você pode alterar ele. Quando você nasceu, Aka tentou lhe assassinar. Eu o impedi… usando a mais pura e radiante luz que as estrelas me proporcionaram. Eu consegui selá-lo por um certo período… mas ele despertou quando você entrou para a Infinity Astra. E agora, você corre perigo, pequeno…

San estava aterrorizado com o que ouvia. Seus olhos escancarados, sua boca aberta, seus ossos tremendo, enquanto sua mente processava tudo aquilo.

— Mas por que eu…?

— Ora, você ainda não descobriu? Então eu realmente fiz um bom trabalho…

Eterno levantou-se do trono, andou até San, e tocou seu pescoço levemente. A magia luminescente correu pelo ar até o pescoço do garoto, revelando uma marca antes ocultada por magia. A marca de um X, o elemento que mudaria todo o destino.

— Sabe o que representa… esta marca, San…? — perguntou Eterno, com um sorriso tranquilizante no rosto. Todos que estavam em volta se assustaram ao ver a marca. Arashi, Kyoko, Hifumi, Milan, Yodha e até mesmo Athena deram um passo para trás, boquiabertos.

— N-não…

— Este X… é marcado apenas no reencarnado de Lity Numinor, San.

A expressão do garoto ficou mais assustada ainda, o terror cobriu completamente seu rosto, seu corpo tremia mais do que nunca, e seu fluxo de respiração ficou instável.

— Você é… a atual reencarnação do Rei Demônio.

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

Ilustração da personagem Athena:

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