A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 30.2: Devastação Mental

Parte 2

 

No galpão, o medo já havia se dissipado. Todos presentes ali estavam com uma expressão um pouco mais relaxada, com exceção de Hifumi, que parou de caminhar de um lado para o outro, e agora estava parado em frente à entrada do galpão.

— O que foi agora? — questionou Gyokku, que estava dando mais energia para a pequena faísca mágica que pairava entre eles, iluminando um pouco o lugar escuro. — Você não está pensando em…

— Sim — interrompeu. — É isso mesmo que eu vou fazer, minha equipe continua lá fora! Não posso deixá-los prerambulando por aí com aquele tirano à solta.

— E o que você acha que pode fazer?! Seu imbecíl!

— Posso fazer o possível — respondeu, caminhando até a saída do galpão. Desta vez, estava com olhos determinados, e a chama acesa mais uma vez. — E não me sigam, este assunto é apenas meu. Permaneçam em segurança.

Ele cravou a ponta da espada no pequeno vão entre o portão e o chão. O vão foi criado a partir da parte amassada que ficou no portão, após Hifumi forçá-lo para abrir pela primeira vez. Então jogou o peso do corpo por cima da espada, como uma alavanca, e o portão se reabriu.

— Se cuidem, preciso salvar meus companheiros.

— Só não faça nada muito maluco…

Saindo do pequeno bosque em volta da cidade de Londres, estavam San e Kyoko. A garota já se sentia melhor, até porque não havia sofrido danos corporais, apenas ficou desacordada pela fumaça tóxica da lava. Mas mesmo assim, se manteve colada em San o tempo inteiro. Ela estava assustada com a terrível presença de um ser maligno nas redondezas. Porém, San não sentia nada. Estava se perguntando o porquê de Kyoko estar com tanto medo.

— Está tudo bem, Kyoko — disse, agachando-se um pouco para que ela pudesse subir em suas costas. — Temos que nos concentrar em encontrar os outros ainda.

Sem hesitar, Kyoko subiu nas costas de San, agarrando-se nele com firmeza. Adiante tinha um pequeno penhasco de pedras lisas, e San deslizou por ele até chegar no final. A garota nas suas costas apertou mais, com medo de cair dali. Chegaram ao chão, e então San se agachou novamente para Kyoko poder descer.

— Bom, voltamos a Londres — a cidade estava logo à frente, alguns passos depois do campo florido, que estranhamente estava bem destruído. Ocorreu algum confronto naquela região. — Que estranho… será que eles estão em perigo?

— O que você acha?! Olha só para aquela coisa ali! — exclamou Kyoko, apontando para as nuvens roxas no céu, que faziam um redemoinho em torno de um Sol avermelhado.

— Acho que você tem razão… não me parece muito comum — respondeu, apoiando os braços na cintura.

— Ei! — exclamou Kyoko, já um pouco atrás de San, voltando para as pedras do penhasco. — Esse aqui não é o Arashi?!

— O quê?! — San virou-se para ela, e se aproximou dos dois. Kyoko se agachou ao lado de Arashi, que estava repleto de ferimentos e cortes no corpo. Ele se encontrava desmaiado, com o corpo descansando sobre um dos pedregulhos ao pé da montanha.

— O que aconteceu com ele?

— Não sei… mas parece que foi grave.

Kyoko passou a mão sobre os ferimentos de Arashi, tentando sentir alguma coisa.

— Magia… mas não foi Alquimia…

— Magia? Então Arashi lutou com alguém…

Enquanto tentava distinguir que tipo de poder era aquele, Kyoko tomou um grande susto. Afastando-se por impulso, com um suspiro profundo.

— Que tipo de magia é essa?! Nunca vi algo desse tipo! — A Alquimia dourada que circulava nas mãos de Kyoko se agitou, e ela teve que cessar a magia. — É assustador… parece obra de algum demônio!

— Aquelas coisas gosmentas fizeram isso com o Arashi?!

— Não… não foram Falsos Demônios. Foi um demônio de verdade!

San tentou se aproximar de Arashi para analisar também, mas seus passos foram barrados pelo som dos arbustos se movendo ao lado. Os dois, Kyoko e San, armaram-se e encararam os arbustos. Tomaram uma expressão séria, preparados para qualquer coisa.

De dentro do arbusto, Hifumi saiu, tirando as folhas das vestes com as mãos.

— Achei que não os encontraria mais, onde é que vocês se meteram? — perguntou, virando os olhos para os dois. E então, notou a tragédia à sua frente. — Arashi?! Que aconteceu com ele?!

— Ninguém sabe, encontramos ele aqui agora também… Deve ter lutado contra algo poderoso.

Hifumi se aproximou lentamente, e conforme ele vinha chegando, Arashi ia retomando sua consciência. Abriu um pouco os olhos, e piscou duas vezes. Deu alguns gemidinhos, e então olhou para todos.

— Eu… perdi…?

— Realmente tentou um embate contra o Hawk sozinho, Arashi?! Está ficando maluco? Ele podia ter te matado… Na verdade, ele quase te matou!

— Hawk? Ah! Onde é que ele está? — perguntou Arashi, já se levantando imediatamente.

— Já deve estar bem longe daqui.

No domínio de Vorthis Crepitus, Lyra Thalassa se via presa. Imobilizada pelo medo que emanava de todas as partes. As ilusões, a realidade, nada fazia mais sentido. Tudo acabou se tornando um grande circo dos horrores, e ela agora era a peça principal.

— Eu realmente pensei que vocês me amassem… — começou ele, aproximando-se de Lyra com passos lentos, e as mãos juntas por trás das costas. — Mas você… é diferente. Tentou assassinar meu querido receptáculo…

— Meu Lorde… eu…

— Não, não, não, Lyra. Eu te entendo…

Vorthis puxou a varinha de Ishida, que estava guardada por dentro do manto escuro de bruxo. Balançou a varinha no ar, apreciando as pequenas faíscas negras que estalavam na ponta.

— Magnífico, não acha? Sempre quis usar uma dessas — disse, e então mirou a varinha para Lyra, que estava imóvel. Moveu um pouco a varinha para cima, e as entranhas no chão acompanharam o movimento, enroscando-se no corpo paralizado de Lyra. A mulher não teve reação, apenas olhava toda a situação com olhos desesperados e corpo trêmulo.

— Perfeito — começou, caminhando lentamente até Lyra. — Já que hoje se mostrou ileal a mim… acho que não merece esta marca, pequena…

No antebraço de Lyra, havia uma marca em V. Era o símbolo de lealdade pura ao Vorthis Crepitus. Símbolo esse, dado apenas aos Mórtivus.

— Não… — ela tentou resistir a calamidade. — NÃO!

Lyra despertou do transe, libertando seu corpo da tremedeira. Ergueu novamente as asas negras e gosmentas, que repeliram as entranhas em volta de Lyra quando se abriram. Ela levantou voo rápido, e se distanciou ao horizonte do domínio.

— Imponente como de costume, pequena…

Ele não tentou a perseguir com as asas de dragão que Ishida tinha, mas também não a deixou em paz. Lyra foi voando, mas a infinidade daquele domínio continuava se estendendo por todo o caminho. Paredes de carne, e era tudo o que tinha. Logo atrás de Lyra, pequenos olhos com asinhas negras vinham voando para alcançá-la. Eles eram rápidos, tão velozes quanto a própria mulher.

— Que inútil… — disse Vorthis, sentindo a localização de Lyra em seu plano.

Os olhos voadores estavam quase alcançando-a, até que ela mudou a direção do voo com uma manobra no ar, voando na direção contrária dos olhos. Eles continuaram indo para frente, e não tentaram seguir Lyra novamente. Ela continuou tentando fugir, mas quando menos percebeu, uma lombriga carnuda gigantesca saiu do chão, pronta para devorar Lyra com seus dentes grotescos. Lyra passou direto, aumentando a velocidade, e a lombriga gigante abocanhou apenas o vento.

Conforme Lyra ia avançando, notou que as paredes carnudas iam se comprimindo gradualmente, como se quisessem aprisioná-la ali. Ela não tinha saída alguma, e sequer sabia se aquilo tudo era real. Tudo que podia fazer era fugir, gritar, mostrar para ele o quão desesperada ela estava. E era exatamente isso que o animava.

“Para onde está indo?” A voz de Vorthis ecoou por todo o domínio.

“Você não tem mais sua flauta… o que você pode fazer?”

“Você não pode fazer nada.”

Lyra ignorou, e continuou voando com tudo que podia.

“Você, não é nada.”

As paredes continuaram se reprimindo, até que não houvesse mais espaço para voar. Ela pousou sobre as entranhas, enquanto tudo continuava a reprimindo naquele pequeno espaço. As paredes a apertaram, seu corpo ficou agachado, comprimido, agonizado, sem esperanças, só vazio.

Mas quando já estava tudo acabado, sentiu seu corpo ser acolhido de um modo aconchegante. Eram os braços de Vorthis — no corpo de Ishida — abraçando a mulher. Ela ficou completamente arrepiada, e seus olhos se arregalaram.

— É difícil… eu sei a sensação… — disse, passando uma mão sobre o antebraço dela, removendo a marca de Mórtivus. — Chore…

Imediatamente, Lyra começou a chorar. Abraçou-o de volta, com o coração disparado em desespero.

— Lorde Crepitus… eu juro que…

— Não, senhorita Thalassa… eu reconheço… — agarrou as costas dela com mais firmeza. — Tudo vai se acalmar…

O coração de Lyra estava quase pulando para fora, seu peito inchando, sua cabeça doendo, seus olhos ardendo, sua mente se estilhaçando em pequenos fragmentos. Fragmentos, já sem nada.

— Quando sua alma apodrecer.

Essas foram as últimas palavras proferidas por Vorthis, antes que o corpo de Lyra fosse completamente dissolvido em gosma negra. Ela teve um último grito final, repleto de agonia e arrependimento.

— Assim como teve uma morte terrível, sua vida também foi desprezível… foi belo lhe assistir até este ponto, Lyra Thalassa.

A gosma continuou escorrendo pelo chão, porém, Londres continuou com o mesmo caos após Lyra ter sido morta. Vorthis notou tudo aquilo, com um olhar de desgosto.

— Não permiti que usasse meu poder para tais ilusões — disse, brandindo a varinha de Ishida, e apontando para o céu arroxeado. Liberou um estrondoso feixe amaldiçoado, que se estendeu até o pico das nuvens. A listra negra-esverdeada foi visível em todos os pontos da cidade, mesclando-se com as nuvens, deixando-as completamente negras. O ciclone que as nuvens formavam se dissipou, ofuscando o Sol vermelho.

— O que… tá acontecendo agora? — perguntou Gyokku, observando tudo pelo portão do galpão.

— Estamos acabados — comentou Yami Hikari, soltando um suspiro ao fundo.

A distorção na realidade parou, os prédios voltaram ao normal, a cidade foi se reconstruindo sozinha, e uma barreira que cercava a cidade foi quebrada. Nada daquilo era real, era apenas o domínio de Lyra, que persistiu mesmo após sua morte. O hotel em que estavam hospedados também desapareceu completamente.

— Assim fica mais belo…

Vorthis estava observando as mudanças na cidade do topo de um prédio, até que ouviu uma voz bem abaixo, vindo das estradas. Era um garoto de cabelos alaranjados e olhos roxos, que aparentemente estava o desafiando.

— O que você pensa que está fazendo, San?! — exclamou Hifumi, que espreitava por detrás de um caminhão.

— Buscando nosso Ishida de volta — respondeu San, decidido. — E não vai ser esse lunático que vai tirá-lo de nós!

Vorthis, vendo a coragem do garoto, e notando que ele não sentia um pingo de medo mesmo perante ao Lorde, ficou admirado. Sua presença avassaladora não afetava o garoto, mesmo estando próximos.

— Impressionante, San Hiroyuki… — disse, descobrindo o nome de San apenas ao olhar para ele. San cerrou os punhos, e focou seus olhos em Vorthis.

— Veremos do que é capaz.

Com a varinha de Ishida em mãos, fez um movimento circular no ar. Os rastros amaldiçoados deixados pela ponta da varinha formaram um círculo, e Vorthis posicionou uma mão acima dele. O gesto energizou aquela pequena argola, e um pentagrama foi canalizado. San se preparou para o ataque, e Hifumi tentou impedir, mas seu medo foi maior que sua coragem.

A energia amaldiçoada completou o pentagrama, o que fez com que ele descarregasse uma quantidade imensa de energia para cima de San, que observava no meio da estrada. Aquele feixe gigante veio para cima, e quando estava quase o tocando, San brandiu uma espada composta por fogo puro, e a energia amaldiçoada foi repelida para várias direções, mas não acertou o garoto.

Os olhos de Vorthis se arregalaram um pouco, e ele continuou liberando o feixe. San deu alguns passos para frente, com a espada em chamas na mão, segurando-a como uma tocha que repelia a escuridão.

— Aquilo… é fogo…? — perguntou Kyoko, ficando boquiaberta.

— San, você despertou a natureza da sua magia… — murmurou Hifumi, observando San com orgulho.

— Que magia predominante, Hiroyuki — comentou Vorthis, abrindo um sorriso. — Em milhares de anos, esta é a Alquimia mais pura que já vi.

A rajada amaldiçoada parou, e o pentagrama se dissipou perante Vorthis. San o encarou nos olhos, e aquele foi o maior erro que cometeu. Os olhos avermelhados de Vorthis davam um efeito parecido com os de Tsukasa, porém, mais forte. San começou a ficar tonto, e sua visão embaçou.

— Não aguenta olhar nos meus olhos…? Hah, por um instante tinha te achado interessante.

Não demorou muito, e San desmaiou, caindo de costas no chão. Vorthis gargalhou no topo do prédio, e Hifumi acompanhado por Kyoko e Arashi se aproximaram. Os dois seguraram San, desesperados, e Vorthis ria sozinho ao observar a cena.

Mas, uma luz rodeou os quatro. Era uma luz dourada, e familiar. A magia de Milan Hoffmann. Os quatro foram teleportados para outro plano, com o auxílio da luz. Vorthis franziu a expressão, reconhecendo aquele poder.

— Não é à toa que o chamam de Viajante da Luz…

Thomas estava bem distante de Londres, observando sobre o pico de uma montanha. O garoto achou um pouco estranho o domínio da Mórtivus ter sido quebrado de repente. Mas o que não esperava, era que uma companhia repentina apareceria, para lhe cumprimentar.

— Observando a vista, Thomas? — perguntou uma voz bem familiar. Thomas olhou para trás, e ali estava Tsukasa Hayami, caminhando até ele.

— O que você quer?

— Estou apenas passando por aqui, enquanto observo o lacaio dele admirar o caos — explicou Tsukasa, com uma expressão de calmaria.

Humpf… — resmungou Thomas, cruzando os braços, e se recostando a uma árvore.

Tsukasa o encarou, bem no fundo dos olhos, e sua expressão ficou um pouco mais séria.

— Por que se juntou a Infinity Astra afinal? — perguntou, encarando-o friamente.

— Você já deveria saber, seus motivos também são divergentes — respondeu Thomas, o encarando de volta, no fundo dos olhos.

— Não era isso que eu queria ouvir… — disse, numa tentativa de intimidar Thomas.

— Seus olhos não põem medo, Tsukasa.

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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