A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 30: Devastação Mental

Parte 1

O caos instaurado em Londres não cessou, porém, as coisas estavam começando a ficar sob controle. Os Falsos Demônios espalhados pela cidade foram abatidos, e não estavam sendo criados novamente pela Mórtivus que tocava a flauta. Aquela sinfonia melancólica corroía a mente de quem ouvia, fazendo de Ishida, a pior vítima até então. Seus tímpanos já não suportavam mais aquela melodia, e o pequeno bruxo já estava com as forças esgotadas, quase caindo de joelhos perante a mulher misteriosa.

Ishida estava ofegante com as mãos apoiadas nos joelhos, enquanto encarava a situação sem saber mais o que fazer. A ponta de sua varinha já se via completamente queimada pelo uso da magia consecutivamente. O desgaste só fazia com que sua alquimia se propagasse com menos vigor.

Apertou os olhos por um instante, tentando resistir à dor que seus ferimentos lhe causavam.

— Alguém… me ajuda… — murmurou para si mesmo, com a visão embaçando, e a tontura aumentando.

A Mórtivus não parou, continuou tocando a mesma melodia com a flauta dourada que tinha em mãos, e mais três monstros gosmentos surgiram do terraço do hotel. Ishida não tinha mais o que fazer, estava cansado e completamente acabado.

“Calma… você só precisa se acalmar.” pensou, focando o olhar no bicho que estava à sua frente. “Só precisa… confiar!”

Re-ergueu sua varinha, fez um movimento giratório no ar com a mesma, e uma faísca de magia ascendeu bem na ponta. Jogou o braço para frente, apontando a varinha ao monstro. O pequeno brilho mágico aumentou, e um feixe de Alquimia dourada saiu da ponta da varinha, atravessando o corpo do demônio e seguindo em direção a Mórtivus que estava no fundo. A mulher abriu os olhos, parou de tocar a flauta, e movimentou-a rapidamente no ar também, assim como Ishida tinha feito. Uma faísca se acendeu na ponta da flauta, e o pequeno feixe amaldiçoado saiu por ela, de coloração negra esverdeada.

Os dois feixes, mágico e amaldiçoado, colidiram no ar. O impacto resultou em uma explosão de alquimia no centro da área, e os dois ataques disputaram um contra o outro para avançar. Mas Ishida já estava fraco, e não tinha energia o suficiente para manter aquele ritmo. O feixe amaldiçoado da Mórtivus atravessou como um raio a Alquimia dourada de Ishida, e acertou diretamente o garoto no peito.

Arh! — gemeu, sentindo o impacto da energia consumindo seu corpo por dentro. Ishida foi repelido para trás, caindo para fora do prédio.

Sentiu o vento bater contra seu corpo à medida que caía daquela altura, e o veneno daquela maldição começou a se alastrar pelo seu corpo. Ele ainda não tinha sido atingido diretamente por energia amaldiçoada.

Enquanto caía, um portal gosmento se abriu abaixo, e ele foi engolido no ar. A passagem o trouxe de volta para o topo do hotel, mostrando que a mulher não tinha só controle de Londres, como tinha controle até mesmo do espaço presente ali.

O garoto caiu de bruços ao chão, com o corpo dolorido e os braços tremendo ao tentar se levantar. Conseguiu apoiar-se parcialmente, e deu um olhar direto para a Mórtivus de novo. Ela mantinha um sorriso meigo no rosto, que só demonstrava o quão cruel aquela pessoa era.

“Tão… distante…” ele já estava sem esperanças.

“Garoto.” ecoou uma voz em sua cabeça. Ishida reconheceu na hora, e já franziu a expressão.

“Durma…”

A visão de Ishida apagou-se por completo após ouvir a palavra. Seus braços ficaram dormentes, e ele já não sentia mais nada. Nem dor, nem desconforto, e nem formigamento nas veias pela maldição. Seus cabelos ficaram completamente negros, e seus olhos adotaram um tom avermelhado vivo. Apoiou-se em um dos joelhos, e ficou de pé mais uma vez. A expressão estava neutra, olhando para baixo. A Mórtivus não compreendia, ele já estava derrotado. Ou pelo menos, era para estar. Mas logo entendeu o que aconteceu, quando sentiu a presença majestosa perante a ela.

Aquele que porta o Coração Amaldiçoado, tem o poder para destruir os sonhos de quem sorri pela manhã. Aquele à sua frente não era Ishida Majutsu. O ar ficou frio, e o domínio da mulher começou a se distorcer. O ambiente ficou completamente roxo, os prédios se contrairam como ilusões, gritos ecoavam por todas as direções, e o olhos arregalados emergiram entre as nuvens, encarando todas as almas suculentas abaixo.

A entidade adiante aproximou-se com lentos passos da Mórtivus, e ela lentamente começou a sentir o terror que emanava naquele lugar.

Lyra…

A Mórtivus deu um passo para trás, e sua expressão começou a mudar. Alternando lentamente de confiança, para desespero.

Lyra… — dizia a entidade, se aproximando lentamente a ela. Dava pequenas risadas contidas, ainda de cabeça baixa.

— É um prazer revê-la.

— Lord Crepitus…? — perguntou Lyra, em um tom tão baixo que só ela pôde ouvir. Mas Vorthis pôde entendê-la pelo movimento de seus lábios.

— No que estava pensando, Lyra Thalassa… desafiando o meu receptáculo?

O ambiente à volta começou a ficar completamente distorcido. Os olhos entre as nuvens olhavam para todas as direções, adornados em pavor. Lyra ficou completamente paralisada, e sua flauta caiu sobre o terraço. Ela estava em choque total.

Vorthis aproximou-se da flauta, e pisou com tudo em cima dela, partindo-a ao meio. Foi liberada uma enorme onda amaldiçoada, que se abalou todo aquele bairro. Vorthis inalou a Alquimia das Trevas com vontade, satisfazendo-se com o cheiro de maldição.

— Me diga… — a distorção mental na visão de Lyra era tanta, que para ela, haviam quatro Vorthis à sua volta. Um deles curvou um pouco o corpo para observá-la, e em sua visão, aquele Vorthis esticou completamente o corpo, curvando-se até ficar a milímetros de distância ao rosto de Lyra. — Qual o seu pesadelo… mais infeliz?

Lyra não teve coragem de responder. Seu corpo tremia, e era incapaz de se mover. O frio do ambiente penetrava em sua consciência, congelando seu cérebro por dentro. Vorthis aproximou as duas mãos de Ishida para tocá-la, e então a olhou no fundo da pupila.

Você está com medo?

Um sorriso diabólico crescia na expressão terrível de Vorthis naquele momento. A simples face de Ishida, na posse daquela entidade, era a pior coisa que Lyra já viu na vida. Preferia morrer do que enfrentar aquilo que estava à sua frente.

No centro de Londres, todos viam o caos que se instalava naquele local. Os prédios destruídos começavam a se distorcer, olhos saíam de dentro das nuvens, encarando cada um que estava reunido naquele meio. Um ambiente completamente roxo, e o frio que consumia cada alma ali presente.

— A gente tem que… sa… sair daqui… — gaguejou Wei, com os braços encolhidos contra o peito. Ele tremia como uma galinha.

Minami, Gyokku e Hifumi observavam o ambiente, enquanto sentiam a presença predominante no topo do hotel. Não haviam dúvidas, aquela era a presença assustadora do Rei dos Pesadelos. Aquele aclamado como Lord Crepitus.

— Wei está ficando desestabilizado… o que fazemos, Hifumi? — perguntou Gyokku, ao Hifumi, que era o mais experiente entre os líderes.

— Não podemos fazer nada. Se aquele for realmente ele… então temos que nos esconder daqui, antes que danos graves ocorram nas mentes dos menos preparados… como o próprio Wei. Ele já está sendo afetado.

— Entendido. — Minami acenou com a cabeça, e então se virou para todos reunidos naquela estrada. — Formação! — todos se juntaram organizadamente, prontos para receber as próximas ordens. Alguns estavam feridos, como Sakura e Yami, que mal conseguiam andar após todo o embate.

— Temos que evacuar Londres. Não há motivos para nos expormos a todo esse risco — anunciou Hifumi, tomando liderança.

— Mas e quanto ao Ishida?! — exclamou Yui, preocupada com seu novo aliado.

— Não podemos fazer nada. Ele é o portador, provavelmente não vai morrer. Nossa prioridade agora é sairmos em segurança, nós não somos adequados para esse confronto, vocês me ouviram?!

Yui ia tentar argumentar contra, mas de repente, sentiu uma tontura sem igual, acompanhada por uma dor de cabeça imensa. Seu estado mental estava piorando, e os rostos de seus aliados começaram a se distorcer, deixando-os irreconhecíveis. Segundos depois, ela desmaiou, caindo nos braços de Hifumi.

— Merda, ela não aguentou a calamidade! Vamos nos apressar! — exclamou, apoiando o corpo da garota sobre o ombro. — Vamos encontrar um edifício aparentemente seguro… não podemos deixar a cidade ainda.

Seguindo as ordens de Hifumi, todos andaram em conjunto. Seguindo uma formação liderada por Minami, enquanto Gyokku tomava a retaguarda. Era uma situação crítica, e Hifumi ainda tinha algo a fazer antes de partir. Carregando o corpo de Yui, se acendeu uma pequena chama em seus olhos. Ele estava começando a ficar irritado sem motivo algum.

Caminharam por minutos, até alcançarem um galpão intacto na cidade. Ele estava fechado, mas isso não era problema. Hifumi deu o corpo de Yui para Namida, que a segurou firmemente. Pela primeira vez, Namida não estava nada tranquilo. Hifumi aproximou-se do galpão, e enfiou a ponta de sua espada por baixo do portão, criando uma espécie de alavanca. Pressionou-a para baixo com o peso de seu corpo, e o portão lentamente foi levantando. Gyokku também ajudou, quando a passagem estava semi-aberta, usou força bruta para terminar abrí-la por completo. Todos entraram para dentro, e então Gyokku fechou o portão.

O local estava bem escuro pela falta de iluminação, pois a fiação da cidade foi completamente derrubada. Não tinham janelas, então o galpão estava afundado na escuridão total.

Sakura esforçou-se para canalizar mais um pouco de Alquimia, e usou a magia para criar uma faísca flutuante no ar. A pequena faísca brilhou em um tom dourado, iluminando um pouco o galpão. Os mais feridos se sentaram no chão e descansaram, pois a calamidade gerada por Vorthis não impactava tanto aquele lugar isolado.

Wei foi recuperando a sanidade, e então se aproximou de Namida, que carregava sua irmã Yui nos braços. Wei acariciou os cabelos de Yui lentamente para acolhê-la enquanto estava desacordada. Namida, vendo isso, acariciou também.

Sakura tirou uma garrafa de água da bolsa que carregava, e começou a beber sem parar. Ela bebeu a garrafa quase inteira, e depois ficou ofegante. Yami sentou-se ao lado de Minami, enquanto ainda encarava a pérola corrompida que tinha em mãos.

— Ainda está com essa coisa? — perguntou o líder, acariciando os cabelos da garota.

— Seria um desperdício se eu só jogasse fora… podemos tentar estudar essa coisa, não acha?

Hum… — ele desviou o olhar para a pequena faísca que iluminava o galpão. — Sua paixão por conhecimento me deixa admirado, pequena.

Hifumi andava de um lado ao outro pelo galpão, inquieto. Alguma coisa perturbava seus pensamentos.

— O que foi, Hifumi? — perguntou Gyokku, cruzando os braços.

— Ainda falta o Kisaragi e a Kyoko… e o resto da minha equipe. Arashi foi sozinho atrás de Hawk… aquele idiota… nem vi o Tsukasa desde que retornamos. Também não vi o San… e o Thomas também não. Minha equipe simplesmente desapareceu.

— Thomas e Tsukasa sumiram desde o início. Não vimos nenhum dos dois já faz um bom tempo… — explicou Namida, acolhendo Yui junto de Wei. Hifumi soltou um suspiro, mas compreendeu a situação.

— Entendo…

No topo do hotel, Lyra continuava a encarar Vorthis atentamente. Sua face se aproximava cada vez mais, com o mesmo sorriso perturbador. As mãos que apertavam o rosto de Lyra aumentaram a pressão, prontas para esmagar a cabeça da garota. Quando sentiu a dor daquele aperto, a mulher voltou à realidade.

Com um chute, empurrou o corpo de Ishida dominado por Vorthis, e se afastou com as asas gosmentas. Sobrevoou o hotel, enquanto Vorthis distorcia a própria expressão, em desaponto.

— Não gostou do meu carinho, Lyra…? — perguntou, de jeito sarcástico. — Você sabe que sempre foi minha favorita…

— Não! Sai daqui! — lágrimas apareceram, preenchendo os olhos de Lyra. Ela estava desesperada, e sua vontade era apenas desaparecer. Não se importava mais em ser leal a ele, seu pavor era maior que seu raciocínio.

— Não quer um abraço? — perguntou, abrindo os braços para ela. Os três Falsos Demônios que ela havia conjurado com a flauta no topo do hotel viraram-se contra ela, abrindo os braços sincronizadamente com Vorthis. — Pensei que vocês me amavam…

Os pesadelos adornavam a mente de Lyra, ela ouvia vozes por toda parte, miragens adornavam o horizonte, e criaturas terríveis apareciam à frente, mas eram ilusões. Porém, quando tentou passar por dentro de uma das ilusões, esta a atingiu em cheio, jogando-a para baixo no ar. Lyra já não sabia distinguir o que era real ou não.

— Tentando brincar comigo, Lyra? — perguntou, com um sorriso melancólico no rosto. — Não é sua primeira vez nesse lugar…

A realidade se distorceu completamente, e Londres desapareceu. Só restou um caminho coberto por carne viva, que se mexia e contraia constantemente. Às paredes do local eram feitas de carne, e olhos a observavam de todos os lugares: Paredes, chão, e teto que também era coberto por entranhas.

As estranhas no teto chacoalhavam como cobras, emitindo o som de uma cascavel. A carne e órgãos no chão também se mexiam, como lombrigas e lesmas vivas. Aquele lugar estava muito além da realidade, era um verdadeiro pesadelo. O domínio de Vorthis Crepitus.

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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