Volume 1 – Arco 4
Capítulo 29: Asas Através da Tempestade
Ali estava Hifumi, no alto de um grande prédio em Londres. Uma cidade que estava afundada no caos e no desespero. Edifícios destruídos, destroços de carros e madeira pela cidade, gosmas deixadas pelos Falsos Demônios que foram abatidos, e o mais predominante entre todo aquele cenário: Um redemoinho entre as nuvens roxas que cobriam o céu. No centro do redemoinho, o único local que não era completamente ofuscado pelas nuvens, ali jazia o semblante de um sol completamente avermelhado.
No prédio adiante, estava Hawk, estrategista da Nakamori. Os dois se entreolhavam conforme o vento balançava seus cabelos. O capuz de Hawk parecia estar grudado em sua cabeça, pois nem o vento era capaz de derrubá-lo, mesmo correndo contra o capuz do garoto.
Hawk não estava focado em Hifumi, na verdade, os olhos vermelhos que brilhavam através da máscara estavam focados no grande hotel em que todos estavam hospedados no começo das férias. Ele podia sentir a presença do Mórtivus portador da flauta, acompanhada de uma segunda aura, que lutava contra as forças malignas.
— Ali… — murmurou uma voz grave, abafada pela máscara negra presa ao seu rosto.
Hifumi brandiu a espada, preparando-se para confrontá-lo. Mas Hawk o ignorou, e virou-se na direção de um bosque que ficava além da cidade. Firmou os pés no chão, e com um arranco, seu corpo desapareceu, tornando-se apenas um vulto veloz que avançava entre os destroços dos prédios.
Hifumi o observou se distanciar, enquanto embainhava a espada novamente.
— Merda…
O vulto negro passou habilmente entre os prédios, saindo da cidade e alcançando a entrada do bosque. Antes das árvores, havia um pequeno campo, coberto por flores amarelas. Hawk passava por ali em velocidade extrema, e acabava levando algumas pétalas na pressão causada pelos seus movimentos. Porém, toda aquela agilidade foi barrada pelo som de eletricidade que se aproximava ao horizonte.
O mundo na visão de Hawk ficou mais devagar, enquanto ele lentamente virava sua cabeça em direção ao som de eletricidade. Era uma katana envolvida por raios, que aproximava-se girando no ar. O mascarado parou de se mover com um freio forçado, e inclinou a cabeça para trás. A ponta da lâmina envolvida por eletricidade passou tão perto de sua cabeça, que tocou levemente sua máscara, deixando um pequeno arranhão.
Quando a katana passou, aos olhos do garoto, o mundo voltou a sua velocidade normal. A katana seguiu voando para longe, até que um raio que vinha dentre as árvores a agarrou. Não era um raio comum, era o rastro deixado por alguém com tamanha eletricidade envolvendo o corpo. Este era Arashi Hayami, que ao pegar a katana fez uma pequena manobra para firmá-la em sua mão. Apontou-a ao Hawk, desafiando o perigo iminente.
— Então você é o tal do Hawk que o Hifumi fala tanto? — perguntou, em um tom caçoado. Hawk não respondeu, apenas o encarou de volta por um tempo.
O vento soprou mais forte, e as folhas das árvores balançaram com mais vigor. Arashi, com uma gota de suor descendo pelo rosto, engoliu seco enquanto tentava desviar o olhar da face daquele garoto à sua frente. Mas Hawk não esperou que ele fizesse o primeiro movimento. Logo ergueu uma das mãos, que estava envolvida por uma luva negra, com uma espécie de reator no centro.
O reator emanou uma energia atômica, e após alguns segundos, descarregou tudo em uma grande rajada que alastrou-se pelo ar, destruindo parte do solo no caminho. O ataque aproximava-se rápido, e alcançou o rosto surpreso de Arashi.
A rajada atravessou prédios, árvores, tudo pela frente. E quando a energia da luva cessou, o ataque se encerrou. Mas ainda não havia acabado, Arashi apareceu como um raio do horizonte, avançando em poucos milésimos até alcançar Hawk com sua katana. Brandiu-a, e então desferiu um corte. Hawk tinha um bom reflexo, e pôde segurar o fio da lâmina com a mão erguida. A luva era rígida como aço, e uma mera katana não era suficiente para rasgá-la.
Segurando a lâmina, Hawk puxou Arashi para perto e então desferiu-lhe um chute na barriga. O garoto contraiu o corpo com o impacto, e Hawk usou a outra mão para golpeá-lo no rosto, jogando Arashi um pouco para trás. O garoto logo se recompôs, e ergueu a lâmina, preparado para atacar novamente.
Hawk, que também era veloz, materializou duas lâminas vermelhas de cristal nas mãos, e repeliu o corte de katana que Arashi executou. Se iniciou ali, uma espécie de batalha de esgrima. Hawk dava passos para trás, enquanto Arashi o perseguia dando golpes com a katana, mas Hawk podia repelir todos. O som das lâminas colidindo ecoava inúmeras vezes.
Conforme o embate ia se estendendo, a velocidade que os dois contra-atacavam aumentava. Os movimentos de Arashi já eram tão rápidos, que estavam sendo adornados por um rastro elétrico. Enquanto as mãos de Hawk se mexiam tão rápido, que apenas os vultos dos movimentos eram visíveis. E com um corte poderoso, Arashi encerrou o embate. Hawk repeliu esse também, mas o corte teve pressão o suficiente para jogar os dois para um pouco longe.
— Tonitrua Leporum! — proferiu Arashi, enquanto se distanciava no ar, com uma mão estendida. A palma de sua mão iluminou-se com eletricidade, e várias linhas elétricas emergiram de sua mão, seguindo até Hawk com velocidade.
Ele não ficou parado, e do chão à sua volta, estacas de cristal emergiram e cobriram seu corpo. As linhas elétricas colidiram com o cristal e não causaram dano algum. Mas quando todas se foram, os cristais se ergueram do chão e flutuaram no ar, controlados por Hawk. Ele apontou para Arashi, e os cristais voaram até ele em sequência.
O garoto pulou através de um, com a eletricidade teleportou-se para o outro, deixando um rastro entre os dois, e então saltou por cima de mais dois, desviando do último no ar. Com a katana em mãos, ele mergulhou a ponta da lâmina sobre Hawk, que colidiu com a lâmina de cristal portada pelo inimigo.
Arashi continuou forçando a ponta da katana contra a lâmina vermelha, mas sem sucesso. Hawk ainda tinha uma segunda lâmina, e Arashi tinha baixado a guarda. O garoto mascarado apunhalou-o pela costela com a segunda lâmina, fazendo Arashi cuspir um pouco de sangue. Olhou para Hawk com olhos furiosos, mas isso não lhe causou medo algum.
Arashi se afastou com um salto para trás, fazendo com que a lâmina vermelha saísse de dentro do seu corpo. Hawk criou mais estacas de cristal no chão, estas adornadas por uma crosta de aço negro com listras alaranjadas brilhantes. Arashi saltou entre os cristais que tentaram acertá-lo, e foi subindo entre eles.
Os cristais adornados por aço perseguiram o garoto enquanto ele subia na extensão de um deles, e quando chegou no topo do cristal, saltou no ar com uma manobra. Mas o que não esperava era que todos os cristais fixados no chão se ergueriam até o ar, flutuando atrás de Arashi.
Os cristais o cercaram, fincando em seu corpo em cada uma das direções. Ele ficou preso, pairando junto aos cristais. Deu um gemido de dor, e então notou que as listras alaranjadas no aço aumentavam gradualmente seu brilho, e percebeu que agora corria perigo.
Hawk apenas observava, e com um estalo, os cristais se energizaram e então explodiram no ar. A explosão balançou agressivamente as árvores do bosque ao fundo, e levou várias flores do campo para os ares. Os cabelos de Hawk cintilavam com a explosão, mas seu capuz não foi derrubado.
Quando a energia liberada pela explosão cessou, e o vento parou de correr, Hawk continuou em alerta. Sabia que Arashi não cederia tão facilmente. E estava correto, logo viu um brilho azul clareando as árvores do bosque ao fundo, e aumentando gradualmente.
— Furia Dei Tonitrui! — gritou Arashi, dentre as árvores do bosque. Uma lança repleta de eletricidade aproximou-se com um estrondo, cortando o ar no caminho, e criando um vácuo pela pressão que vinha. As árvores abriram caminho para a lança, que foi lançada em direção a máscara.
Hawk moveu o rosto para o lado, apenas alguns centímetros. Já foi suficiente para sair do caminho da lança, que passou bem ao lado do rosto de Hawk. Mas a pressão que ela vinha era tanta, que acabou arrastando o garoto junto do vácuo causado pela lança. Hawk foi arrastado até o primeiro prédio visível, e quando a lança colidiu-se com ele, cinco raios emergiram das nuvens, caindo logo acima de Hawk. O impacto causou uma cortina de fumaça, e Arashi, com o corpo sangrando, vinha caminhando para observar o resultado de seu feitiço.
Por um momento, pensou que havia derrotado o inimigo. Mas suas esperanças foram contrariadas pelo brilho que surgiu entre a fumaça. O brilho alaranjado cresceu, e mais uma rajada atômica gigantesca foi liberada das luvas de Hawk. A rajada se aproximou até Arashi, e ele ergueu duas mãos para frente. A eletricidade cobriu seus braços inteiramente, e seus brincos e olhos iluminaram-se com a fúria do trovão.
— Casus Tonitruorum — disse, com os dentes cerrados pela fúria. De seus braços, a energia correu das veias até o centro das mãos. E toda a eletricidade foi liberada de uma vez, em uma rajada estrondosa, equivalente a que Hawk estava desferindo.
As duas rajadas colidiram, atômica e elétrica. A disputa de poder iniciou, e agora os dois teriam que resistir. Após um tempo forçando sua energia, Arashi percebeu que estava fraco. Ele perderia o embate se continuasse. Então mudou de estratégia, e cessou sua rajada. Mas para a sua surpresa, Hawk também cessou ao mesmo tempo, restando apenas a fumaça dos dois ataques.
Nenhum dos dois perdeu tempo, e avançaram sincronizados. Os dois vultos, o elétrico e o negro se aproximaram, e colidiram com as lâminas novamente. Arashi usou o braço de Hawk como apoio, e saltou ao ar dando um mortal. Cravou sua katana ao solo quando caiu, liberando mais um feitiço.
— Formicae Tonitruantes! — recitou, e a lâmina cravada no chão tomou uma coloração azulada. O relâmpago que vagava pelo metal fundiu-se ao solo, alastrando por todo o campo. Era uma rede elétrica que envolvia o solo, e Hawk deu um salto no ar ao notar isso.
Arashi estava ficando sem eletricidade restante, então logo parou o ataque. Percebeu que o próximo movimento, tinha que ser definitivo. Pegou sua katana mais uma vez, e antes que Hawk pudesse tocar o chão, avançou em direção ao garoto. O som das lâminas colidindo ecoou novamente, e os dois começaram a se movimentar.
Correram pelo campo, contornando todo o caminho que percorriam. Formando um círculo, e eles corriam em sentido circular para ser mais difícil de serem atingidos. Hawk ia em sentido horário, e Arashi em anti-horário. Os dois estavam no mesmo círculo, e colidiam as lâminas toda vez que se encontravam no caminho.
O vento foi acompanhando os movimentos circulares, que logo foram aumentando a velocidade. Chegou a um ponto tão absurdo, que um tornado começou a se formar no centro do círculo. Notando isso, Hawk adicionou energia atômica no vento pela sua luva, dando energia ao tornado, tornando-o atômico também.
Arashi agora estava encurralado, pois o tornado crescia cada vez mais perante eles. Ele não tinha mais tempo, sua eletricidade iria se esgotar, então fez seu último movimento. Avançou no centro do tornado, e então subiu ao topo, usando as pedras levantadas pelo vento como apoio.
Já bem no alto, canalizou uma última lança de eletricidade nas mãos, e desceu do céu do tornado até o solo, como um relâmpago. Quando estava prestes a fincar a lança no solo, recitou:
— Fulmen Caeli! — proferiu, e então cravou sua lança sobre o solo. Um trovão gigantesco caiu no centro do tornado, destruindo todo o solo ao redor, e levantando as pedras consigo. Não era um trovão comum, era uma rajada celeste. Um ataque gigantesco, que consumiu o tornado atômico, e todo o campo à volta por eletricidade.
A rajada celeste desapareceu, junto do tornado. O campo antes florido agora era irreconhecível. Várias pedras erguidas do chão, formando rachaduras que levavam até um ponto central: O local em que Arashi cravou sua lança. O garoto estava de pé ali, sem mais nenhuma eletricidade acumulada nos brincos. Ofegante, e cuspindo um pouco de sangue também.
Dessa vez, realmente tinha acabado. Olhou para o céu, e sentiu o vento bater em seu rosto, com um sorriso para as nuvens. Mas isso era apenas o que Arashi pensava. A presença assustadora de Hawk logo engoliu o peso do ar, e Arashi sentiu uma leve respiração passar sobre seu pescoço. Era Hawk, observando-o por trás, com um olhar assassino. A máscara estava intacta, e o manto negro também.
Arashi olhou para trás, com um susto, e Hawk apunhalou-o com a espada. Chutou Arashi para longe, e o perseguiu enquanto cortava a extensão de seu corpo com as duas lâminas ao mesmo tempo. Quando o impulso de um golpe acabava, Hawk dava mais um chute para fazer Arashi voar novamente, conforme tinha o corpo mutilado.
Eles seguiram nesse ritmo por um tempo. Arashi voava com o impulso dos chutes de Hawk, e enquanto era jogado para frente, o mesmo cortava o corpo do garoto com as duas lâminas. Assim foi indo até que Arashi colidisse com um pedregulho de uma montanha.
Hawk aproximou-se dele com lentos passos, e colocou a ponta da lâmina abaixo de seu queixo.
— Precisa treinar mais, Arashi… vai acabar se machucando — disse a voz abafada pela máscara. A visão de Arashi foi ficando borrada, e ele sequer era capaz de ouvir mais nada. Seu corpo descansou sobre o pedregulho, e Arashi havia sido derrotado. Hawk não o finalizou, e apenas desapareceu com um vulto veloz.
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
Me siga nas Redes Sociais:
Confira outras Obras: