A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 28: A Espreita de uma Águia

Yami se via à beira da derrota. Seu poder recusou seu controle, e retornou ao limbo de sua alma. A garota, quase cedendo ao destino perante aquela criatura gigante e gosmenta, sentiu três auras distantes, porém predominantes. A presença dos instrutores propagava-se no ambiente, e logo o olhar de Yami se acendeu em esperança novamente. O vento mudou de direção, seguindo um caminho contrário.

Toda aquela ventania passou pelo rosto de Yami, que tornou o olhar lentamente para trás. Ali estava Gyokku, com estatura forte, cabelos castanhos escuros e olhos verdes. Vestindo uma jaqueta preta e uma camisa azul, com um punho erguido, canalizando toda a ventania ambiental em seu punho cerrado.

— Gyokku…! — murmurou Yami, para si mesma, enquanto o via carregar toda aquela quantia absurda de vento no punho.

O vento à sua volta era forte o suficiente para criar uma catástrofe. Talvez um furacão gigante, ou então sugar tudo pelo caminho. Tudo isso concentrado em um único punho. Quando carregou sua força e sua magia nas mãos, olhou para o Falso Demônio gigante à frente com fúria. Seus olhos brilhavam com a raiva da essência do vento, olhos verdes brilhantes, com a brisa do vento passando agressivamente dentro de suas pupilas.

Fractor Typhonum! — recitou o feitiço com fúria. Desferiu o soco no ar, e todo aquele vento foi liberado em forma de rajada em espiral até o Demônio. Passando por cima de Yami, e indo diretamente no peito da criatura gigante. O ataque perfurou seu peito instantaneamente, mas não parou por aí. Ainda com o punho estendido, o vento do ambiente seguiu aquele caminho, formando um furacão deitado, que atravessava o peito da criatura e se expandia. Logo consumiu todo o peito, e foi se expandindo até a cabeça. O vento levou tudo, sobrando apenas os quadris do demônio, e suas pernas, que logo caíram para trás com a gravidade.

As criaturas não pararam de vir para cima. Logo, mais um monstro gosmento gigante se apoiou entre os prédios destruídos de Londres, procurando pelo local do conflito. O ataque foi estrondoso o suficiente para chamar atenção da maioria dos inimigos presentes ali.

Vindo de cima, um rastro de fumaça veio descendo até Yami. Ela logo reconheceu quem era aquele que se aproximava. A fumaça foi formando um corpo humano, que aos poucos ficou reconhecível visualmente. Era Wei Yang, que havia sumido a um tempo.

— Então foi para isso que tinha saído, Wei…? Achei que tinha fugido — comentou Yami, ofegante no chão.

Hah! Claro que não. Estava tentando entrar em contato com os chefes. E também, me certifiquei em evacuar a cidade enquanto vocês lutavam. Não tem mais humanos nas ruas, estão todos em um local seguro — explicou, e em seguida desviou o olhar para o céu, com um sorriso aparecendo em seu rosto.

Um feixe de fogo rasgou o céu com velocidade, indo até a cabeça da próxima criatura. O cometa flamejante atingiu a cabeça, e a longa lâmina da espada de Hifumi fixou-se no crânio do demónio. Com olhos flamejantes, e cabelos avermelhados, ali estava Hifumi. Desceu partindo o corpo do demônio com o rastro que sua espada cravada na gosma fazia. Deslizou até o solo, enquanto abria uma cratera no corpo do gigante com sua espada.

Quando chegou ao chão, moveu-se rápido com a espada, que a cobriu novamente em chamas. Fez um movimento curvo de cima para baixo, e então subiu de baixo para cima. O fio da lâmina aqueceu instantaneamente com o movimento, e agora estava completamente coberta por fogo.

Imber Animarum! — recitou, e a estrutura do chão se acendeu em magma. As rachaduras que se abriram ao solo acompanharam o movimento vertical da lâmina, e do chão, subiram inúmeras almas flamejantes. Eram tantas que cobriram completamente o céu ao subirem, e logo despencaram do ar, como uma chuva de fogo. As almas dirigiram-se para a outra criatura que se encontrava do outro lado da estrada, e seu corpo foi completamente engolido pelas chamas.

Antes mesmo que as rachaduras de magma nas paredes dos prédios e no asfalto das estradas desaparecessem, rachaduras essas abertas após o ataque de Hifumi, Minami esperava serenamente no topo de um dos prédios ao fim da estrada. Com cabelos azuis, e olhos também azuis cristalinos, mantinha sua postura delicada. Uma bela espada de água transbordava magia em sua mão, e o líder fez um movimento circular no ar, formando um círculo de água à sua frente. No centro do círculo, deu um pequeno toque com a ponta da lâmina, e este gesto deu início ao seu feitiço.

Oceanus Lacrimarum — recitou, calmamente. Um estrondo ecoou ao fundo da cidade, e uma inundação estava por vir. De trás dos prédios, uma onda gigantesca de água se aproximava, arrastando todos os demônios no caminho, até a outra ponta da cidade. A parede de água passou com agressividade, mas não tirava os prédios do lugar, mesmo tendo força o suficiente para isso. A correnteza levou as impurezas consigo, restando apenas lágrimas de desespero ao solo.

Yami, impressionada com a sequência das três magias dos líderes sendo executadas em sequência, não teve reação por um tempo. Mas logo se levantou, ainda boquiaberta com a situação que presenciou.

— Então esse é o poder dos Saikai comum… — disse, arregalando os olhos. “Estes são apenas três dos instrutores… isso é surreal.” pensou, perdendo o foco da batalha.

Entre as nuvens roxas que refletiam a catástrofe local, duas silhuetas eram visíveis planando aos céus. As magias e maldições liberadas por eles rasgavam a visão, e adornavam as nuvens em uma aurora mágica, porém envolvida em maldições.

Aquele pequeno conflito celeste era a consequência da batalha entre Ishida Majutsu e a Mórtivus misteriosa, que portava a flauta dourada. Flauta esta capaz de invocar Falsos Demônios compostos de gosma negra, energizada pela maldição dos Mysthrums. A magia negra de Vorthis Crepitus.

Ishida, ainda perseguindo-a com suas asas de dragão, brandiu sua varinha mais uma vez e fez movimentos predefinidos no ar. A varinha se energizou enquanto acompanhava os movimentos, e quando terminou, um feitiço foi liberado da ponta fluorescente. Quatro rajadas amaldiçoadas traçaram um caminho teleguiado até a portadora da flauta. Ela ainda estava atenta, e não deixaria que ataques como esse lhe atingissem.

Abriu completamente suas asas negras e gosmentas, e deu um impulso para cima. Voou até as nuvens, e as quatro rajadas a acompanharam em sequência. Os ataques faziam movimentos curvos e circulares no ar, com um único alvo claro ao caminho.

A Mórtivus mergulhou dos céus para baixo, desviando das rajadas e fazendo-as seguirem para o alto com potência. Demoraram um pouco para contornar e fazer o caminho novamente direcionado a mulher, e quando já estava distante o suficiente ela preparou seu contra-ataque.

Brandiu a flauta, e cortou o vento com ela. O rastro de seu corte formou uma pequena nuvem gosmenta à sua frente, que borbulhava como água fervente. As quatro rajadas teleguiadas de Ishida a alcançaram, e acertaram com tudo a nuvem gosmenta que a mulher criou para se defender. A gosma absorveu toda aquela magia amaldiçoada, e nenhuma gota de alquimia atravessou a barreira gosmenta. Ishida arregalou brevemente os olhos ao notar que seu ataque não fez efeito algum, mas retomou o foco. Mordeu seu lábio inferior para concentrar-se, e avançou.

A mulher não iria permitir que se aproximasse com tanta facilidade, e com um movimento curvo com sua flauta que emitia em sua ponta uma faísca amaldiçoada, como uma varinha de bruxo. O movimento executado por ela foi interpretado como uma ordem, e de dentro da barreira gosmenta, três criaturas surgiram. Demônios pterodátilos gosmentos, que não hesitaram em avançar até Ishida com investidas velozes.

O garoto teve uma resposta rápida, e mudou o curso de seu voo. Teve que desviar o caminho, passando ao lado da Mórtivus na tentativa de se livrar daqueles demônios voadores. Notando que eles não eram tão rápidos assim, tornou seu corpo para trás e movimentou mais uma vez sua varinha no ar. A ponta da varinha faiscava sem parar, e quando os movimentos terminaram, vários pequenos prismas em formato de estrelas de quatro pontas foram canalizados no ar. Os pequenos prismas seguiram até dois dos demônios, perfurando seus corpos grudentos de cima a baixo. Sem consistência, os dois demônios atingidos despencaram até a cidade abaixo.

Os pequenos prismas criados por Ishida foram suficientes para derrubar apenas dois demônios. Um último, o maior dentre os três, ainda avançava pelo ar. Estava prestes a cravar suas garras no garoto, mas um alguém inesperado apareceu. Ishida sentiu uma presença propagando-se à direita, e seu corpo inteiro se arrepiou com aquela aura. Não deu tempo de ver, nem ouvir nada. O demônio foi completamente despedaçado em pequenas gotículas gosmentas com um ataque só.

Ishida, boquiaberto, tentou ver quem tinha desferido aquele ataque tão veloz que sequer foi visível a olho nú. Mas o máximo que pôde presenciar foi um vulto que se distanciava com velocidade imensa, indo até a cidade de Londres. A presença assustadora ia desaparecendo conforme o vulto se distanciava, como uma águia planando aos céus, após caçar um rato.

A Mórtivus usou essa brecha para seguir ao longe, e Ishida notou sua reação veloz. Não perdeu mais tempo, e continuou a perseguição. Não podia deixar que aquele inimigo escapasse.

Os dois planaram até o topo do hotel em que estavam hospedados de início. A mulher pousou no topo do terraço, e Ishida chegou em seguida. Aquele era o território inimigo, e provavelmente o pequeno bruxo estaria entrando em uma grande desvantagem. Seu corpo começou a suar frio, enquanto o vento batia em seus cabelos. Olhou para trás por instantes, e observou aquele tufão repleto por nuvens roxas ao céu. Londres estava coberta pelo puro caos, e ele tinha que ganhar esse confronto.

Quando voltou a observar a inimiga, ela estava tocando sua flauta em uma melodia melancólica. O garoto se preparou, tomando posição defensiva. Mas a melodia não era para ele. Na verdade, ela estava criando mais uma dezena de demônios gigantes no centro da cidade, para atrasar mais ainda os que permaneceram naquele embate. Ishida rangeu os dentes, e segurou sua varinha com mais força.

Na cidade de Londres, os líderes e os que restaram de pé observavam os demônios se erguendo novamente. Aquela horda aparentemente não teria mais fim. Mas teriam que fazer o possível para exterminá-los. Minami, Gyokku e Hifumi estavam presentes, o confronto não seria tão complicado. Mas para a surpresa de todos, os três líderes arrepiaram seus corpos repentinamente. Sentiram a presença que se aproximava de cima, indo em direção a cidade.

Seus olhos lentamente voltaram-se para o topo de um dos prédios em chamas, e ali jazia uma presença ou entidade que observava-os de cima. Um garoto trajado em um manto negro, com um capuz cobrindo sua cabeça. Uma máscara negra com detalhes avermelhados estampados nela, e dois olhos vermelhos irradiando a cor da morte por dentro da máscara.

— A-aquele… é… — gaguejou Gyokku, presenciando a possível entidade perante a ele.

— Sim, é o cérebro. Aquele conhecido por ter olhos de águia… — respondeu Hifumi, rangendo os dentes enquanto observava aquele que espreitava por cima. — Hawk… o Vulto Mortal. Estrategista da Nakamori.

— O que… a Nakamori está fazendo aqui?! — exclamou Minami, juntando-se aos outros líderes com pressa. Os três contemplaram Hawk em pessoa, olhando por baixo. Por trás da máscara negra, os olhos penetrantes de Hawk fitavam os demônios à frente. Gigantescos, e gosmentos. Uma cena que lhe dava desgosto, criaturas dignas do genocídio.

Por um instante, mesmo sem tirarem os olhos do garoto às suas frentes, Hawk simplesmente desapareceu. Os olhos confusos e desesperados de Gyokku correram ao redor, tentando encontrá-lo novamente. Quando percebeu, um vulto negro voava em direção aos demônios adiante. Com duas lâminas vermelhas de cristal em mãos, alcançou o primeiro. Não houve tempo de reação, não houve sons, ninguém viu nada além de um vulto. As gotículas de gosma voaram por toda a cidade, e o primeiro demônio havia sido dilacerado sem que ninguém pudesse ver os movimentos de Hawk.

Antes mesmo que os restos do corpo do demônio começassem a cair ao chão, o vulto se dirigiu ao próximo. Com um movimento giratório das lâminas vermelhas, cortou toda a extensão de um dos braços da criatura. O demônio tentou golpeá-lo, mas ele desapareceu no mesmo instante. Ninguém era capaz de acompanhar aqueles movimentos, e uma das lâminas vermelhas pairou acima do demônio, e logo Hawk apareceu segurando-a, acompanhado por um rastro de vultos. Girou seu corpo verticalmente, e a pressão causada pela velocidade e força daquele movimento fez com que o próprio ar seguisse o ritmo.

O ar se moveu tão rápido junto das lâminas, seguindo os movimentos de Hawk, que se tornou uma corrente de ar cortante, como o fio da faca mais afiada que houvesse em Londres. O movimento giratório das lâminas fundido com o vento do ambiente partiram e mutilaram o corpo gigante daquele demônio em milésimos. O vento também cortou parte de um prédio, abrindo uma cratera naquela área.

Mais cinco monstros gosmentos vieram para cima dele em sequência. O garoto não hesitou, e avançou com olhos vidrados em aniquilá-los. Passou por dentro do primeiro, e a velocidade do ataque arrancou a área de seu peito, impulsionando-a para longe. No movimento seguinte partiu o pescoço do próximo com um corte da lâmina. Ainda no ar, brandiu as duas ao mesmo tempo, e com dois cortes livres ao ar, partiu o corpo de mais dois. E no último, seguiu girando em sua direção, conforme as lâminas dilaceraram a estrutura gosmenta daquele corpo gigante.

Os ataques foram tão rápidos que nenhum dos cinco teve tempo para reagir. Aos olhos dos que assistiam, apenas viram os cinco serem mutilados ao mesmo tempo. Ninguém teve coragem para se mover perante aquele massacre.

Hawk pousou no centro da cidade, e mais três gigantes surgiram por trás dos prédios. Esses tinham vários braços, cabeças gigantes, e corpos deformados.

Hawk se concentrou, e o mundo à sua volta estava mais devagar. Fechou os olhos, e vários espinhos de cristais negros se ergueram do chão, levantando um ar frio no ambiente. Os cristais espinhosos o cercaram — como um casulo — e os demônios desferiram golpes nos cristais. Não causou dano algum, e eles permaneceram intactos.

Quando os monstros se acalmaram, os cristais voltaram a reagir. Giraram rápidamente em volta de Hawk, cortando o chão, e se expandindo pela área. A ponta dos espinhos fincaram na cabeça dos três ao mesmo tempo, e seus corpos já sem movimentos seguiram a pressão dos cristais, rodando também.

Os cristais dissiparam-se no ar, e os demônios que rodavam presos a eles foram jogados para o alto. Só restou mais um, que observava com uma expressão de desespero ao fundo. Hawk, que estava no centro da cratera criada pelos espinhos, levantou brevemente a cabeça para observar a criatura. Logo, quando a viu completamente, o garoto mascarado desapareceu.

Quando o monstro se deu conta, o vulto negro já estava à sua frente. Com olhos vermelhos encarando no fundo da alma daquela criatura, que estava conectado a Mórtivus. A mulher teve um leve susto, ao sentir a presença de Hawk através de um dos seus demônios. A criatura ficou completamente paralisada, e Hawk a triturou em pequenos pedacinhos de gosma em milésimos.

Em poucos instantes, a horda de Falsos Demônios foi completamente aniquilada. Hawk tornou seus olhos aos líderes que o observavam, mas eles não estavam mais ali. Logo atrás do homem mascarado, Gyokku apareceu, com um vórtice de vento carregado nas mãos. Tornou agressivamente o quadril e as mãos para Hawk, liberando o vórtice. O encapuzado apenas usou a corrente de ar como impulso, e se deixou ser jogado aos ares.

Minami e Gyokku vinham em sua direção, e Hawk estava em desvantagem por estar sem consistência no ar. Os dois líderes se aproximaram, Minami carregando sua espada de água, e Gyokku com um punho envolvido por vento. As lâminas vermelhas de Hawk disspiraram-se no ar, e ele segurou Gyokku pelo pulso, e Minami pelo braço. A lâmina e o punho passaram direto, e o mascarado rotacionou seu corpo para baixo.

Com um estrondo, lançou os dois líderes ao chão, e vários cristais vermelhos os envolveram quando colidiram ao solo. Eles ficaram incapazes de se mover, restando apenas Hifumi, no topo de outro prédio, em posição ofensiva.

Hawk desceu dos céus e pousou no prédio à frente, e os dois se encararam. Hifumi, com sua espada cravada no terraço do prédio, e Hawk, com seu manto sendo levemente puxado com o vento. A alma e essência de Hifumi estavam sendo observados, com o destino marcado pelos olhos de uma águia que o espreitava das árvores.

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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