Volume 1 – Arco 4
Capítulo 27: Chamas da Alma
O lugar era escuro, com um horizonte iluminado por pequenas frestas de luz à frente, como o fundo de um poço. Era frio, silencioso e úmido. San afundava em um mar angustiante, talvez, aquela fosse a visão da morte. A alguns segundos atrás, seu corpo havia sido engolido pelas chamas misteriosas. E agora, após fechar os olhos, se encontrava nesse lugar vazio.
Sobre a água, uma silhueta apareceu ofuscadamente. O som das vibrações na superfície da água ecoavam pelo local como pequenas gotas. A imagem daquela pessoa não era distinguível, mas ao ouvir sua voz, San reconheceu na mesma hora.
— San caiu no lago de novo, Akane… — disse a voz familiar de seu irmão, Kazuma Hiroyuki. Logo, o semblante do garoto ficou visível através da água. Olhos roxos, e cabelos ondulados alaranjados. — Acha que ele está fingindo de novo?
— Ele sabe nadar, Kazuma. Mas por garantia… vou verificar — respondeu uma voz meiga bem distante. Aquela era a voz de sua irmã, Akane Hiroyuki. Naquele momento, após os últimos ecos da voz da garota desaparecerem na imensidão, a visão da água e as frestas de luz desapareceram, juntamente com o semblante de Kazuma, na superfície da água. Não restou mais nada, e tudo ficou completamente escuro.
San, com seus olhos quase se fechando, apenas desistiu de tentar relutar. Aceitou que ali, jaz o seu final. Porém, antes que seus olhos se fechassem para sempre, Akane apareceu perante sua visão. Seus olhos se arregalaram mais uma vez, e a irmã de cabelos longos alaranjados e ondulados acompanhada por olhos roxos, estava ali, estendendo-lhe as mãos.
— Já está desistindo, San? Não tinha prometido permanecer ao meu lado? É para isso que compartilhamos os colares, certo…? Então você não pode desistir.
Conforme a garota se aproximava, o frio do ambiente lentamente se esvaziava, sendo preenchido por um calor no peito do garoto. Aquele era o pingente de seu colar, a metade de um coração partido. A outra metade, estava no colar de Akane, que juntos se conectavam.
O pingente de San brilhava em um tom vermelho como o fogo, a chama da esperança. A garota segurou as mãos de San, puxando-o para si.
— Você tem que protegê-la… — disse, referindo-se a Kyoko, que estava nos braços de San antes das chamas o cobrirem. — Você se importa com ela… não se importa? Ela precisa de você. Você não pode falhar, San…
O frio dissipou-se completamente, só restando um calor aconchegante em seu peito. Um calor que lhe dava forças, o calor da determinação. O garoto abriu seus olhos, e as chamas do ataque repentino ainda passavam pelo seu corpo. Mas estranhamente, não lhe causavam efeitos. Estava com Kyoko nos braços, e seu pingente ainda brilhava em um tom vermelho, com vigor.
O feixe de fogo cessou, e o garoto se ergueu. Sem nenhum ferimento, seu corpo agora era resistente ao fogo. Com o colar ainda brilhando, olhou para suas próprias mãos. Em suas veias, era visível uma energia diferente da dourada. Esta era alaranjada, com uma textura de lava pura. O garoto arregalou os olhos, e se agachou lentamente, para segurar Kyoko. A garota permanecia desacordada, e San a segurou nos braços.
Vultos passaram rapidamente pelos arbustos da floresta, acompanhados de pequenos ruídos vindos dos arbustos. O garoto concentrou-se novamente, e esperou com paciência. Sem pressa, sem apavoro. Determinado a proteger a garota em seus braços.
Dentre os arbustos e árvores, saiu uma criatura humanoide, com corpo feito inteiramente de magma, olhos pegando fogo, e lava escorrendo de sua boca. A criatura avançou com uma investida em direção ao garoto, com suas garras de magma erguidas. San percebeu no último momento, e esquivou-se para o lado. Com o movimento, um amontoado de fogo juntou-se em seus pés, causando uma leve explosão no local em que se esquivou.
A explosão involuntariamente lhe deu impulso para se afastar da criatura, enquanto a mesma foi jogada para longe com o impulso. San, sem pensar muito, colocou Kyoko no chão e materializou um escudo de alquimia dourada para protegê-la por um tempo. Ele ainda podia sentir a lava correndo em suas veias.
— Me espera… não vou demorar, Kyoko… vai ficar tudo bem.
O garoto ergueu-se novamente, tomando posição defensiva. Adiante, o monstro de magma caminhava em direção ao garoto. Sua aparência era medonha, com aquela expressão raivosa, e lava correndo entre as pedras vulcânicas de seu corpo.
A criatura sugou ar pelos pulmões, inchando o peito, e então cuspiu uma enorme quantidade de magma para o alto. As poças de magma caíam em várias direções, mas o garoto não baixou a guarda. Movimentou-se habilmente entre os ataques, com o corpo emanando uma aura flamejante, que lhe concedia mais resistência e velocidade.
As poças de lava restantes no chão se expandiram mais, e o inimigo colocou uma mão sobre o solo. Em volta de sua mão, um pequeno pentagrama de fogo surgiu, e instantaneamente as poças de lava se ergueram do chão, tomando a forma de grandes pilares de magma, que continuaram crescendo.
San, ainda focado, usou sua alta velocidade para subir pelas paredes dos pilares de magma. Alternando entre eles por saltos carregados pelas chamas, e prendendo várias correntes de fogo pelos pilares enquanto se movimentava. A magma não o afetava, ele apenas sentia um calor elevado estando naquele ambiente.
Enrolou todos os pilares em correntes flamejantes, e então, com um movimento veloz no ar segurando as correntes, dilacerou a estrutura de todos os pilares ao mesmo tempo. As correntes que se moviam agressivamente pelo ar se espalharam por todo o cenário, adentrando-se no chão, árvores e pedras. Por onde as correntes passavam, deixavam um rastro de fogo.
Após destruir os pilares, o garoto caiu ao solo, e encarou a criatura mais uma vez. Ela estava imóvel, fitando-o de volta.
“Será que é algum tipo de Mysthrum…?” pensou o garoto, fitando a criatura. “Não… talvez seja apenas um lacaio do Mórtivus que tocava a flauta.”
Logo, a criatura moldou seus braços rochosos em fortes garras de magma. Voltou a movimentar-se entre os arbustos, em velocidade bem elevada. San ficou impressionado com a agilidade daquele monstro, mesmo tendo um corpo rochoso. Mas não se deixou levar pelos pensamentos, logo brandiu suas correntes e criou uma serra em chamas na ponta de cada extensão de suas correntes.
Movimentou as mãos para todas as direções, manobrando as correntes com serras nas pontas. Tinham um alcance bem longo, então cortavam as árvores ao redor. O monstro, em resposta, saiu de dentro dos arbustos com raiva, e arrastou suas garras pela extensão da corrente, avançando até o garoto.
Com um movimento curvado para o alto, regressou uma das correntes em direção ao inimigo, fazendo com que a serra lhe alcançasse. Com um contra-ataque de suas garras, o monstro impediu que as serras lhe atingissem. Mas aquilo era apenas uma distração, logo as correntes se enrolaram em todo seu corpo, e com mais manobras usando as mãos, San ergueu as correntes junto ao monstro e as lançou com tudo no chão. Levantando uma alta quantidade de fogo, e explodindo o solo em uma certa área.
Após a fumaça do impacto cessar, a criatura não desistiu. Duas colunas de lava se ergueram do chão, explodindo o solo em uma erupção. A lava cobriu os céus mais uma vez, e então despencou por toda a floresta. Após o ataque, San não deu mais sinais, apenas desapareceu.
A lava se dissipou, e a criatura se reergueu. Voltando o olhar agora para Kyoko, e a criatura abriu um sorriso maléfico no rosto. Mas a sensação de vitória fez com que baixasse a guarda, e San apareceu repentinamente por trás do inimigo, segurando-o pelo crânio. Agora, aquele quem tinha um sorriso maléfico era San, segurando bem no rosto de magma da criatura. Sem perder mais tempo, envolveu seu punho com uma alta quantidade de fogo, que em instantes incinerou a cabeça do monstro de magma. O resto de seu corpo caiu sobre o solo, enquanto a lava de seu corpo se apagava, secando com o ar do ambiente.
San soltou um suspiro, e limpou o suor da testa pelo calor da batalha. Escalou as paredes da pequena depressão criada no solo com o impacto, e se aproximou de Kyoko, que ainda tinha o corpo protegido pela barreira dourada. O garoto dissipou a barreira, e então a segurou nos braços, acariciando seus cabelos.
Os olhos de Kyoko se abriram com uma fresta, e então se arregalaram com o rosto do garoto a segurando. O colar de San ainda brilhava com a chama da esperança, e no centro de suas pupilas, um brilho alaranjado prevalecia.
— San… — começou Kyoko. — Você está… quente…
No centro da cidade, o caos predominava. Parte dos que lutavam contra os Falsos Demônios negros já haviam sido derrotados. Afundados nos destroços, incapazes de se movimentar. Porém, Yami ainda se mantinha de pé. Estava de frente a um dos inimigos gigantes e gosmentos. Com passos lentos, a garota se aproximou da criatura gigante. Com sua lâmina mística em mãos.
O demônio, agindo por impulso, brandiu seu punho e tentou desferir um golpe direto em Yami. A extensão de seu braço era enorme e grudenta. A garota, com um passo veloz, se esquivou para a direita como um vulto. Aproveitou o embalo do movimento e pegou impulso para subir nas paredes de um prédio ao lado, e avançou com velocidade, deslizando nas paredes em direção ao Falso Demônio.
No meio do caminho, saltou ao braço e fincou sua lâmina cósmica nele. Enquanto avançava, partia a extensão do braço daquela criatura. Um rastro cósmico era deixado conforme o corte era executado. Esse rastro logo se expandiu, e abriu-se em uma fenda dimensional que sugou o resto daquele braço gosmento para outro plano.
Com mais um salto definitivo, Yami voou para cima do monstro que tentou lhe acertar um golpe no ar, mas falhou. A garota seguiu até sua cabeça, e a atravessou com um corte direto. O rastro cósmico deixado pelo ataque sugou a meleca gosmenta da cabeça do demônio, restando apenas a metade de um corpo sem cabeça, incapaz de se mover.
Quando aterrissou ao chão, mais dois dos gigantes a esperavam adiante. Sem hesitar, Yami puxou a pérola corrompida que carregava consigo desde o hotel, e apunhalou a pérola com sua lâmina galáctica. O ataque fez com que a pérola absorvesse aquela energia interdimensional, e Yami a ergueu para o alto. A pérola liberou quase que imediatamente um lenço cósmico que cobriu uma boa parte do local. Tinha formato espiral, como um ciclone.
Uma das criaturas tentou acertar um golpe naquele ciclone cósmico acima de Yami, mas quando o tocou, foi agressivamente sugada para dentro. Tentou relutar apoiando uma das mãos gordas e gosmentas ao chão, mas a força de atração era mais forte. O monstro gigante foi completamente puxado para dentro daquela fenda.
O outro restante não ousou se aproximar do ciclone. Mas logo, o ataque de Yami se dissipou, e ela caiu de joelhos ao chão, sentindo dor. Soltou um breve grito de agonia, e em seu pescoço uma marca roxa irradiava um brilho cósmico. A marca lentamente se apagou, queimando a pele de Yami, que soltou um segundo grito.
“Usei muito poder… droga…” pensou, lutando para se manter de pé. Aparentemente usar aquele poder cósmico constantemente tinha um alto preço.
A garota se via em uma situação alarmante, sem forças para atacar. Mas a esperança não havia acabado, três auras avassaladoras se aproximaram lentamente ao fundo, e o vento começou a correr em direção contrária. Yami logo reconheceu aquelas presenças predominantes, era a grande quantidade de Alquimia dos três instrutores ao mesmo tempo. Hifumi, Minami, e Gyokku.
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
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