Volume 1 – Arco 4
Capítulo 26: Tormenta Negra
Ishida, com suas asas negras de dragão, sobrevoava o céu da cidade. A catástrofe juntamente com o desespero engoliam os prédios, Kisaragi e as pessoas de Londres continuavam hipnotizados pela sinfonia penetrante emitida pelo soar da flauta.
O garoto, sem medo, avançou perante a multidão de Falsos Demônios sendo constantemente criados pela Mórtivus misteriosa. As criaturas gosmentas, do chão, vomitavam rajadas de gosma negra em direção ao garoto. As rajadas continham tanta pressão, que quando colidiam com os prédios, destruíam uma pequena parte do edifício. Ishida era veloz demais, os ataques passavam direto.
Enquanto sobrevoava, rudemente desviou o olhar para as criaturas abaixo. Estava com uma expressão séria e centrada. Aquele não parecia ser o Ishida que os outros conheceram, tinha algo diferente naquele garoto. Ainda no ar, mirou sua varinha coberta por energia obscura, provavelmente amaldiçoada, e liberou inúmeros pequenos projéteis amaldiçoados em direção aos demônios gosmentos. Ao entrarem em contato com aquela energia, seus corpos derretiam instantaneamente, junto de gemidos dolorosos.
Conforme o massacre acontecia, mais demônios artificiais eram criados a partir das paredes. Da estrutura de um pequeno prédio, um demônio desta vez com 4 braços gigantescos saía lentamente para fora, rugindo agoniadamente, e com uma expressão de pânico. Todos os demônios gosmentos tinham esta expressão, como se estivessem em constante sofrimento.
Ishida, notando aquela criatura de múltiplos membros, apontou-lhe a varinha e atirou-a uma barreira roxa de eletricidade. A barreira repeliu o monstro contra a parede do edifício, eletrocutando-o, e estabilizando seus movimentos. A barreira era como uma rede de pesca, composta por eletricidade. O impacto causado pelo choque entre a criatura e o prédio fez com que ele se partisse pela metade, e um pedaço da estrutura caiu lentamente para o lado, chocando-se contra um prédio maior, do outro lado da estrada. Aquele pedaço de prédio agora bloqueava o caminho de Ishida.
O garoto não viu isto como um problema, apenas desceu um pouco o voo e passou por baixo do prédio. Mas o que não esperaria, é que um outro Falso Demônio, desta vez gigantesco, quebraria aquele prédio que bloqueou o caminho com apenas um golpe de seus punhos enormes. Esta criatura era pelo menos vinte vezes o tamanho das outras, sendo bem maior do que os prédios menores. Ishida notou o perigo iminente, e levantou voo diretamente para cima. Passando da altura da criatura, indo em direção às nuvens.
As nuvens que tampavam o céu, refletiam o ambiente predominante do verdadeiro caos daquele lugar. Nuvens roxas que faziam um movimento em espiral no céu, formando a imagem de um tufão. O centro do tufão se alinhava com a imagem perfeita do Sol. Que no momento, estava completamente avermelhado.
Ishida desceu do céu, e mergulhou de ponta no ar, voltando em direção ao demônio gigante. Segurou sua varinha com firmeza, e envolveu-a em energia amaldiçoada. Toda aquela aura que emanava de sua varinha se moldou na forma de uma longa espada, radiante como o crepúsculo da manhã de um lado, e mergulhado no brilho da morte, adornado pela luz de uma Aurora ao meio da noite no outro lado da lâmina. O garoto mergulhou sobre o demônio, que rugiu ferozmente em resposta, mas com apenas um golpe da lâmina de energia, o corpo gigantesco daquela criatura foi partido ao meio, derretendo completamente.
Após eliminar aquela criatura, levantou voo novamente, e uma sequência de vômitos gosmentos liberados em alta pressão vieram novamente por baixo. Os pequenos demônios estavam determinados a eliminar aquela ameaça, que emanava uma aura destruidora. Ishida observou os ataques com arrogância, e ergueu sua mão perante aos mais fracos. Um escudo com runas divinas marcadas sobre ele se materializou, e nenhum ataque sequer foi capaz de danificar aquele escudo.
— Aquele é… o Ishida mesmo…? — perguntou Thomas, observando o conflito de longe.
— Sim… é bem raro ele agir dessa maneira — respondeu Namida, preparando-se para dar apoio ao seu companheiro, caso necessário.
O escudo criado pelo garoto lentamente começou a tomar uma coloração negra. A energia amaldiçoada dos Mysthrums tentava tomar controle da alquimia do garoto. Seu olho esquerdo estava lentamente tomando uma cor negra também. O garoto relutava contra aquele destino, mas uma voz atormentava seus pensamentos.
“Deixe-me eliminá-los por ti, Majutsu Ishida… faz tempo que não vejo um de meus filhos… me devolva sua fúria, e eu lhe entregarei o poder que jamais teria.” disse uma voz em sua cabeça. O garoto forçou os olhos fechados, e sacudiu a cabeça, relutando.
— CALA A BOCA! — berrou, e a energia negra da barreira desapareceu, seus olhos voltaram ao normal, e o eco da voz tentadora dissipou-se em seu subconsciente.
— O que tá acontecendo com ele?! — exclamou Sakura, de cima do prédio em que estava.
— É o tal do Vorthis… está atormentando a mente do garoto! — exclamou Arashi, em resposta. — Todo esse poder deve estar vindo do Coração de Vorthis, liberando energia para que Ishida o liberte!
Enquanto lutava pelo controle de seu corpo, o garoto baixou a guarda. Mais um demônio gosmento gigantesco avançou pelas suas costas, e o agarrou por trás do escudo que havia criado. O escudo dissipou-se imediatamente, e a criatura atirou Ishida contra um dos prédios com força. Quando colidiu, seu corpo afundou um pouco nos destroços da colisão. O monstro gigante o envolveu com uma mão, prendendo-o naquele local.
— Merda, Ishida!
San e Kyoko, do outro lado de Londres, notaram o céu esquisito quando olharam para o alto. Tsukasa lentamente se distanciava dos dois, tomando seu suco de uva. Olhou para o céu também enquanto caminhava, e encarou aquele tufão estranho formado pelas nuvens ao longe.
“Merda…” pensou, e então olhou para baixo, caminhando lentamente naquelas estradas desertas.
Kyoko e San pararam de acompanhar Tsukasa naquele momento, notando que aquilo não levaria a mais nada. Focaram no que viam perante seus olhos, e nos estrondos ecoando da cidade.
— O que será que está acontecendo?! — perguntou Kyoko, com uma expressão apavorada.
— Sei lá… mas não parece ser coisa boa — respondeu San, e logo adiante vários gritos de socorro viam se aproximando. Era uma garota de cabelos pretos, correndo na direção dos dois. Ela vinha de dentro de um beco entre as casas, e clamava por ajuda.
— Me ajudem! Monstros, são monstros… as pessoas, toda Londres! — exclamava, desesperada.
— O que aconteceu lá?! — perguntou San, correndo para socorrer a garota. Kyoko aproximou-se também, com pressa.
A garota tropeçou e caiu ao chão. Antes que pudesse levantar e falar mais qualquer palavra, um falso demônio, com aparência de um lobisomem, mas ainda com corpo gosmento saltou de cima de uma das casas, despencando do céu e rasgando o corpo da garota com suas presas. A criatura rugiu para San e Kyoko, e vários outros lobisomens como aquele apareceram entre as casas.
— Merda… estamos cercados, Kyoko — disse San, tentando manter a calma naquela situação.
Kyoko olhou para um lado, olhou para o outro, e realmente não havia saída. Aquelas criaturas eram hábeis, e só lhes restava lutar. Ela olhou para San, e estendeu-lhe a mão. O garoto notou o movimento repentino de Kyoko, e logo entendeu o que ela queria fazer. Aproximou-se dela, e ela disse bem baixinho “Atrás de mim”. O garoto a abraçou pelas costas, e ela materializou seu arco de luz.
Uma flecha com detalhes angelicais, radiante como o brilho da ascensão de um anjo ascendeu em sua mão. A Flecha de Seigi, usada no julgamento dos anjos. A garota mirou a flecha para o céu, e atirou com tudo.
— Iudicium Angelorum! — exclamou, e o céu inteiro foi coberto por uma luz radiante o suficiente para cegar os olhos de quem contemplasse. A cortina de luz se estendeu ao horizonte, e desceu por todo o cenário, cegando qualquer criatura presente no local.
No centro de Londres, o conflito continuava. Vários demônios gosmentos voadores mergulharam do céu em direção ao Arashi, nas estradas. Alguns foram cristalizados antes mesmo de chegarem ao chão, transformados em esculturas de cristal, que se pareciam com espelhos. Era a habilidade de Namida, transformando criaturas não orgânicas em cristais de espelhos.
Mas a habilidade não atingiu todos eles. Um último foi deixado para trás, e este estava quase acertando Arashi ao chão. Mas antes que o atingisse, um míssil mágico acertou em cheio o demônio voador, explodindo-o no ar com uma bela explosão aérea. Arashi observou a cena por baixo, e do topo do prédio, Sakura Yukari segurando uma bazuca dourada em mãos sorria para ele, com confiança.
— Obrigado, Sakura… — agradeceu, e ignorou o fato de Namida também ter o ajudado.
Toda a cidade estava coberta por várias vinhas e raízes que saíam de dentro do asfalto. Yui estava se esforçando para tomar controle da área, antes que os demônios tomassem por contra própria.
Arashi não desperdiçou a oportunidade, e avançou. Usando as vinhas espalhadas entre os prédios como apoio para desviar dos ataques inimigos, e na velocidade de um trovão, ele avançou até a criatura maior, que segurava Ishida contra o prédio. Um dos demônios ao ver isto, tentou vomitar em cima de Arashi. Mas Namida o protegeu, criando pequenos fragmentos de cristal dentre a rajada gosmenta, os cristais se expandiram e cobriram completamente aquele vômito extenso. Cristalizando-o, e prendendo o demônio pela boca com o próprio ataque.
Arashi não parou com a arrancada, e continuou avançando. Uma das vinhas de Yui bloqueava o caminho à frente, estava conectando um prédio ao outro. Arashi não desistiu, e deslizou pela estrada, passando pela pequena fresta entre a vinha e o asfalto. Com todo esse avanço, agora estava de frente a criatura gigante. Antes que o monstro pudesse agir, o garoto desapareceu de vista. Apenas um soar de “Zap” ecoou pelo local, e um rastro de eletricidade passava por todo o corpo do monstro gigante. No segundo seguinte, os rastros se sobrecarregaram, e a criatura explodiu com tanta energia acumulada. Arashi já estava por trás do monstro, segurando sua katana coberta por eletricidade em mãos.
O corpo da criatura continuava parado ao chão, e tentava se mover ainda. Yami, que ainda não havia feito nada, aproximou-se com passos lentos e elegantes até o demônio gigante. Desembainhou sua lâmina cósmica por uma pequena fenda dimensional, e efetuou um corte curvo, que abriu uma fenda no espaço tempo, e sugou o corpo da criatura gigante para outro plano.
— Boa, Yami! Estamos conseguindo… — vangloriou Arashi, contendo sua katana novamente na bainha.
Ishida, que antes estava preso nos destroços do prédio pelo demônio gigante, ergueu suas asas e olhou para cima, meio zonzo. Do topo do prédio mais alto, a Mórtivus usuária da flauta criou asas gosmentas em suas costas, e voou pela abertura da janela do prédio. Ishida, sem querer perder aquela chance, levantou voo e começou a perseguir a Mórtivus pelos céus.
— Ishida!! — exclamou Yui, ao lado de Sakura no topo do prédio. — Não vá sozinho!
— Ele já foi… — disse Sakura, com um suspiro.
Abaixo, Arashi que prestava atenção em Ishida, foi pego desprevenido por mais uma das criaturas gigantes. Foi lançado com tudo até o solo, destruindo parte do asfalto. O garoto gemeu de dor, e por cima dos prédios, várias cabeças de Falsos Demônios gigantescos se ergueram. Os pequenos foram todos exterminados, e só restaram os gigantes. Yami estava de frente ao primeiro, com sua lâmina cósmica em mãos. Seu vestido negro e cabelos roxos voavam com o vento, enquanto ela encarava o inimigo.
San e Kyoko permaneceram dentro daquela cortina de luz. Agarrado em Kyoko, o garoto podia ver através da luz, assim como a garota fazia. Ela estava compartilhando a própria energia com ele, para que os dois pudessem enxergar naquela iluminação. Os lobisomens gosmentos, sem ações, ficaram imobilizados pela luz constante.
San usou seu feitiço “Adeptio” ao chão, tendo agora controle do solo com sua alquimia. Criou correntes douradas invisíveis pela luz, e encoleirou cada um dos lobisomens em sequência. Eles se debateram para se livrar das correntes, porém, sem sucesso. Foram todos sugados para um ponto só, como um “Rei dos Ratos”. (Evento este, quando os ratos ficam presos pela cauda, formando um círculo.)
Com todas as criaturas agora juntas, a Flecha de Seigi que antes foi atirada ao alto, caiu em cheio em cima dos lobisomens. Selando-os na alquimia abaixo, eternamente presos no domínio divino dos anjos. Após o ataque, a cortina de luz foi lentamente desaparecendo, e San soltou Kyoko, ofegante.
— Até que foi rápido… — disse, com um suspiro.
Quando olhou para o lado novamente, uma quantidade imensa de lava estourou o chão, subindo ao alto como um chafariz. O garoto logo ficou em alerta, segurou Kyoko nos braços e avançou pela estrada, com velocidade. A lava repentinamente liberada do solo se ergueu como uma erupção, e então curvou-se no ar, cobrindo o céu em chamas. A gravidade fez com que a lava caísse, deslizando com agressividade pelas ruas de Londres.
— O que foi isso agora?! — exclamou San, correndo com a garota em seus braços. O fim daquela estrada acabaria no alto de uma pequena colina, e ele se jogou dali. Enquanto caía, várias correntes saíram de seu corpo, grudando nas árvores em volta. O garoto criou uma teia de correntes que o conectava com as árvores, e o prendia no ar. Então, ele não caiu ao solo.
A lava escorreu pela colina no fim da cidade, e cobriu todo o solo da floresta adiante. O garoto, preso pelas correntes, não tocou na lava. Continuou segurando Kyoko nos braços firmemente, enquanto a garota choramingava em desespero. A fumaça que subia das chamas era tóxica, e Kyoko acabou inalando-a, o que fez com que a garota lentamente desmaiasse. San por algum motivo não foi afetado por aquela fumaça.
— Não, não, não! Kyoko! — exclamou. A garota já não podia mais ouvir.
A lava do solo dissipou-se após um tempo, e San regressou às correntes, fazendo-o despencar ao solo. Com a garota em mãos, agachou-se sobre a grama queimada, e acariciou seus cabelos.
— Merda, Kyoko… o que fazemos agora…? E de onde veio toda essa lava… — perguntou, a si mesmo. Mas sem tempo para pensar, uma rajada de fogo vivo foi liberada dentre as árvores, em direção aos dois. Todo aquele fogo veio com velocidade, e San não teve tempo de reagir.
Seu último movimento, foi cobrir a pobre garota desacordada com seu próprio corpo, protegendo-a da rajada de fogo que vinha. E em poucos segundos, o corpo de San, que protegia a Kyoko adormecida, foi completamente engolido pelas chamas liberadas por algum usuário misterioso. Talvez, aquele momento fosse o segundo final de sua vida.
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
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