A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1 – Arco 4

Capítulo 22: Um Hotel sem Hóspedes

 

Todas as equipes, com exceção dos instrutores, estavam reunidos em um quarto do hotel. Os garotos estavam espalhados pelo quarto, alguns espremidos na janela, outros descansando na cama, outros sentados no tapete, entre outros lugares. San estava deitado na cama, observando o teto. Kyoko também estava sentada ao seu lado, junto de mais duas pessoas. San sentia-se entediado com o silêncio daquela sala. Kyoko havia levado todos a força para o seu quarto no hotel, para que ficassem seguros com o possível monstro à solta.

A esquerda da cama, do outro lado do quarto, um som de batida metálica ecoou pelas paredes. Era Arashi, forçando para esconder o corpo dentro de um pequeno armário de metal nos fundos. Depois de bastante esforço, ele retornou ao quarto junto de todos.

— Tem certeza de que é uma boa ideia deixar o corpo escondido em um armário, Kyoko? — perguntou Arashi, limpando o suor da testa enquanto caminhava até a cama.

— Prefere que eles vejam, e coloquem a culpa em nós? Aqueles ferimentos não são comuns. Um ataque daquele nível só poderia ser executado por um feiticeiro, e nós, provavelmente somos os únicos aqui. Pelo menos, ao que todos achamos.

— Kyoko tem razão — disse Yami, que estava quieta no canto do quarto, parada como uma assombração. — Eles não gostam daqueles que possuem mágica nas veias… sem nossos líderes, não teremos como fazer nada.

O que Yami dizia, infelizmente, era a verdade. O preconceito contra feiticeiros existe desde a era em que a Primeira Ordem foi executada. Obviamente, em meio a um homicídio fechado como este, as pessoas colocariam a culpa nos feiticeiros hospedados no hotel. Não haveriam discussões, e sem os instrutores responsáveis pelas equipes, era provável que todos fossem presos.

— É só lutar contra eles! Que humano idiota tentaria colocar as mãos em nós? — exclamou Arashi, com confiança.

— Está maluco? Quer iniciar uma guerra? Se encostarmos em qualquer humano aqui, as forças armadas viriam na hora. É melhor mantermos o corpo escondido… pelo menos, até descobrirmos o que aconteceu.

Kyoko repentinamente havia tomado uma postura de superioridade, estava determinada a liderar e impedir que seus aliados se envolvessem em encrencas.

— Acalme-se, Kyoko… — disse San, enquanto acariciava os cabelos dourados de Kyoko suavemente. Os cabelos amarelados brilharam serenamente em resposta ao toque. — Precisamos focar em desvendar tudo isso agora. Então tente não perder a cabeça lidando com o Arashi, ok? — Ela soltou um resmungo fofo, como uma criança pirraçando. Arashi caçoou os dois ao fundo, e Sakura jogou uma almofada na cara dele.

— Vocês quatro são melosos demais. Principalmente o Arashi e a Sakura — caçoou Tsukasa, virando uma página do livro que tinha em mãos. Estava lendo usando um óculos, mas era apenas por estética.

— E então, quando é que a gente vai se mexer? — exclamou Yui, que estava tentando virar um mortal no colchão, apoiada na cabeceira da cama. — Já estamos parados aqui faz meia hora!

— Estávamos apenas esperando o Arashi enfiar o corpo no armário — respondeu Kyoko, em um tom de voz gentil.

Yami observava-os no canto do quarto, com uma face de desgosto.

— Vocês são esquisitos… — murmurou.

— Olha quem fala, você parece um fantasma. Devia tentar ser mais amigável — disse Wei Yang, deitado no tapete circular do chão, Yami ficou pensativa com o comentário, e o clima ficou tenso com o silêncio de Yami. Mas para a surpresa de todos, ela se juntou a eles no centro do quarto.

— Vou ter que aturar vocês pelo resto das férias… não é inteligente me isolar por tanto tempo. Aceito sua proposta, Wei. Mas por favor, não façam perguntas. Apenas me tratem como uma pessoa normal.

Mesmo achando aquilo estranho, eles resolveram não questionar. Kyoko logo tomou posição no centro do quarto, e disse, em um tom elevado.

— Existe um monstro entre nós. Onde? Ninguém sabe. Quem é? Temos suspeitas. Se quisermos sobreviver até que os instrutores retornem, teremos que encontrá-lo por conta própria. E isso tudo… antes que os humanos encontrem os corpos, caso ele faça mais ataques.

— E então… o que você sugere? — perguntou Sakura, degustando uma maçã roxa. Provavelmente algum item extraterrestre.

— Onde conseguiu isso, Sakura?

— Sei lá, achei na geladeira da nossa nave. Kisaragi deve contrabandear coisas desse tipo.

— Enfim… começaremos a investigação hoje. No caso, agora. Eu… não sei exatamente o que dizer para motivar vocês… e nosso plano é bem simples. Wei, Arashi, e Namida vão ficar no quarto protegendo o corpo. Wei pode criar fumaça caso alguém entre, e Arashi pode tirar o corpo dali bem rápido. Com os espelhos, Namida pode confundir o intruso. E o resto de nós, irá investigar lá fora, separados em duas equipes.

Arashi soltou um resmungo, mas concordou com a cabeça. Kyoko sorriu com a decisão de Arashi, e abriu a porta que estava logo atrás dela. Todos foram saindo um a um atrás de Kyoko, e quando o último saiu, a porta se fechou sozinha. Direcionaram as visões para a porta por um instante, raciocinando se aquilo foi apenas impressão.

— Está certo isso…? — perguntou Sakura.

— Deve ter sido o vento. Vamos logo, separar as equipes.

Logo, todos se juntaram para perto de Kyoko.

— Ei… cadê o Kisaragi? Não vi ele desde que chegamos aqui — disse San, coçando a sua nuca.

— Realmente… Ishida também sumiu. Será que aconteceu algo com eles?

Ao ouvir o nome Ishida, Tsukasa logo ficou alerta. Ishida era a pessoa que ele havia resgatado em Ice Rings. Aquele que porta o Coração de Vorthis.

— Ishida…? — perguntou.

— Sim, ele entrou para a nossa equipe depois da missão na Nebulosa. Ele e Kisaragi deveriam estar aqui em algum lugar… Agora que você disse, realmente sumiram já faz um tempo. Será que isso tem alguma ligação…?

— Bom, de qualquer forma, vamos procurá-los. Eu irei com a Yami e a Yui. Vamos para o andar de cima, e vocês para o de baixo. Como sou melhor em rastrear… acho que a posição mais alta é adequada — explicou Tsukasa. Yami e Yui logo se juntaram a ele, e os três se distanciaram pela extensão do corredor.

Junto de Kyoko, restaram Sakura Yukari e Thomas Grace. Se reuniram junto dela, enquanto olhavam para a garota esperando que ela desse as ordens.

— Vamos descer então. Fiquem atentos a qualquer coisa, a qualquer pessoa… a qualquer ruído. Não deixem nada escapar! — Os outros dois concordaram, e Kyoko liderou o caminho pelos corredores até a escadaria.

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Arashi, Wei e Namida permaneceram no quarto. Arashi estava entediado, pendurado de cabeça para baixo com as pernas apoiadas no topo do armário. Wei lia livros, e Namida estava perdido em seus pensamentos, olhando para o teto.

— Por que a gente tem que ficar aqui? Não é como se algum enxerido fosse vir apenas para olhar o armário nos fundos — resmungou Arashi, balançando seu corpo preso ao armário.

— Ninguém vai… — disse Namida, soltando um bocejo em seguida. — Mas temos que manter a guarda… caso alguém entre… a gente para ele…

— Você também parece que está morto, Namida. O que é que tem de tão bonito no teto afinal?

— Hum? — perguntou com um resmungo.

— Deixa para lá…

O tempo continuou passando, e eles já não tinham retornado ao quarto ainda. Agora, Namida estava dormindo, e Wei estava cozinhando na pequena cozinha que tinha naquele quarto de hotel. Arashi andava pelo quarto de um lado para o outro, até que de repente, sentiu algo diferente. Parou de caminhar na hora, e seus olhos se arregalaram.

— Que foi, carinha? — questionou Wei, quebrando um ovo dentro da frigideira. Estava usando um avental branco para não se sujar.

— Não sei… estou com um pressentimento estranho, deve ser coisa da minha cabeça. Está cozinhando o que aí?

— Verá quando estiver pronto. Inclusive, tente acordar aquele seu amigo para vida antes que a comida fique pronta. Se não, eu não vou deixar nada para ele.

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Tsukasa, Yami e Yui estavam quase chegando no último andar, após terem explorado boa parte dos corredores, quartos, compartimentos e cômodos do prédio, os três pararam dentro da sala do zelador. Ele não estava por ali no momento, então eles puderam se reunir ali.

— Por que paramos, Tsukasa? — perguntou Yui, com olhos curiosos, como os de uma criança.

— A flauta… de novo… — respondeu, e logo Yami o olhou com interesse.

— Só você pode ouvir, não é?

— Está mais perto dessa vez… não, está no hotel. Precisamos seguir o som da flauta! — exclamou, abrindo a porta de alumínio da sala, e saindo para os corredores novamente. O hotel estava estranhamente quieto demais, e nenhum ruído vinha de lugar nenhum. Como se estivessem sozinhos naquele prédio.

— Espere! Temos que verificar o prédio também! — gritou Yui, ao fundo. Ouvindo a garota, Tsukasa arrombou com facilidade uma das portas de um quarto usando o ombro. Ali não tinha nada, e nem ninguém. Nenhum som, sem um único sinal de vida.

— Não desse jeito, Tsukasa… — resmungou Yami, olhando de braços cruzados.

— Não temos tempo. Se fugir de novo… — demorou um pouco para responder, pensando nas consequências, e que talvez não encontrariam o usuário da flauta tão próximos como agora. — É nossa melhor chance até agora. Não vamos perder tempo.

Com pressa, os três saíram daquele quarto e voltaram ao corredor. Virando da esquerda a direita, com apenas o som de seus passos correndo sobre o chão liso ecoando pela extensão daquele lugar. Virando a direita, se depararam com a escadaria. Todos subiram, tentando acompanhar os passos rápidos de Tsukasa. Ele por algum motivo, estava totalmente determinado a chegar no local em que o soar da flauta tocava em uma bela sinfonia.

“Está tão perto…” pensava, deixando seus instintos guiarem seus movimentos.

Enquanto eles subiam, Kyoko e seu grupinho desciam para o térreo. Não haviam encontrado nada de anormal no caminho, na verdade, estavam achando estranho o fato de ninguém se importar com as invasões repentinas aos quartos dos hóspedes. Mas ao mesmo tempo, ninguém iria reclamar, pois não havia ninguém nos quartos.

Um dos corredores do segundo andar do prédio funcionava como uma pequena ponte. Ele passava por cima da área de comércio do hotel, e tinha uma vidraça para observar o movimento abaixo. Os três alcançaram a vidraça, e notaram algo estranho dali de cima.

— Não tem… ninguém no hotel? — perguntou Sakura, se apoiando na vidraça para poder ter uma visão mais ampla.

— Aparentemente, não tem ninguém mesmo… O que você acha, huh… eu meio que esqueci o seu nome… — disse Kyoko, envergonhada, ao Thomas.

— É Thomas Grace. Talvez a pessoa que fez aquilo com a vítima tenha nos colocado em algum tipo de ilusão.

Sakura estava observando os dois enquanto falavam. Mas quando seus olhos tornaram para a vidraça novamente, viu uma silhueta familiar perambulando por ali. Familiar, e também desagradavel. Era Kisaragi, membro da Infinity-Z. Talvez, o “feiticeiro” mais inútil de toda a Corp.

— Ei, Kyo… aquele ali não é o Kisa? — perguntou Sakura, apontando o dedo para o garoto no andar de baixo, que estava tentando roubar as lojinhas já que estavam vazias.

— O Kisaragi? — Kyoko correu para a vidraça, e observou também. — Ah, é o Kisaragi.

— Ei! Seu idiota! O que pensa que está fazendo?! Só porque não tem ninguém para te punir? Saiba que nós estamos vendo! — berrou Sakura, se pendurando na vidraça. Kisaragi apenas olhou para eles e então voltou a mexer nas coisas dos comerciantes.

— Que canalha…

Kyoko tomou a liderança, e avançou para a escadaria.

— Vamos lá, tentar colocar alguns neurônios na cabeça daquela jamanta.

Os três desceram, e quando chegaram no local, Kisaragi havia sumido. Procuraram de um canto ao outro, mas nenhum sinal do garoto. Thomas não estava se esforçando muito, mas ele sempre agiu desta forma. Sakura, cansada, sentou-se num balcão daquela área, e soltou um suspiro.

— Isso aqui não está levando a lugar nenhum. Vamos voltar? Arashi vai enlouquecer se ficar tanto tempo trancado em um lugar só.

— Ainda não! Nem descobrimos nada ainda, Sakura. Já está desistindo? Eu vou continuar! — encorajou Kyoko, com uma mão em seu peito.

Antes que Sakura pudesse responder, um barulho escandaloso saiu de dentro do banheiro, que estava do lado de Kyoko. Ela virou o olhar rapidamente, dando um pulo, assustada. Sakura ficou em alerta e se preparou, afastando-se da porta lentamente, até o lado de Kyoko.

— O que foi isso?

— Não sei… quer dar uma olhada?

As duas ficaram tensas, e com o foco preso na porta. Thomas, tranquilo, apenas andou entre elas e puxou a maçaneta. As duas se assustaram quando viram o garoto fazer isto, mas não tiveram reação rápida o suficiente para impedi-lo. Ele abriu a porta, e um grito ensurdecedor saiu de dentro do banheiro. As duas logo se aproximaram de Thomas, tentando ver o que tinha lá dentro.

A cena era um tanto perturbadora. Kisaragi estava sendo puxado pelos pés por algum tipo de criatura negra, humanoide e gosmenta. A criatura tinha uma face de desespero, e sua boca derretida era gigantesca. O monstro estava com metade do corpo para dentro de uma privada, e estava tentando puxar Kisaragi para lá também.

— SOCORRO! ME AJUDEM, PORRA! — gritou o garoto, em pânico puro.

“Um falso demônio, aqui?!” pensou Kyoko, que logo se enfiou para dentro do banheiro, materializando uma flecha de luz em suas mãos. Ela segurou a flecha como uma lança, e atirou com toda potência bem na face da criatura, que se espatifou em várias pequenas gosminhas.

— Belo tiro, Kyo! — comemorou Sakura, segurando Kisaragi nos braços e se apressando para sair daquele local.

— Esses bichos estão vindo de todo lugar. Argh… o que será que está acontecendo em Londres?

Os pedaços de gosma liberados da criatura lentamente foram retornando para dentro da privada, enquanto os quatro saíam de dentro do banheiro.

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No andar de cima, Tsukasa e os outros ainda tentavam alcançar o som da flauta. Não haviam barreiras no caminho, até porque o hotel estava vazio. No último andar do hotel, chegando em uma sala com visão para toda Londres, os três adentraram-se ali agressivamente. Tsukasa olhou para a pessoa à sua frente, e seus olhos avermelhados se arregalaram.

Era uma bela mulher de cabelos pretos e ondulados, seus cabelos eram longos e passavam dos quadris. Estava sentada a uma poltrona em frente a uma vidraça com paisagem para uma boa parte de Londres. Usando um belo vestido preto e longo, que se estendia até o chão. Em suas mãos, uma flauta dourada, que em sua boca emitia uma encantadora melodia. Mesmo estando frente a frente com a mulher, apenas Tsukasa podia ouvir o soar da flauta.

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Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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