Volume 1 – Arco 4
Capítulo 21: Um Monstro entre Nós
Os três garotos; Tsukasa, San e Yui saíram do hotel furtivamente. Os outros dois seguiam os passos de Tsukasa, e ainda não haviam entendido muito bem o que estava acontecendo. Ele parecia ter certeza de que estava ocorrendo algo estranho em Londres, mas ao mesmo tempo, não sabia exatamente o que era. Ou pelo menos, não tinha certeza.
— Mas… o que você quis dizer com Londres sendo amaldiçoada? Tem alguém fazendo macumba aqui? — perguntou Yui, que estava um pouco atrás dos dois, pois eles ocupavam a calçada inteira.
— É complicado de explicar, eu também não sei direito. Apenas sinto.
— Você também comentou sobre o som de uma flauta… que flauta? — perguntou San.
— O soar da flauta vai ficando cada vez mais alto. Vocês não conseguem ouvir, isso só reforça minhas teorias.
Carros iam passando pela rua, pessoas esperavam na faixa de pedestre para poder atravessar a estrada. As luzes dos sinais lentamente alternavam entre verde, amarelo, e então vermelho. Ao fundo, os três seguiam em uma calçada deserta. Tsukasa andava com os olhos fechados, para sentir as energias à sua volta com mais eficiência.
— E… para onde a gente está indo? — questionou Yui.
— Analizar o que há de errado por aqui.
Os pássaros voavam ao céu, abrindo suas asas e liderando seu bando. Quando pousavam no galho das árvores, cantavam uma melodia delicada e suave. A este ponto, já tinham se distanciado bastante do hotel. Tsukasa estava a alguns minutos sem dizer nada, e apenas seguindo reto.
— E… o que você quer que a gente faça? — ele continuou andando por um tempo, sem responder. Até que abriu os olhos, e se tornou a eles.
— Eu não necessariamente precisava da tua ajuda Yui. Mas, talvez você seja útil.
“O que você acha sobre isso tudo, Zephyria…? Já ouviu falar sobre algum tipo de flauta que as pessoas não podem ouvir?” pensou San, e a voz novamente voltou a responder.
“Já vi coisas que não podem ser ouvidas por outras pessoas, mas isso é um fator muito relativo. Mas se apenas o garoto pode ouvir o soar da flauta, suponho que seja algum tipo de magia que ele e o usuário do som compartilham.”
San olhou para Tsukasa, profundamente, e começou a pensar em que ligação isso poderia ter. O garoto voltou sua visão ao San, e perguntou:
— Pode usar sua Alquimia no ar, San? Da mesma forma que eu faço. A sua talvez fique visível, mas já será viável para sentir o ambiente.
— Eu posso tentar… — disse, e então fechou os olhos, erguendo uma mão ao céu. Pequenos amontoados de energia dourada começaram a sair da palma de sua mão e de seus dedos. A Alquimia se espalhava e era levada com o vento, e San lentamente foi absorvendo a sensação do ambiente à volta. — Eu posso… sentir…
— Ótimo. Diga-me, sente alguma anomalia nesta área?
— Não… para mim, está tudo normal — respondeu, enquanto abria os olhos e abaixava a mão, parando a liberação de magia.
— Então não estamos próximos o suficiente… deve estar mais à frente.
San resmungou, e eles continuaram seguindo.
Em volta, sons de reportagens e anúncios ecoavam por toda Londres, em grandes telas que ficavam nas paredes dos prédios. O som dos carros passando, os pássaros cantando, pessoas caminhando, tudo isso lentamente ia ficando distante e abafado. Quando chegaram em um certo ponto, próximo ao centro da cidade, Tsukasa tornou a eles novamente.
— Pode fazer isso de novo, San?
— Tudo bem… — San fez o mesmo movimento, erguendo a mão para o alto e fechando os olhos. A energia se espalhou com o ar, e desta vez, San sentiu algo diferente.
“O que é isto?! Está sentindo também, Zephyria?” pensou, e ela lhe respondeu.
“Sim… esta energia… me lembra… Vorthis Crepitus. Pode ser que estejam lidando com aquilo que nomearam de… Mórtivus.”
— É a energia de um Mórtivus! Pelo menos é o que Zephyria disse — exclamou San, abrindo os olhos novamente.
— Como eu pensei… olhem em volta. As pessoas não estão exatamente normais. — Os dois pararam, e observaram. Naquele ponto, as pessoas andavam monótonas, como se já tivessem sido programadas para fazer isto várias horas antes. Seus olhares estavam sem emoção, passos sem vida, e sequer conversavam uns com os outros mais.
— O que é esse tal de Mórtivus que vocês estão comentando? É uma pessoa?
— É complicado de explicar, posso te dar detalhes outra hora — disse San.
— Yui, sua Alquimia tem natureza? Ou então, tem alguma habilidade especial? — perguntou Tsukasa, que incrivelmente, era o que estava mais tranquilo entre os três.
— Minha natureza é a Orgânica. Precisa que eu faça alguma coisa?
— Orgânica? Hum… será inútil por enquanto. Mas, apenas por enquanto.
Então, naquele momento, algo mudou. De repente as pessoas voltaram a andar normalmente, e suas expressões voltaram ao comum de um ser humano. Começaram a conversar, e a viver normalmente.
“O som da flauta… parou…” pensou Tsukasa, arregalando os olhos.
— O que foi? — perguntou Yui.
— Não escuto mais a flauta. O usuário deve ter conseguido o que queria…
— E então, o que vamos fazer?
— Vamos voltar.
Eles fizeram o caminho de volta, decepcionados por não terem descoberto quase nada. No entanto, enquanto andavam pela calçada, San olhou para um beco e notou algo diferente.
— Ei, galera… Aquilo estava ali antes? — perguntou. No fundo do beco, havia um cadáver completamente ensanguentado, com marcas de garras no peito e no rosto. Sua cara estava deformada, e sua boca estava estourada, como se tivesse sido arrancada à força.
— Definitivamente não, vamos dar uma olhada.
Os três adentraram-se no beco, e agacharam perto do corpo. Tsukasa passou dois dedos pelo sangue, e sentiu algo anormal.
— Tem sangue negro misturado…
— Sangue negro?
— É sangue de Mysthrum. Acho que você estava certo, San. Estamos lidando com um Mórtivus.
Então os três rapidamente deixaram o local, para ninguém pensar que foram eles quem cometeram o homicídio. Retornando ao hotel, na portaria, os instrutores; Hifumi, Gyokku e Minami Yamamoto saiam juntos para o lado de fora.
— Hum? Onde vocês estavam, garotos? — questionou Minami, com uma expressão serena.
— Dando uma volta. Levamos Yui junto, ela disse que queria conhecer Londres melhor também — explicou Tsukasa, inventando a mentira instantaneamente.
— Entendo… que bom que estão gostando das férias!
— E para onde vocês estão indo? — perguntou San.
— Reunião de última hora em Tóquio. Não se preocupem, logo estaremos de volta. Vocês não precisam voltar conosco. Inclusive, se comporte, San — disse Hifumi, e então, os instrutores seguiram para a estação de Londres. Os três viram eles partirem, e Yui murmurou:
— Estão indo embora… não era melhor avisarmos a eles sobre o que nós vimos lá atrás?
— Bom, tanto faz. Nós podemos resolver isto por conta própria. Até agora, somos apenas nós que sabemos sobre isso, então, tentem manter assim. Não precisamos alarmar ninguém.
Dentro do hotel, todos estavam meio entediados. Depois de muito tempo, Thomas finalmente havia se juntado a eles. Enquanto conversavam na área de lazer, Tsukasa, San e Yui retornaram. Os olhares foram voltados para eles.
— Foram fazer o que exatamente? — perguntou Wei Yang.
— Já resolvemos o problema! Não era nada demais. Então, o que estão fazendo aí? — exclamou Yui, eufórica.
— Nada demais. Está tudo bem entediante por aqui.
— Os instrutores também foram embora. Agora, estamos sozinhos. Mas pelo menos ninguém teve que ir junto — disse Arashi, enquanto caminhava para se juntar ao seu irmão.
— Ainda vai precisar da minha ajuda mais tarde, Tsuki?
Tsukasa olhou para ele, e disse enquanto gesticulava:
— Não. Já resolvemos tudo por lá. — Arashi, notando que seu irmão estava fazendo gestos para falar, percebeu que não era para os outros saberem, e que talvez iria precisar de sua ajuda.
— Hum… se você diz.
Após isso, todos se reuniram dentro do hotel, em uma grande sala de estar com uma mesa de vidro ao meio, e uma enorme TV LED à frente. Estavam sentados em sofás vermelhos em volta da mesa. A presença de Yami Hikari na sala deixava o clima mais pesado. Os únicos que não estavam tensos, eram Tsukasa, Thomas e Namida, e os outros membros da Infinity-W. Kyoko estava bem próxima ao San, e Arashi tentava manter o máximo de distância de Sakura.
— E então… o que vocês querem fazer? — perguntou Wei. — A gente já viu TV por bastante tempo antes da última equipe chegar. Já até perdeu a graça.
— Podemos tentar… treinar um pouco juntos? Assim podemos conhecer as habilidades de todos — murmurou Kyoko, meio tímida.
— É uma boa ideia! — exclamou Yui. — Mas um treino comum com tantas pessoas não iria dar certo. Que tal fazermos um jogo!
— Que tipo de… jogo? — questionou Yami, em um tom de voz tão baixo, que parecia um sussurro.
— Talvez um jogo de caça…
— Caça? — perguntou Arashi.
— Caça!
— E como isso funcionaria?
— Nós escolhemos um caçador, e o objetivo dele… seria tocar em um de nós. Aqueles que forem tocados serão “mortos pelo caçador!” E então não poderão mais jogar. Vale usar magia, óbvio, mas não para matar ninguém! Entendeu, Yami? — Yami resmungou em resposta.
— Certo…
— Não parece tão ruim — disse Namida.
Eu quero ser o caçador então! — exclamou Arashi, já se levantando do sofá.
— Nope. Vamos escolher aleatoriamente, fica calminho aí! E então… Yami, pode nos ajudar com isso?
Ela hesitou um pouco em responder, mas logo sua voz baixa e sombria surgiu.
— Certo…
Yami se levantou, e ergueu uma mão para o alto. Uma energia sombria, que lembrava a energia do próprio espaço, se materializou no ar, na forma de uma esfera.
— Me digam seus nomes… — murmurou, e todos foram falando seus nomes completos em sequência. — Ótimo…
A orbe lentamente foi se moldando. Se parecia com uma nuvem cósmica em tom escuro. A mágica do espaço era facilmente visível em meio àquele poder sombrio. A nuvem lentamente foi moldando letras, até formarem o nome completo; Thomas Grace.
— Thomas Grace… este será o caçador. — Thomas suspirou profundamente, e se levantou.
— O que querem que eu faça…? — perguntou, e Yui logo começou a correr na direção contrária.
— Tente nos tocar! É o seu objetivo, mate todos!
Todos lentamente se afastaram de Thomas, e ele ficou imóvel. Colocou seus dedos nos óculos para ajustá-los, e olhou a situação à volta.
“Mate todos…” pensou, e então começou a caminhar, com passos lentos. Alguns iam subindo para os andares de cima, conforme Thomas se aproximava de Yui primeiro, que havia corrido para o lado de fora. Enquanto se aproximava, várias ervas e raízes de madeira surgiram do chão, se erguendo para capturá-lo.
“Alquimia Orgânica…” pensou, e começou a se movimentar com velocidade para se esquivar das raízes de Yui.
— Não vai me alcançar! Haha! — exclamou, mas Thomas não estava focado nela. Usou as vinhas para chegar na altura do segundo andar, e então saltou para a janela, invadindo o quarto onde estava Namida Sato, esperando Thomas aparecer da porta. Quando olhou para trás, Thomas já estava o tocando pelo ombro.
— Adeus, Namida.
— Oh… já perdi? Que saco eim…
Thomas lentamente saiu do quarto onde estava Namida, e entrou no quarto da frente. Ali estava Wei Yang, encostado na parede do outro canto do quarto. Quando notou que Thomas havia chegado, deu-lhe um sorriso e o quarto inteiro foi repentinamente coberto por uma cortina de fumaça, que saía da boca de Wei.
“Fumaça…” pensou, e estendeu uma mão para o lado. Após segundos, sua mão agarrou alguma coisa. Era o braço de Wei, invisível pela fumaça.
— Adeus, Wei — disse, e então a fumaça desapareceu.
— Argh! Consegue ver através da fumaça, é?
Thomas saiu do quarto, e do corredor, uma flecha de luz passou perante seus olhos. Ele não teve reação, e quando olhou para o lado, ali estava Kyoko, com o arco em mãos. Ela correu pelos corredores, como um flash de luz. Thomas lentamente seguiu em frente, e ali estava Tsukasa encostado à parede. Ele não fez absolutamente nada, e quando Thomas passou por ele, apenas estendeu a mão. Thomas estendeu também, e as mãos se tocaram. Tsukasa foi pego.
— Adeus, Tsukasa — disse Thomas.
— Adeus — respondeu Tsukasa, enquanto cruzava os braços.
Thomas já havia pego três pessoas, e então, desapareceu por um tempo. Os outros furtivamente caminhavam pelos corredores, até que Arashi e Kyoko se encontraram.
— Ei… Kyoko… ele já te achou?
— Sim, mas não me atingiu…
Enquanto falavam, uma voz ecoou de dentro do banheiro, que estava ao lado deles.
— O que é… isto…? — disse a voz, era a voz de Thomas.
— Será que aconteceu alguma coisa? — perguntou Arashi. Logo em seguida, Kyoko puxou a maçaneta e os dois espiaram. Thomas logo se virou para eles, e tinha uma expressão assustada.
— Chamem os outros! Tem uma pessoa morta aqui!
Kyoko e Arashi logo adentraram-se no banheiro, e realmente havia um cadáver dentro de um dos boxes. Estava totalmente rasgado, e seu sangue escorria por todo o chão. Uma gosma negra era visível dentro de seus ferimentos.
— Isto é… a mesma composição da gosma dos falsos demônios… droga!
Após um tempo, os outros foram chegando, e logo avistaram aquela cena. Kyoko se aproximou de todos, e com um olhar sério, ela disse:
— Mantenham-se alerta. Este tipo de gosma não é nada comum, nem na terra e nem no espaço. E se tem um cadáver aqui… eu suponho… que haja um daqueles monstros entre nós.
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
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