A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 19: Visões

Zephyria, paralisada com a dedução de San, permaneceu imóvel onde estava. Apenas o encarando com seu olhar mítico. Em seus olhos, era visível parte da galáxia.

— O que você quer dizer com isso…? — perguntou, em estado de choque. Mesmo sem querer acreditar, no fundo ela sabia que o que estava fazendo já havia passado dos limites.

— É você quem ainda polui Nephthar, Zephyria. Os lobos… olhe para eles! Sequer possuem um corpo orgânico. Sequer possuem malícia. Mas ao seu controle, vivem monotonamente. Seguindo ordens, correndo atrás de alvos, protegendo um reino abandonado… não é escolha deles, é apenas sua escolha.

— Eles não têm alma… não possuem consciência… — disse Zephyria, olhando para baixo.

— Não é assim que você pensa, se não os veria como corrupção também. Você os vê como seu povo, mas os controla, achando que isso pode organizar as coisas. Mas não vai, Zephyria. Apenas irá saciar sua vontade de conceder a luz para este lugar. — Zephyria se calou, e agora apenas ouvia.

— Mas me diga… o que mais pode ser tão puro quanto a natureza? Você fez o que deveria fazer, exterminou os humanos. E o que restou? Apenas a natureza original deste lugar, criaturas sem intelecto elevado, que apenas vivem e fazem decisões com base em seus instintos. Não é natural o suficiente para você? Não é… puro? Ou você acha que transformá-los em robôs é a melhor forma de vida para esses seres?

Zephyria parecia estar colocando a mente em ordem pela primeira vez. Ficou quieta, e então se sentou ao chão, encostada na parede junto de San.

— Talvez… o pedido dos humanos tenha feito esta pequena estrela sair da linha… no fim, eu realmente não estava preparada para lidar com esta realidade… Rahasya irá ficar tão irritada…

— Rahasya? A árvore que possui as raízes da realidade? — perguntou San, enquanto lentamente se sentava ao lado de Zephyria ao chão.

— Você não entenderia… é apenas um humano. Sol estava certo, talvez, nem todos os humanos sejam ruins.

— O Sol…? Ele também tem consciência?

— Todas as estrelas têm, pequeno.

San ficou boquiaberto. Nunca imaginou que a estrela que iluminava a luz do dia na terra, teria uma consciência, e falasse assim como qualquer outro.

— Fascinante! — exclamou San, que aparentemente tinha pegado a mania de Milan ao sempre dizer “fascinante”.

— Mas assim como nem todos os humanos são bons, nem todas as estrelas são receptíveis como nós. Tome cuidado ao se comunicar com as entidades superiores, pequeno.

Hum… inclusive, eu pude ver algumas partes do dilúvio… quer dizer, eu tive visões sobre… esse seu castigo.

— Visões, você diz? Então ele realmente escolheu a você… mas acho que agora, posso entendê-lo. Você realmente parece um humano diferente.

— Ele me escolheu…? Ele quem? — perguntou, desviando o olhar para Zephyria com curiosidade.

— Não importa. Você disse que teve visões, não é? Então você é alguém muito importante…  e especial. Se ele confiou este poder a você, então confiarei também.

Após dizer, Zephyria se levantou e se aproximou do garoto.

— Agora veja… San… a realidade em Vollmond… — ela estendeu a mão em direção ao garoto, e ele encarou por alguns segundos. Confuso, ele segurou a mão de Zephyria de volta.

Logo após se conectarem, várias visões passaram diante de seus olhos. Um reino inicialmente alegre, recém construído. As pessoas aplaudiam de baixo. Enquanto saudavam, um homem de cabelos pretos, uma grande barba, e vestindo um manto de pele marrom apareceu. Segurava um cajado de pedras escuras, enquanto o erguia para cima. Este era o Rei Lobo, originalmente conhecido como Nekhron. Estava fazendo um discurso a todos, inaugurando as novas terras, um novo lar. Este lar, logo seria nomeado por ele como; — Vollmond, o Reinado da Noite.

Um tempo depois, o Rei Lobo usou sua alquimia para criar formas de vida. Sua natureza era um tipo de rocha bem sólido, com uma coloração mais escura. Fundiu esta energia com energia Atômica, que um feiticeiro renomado da época tinha controle sobre. Ele não era muito criativo, e queria criar companheiros que agradassem as pessoas, e não as assustasse. Então, resolveu pedir a opinião do povo. Eles davam várias sugestões, Elfos, Fadas de pedra — mas o Rei recusou, pois não poderiam voar com asas de pedregulho — até mesmo formas de vida semelhantes a seres humanos. Mas então, uma pessoa deu uma grande ideia. “Neste mundo… a lua sempre estará brilhando no céu. Nunca amanheceu, e nunca amanhecerá. O senhor mesmo decretou que este é o Reinado da Noite… então, para podermos adorar a Lua Cheia, por que não criar Lobos?”.

Aquela ideia havia mudado Nephthar para sempre. O Rei começou a criar Lobos de pedra em massa, pois os humanos se sentiam muito solitários em um planeta onde só haviam pessoas. Os moradores de Vollmond adotavam os Lobos para eles mesmos, e inicialmente, cuidavam deles com amor e atenção. Os Lobos eram parte da família, amigos fiéis para o resto de uma vida. Mas cansados de ver a escuridão da noite toda vez que acordavam, os moradores decidiram reclamar ao rei para que melhorasse suas situações.

O Rei, sem saber o que fazer, lembrou de sua parceira mais leal. A estrela que havia lhe concedido sua alquimia assim quando nasceu. Esta era, Zephyria Astralis. Ele rezou para a estrela, suplicando que lhe ajudasse a salvar seu povo daquela miséria, mas a estrela não respondeu. O Rei, vendo que suas preces não seriam o bastante, construiu com seu poder uma estátua que reverenciava Zephyria Astralis no centro do reino. As pessoas oravam por Zephyria, e suplicavam por sua ajuda. Mas assim como antes, sem respostas.

Eles ficaram cada vez mais indignados, e descontaram essa raiva nas criaturas sem consciência que habitavam em suas casas. Os Lobos de pedra. Não os viam mais como família, e sim como ferramenta. Os lobos eram usados em batalhas mortais, como pequenos brinquedos. Treinavam seus lobos para fazê-los batalhar contra o lobo de seu inimigo. Também os usavam para fins prazerosos, e descontavam sua fúria batendo nas pequenas e inocentes criaturas. Quando sentiam que não precisavam mais dos lobos, os usavam como fogueira à noite.

A situação já estava incontrolável, e o Rei não podia fazer mais nada. Apenas orar para a pequena estrela. Usou suas forças para criar secretamente um compartimento embaixo de toda Vollmond, era uma fortaleza inteira. Usou aquele lugar para se isolar de seu povo medíocre, e estudar meios de converter aquela situação. Criou um santuário, para poder orar por Zephyria todas as noites. A estrela sempre ouviu todas as preces, mas nunca soube como poderia ajudá-los. Por mais que precisassem da ajuda de seres superiores, eles não podiam simplesmente modificar a realidade. Após raciocinar, Zephyria tirou sua própria conclusão. Os moradores oravam para ela os libertar das trevas, e o rei orava para que ela lavasse as impurezas de Nephthar. Então, Zephyria decidiu. Talvez se lavasse as impurezas, assim como o Rei queria, o planeta ficaria livre das trevas.

E da maneira como ela imaginou, assim foi feito. Em um certo dia, os moradores saíram para fora de suas casas e viram uma grande luz roxa brilhar no céu. Era como um sol rosado, que iluminava o planeta. Pela primeira vez em suas vidas, eles viram a luz do dia. Todos saudaram, e alguns choraram de emoção. Suas preces fizeram efeito, finalmente a estrela havia os reconhecido. Mas suas felicidades não duraram muito tempo. O céu foi nublado por várias nuvens, e de dentro delas, uma enorme quantidade de água em formato de um tornado desceu até o solo. Para alguns, fazia parte da salvação. Para outros, aquela era a verdadeira punição divina.

A água que descia do tornado foi se alastrando pelo planeta inteiro, e logo chegou em Vollmond. As casas foram arrastadas, pessoas foram esmagadas pelo peso das pedras em seus corpos, e outras se afogaram nas profundezas. Em poucas horas, não restava uma alma viva, além do Rei Lobo, chorando sozinho pela queda de seu reino inteiro.

Após ver todas essas visões, San acordou, caindo para trás com tanta informação ao mesmo tempo. Quando acordou por completo, notou que Zephyria havia desaparecido. Mas mesmo sem estar ao lado dela, ele sentia um sentimento feliz, como se tivesse sido libertado de um fardo pesado.

— Então é assim que você se sente agora… fico feliz que esteja mais confortável! — exclamou San, para o vento. Mas logo após dizer, ouviu no seu subconsciente uma leve risada alegre. Agora ele estava conectado à estrela, e podia sentir o mesmo que ela sentia.

Após tudo isso, San foi teleportado para a superfície por Milan. Todos o saudaram, e os lobos finalmente estavam livres para ter uma vida normal. Com uma sensação de dever comprido, Hifumi tirou o frasco com Guiltank dentro. Abriu o pequeno recipiente, e a nave saiu para fora com tudo.

— Fascinante! Então é assim que vocês carregam suas naves. — comentou Milan.

— Ainda não te perdoei por aquilo, Hoffmann. Não se dirija a mim como se estivesse tudo bem! — retrucou San, com raiva.

Ah, qual é. Foi só um mal entendido. Mas se você conseguiu… acho que minha missão aqui foi comprida. Nos vemos em Nefer Ra, San Hiroyuki.

— Nefer o quê? — antes que Milan pudesse responder, sua magia de luz o teleportou para bem longe dali.

A missão em Nephthar havia se concluído, e todos voltaram para a nave. Hifumi partiu violentamente, pois Guiltank era realmente muito potente. A caminho da terra, Arashi queria parar novamente para dar uma olhada no Mercado Antarãla, mas San lhe deu um tapa em sua nuca. Estava com traumas daquele lugar. Chegando na terra, o garoto finalmente voltou para casa e deitou em sua cama, cansado. Ele praticamente dormiu na hora, mas desta vez, seu sonho foi diferente. Ele estava flutuando em um vazio escuro, com apenas o som do nulo à sua volta.

— Que lugar… é esse…? — perguntou. Diante de seus olhos, uma estrela gigantesca e com um tom alaranjado — quase indo para vermelho — apareceu.

— Você fez um bom trabalho até agora, Hiroyuki. Ganhou a confiança de Zephyria, mas por favor, seja gentil com ela. Ela ainda é uma criança. O fim está próximo, Hiroyuki… quando tudo escurecer, e minha luz brilhar em um tom vermelho, Nefer Ra cairá por terra. Mas aquele capaz de mudar o destino virá a nossa salvação… não me decepcione, garoto Hiroyuki.

— Destino? Brilho vermelho… espera, você é… o Sol…?

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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