A Última Ordem Brasileira

Autor(a): Hanamikaze


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 15: Cinco vs Quinhentos

Após saírem do Mercado Antarãla, San se sentia aliviado por ainda estar ileso. Estava pensando na magia das trevas que havia usado acidentalmente, ele pode sentir a fome que aquele poder tinha por sangue, por violência. Por alguns segundos, foi divertido. Ele provou algo que nunca havia provado antes, o verdadeiro poder destrutivo. Mas quando se deu conta do tipo de coisa que estava pensando, ele tentou desviar sua atenção para alguma outra coisa.

Tsukasa estava degustando um por um das guloseimas que havia comprado. Alí haviam pequenas bolinhas azuis com uma aura maligna, folhas negras que se pareciam com algas, uma fruta com formato bem único, se parecia com uma estrela, mas era roxa. Havia também algum outro item parecido com uma abóbora, mas era gelatinoso e vermelho. Já Arashi, estava dormindo na poltrona. Era a primeira vez que San o via sem os cabelos presos, e como esperado, ficava idêntico ao Tsukasa. Ele não costumava prender os cabelos a todo momento como Arashi. Thomas olhava a janela friamente, parecia pensativo. Hifumi estava quase dormindo no banco do piloto, mas seus olhos estavam levemente abertos, olhando apenas por uma fresta. Estava com uma boca semi-aberta. A nave não estava em piloto automático, mas o cérebro de Hifumi provavelmente estava.

— Aí, Tsukasa… me passa uma frutinha dessas? — murmurou San, com uma voz pesada e lenta. Estava entediado e começando a ficar sonolento. Tsukasa estava bem acordado, pois ele nunca dormia.

— É bem picante. E acho que isso não cai bem em pessoas normais, Arashi comeu uma dessas coisas, e ficou uns quinze minutos trancado no banheiro.

— E por que você não foi para o banheiro ainda então? — perguntou, seus olhos estavam quase se fechando.

— Acho que meu estômago não funciona. Sabe, às vezes é como se eu estivesse morto, não sinto a maioria das coisas. Sono, fome, e nem dor.

— Não sente dor? — os olhos de San se abriram um pouco mais, pois estava surpreso com o comentário.

— Não, só um desconforto, e também sinto a sensação de queimadura.

— Ué, você não sente dor mas sente queimaduras? Por quê? — Tsukasa ficou quieto, e comeu a fruta em formato de estrela roxa.

— É complicado de explicar, é melhor você não saber. Mas foi culpa de um acidente, e desde então acho que meu corpo não funciona direito, eu devo ter algum defeito.

Enquanto conversavam, Hifumi acordou de seu transe de repente, e acelerou a nave ao máximo.

— Terra à vista galera. No caso, planeta à vista.

Adiante havia um planeta rochoso, com uma sombra se sobrepondo por toda a superfície. De longe aparentava ser pequeno, como um planeta anão. A água que dividia os continentes do planeta eram visíveis de longe, não chegavam a ser mares, mas sim rios bem extensos e largos.

Tsukasa pegou uma pedra comestível, era bem dura e porosa. Ele a jogou na cabeça de Arashi, e ele acordou na hora.

— Chegamos em Nephthar, chega de sonecas.

Arashi se levantou enquanto amarrava seus cabelos novamente. Ele estava com um pouco de sono, mas logo toda sua energia retornou.

— Estamos chegando? Já chegamos? Já chegamos!

Hifumi ia descendo lentamente, para pousar sobre a superfície rochosa do planeta. A porta da nave se abriu, e uma rampa que se moldava em degraus se estendeu até o solo e todos desceram por ela.

Apesar do terreno ser bem sólido, o ambiente era úmido e gelado. O horizonte era extenso e silencioso, e esculturas formadas pelo desgaste das pedras estavam por toda parte. Hifumi puxou outro frasco do bolso, e a nave foi sugada para dentro dele. Quando a nave desapareceu por completo, todos notaram que Hifumi havia pousado em cima de um lobo de pedra. O peso da nave o partiu ao meio, e ele estava morto no chão.

— A gente… matou essa coisa? — perguntou Arashi.

— O corpo deles é sólido e oco por dentro. Há apenas energia atômica no interior de seus corpos, então eles não sentem dor, na verdade eles não sentem nada. Acho que funcionam mais como um tipo de máquina do que seres vivos, então você pode considerar que apenas desligamos ele — explicou Thomas, ajustando seus óculos.

— Mas eles possuem uma particularidade. Pelo que vi no Plumo Astral ontem… todos eles estão conectados entre si. Então se algo acontece a um deles, o outro perceberá — completou Hifumi.

— Então… significa que se matamos um, os outros vão… — antes de Arashi terminar, vários uivos diferentes vieram do topo dos pedregulhos atrás, e alí estavam centenas de lobos de pedra uivando e se preparando para atacá-los. Eles tinham olhos roxos e brilhantes, e em suas rachaduras uma energia roxa era visível percorrendo por elas.

Os lobos desceram o pico de pedregulhos com um avanço, deslizando suas patas duras no solo. Eram centenas, e desciam sem parar. Um exército de criaturas selvagens famintas. Ao verem a quantidade de lobos que vinham, San e Arashi ficaram em posição para contra-atacar. Thomas só observava, e Hifumi sacou sua espada.

— Não adianta, são muitos. Além de terem vantagem numérica, um ataque atômico dessas coisas pode pulverizar um membro seu! — alertou Tsukasa, entrando em uma posição defensiva.

— Ele tem razão… ele tem razão! Recuem! — ordenou Hifumi, e todos recuaram o mais rápido que puderam para uma floresta próxima. Por ter muita umidade, a vegetação e algumas árvores podiam crescer sobre as pedras do solo.

Eles recuavam, e os lobos avançavam. Eles eram rápidos, e por estarem em manada, e também por possuírem corpos resistentes, eles derrubaram tudo que estava no caminho de seu alvo.

— Talvez se nos separarmos… nós… — antes de Arashi terminar, Thomas acrescentou.

— Podem nos rastrear. Não vai mudar nada, provavelmente iriam se dividir também, não podemos nos esconder, agora que matamos um deles. Temos que contra-atacar, mas não diretamente. — Os lobos continuavam se aproximando, rugindo e latindo, mordendo uns aos outros para alcançar sua presa.

— Como estamos em desvantagem, um ataque coordenado seria mais eficaz. Se atacarmos aleatoriamente seria o mesmo que um confronto direto.

— Se você diz… então vamos pela ordem. Primeiro precisamos estabilizá-los! — exclamou Hifumi. San se preparou, e viu duas árvores alinhadas e distantes uma da outra. Ele criou uma barreira que se conectava entre elas, e Tsukasa tocou brevemente a barreira, adicionando gelo e expandindo seu alcance. Os lobos eram muito fortes, e a barreira já estava sendo destruída com as primeiras colisões. Tsukasa firmou as duas mãos na barreira, e adicionou o máximo de poder que conseguiu. As mechas em seu cabelo foram ficando brancas rapidamente, e a barreira se estendeu ao tamanho de uma muralha com altura e largura suficientes.

Aquilo estava custando muito, até mesmo para Tsukasa. Hifumi pode notar pela velocidade em que seu cabelo mudava de cor, não era normal. Ele estava usando muito de si.

— Ele não vai aguentar muito… — um dos lobos de pedra conseguiu atravessar apenas sua cabeça pela barreira. Arashi vendo isto, perfurou-o rapidamente com a katana, que atravessou sua cabeça. Quando o lobo percebeu o dano, começou a liberar uma alta quantidade de energia atômica pela boca. Arashi energizou sua katana com eletricidade, e as duas energias opostas acabaram se repelindo, e a rajada atômica do lobo acabou saindo para trás, explodindo seu corpo, junto com alguns lobos em volta.

Antes do lobo explodir, Thomas o tocou, absorvendo a energia atômica. A barreira de Tsukasa já estava ficando enorme, e estava começando a se curvar nas laterais, formando uma tigela gigante.

— Ele está prendendo eles na barreira? — perguntou San.

— Ele quer afogar todos eles! Derretam o gelo! — berrou Hifumi, e todos entenderam imediatamente seus papéis. Tsukasa já estava com metade dos cabelos brancos.

Arashi fincou sua katana no solo, e apontou para ela. — Use isso! — gritou, ao Thomas. Arashi colocou sua mão no tronco de uma árvore, e a carga elétrica era tanta, que a eletricidade se transportou entre a maioria das árvores naquela direção. Todas acumularam carga elétrica, e descarregaram tudo na barreira, fazendo-a derreter de um lado. Thomas empunhou a katana de Arashi, e liberou energia atômica da katana até a barreira, como um laser. Era tão quente que o gelo derretia instantaneamente quando entrava em contato.

San canalizou alquimia em sua mão, e a colocou dentro da água que escorria da barreira. Como a água saía de um gelo mágico, ela também era mágica. Quando se infundiu com a alquimia de San, a água se tornou dourada e brilhante. Hifumi, notando isso, sacou sua espada novamente, a encobriu em chamas e a arremessou, perfurando a barreira enquanto ela girava pela água como um bumerangue. A água mágica, se fundindo nas chamas, lentamente foi se tornando um feroz ciclone de lava. Alcançava uma área relativamente grande, apagando um pouco do cenário.

Os lobos engolidos pelo fogo foram incinerados. Tsukasa estava sem energias, pois além de criar uma barreira colossalmente gigante, ele ainda tinha que focar em reforçá-la para que os lobos não a derrubassem. Seus cabelos já estavam quase inteiramente em branco, restando apenas as pontas do cabelo, e duas mechas inteiras.

Arashi correu até seu irmão, e o apoiou em seu ombro.

— Tsukasa! Você tá legal?...

— Eles irão voltar… como Thomas disse, estão conectados. Matamos uma quantidade absurda agora, isso com certeza não deixou ninguém feliz. — murmurou Tsukasa, ofegante.

— Ele está certo. Vamos nos movimentar, talvez dar uma pausa na costa do rio… pelo material do corpo deles, acredito que não possam nadar. Nosso objetivo é encontrar a anomalia que está os fazendo agir dessa forma, e não matá-los aleatoriamente. Óbvio que se formos atacados temos que revidar, mas não estamos aqui para fazer uma carnificina, tenham isso em mente. Quando Tsukasa se recompor, vamos começar a investigar…

Tsukasa se apoiou em Arashi, e dessa vez, seu cabelo se restaurava bem lentamente. Thomas estava carregando a katana de Arashi, analisava-a de uma ponta a outra. A quantidade de eletricidade concentrada ali era suficiente para derrubar umas três baleias. Chegando próximos ao rio, havia uma pequena praia ali. O rio era extenso, e o planeta pequeno. O que fazia a curvatura do planeta deixar apenas uma parte do rio visível, e o resto era apenas o horizonte de um oceano.

Fizeram uma pequena fogueira entre eles, e descansaram em volta dela. San e Arashi competiam quem fazia a melhor escultura na areia, e Thomas desenhava coisas aleatórias com um graveto. Hifumi estava observando as estrelas encostado em sua espada, e Tsukasa estava sentado em algumas folhas. Ele estava começando a recuperar o fôlego.

Enquanto San e Arashi competiam, a água do rio se expandia pela areia, mas ninguém notou. San havia feito o clássico castelinho, e Arashi fez apenas vários cilindros em fileira. Quando menos esperavam, a água de repente alcançou os pés de San, e praticamente grudou nele. Quando a água voltou, San foi arrastado junto. Ele soltou um berro e derrubou as esculturas tentando relutar, e em poucos segundos ele desapareceu no rio.

— San! A água puxou ele?! — gritou Arashi. Tsukasa, agindo por impulso, mergulhou na água e afundou a procura de San. Arashi tentou ir também, mas Hifumi o segurou pela camisa.

— Tem algo estranho nessa água… — murmurou Hifumi.

— Então você notou também? Se apenas todos mergulharmos em descuidos, podemos não voltar mais. Tsukasa foi sozinho… o que será que deu nele? — disse Thomas, observando a água de perto.

No fundo do rio, Tsukasa ia nadando até o fundo. San havia desaparecido, e a água ficava cada vez mais escura. “Que sensação é essa?...” Tsukasa sentia algo o atraindo para dentro. Viu uma pequena luz ao fundo, parecia muito com a alquimia de San, mas ele apenas ignorou. Enquanto seguia para mais fundo, olhos roxos o observavam a todo momento. Ele apenas notou isso quando a escuridão da água já ofuscava tudo à sua volta.

Os olhos roxos foram se aproximando, e era algo como um leviatã de pedra. O olhava profundamente nos olhos, e os dois ficaram se encarando. Tsukasa sentia curiosidade ao olhar para o leviatã, como se precisasse chegar mais perto. E o leviatã parecia intimidado pelos olhos de Tsukasa, o que era particularmente estranho. Ele apenas se afastou lentamente, e retornou para as profundezas. Tsukasa queria acompanhá-lo, e então se lembrou que San ainda estava lá embaixo. Ele retornou ao caminho original, e voltou a procura.

Na superfície, os outros viram uma luz bem forte brilhar entre as árvores, e se prepararam para a batalha. No fundo, Tsukasa encontrou ruínas no fundo da água, parecia uma civilização antiga. Uma energia roxa era sugada da água e entrava diretamente nas janelas de uma torre afundada, e Tsukasa sentia a magia de San naquela direção. Quanto mais ele se aproximava, sua magia se canalizava automaticamente contra sua vontade. A água à sua volta estava congelando cada vez mais rápido enquanto avançava, e ele olhou para as próprias mãos. Estavam liberando gelo sem parar, mas então seu corpo foi coberto por uma aura de luz, e ele retornou a superfície em um piscar de olhos, junto de San, que estava desacordado.

A luz forte entre as árvores parou de brilhar, e os passos na mata se aproximaram.

— Como é que… eu vim parar aqui? Estávamos no fundo da água.

— Eu não sei… apareceram aqui do nada, depois que uma luz brilhou entre as árvores. Aparentemente aquilo salvou vocês — explicou Hifumi.

— Aquilo o quê, exatamente?... — Os passos se aproximaram, e uma pessoa saiu de dentro dos arbustos.

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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