Volume 1 – Arco 2
Capítulo 7: O Vilarejo Esquecido
A noite foi fria e com bastante neve. San acordou de manhã, ainda nevando, e se arrastou lentamente para fora da sua barraca. Todos ainda estavam dormindo, menos Tsukasa, que estava comendo uma maçã sentado em um galho de uma árvore logo à frente.
— Ei… você não dormiu a noite inteira? — Perguntou San, coçando os olhos depois de acordar.
— Não se preocupe comigo, eu não preciso dormir — respondeu Tsukasa um pouco antes de dar uma última mordida na maçã e jogá-la na neve.
Então Tsukasa desceu da árvore e caminhou até a barraca em que Hifumi estava dormindo. Ele usou um pouco de magia em sua mão, para deixá-la bem fria e tocou no rosto do Hifumi enquanto dormia. Hifumi acordou de uma vez, meio assustado.
— Já está na hora. Precisamos partir, já perdemos muito tempo nesta missão, Hifumi.
Tsukasa segurou o braço de Hifumi e tentou puxá-lo para fora, mas Hifumi resmungava e tentava voltar para dentro da barraca.
— Aaaew! — Resmungou. — Que trabalho de bosta… me deixa em paz…
Ele continuou resistindo à levantar da cama, então Tsukasa o largou e ele caiu de cara nas folhas dentro da barraca. Hifumi então cedeu, e saiu de sua barraca, e os dois começaram a acordar o resto da equipe até que todos estivessem reunidos do lado de fora.
— Certo. Precisamos ir rápido hoje, já perdemos muito tempo — disse, recompondo-se após o sono. — Precisamos achar alguns materiais bem peculiares para poder consertar o propulsor, vamos praticamente criar um novo. Precisamos de fluído de titânio, esporos atómicos, ferro líquido, partículas de âmbar… — Hifumi seguiu citando uma lista de materiais muito específicos, provavelmente não iriam encontrar nenhum deles em pequenas vilas. — Bom, para iniciar, vamos nos dividir em equipes.
“Eu e o Thomas vamos procurar o vilarejo. Arashi e Tsukasa, explorem o planeta, procurem qualquer tipo de informação que conseguirem. Se não tivermos sucesso… então prosseguiremos para o tal reino de Hyoten.”
Enquanto Hifumi falava, a porta da cabana de Myaku se escancarou e ela saiu para fora, enquanto firmava a foice nas suas costas.
— Não precisam esperar, aparentemente o San sobrou na sua seleção, então eu irei com ele até o reino de Hyoten. Eu não sou nativa daqui… mas eles já me conhecem. Acho que temos mais chance de entrar lá.
Hifumi ainda não confiava perfeitamente em Myaku, mas também sentiu que não havia problemas com isso, então ele concordou. Hifumi e Thomas iriam até o vilarejo que Myaku comentou antes, Tsukasa e Arashi iriam dar uma checada geral pelo planeta, e por último, San e Myaku iriam até o reino de Hyoten por conta própria. As três duplas se separaram em caminhos opostos, e seguiram em frente.
Hifumi e Thomas andavam por um caminho repleto de árvores de tronco escuro e folhas vermelhas cobertas por neve adiante.
— Você costuma não falar muito, devia tentar se aproximar dos outros um pouco também. Sinceramente, às vezes até esqueço que você faz parte da equipe, garoto — disse Hifumi ao Thomas.
— Prefiro que não me notem, fico bem melhor no meu canto.
Hifumi soltou um resmungo, e seguiu em frente. O vilarejo parecia ainda distante, e a neve ficava cada vez mais densa com o vento. O frio passava pelo corpo de Hifumi, que tremia um pouco enquanto caminhavam. O caminho foi ficando cada vez mais poluído por árvores à frente.
— Frio… prefiro o calor — Hifumi reclamava com uma voz trêmula, aparentemente a fraqueza do valente líder era o frio. Thomas, porém, não dizia nada. Até que após alguns minutos, finalmente saíram palavras de sua boca.
— Você não sabe usar seu próprio fogo? — Perguntou.
— Oh, claro. Bem pensado — Hifumi desembainhou a longa espada em suas costas, que logo ascendeu em chamas, servindo como uma enorme tocha. Sua espada flamejante logo aqueceu um pouco o ambiente em volta, e sua magia não podia ser apagada apenas pelo vento frio e a neve. — Realmente, bem melhor assim… Myaku disse que o vilarejo ficava nesta direção, mas disse que não tinha certeza da localização exata. Se tivermos sorte, talvez encontremos alguém por aqui.
Continuaram seguindo, deixando suas pegadas pela neve. Um pequeno som saiu dos arbustos carmesim de repente. Algo havia se mexido entre as folhas.
— Huh? Tem alguém por aqui? — Ninguém respondeu.
Os dois pararam de andar, e Hifumi se aproximou lentamente dos arbustos. Logo, um vulto saiu dentre as folhas e bloqueou o caminho à frente. Era um homem com um chapéu preto e um terno cinza, ele usava um lenço cinza como cachecol, e estava fumando um charuto.
— Quem são vocês? De onde vieram? O que querem aqui? — O homem segurava uma espingarda nas mãos, e estava apontando-a para os dois.
— Peço que mantenha a calma, senhor. Somos forasteiros, estamos procurando por um vilarejo, o senhor poderia nos ajudar? — Explicou Hifumi, abaixando sua espada.
— Quais suas intenções aqui...? São feiticeiros? Não precisamos de gente como vocês por aqui! Cai fora!
O homem engatilhou a espingarda, demonstrando que não hesitaria em atirar se necessário.
— Mantenha a calma! — exclamou Hifumi, em um tom de voz normal, sem querer intimidar o homem. — Realmente não queremos conflito, apenas queremos material para consertar nossa nave. Ela foi danificada e então tivemos que pousar aqui.
— Eu não quero saber dos seus problemas, feiticeiros são miseráveis… — Hifumi tentou se explicar, mas o homem o interrompeu e berrou: — VÃO EMBORA!!
Thomas então finalmente decidiu se mover, e mostrou a palma de sua mão para o homem. Tinha uma enorme letra “V” gravada na palma de sua mão. O símbolo ficou com um brilho sombrio, e o homem imediatamente abaixou sua espingarda, como se estivesse hipnotizado.
— Me sigam… eu mostrarei o caminho até lá…
O homem não parecia estar agindo por conta própria.
— O que você fez? — perguntou Hifumi, ao Thomas. — É algum tipo de hipnose? Muito interessante...
— Não importa agora, ele vai guiar o caminho até a vila, então vamos seguí-lo.
Eles continuaram caminhando, o homem liderava o caminho com sua espingarda em mãos.
— Qual é o seu nome, senhor? — Perguntou Hifumi.
— Meu nome é Joe, sou um caçador encarregado de proteger o vilarejo de intrusos e criaturas.
Ao longe, viram fumaça saindo de uma chaminé, e todos se apressaram para chegar até lá. Era um pequeno vilarejo com casas feitas de madeira escura e chaminés de pedra. Os telhados estavam todos cobertos por neve, e as pessoas andavam com mantos marrons e a maioria usava capuz para se proteger do frio.
Ao entrarem no vilarejo, o olhar de todos foi voltado imediatamente aos forasteiros. Estavam sendo acompanhados por Joe, e todas as pessoas ali tinham total confiança em seu protetor, então não se sentiram tão incomodadas ou ameaçadas.
— Muito obrigado, Joe. Nós buscaremos ajuda agora… — despediu Hifumi.
Após saírem da visão de Joe, Thomas o libertou da hipnose.
Eles começaram a bater de porta em porta. Eram poucas as pessoas que os atendiam, e as que atendiam respondiam que não tinham nenhum dos recursos que Hifumi procurava. Eles rodaram a vila por algum tempo, sendo recusados toda vez. Um dos homens até teve disposição para ajudá-los, mas foi barrado por sua esposa que não foi com a cara dos forasteiros. As coisas não melhoraram, até que encontraram uma casa peculiar. Era maior que as outras casas e passava uma sensação sombria. Thomas deu três batidas na porta de madeira, que já era velha e desgastada. Era possível ouvir a madeira de dentro da casa ranger pelos passos da pessoa do lado de dentro.
Uma mulher encapuzada abriu levemente a porta, mostrando apenas metade de seu rosto pela fresta.
— Oh… bom dia, senhora. Uh… queremos apenas saber se você pode nos emprestar algumas coisas. Nossa nave quebrou e… — Hifumi foi interrompido pela voz suave e meiga da mulher.
— Entrem — disse, abrindo o resto da porta para os dois passarem.
Quando entraram, a casa aparentava ser bem antiga e construída por madeira escura — assim como todas as outras casas ali —, o que deixava a casa com um ar mais sombrio. Os móveis pareciam empoeirados e alguns ruídos e resmungos ecoavam pelos corredores da casa.
A mulher os guiou para a cozinha, e fez um gesto com a mão para que eles se sentassem à mesa. Os dois puxaram as cadeiras e se acomodaram. As duas cadeiras de madeira rangeram quando eles se sentaram. A mulher pegou um bule de chá, e um pouco de fumaça saía de dentro dele. Colocou duas xícaras sobre a mesa, e serviu-lhes chá.
— Agradeço a gentileza — agradeceu Hifumi, mas por enquanto, não se atreveu a tomar um gole daquele chá. — E então... nós precisamos…
— Não diga nada, eu tenho tudo que procuram. Meu nome é Eva Miller, estava esperando pela chegada de vocês… Thomas Grace, e… "Cabelos de Fogo”
— Cabelos de fogo? Vocês também usam esse apelido ridículo aqui? — Perguntou Hifumi, meio zangado.
— Não, eu apenas não consigo compreender sua identidade, ela está manchada em minha mente.
Hifumi ficou meio intrigado com essa explicação, e também com o fato da mulher saber o nome inteiro de Thomas.
— Do que está falando?
— Eu sei tudo sobre vocês, são feiticeiros da Infinity Astra, e a nave de vocês foi atacada por Mysthrums, e agora precisam de ajuda… Este ao seu lado é Thomas Grace, mas por algum motivo minhas habilidades não conseguem ver através de sua essência… que estranho… apenas posso ver o apelido “Cabelos de Fogo” normalmente usado em pessoas ruivas — explicou a Srta.Miller, tirando seu capuz e mostrando sua face. Ela tinha belos olhos azuis e cabelos prateados, curtos, um rosto jovem, mas uma mente madura.
— Mas como você… — antes de Hifumi completar, a Srta.Miller já respondeu.
— Sou uma vidente. Mas agora, estou curiosa sobre você… qual o seu nome afinal?
— Me chame de Hifumi.
A Srta.Miller o olhou com um olhar confuso após ouvir esta resposta.
— Este não é o seu nome… não minta para mim.
Hifumi ficou quieto, e não disse mais nada.
— Entendo. Então você também não sabe, Hifumi é apenas um nome dado a um garoto sem nome. Sua verdadeira identidade continua um mistério, Sr.Hifumi — Thomas olhou para Hifumi, pela primeira vez Thomas parecia confuso e preocupado.
— Enfim, se você já sabe, então me poupa explicações. Pode nos ajudar Srta.Miller?
— Me sigam, tenho algo a lhes mostrar.
A Srta.Miller os guiou até o porão de sua casa. Thomas seguia sem medo, e Hifumi andava olhando para as paredes da casa. Ele tinha a sensação de que alguém o observava. Chegando ao porão, parecia com uma oficina de garagem. Com várias tralhas jogadas nos cantos e uma mesa de concreto com alguns papéis, mapas, uma bola de cristal branca no meio e vários frascos com animais e insetos mágicos dentro.
— Aqui tem tudo o que precisam, eu separei os materiais que procuravam antes que chegassem aqui.
— Oh, muito obrigado, Srta.Miller, é realmente uma pessoa muito gentil — disse Hifumi, com um sorriso no rosto.
— Você não acha que eu vou apenas te dar tudo isso de graça, não é? Eu quero algo em troca. Pelo que vi, são feiticeiros de alto nível. Então… já ouviram falar sobre Mórtivus?
— Sabemos o básico sobre essas criaturas, e já sabemos que tem um aqui em Ice Rings atacando vilas. Acho que já entendi o que você quer… mas não temos tempo para caçar um Mórtivus agora! Nós podemos avisar isso para a central da Infinity Astra depois e… — Hifumi havia sido interrompido mais uma vez, agora pelos berros da Srta.Miller.
— Ele está aqui!! Eu posso sentir a energia amaldiçoada! Apressem-se!
Hifumi logo ficou em alerta, e a Srta Miller começou a correr para fora da casa. Hifumi e Thomas a acompanharam.
— Parem! Vocês! Deveriam ter voltado quando eu lhes avisei! — Gritou Joe, vindo correndo ao longe com sua espingarda.
— Joe! Agora não é hora para isso! O Mórtivus… ele…
De repente, a vila começou a chacoalhar com um grande tremor no chão. O solo começou a rachar, e uma cobra gigante quebrou o chão, saindo do subsolo e subindo rapidamente, escurecendo a visão acima. Os aldeões começaram a gritar e correr para a direção contrária da cobra. Hifumi sacou sua grande espada, e Thomas apenas observava. A cobra desceu dos céus, formando um grande arco por cima da vila. Ela desceu diretamente em cima de uma casa, e foi se arrastando pela vila com velocidade, destruindo tudo à sua frente.
Hifumi não perdeu tempo e avançou até a extensão cobra. Usou uma das casas como apoio e saltou por cima da cobra, perfurando o corpo dela com sua espada. Do ponto em que sua espada se encravou, as chamas se proliferaram lentamente, cobrindo a extensão do corpo da criatura com fogo. Thomas decidiu se mover também, e avançou para tentar alcançar a cabeça da cobra, mas ela era muito mais rápida. Ele notou que a cobra começou a fazer uma curva pelo vilarejo, e em sua visão, tudo ficou lento novamente.
“Ela não está apenas passando pela vila… está passando por dentro das casas para devorar as pessoas de dentro que estão imóveis. As pessoas que estão fora de suas casas vão correr desesperadamente, logo serão presas difíceis… Ela chegou no limite da vila então vai fazer uma curva para contornar esse limite e voltar para o início. Ela irá voltar para o subsolo, pois se vagasse na superfície seria caçada com muita facilidade.” Thomas terminou sua análise e ajustou levemente seu óculos, e em seguida absorveu um pouco das chamas que estavam no corpo da cobra, posicionando-se em seguida, no lugar em que a cobra iria chegar.
Hifumi dilacerou completamente a parte traseira do corpo da cobra usando a espada e as chamas, mas aparentemente ela não sentia dor. Logo, ele percebeu o que Thomas estava tentando fazer, e então tomou posição. Começou a liberar uma enorme quantidade de fogo pela sua espada, ele estava se preparando para lançar algum feitiço.
Thomas usou a Alquimia que absorveu do fogo que estava no corpo da cobra, e colocou suas mãos em chamas. Quando a cobra finalmente alcançou o garoto, ele a segurou pela cabeça, sendo empurrado junto a ela. Ainda assim se mantinha de pé, diminuindo lentamente a velocidade em que a cobra se rastejava, gradualmente parando seus movimentos.
A espada de Hifumi já estava jorrando chamas sem parar, e então ele deu um arranco veloz em direção a cobra, enquanto soltava um rugido recitando o feitiço:
— Rugitus Regis! — A partir dali, uma enorme e explosiva aura de fogo cobriu todo o corpo de Hifumi pela sua espada. O fogo assumiu a forma de uma flamejante cabeça de leão gigante. Hifumi seguiu na direção da cobra como um míssil, e deu um ardente corte na cabeça da criatura, e no momento em que ele efetuou o corte, o leão de fogo mordeu a cabeça do bicho. Hifumi parou no lugar em que ele fez o corte, mas a cobra continuou sendo arrastada pelo leão de fogo até atingir as árvores em volta. O impacto liberou uma explosão de fogo por trás das árvores.
Os aldeões junto de Hifumi e Thomas correram até o local para ver se a cobra teria sucumbido, mas ali havia apenas um grande buraco no chão, junto de uma paisagem completamente queimada.
— Ela fugiu… droga! — resmungou Hifumi, guardando sua espada em suas costas, e batendo o pé no chão, irritado.
— Se quisermos os recursos, vamos ter que capturá-la. Agora não tem escapatória — disse Thomas, caminhando até Hifumi.
— É, isso vai dar trabalho… vamos voltar e tentar encontrar os outros — disse Hifumi, acalmando-se. — Nosso objetivo por hora... vai ser capturar o Mórtivus.
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
Me siga nas Redes Sociais:
Confira outras Obras: