Volume 1 – Arco 2
Capítulo 6: Mysthrums
— Você conhece essa garota? — Perguntou Arashi.
— É, ela estava naquele cativeiro também — respondeu Tsukasa, olhando para baixo.
— Cativeiro? — Perguntou Hifumi.
— Esqueça isso, não é nada de importante — respondeu Arashi, pois se começassem a falar sobre isso, talvez Tsukasa ficasse incomodado.
— Mas o que todos vocês fazem aqui? Estão procurando pelos Mysthrums? Esses desgraçados não param de atormentar ultimamente. — Myaku dizia com raiva, parecia realmente perturbada com a presença desses seres.
— Mysthrums? Talvez seja algum tipo de alienígena que não descobrimos ainda… — disse Hifumi, coçando a própria nuca.
— Vocês não sabem o que é um Mysthrum? São mais desinformados do que parece. Mas se não estão aqui para caçá-los, o que fazem aqui então?
Hifumi olhou para a nave, que estava com a ponta afundada na neve da colina.
— Aqueles feiticeiros atacaram nossa nave, um dos propulsores foi danificado. Vamos precisar consertar essa coisa.
— Se esse é o caso, vai demorar um pouco. Esse planeta é bem pobre, tirando o reino de Hyoten. E presumo que seja impossível aparecer lá agora, eles não gostam muito de forasteiros… Principalmente vindos do espaço.
Myaku e Tsukasa brevemente trocaram olhares, e ela entendeu exatamente o que deveria fazer.
— Talvez possam ficar na minha cabana por enquanto, eu posso ajudá-los a conseguir o material que precisam. É melhor vagar pela neve com um guia, ou vão se perder no frio.
Sem muitas opções, Hifumi e os outros acompanharam a garota. Hifumi usou um pequeno recipiente e absorveu a Alquimia da nave, deixando-a guardada em um pequeno frasco.
Aparentemente Tsukasa a conhecia, isso não dava muita confiança a Hifumi, mas Arashi se sentia seguro.
— Myaku é o seu nome né, posso fazer uma pergunta? — questionou San, com sua respiração visível pelo frio.
— Sem problemas, tem algo te incomodando? — A foice de rubi fazia um rastro na neve junto das pegadas, pois era muito grande em suas costas e acabava tocando o chão.
— Sobre aqueles Mysthrums que tinha dito antes, o que exatamente são essas coisas?
— Me impressiona que membros da Infinity não saibam de algo tão comum, seus painéis precisam ser atualizados. Mas é uma longa história… Será uma pequena caminhada até lá, então será menos entediante.
A mais ou menos 3000 anos atrás, existia um homem chamado Vorthis Crepitus. Ainda não se sabe seus motivos, mas era obcecado pela ideia de vida eterna. Talvez por traumas do passado, ou talvez apenas por ambição. Obcecado pelo poder das estrelas, e fazendo pesquisas incessantes sobre regeneração de células, juventude e corpo humano.
Ainda não se sabe como isso aconteceu, mas Vorthis acabou encontrando um demônio cara a cara em algum momento de sua vida. Ele não tinha medo do demônio, muito pelo contrário, ele desejava cooperar com ele. Se submetendo a um pacto, ele entregou seu próprio corpo ao demônio. Em troca, suas células eram regeneradas quase que automaticamente ao tomar qualquer tipo de dano, tornando-o quase imortal. Mas ainda não era o suficiente, seu corpo ainda envelhecia.
O homem enlouqueceu de vez, ele podia ouvir o demônio falando em sua cabeça todas as noites, e começou a ficar sedento por sangue ao passar do tempo. Aos poucos ia perdendo sua sanidade, matando humanos e devorando sua carne para absorver mais sangue, então percebeu que era o sangue que fazia suas células se regenerarem. Ele decidiu que precisava de mais dessa substância, mas acabou passando dos limites.
Em um certo dia, foi finalmente detido por feiticeiros de alto nível, que vendo que seu corpo era quase indestrutível, arrancaram seu coração de seu corpo. Que carregava sua alma junto dele.
Mas isso não foi capaz de detê-lo, Vorthis Crepitus ainda vagava, apenas com sua alma, pelo universo. E em seu coração ainda continha sua Alquimia obscura. Ele entrava nos sonhos dos mais fracos, e oferecia poder e vida eterna, em troca de submissão. Eles aceitavam o trato, e recebiam parte de sua Alquimia contaminada pelo demônio, dessa forma amaldiçoando suas vítimas e fazendo com que elas fossem submissas a Vorthis.
De alguma forma, ele conseguia com que as pessoas entrassem em contato com seu coração. Corrompendo o coração do usuário que entrava em contato com o mesmo, transformando seu coração humano no “Coração de Vorthis”, tornando-o receptáculo para a alma de Vorthis.
— Então… aqueles que são amaldiçoados por esse tal Vorthis, são os Mysthrums que você falou? — Perguntou San, intrigado com a história.
— Sim, os pobres feiticeiros infectados por esse maldito são chamados de Mythrum, ou então amaldiçoados. Existem também os Mórtivus, que são Mysthrums totalmente leais ao Vorthis, mesmo sem a regra de submissão
Thomas parecia incomodado com tudo isso, ao ouvir o nome Mórtivus, ele desviou o olhar.
— Mas por que alguém seria fiel a um tirano desses? — Questionou Arashi, entretido com as pegadas que faziam na neve.
— Eu não sei, provavelmente são ambiciosos. Pois quem aceita esse pacto recebe um tipo especial de Alquimia… A magia das trevas, que em vez de dourada, é negra. Os Mórtivus recebem uma quantidade maior dessa magia.
Arashi se lembrou de quando os feiticeiros atacaram, estavam usando um tipo de magia desconhecida, não era magia comum. Tinha uma coloração escura, e parecia ter um potencial maior para destruir. Arashi estava com um corte no rosto, pelo ataque dos Mysthrums, seu corte ardia de uma maneira como se estivesse queimando.
— Tem um corte no meu rosto. Acho que foi pelo ataque dessa magia negra, está queimando de um jeito bem estranho… Eu achei que fosse só impressão minha.
— Isso é grave! Esse tipo de Alquimia tem uma resistência maior, e não desaparece com facilidade. A magia do ataque dele ainda está na sua ferida, nós temos que tratar disso antes que piore, vamos! Acelerem! — Todos aceleraram o passo para chegar na cabana de Myaku mais rápido. E após alguns minutos, ao pôr do sol, finalmente viram uma pequena cabana ao longe, em um lugar vazio entre as árvores cobertas de neve.
Entrando na cabana, Myaku pediu para que Arashi se sentasse na cama, para que ela tratasse de sua ferida. Myaku puxou um pequeno colar com uma rubi, e o aproximou da ferida de Arashi. A rubi começou a liberar uma substância verde, que se parecia muito com o veneno de antes. Vendo isso, Hifumi impediu na hora, segurando o braço de Myaku.
— O que você pensa que está fazendo?! — Exclamou Hifumi, em um tom e olhar mais sérios.
— Mantenha a calma, Myaku não vai machucá-lo. É apenas o tipo de magia dela, serve tanto para envenenar, como para curar também — explicou Tsukasa, apalpando o ombro de Hifumi para acalmá-lo.
— Como você me garante? Ela é uma completa estranha para mim, e isso parece uma emboscada.
Arashi afastou Hifumi, desferindo um pequeno choque no braço dele.
— Fique tranquilo, eu confio no meu irmão! Ele nunca faria nada para me ferir, muito menos deixaria alguém suspeito chegar perto de mim dessa forma. Se ele concordou, então deve ser seguro.
Hifumi, meio zangado, se afastou de Myaku e a deixou prosseguir. Ela continuou liberando sua substância verde, que entrou lentamente na ferida de Arashi, que foi se fechando de uma forma bem lenta.
— Está parando de queimar… acho que funcionou! — Exclamou Arashi, passando a mão em seu rosto para verificar a ferida desaparecendo.
— Em alguns minutos a ferida já vai ter se fechado completamente, a partir de agora tomem cuidado com os feitiços dos Mysthrums. E só uma dica, vocês podem purificar magia negra com magia das estrelas, então usem suas Alquimias em cima da magia deles para apagá-las.
— Humph, obrigado — resmungou Hifumi, ainda meio aborrecido.
— Vocês podem conseguir materiais no reino de Hyoten, mas além de ser difícil de entrar lá, os portões se fecham à noite, e já está anoitecendo. Não é bom vagar por aí no escuro, tem um Mórtivus em Ice Rings…
— Um Mórtivus? Nós podemos ajudar a caçá-lo! Somos uma equipe de elite, não é? — Disse San, começando a ficar animado.
— Não, nós temos que focar na missão. Ainda precisamos chegar naquela nebulosa, e já perdemos muito tempo.
San ficou desapontado. Esperava algo emocionante, como o Mórtivus.
— Não faça essa cara, a gente não tem absolutamente nada a ver com isso. Acabamos de descobrir a existência dessas coisas, não tem porquê nos preocuparmos com isso — disse Tsukasa, ao San.
— Se vamos passar a noite aqui, vou montar algumas barracas lá fora, eu volto logo — disse Hifumi, já abrindo a porta da cabana.
— Eu lhe ajudo, não precisa fazer tudo sozinho — avisou Tsukasa, acompanhando-o.
Thomas se sentia entediado, então saiu para ajudar também. San e Arashi ficaram na cabana com Myaku enquanto isso.
— Então, o que é esse reino de Hyoten afinal? — Perguntou Arashi a Myaku.
— É o reino principal de Ice Rings. É uma pequena cidade de pedra, com um grande palácio de gelo no centro, esse é o castelo da imperadora do planeta.
— Uma imperadora do planeta inteiro? — Perguntou San, arregalando os olhos, chocado.
— Sim, ela comanda o planeta inteiro do seu palácio, diferente da Terra, Ice Rings é um planeta pequeno, além do reino de Hyoten só existem pequenos vilarejos por aí.
— E quem seria essa imperatriz? — Perguntou Arashi, curioso.
— Seu nome é Hyoten no Megami. Ela é… a atual Saikai Primordial do gelo.
San pareceu mais chocado ainda ao ouvir isso, pois lembrou do que Hifumi disse nos treinamentos. Saikai Primordiais são seres que fizeram fusão perfeita com as estrelas, e se tornaram seres com um poder inimaginável, quase invencíveis.
— Então… ela deve ter uma força incrível, não é?
Myaku pegou um pouco de lenha, e colocou na lareira para aumentar um pouco o fogo.
— Sim, ela é. Os anéis de gelo em volta do planeta, foi ela quem os criou. Ela também ergueu seu castelo sozinha usando sua magia.
San e Arashi ficaram em silêncio por um tempo, pensando no quão extraordinário era esse feito.
— Criou três anéis inteiros em volta de um planeta… e ainda ergueu um castelo. Eu mal consigo criar um chicote de Alquimia… — comentou San, olhando para a própria mão, desapontado.
— Sobre esse tal Mórtivus, como você sabe que tem um por aqui? — Perguntou Arashi, brincando com raios entre os dedos.
— Bom… já vem acontecendo a algum tempo, pessoas andam estranhamente desaparecendo. Principalmente os mineradores de uma caverna próxima a um vilarejo, um braço decepado já foi encontrado jogado próximo aos destroços de uma casa que foi repentinamente destruída em uma noite. Tinha marcas de mordida, aparentemente foi uma cobra.
— A Saikai do gelo não fez nada em relação a isso? Você disse que ela comanda o planeta — perguntou San.
— Não, ela nem liga. Pensa que são eventos comuns, e que se alguma ameaça grande aparecesse em seu território ela perceberia. Em seu reino obviamente nada acontece, ninguem é idiota o suficiente para invadir o reino de uma deusa e atacar o povo dela. E ela não vigia os vilarejos por achar que eles têm menos importância… então os ataques acontecem lá.
— E como você sabe que é um Mórtivus que anda fazendo isso?
— Já lidei muito com Mysthrums, e sei reconhecer quando se trata de um. E também, os Mysthrum andam aparecendo com frequência ultimamente, estão sendo atraídos por alguma coisa… exatamente todas as pistas indicam ser um Mórtivus.
De repente, um grande barulho de colisões ecoou fora da cabana. Todos ficaram em alerta, levantaram-se e saíram da cabana com pressa para ver o que estava acontecendo. Os outros três que estavam fora haviam sido atacados por mais quatro Mysthrums, que estavam babando como lobos esfomeados.
— Para trás! — Berrou Hifumi, erguendo a espada em direção a eles, sem medo.
— São Mysthrums, de novo. Parece que tem vários deles nesse planeta, hum — explicou Tsukasa, cruzando os braços.
Thomas avançou primeiro, tocou a grande espada de Hifumi e absorveu o fogo nas mãos. Enquanto avançava, um dos feiticeiros movimentou o cajado horizontalmente, desferindo uma rajada de magia negra no ar. Thomas, com um belo salto, pulou por cima da rajada e pairou entre os feiticeiros. Ao cair, segurou a cabeça de um deles pela nuca, queimando totalmente sua face.
O outro Mysthrum ergueu as mãos, bateu as palmas induzindo eletricidade negra entre elas, e ergueu os braços ao Thomas, lançando uma corrente elétrica em direção ao garoto. Em resposta, Thomas chutou o corpo que estava segurando e se moveu rapidamente para trás, desviando do ataque.
Myaku rapidamente apareceu com sua foice de rubi em mãos, e cortou o Mysthrum ao meio pelas costas, liberando muito veneno a partir de sua foice com o forte movimento.
O Mysthrum que teve a cabeça queimada começou a se regenerar, mas Tsukasa, serenamente, agachou-se à frente do amaldiçoado e colocou uma mão em suas costas, congelando-o.
Hifumi encheu os pulmões com ar, e usou sua magia para transformar aquele ar em chamas. Logo, lançou uma baforada de fogo em cima dos dois que restaram, e Arashi liberou uma descarga elétrica em cima do fogo, sobrecarregando a explosão e desintegrando o corpo dos dois completamente.
O veneno de Myaku parou a regeneração do Mysthrum que ela havia partido ao meio, impedindo-o de se regenerar. E San, por último, deu um belo soco com a mão infundida em Alquimia no Mysthrum congelado, estilhaçando o gelo junto com os pedaços do corpo dele.
— Novamente, essas maldições atacando! Já estou farta disso… — disse Myaku, guardando sua foice na bainha em suas costas.
— Bom, amanhã temos trabalho a fazer, vamos consultar os vilarejos e se não tivermos sucesso, vamos tentar entrar no reino de Hyoten. Então vamos todos descansar por agora, tomem cuidado a noite — explicou Hifumi, em seguida, adentrando-se em sua barraca.
Os outros concordaram, e Myaku voltou para sua cabana. Arashi entrou em uma barraca de gelo que Tsukasa havia criado, com ótimos detalhes, como uma escultura. E San entrou na barraca junto de Thomas.
— Você não vem, Tsukasa? — Perguntou Arashi, apenas com a cabeça para fora da barraca de gelo.
— Eu vou fazer a guarda, fique tranquilo, eu não preciso dormir.
— Tudo bem então… boa noite, e tome cuidado. Tente não sair perambulando por aí! — Finalizou Arashi, voltando para dentro da barraca.
Tsukasa olhou para o céu, e viu como ele estava estrelado e belo neste dia. Tinha uma bela aurora se destacando no céu, e uma lua minguante.
— Lumen Solidáriun — recitou o feitiço, criando uma lua minguante de gelo nos céus, assim como tinha feito antes, nos testes de Hifumi. A lua desceu lentamente até a sua altura, e ele se sentou nela. E então a lua subiu aos céus, com Tsukasa aconchegado em sua escultura de gelo, enquanto ela tampava perfeitamente a lua minguante no céu. Era um retrato perfeito. Ele ficou admirando os céus até o próximo amanhecer.
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
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