Volume 1 – Arco 2
Capítulo 13: Três Idiotas, Uma Nave
A missão na nebulosa atormentada se encerrou. Hifumi abriu o pequeno frasco em que a nave estava armazenada e a magia saiu com tudo, formando a nave ao chão novamente. Falcon estava de pé, pronto para voar livre. (Falcon, o nome dado a nave)
Ao retornarem para o planeta terra, após uma longa viagem de vinte e duas horas, San insistiu que Hifumi lhe emprestasse o frasco com a nave, apenas para poder segurar até chegarem na Infinity Astra. Hifumi permitiu, meio hesitante. Já na Corp, Hifumi fez um relatório ao Kenny, e todos foram parabenizados e recompensados. Voltando para casa, San foi parado no meio do caminho por Arashi e Tsukasa Hayami.
— Opa, San! Então… a gente está meio que sem teto aqui. Seráaa que alguém tããão gentil como você, poderia deixar esses dois aqui dormirem na sua casa hoje? — perguntou Arashi.
— Ahm? Sem teto? Cadê a casa de vocês?
— E então… meio que não temos uma. Normalmente eu durmo na cabana do meu mestre, Sr.Zhang, mas hoje ele está resolvendo uns negócios na China… e ele esqueceu de me entregar minha chave. Já o Tsukasa, ele literalmente não dorme, então ele fica fazendo sei lá o quê por aí de madrugada.
San cruzou os braços, e encarou os dois. Arashi o olhava com o olhar de um cachorrinho filhote. Já Tsukasa, estava ocupado demais tomando um suco de laranja com um canudinho.
— Ok, ok. Só não quebrem nada… ou melhor, nem toque em nada! — San já esperava que misteriosamente Arashi ia lhe dizer que os pratos e quadros de sua casa foram empurrados com o vento e caíram.
Os três seguiram até a casa de San, e ao entrarem, sua mãe estava assistindo TV na sala.
— Oh, visitas? Fiquem à vontade! É um prazer.
A mãe de San o olhava com um olhar que já lhe dizia “poderia ter me avisado, a casa está uma zona.”
O dia foi se passando, Arashi passou a maior parte do tempo batendo papo com a mãe de San, e tentando convencê-la do quanto ele é incrível. Tsukasa estava no quarto de San, no andar de cima. Ele lia os livros na prateleira com uma velocidade surpreendente, em vinte minutos ele terminava um livro inteiro de pelo menos trinta capítulos. San estava do outro lado do quarto, conversando com Tsukasa enquanto pedia algumas dicas para melhorar suas habilidades mágicas. Por mais que Tsukasa fosse meio arrogante às vezes, ele era um bom ouvinte.
Quando finalmente anoiteceu, todos se prepararam para ir dormir. Arashi subiu para o quarto e se deitou na cama de San antes dele. Quando San notou, Arashi já estava num sono profundo. Tsukasa estava sentado perto da janela, observando a lua. San se viu sem escolhas, e teve que dormir no chão enquanto Arashi dormia em sua cama. Quando San se deitou no chão, sentiu alguma coisa desconfortável em seus bolsos. Colocou as mãos para checar, seu coração disparou. Era a nave de Hifumi, ainda dentro do pequeno frasco. San esqueceu de devolvê-lo e sem querer a levou para casa. Ele se manteve calado, mas Tsukasa notou sua expressão apavorada.
— Aconteceu algo? Espera… isso é a nave do Hifumi? Arh, ótimo. Melhor você devolver isso na Corp antes que notem.
— Mas como? A sede fica fechada a essa hora. Só abre em caso de emergência… como diabos eu vou entrar lá?!
— Bom, eu não tenho nada a ver com isso — Tsukasa voltou a olhar a janela.
San pensou um pouco, enquanto segurava o frasco na mão. Olhou para Tsukasa, olhou para o frasco novamente. Depois olhou para o Tsukasa, e voltou a olhar o frasco.
— Não olha para mim, quem esqueceu foi você.
— Heh, Arashi disse que você não dorme mesmo, acho que vai ser melhor do que ficar a noite toda olhando uma janela.
Tsukasa soltou um suspiro, e se levantou. Ele estava sentado em uma pequena cômoda.
— Beleza. Acorda o “choquinho” aí, se vamos fazer isso, ele não vai ficar só dormindo aqui.
San achou o momento perfeito para revidar o tapa que Arashi tinha lhe dado na viagem até a nebulosa. Deu um satisfatório tapa bem na nuca de Arashi, que estava deitado de barriga para baixo. Ele acordou com um gritinho, e se levantou bem rápido.
— Que é eim? Não posso mais dormir em paz? — Arashi logo percebeu o item nas mãos de San. — Espera… essa coisa aí é a nave?!
— Sim, é a nave.
— Hah! Você está ferrado.
— E você também, te acordei exatamente para isso. Pode ir levantando!
Arashi olhou com uma cara hesitante, mas ao ver o olhar de Tsukasa profundo em sua alma, ele mudou de ideia.
Os três desceram as escadas com as pontas dos pés para não acordar a Sra.Hiroyuki. Abriram a porta cuidadosamente, e Arashi repentinamente espirrou bem alto. Todos ficaram imóveis, mas a Sra.Hiroyuki não acordou. San e Tsukasa olharam para Arashi com um olhar sombrio, enquanto ele coçava a nuca. Quando chegaram ao quintal, San abriu o pequeno frasquinho e a nave logo se materializou com a Alquimia que saiu de dentro dele. Os três se aproximaram da nave, e a observaram por um tempo.
— Tá… alguém aqui sabe pilotar essa coisa, não é? — perguntou Arashi, e todos ficaram em silêncio.
— É, estou vendo que a madrugada vai ser longa… — respondeu San.
Entraram na nave, e Tsukasa já se sentou nos fundos, se auto-descartando como piloto. Arashi e San ficaram analisando o painel de controle da nave, era lotado de botões brilhantes e de cores diferentes, pequenas alavancas, gráficos nos painéis em que nenhum dos dois fazia a menor ideia do que significavam.
— Bom… deixa que eu tento. Se der ruim, a gente pula — disse Arashi, segurando o volante.
— Esse é realmente seu melhor plano? — resmungou San, se sentando na cadeira ao lado.
— Só tenta não matar alguém aqui… e também, tenta não sair para fora do planeta, provavelmente ninguém iria saber voltar.
Tsukasa caminhou até o freezer, e pegou um milk-shake de creme.
Arashi ativou uns quatro botões diferentes e puxou uma alavanca. A nave já ligou com um impulso para o alto, voando diretamente para as nuvens.
— Calma, calma, calma!! — Gritou San, tentando segurar o volante.
— Espera! Você vai jogar a gente no chão! — Retrucou Arashi, retomando o controle do volante de volta.
— E você vai jogar a gente no espaço! — Gritou San mais uma vez, os dois estavam lutando pelo controle da nave.
Tsukasa no fundo soltou um profundo suspiro enquanto observava os dois.
— Que bosta eim…
A nave já estava quase passando pela atmosfera da terra, e então Arashi decidiu soltar o volante. San tentou manobrar a nave, mas o máximo que conseguiu fazer foi deixá-la de cabeça para baixo, fazendo todos baterem a cabeça no teto. Arashi deu um pulo para alcançar o volante de novo, e virou a nave de lado, e novamente todo mundo voou para a parede.
— Isso não vai dar certo! — exclamou San, já indo alcançar o volante novamente.
Tsukasa correu até os fundos da nave e tocou a parede de trás. O gelo passou por dentro da parede, e esfriou um pouco os propulsores, congelando algumas saídas de energia. A nave ficou com uma intensidade mais estável de velocidade.
— Ufa… mandou bem. Agora só temos que controlar até a Infinity… — disse San.
— Ahm… mas onde raios a gente está? — Perguntou Arashi. A nave estava sobrevoando um continente completamente diferente do asiático. Aparentemente estavam por cima da África, e Arashi não sabia muito bem sobre geografia.
Tsukasa se aproximou do visor, e deu uma olhada abaixo.
— Parece a África. Tóquio deve ficar para trás, ou… para frente… ou talvez para a direita, mas acho que não é na esquerda.
— Ué, é só voltar para o Japão — respondeu Arashi.
— Ah, que útil. Só falta saber como voltar para o Japão. — San já estava começando a ficar irritado.
— Não tinha um botão de piloto automático? É só a gente achar ele — disse Arashi, apertando todos os botões no painel.
— Não, não, não! Espera!
Arashi foi apertando os botões um por um, a nave começou a fazer vários sons esquisitos, e então os propulsores se desligaram. A nave começou a cair cada vez mais rápido. Arashi e San gritavam descontroladamente, e Tsukasa colocou as mãos no chão, congelando a ponta e a base da nave, para que o impacto fosse menor. Arashi continuou apertando tudo que via, e quando a nave já estava bem próxima da superfície, San começou a apertar também. Tsukasa criava mais camadas de gelo para amortecer a queda, e eles chegaram ao chão. O gelo colidiu com o solo e ajudou a nave a deslizar pela terra. Tinham caído em um lugar com uma terra bem fofa e grossa — como uma área de plantação — e a nave seguiu deslizando até se chocar com um montinho de terra, a ponta da nave afundou nele.
Os três saíram de dentro dela, e a olharam por fora.
— Ok… acho que pioramos a situação. Onde diabos a gente está agora? — perguntou Arashi, com uma mão na testa.
— Em qualquer lugar, menos no Japão… Que merda!
San saiu andando arrastando os pés. Arashi chutou um montinho de terra, e a terra voou nas roupas de Tsukasa.
— Bom, vamos procurar, ver se tem alguém por aqui. Com certeza deve ter um GPS na nave, mas nenhum de vocês deve ter sequer pensado nisso. De qualquer forma, eu também não pensei — disse Tsukasa, limpando a terra da camisa.
Os três começaram a caminhar, e notaram que havia uma neblina rodeando a área. Quanto mais andavam, mais densa ela ficava. Estava frio e o ar era úmido, a terra era fofa e corvos grasnavam por toda parte. Arashi estava ficando arrepiado e com frio, ele foi para mais próximo de seu irmão. San estava um pouco irritado, ele normalmente não gosta de se sentir perdido.
— Tá, e agora? — Após Arashi perguntar, alguns sons vieram de frente. Eram passos profundos na terra, talvez algum caçador. Arashi logo se agarrou em Tsukasa, e San ficou em posição. Os passos continuavam se aproximando, e de repente, Kyoko caiu de cara na terra. Tropeçou em uma pedra pois tinha muita neblina.
— Ah?! Kyoko? O que é que VOCÊ estaria fazendo aqui?
Kyoko tirou a cara de dentro do barro, e olhou para os três. Ela estava usando umas roupas de fazendeiro, e umas botas bem grossas e compridas, que faziam um barulho engraçado quando pisavam na terra.
— Eu que lhes pergunto, o que é que VOCÊS estão fazendo aqui? Desde quando você viaja sozinho, San?
— Eu meio que não estou sozinho. Mas também não acho que mamãe iria gostar… mas enfim, este não é o ponto. Que lugar é esse?
— Hum? Estão aqui e não sabem nem para onde viajaram? Aqui é Londres, estamos em um cemitério. — Arashi soltou um gemidinho quando Kyoko disse “cemitério”. Ele não gosta muito dessas coisas.
— Como raios a gente veio parar em um cemitério?! — gritou, indignado.
— Com a nave. Que nenhum de vocês sabe dirigir inclusive — respondeu Tsukasa.
— Você fala como se soubesse — retrucou San, os três estavam debatendo entre si, mas no fim, todos eram culpados.
— Nave, vocês dizem? Onde conseguiram uma? — perguntou Kyoko, San então deu um suspiro e explicou toda a história para ela. — É sério isso? Vocês são uns patetas mesmo… Não era só caminhar até a Corp, em vez de voar até ela?
San e Arashi ficaram em silêncio por alguns segundos. Tsukasa estava olhando em volta, aparentemente ele tinha notado algo estranho. San e Arashi começaram a discutir, dizendo que era culpa do outro. No fim, os dois faltavam-lhe os neurônios.
— Atrás de nós… tem algo grande vindo — disse Tsukasa, com uma mão alisando lentamente o queixo.
— Esses carinhas de novo? Arh, se queriam saber o porquê estou aqui, agora vão ver — resmungou Kyoko, puxando seu arco de luz e apontando para a neblina atrás de todos. Puxou a flecha bem no final da corda, e então disparou. A flecha carregava tanta energia que abriu um buraco pela neblina, deixando um rastro de luz.
Uma explosão causou grande estrondo na direção da flecha, e algumas luzes foram vistas ao fundo. Quando chegaram lá, havia uma criatura terrivelmente medonha pendurada pelo peito em um pequeno poste. A flecha de luz estava a segurando sobre o poste. A criatura tinha um corpo preto e gosmento, as gotas de gosma pingavam sobre a terra. Um rosto deformado, que gosma escorria de seus olhos e boca. Tinha enormes garras, e fazia grunhidos de dor.
— Mas que diabos é isso?! — San levou um susto quando viu a criatura de longe.
— Um demônio, mas não é um demônio original da era de Lity. É um artificial, criado por magia negra…
— Dá para criar demônios? Não era só o rei demônio que podia fazer isso? — perguntou Arashi, tocando a gosma com um dedo. A gosma se expandiu no dedo dele como um vírus. Ele deu um choque na gosma, e ela “morreu”, caindo de seu dedo para o chão.
— Não é um de verdade. É só uma cópia, os que Lity transformava eram bem… peculiares. Você não iria querer ver um. Essas coisas quase nem conseguem ficar de pé, e seu corpo é tão mole que a Alquimia que molda eles acaba escorrendo de seus corpos, virando essa meleca aí.
— Então… você está tipo, caçando essas coisas? — perguntou Arashi.
— Sim. Me chamaram de madrugada para Londres só para livrar esse cemitério desses monstros… Eles estão constantemente aparecendo em Londres ultimamente. Acho que é um Mórtivus que anda criando eles… e deve estar por aqui.
Tsukasa bocejou, e congelou o corpo do falso demônio com uma mão.
— Bom, a Corp pode cuidar disso depois. Ou até mesmo você, a gente está ocupado agora. Inclusive, já sabemos onde estamos. Se estamos em Londres, só precisamos de uma bússola e posso nos levar para o Japão — explicou, enquanto caminhava de volta até a nave. Mesmo com a neblina, Tsukasa podia sentir a magia da nave à frente.
— Ei, posso ir com vocês? Sabe… acho que meu trabalho já está feito aqui. E voar até Tóquio não é tão confortável quanto parece, mesmo na minha velocidade.
— Então você sabe a direção. Você é quem vai dirigir a nave — avisou Tsukasa, enquanto todos os seguiam. Antes que Kyoko pudesse reclamar, San sugou a nave com o pequeno frasco em que ela estava guardada antes, desenterrando a nave de dentro do montinho de terra. Então a nave saiu de dentro do frasco novamente.
Todos entraram, e Kyoko se sentou no banco de controle. Ela era bem inteligente, principalmente quando se trata de tecnologia. Ela sabia pilotar a nave relativamente bem, então não teve problemas. Arashi e San estavam jogando Likkho nos fundos, e Tsukasa era o juiz. Ele assumiu esse cargo, pois sabe que um juiz num jogo deste tipo não faria absolutamente nada.
Chegando em Tóquio, Arashi capturou a moeda de San e correu até Kyoko, observando o visor da nave.
— Estamos quase lá! Já posso ver a sede da Corp!
Os prédios da Infinity Astra eram maiores que a maioria dos outros prédios ali. Era como o centro da cidade, mesmo não estando exatamente no centro.
Enquanto voavam, um falso demônio voador e gosmento bateu bem no meio do visor da nave. Kyoko não sabia qual era o botão de limpar o visor, e ela começou a perder o controle pois não via mais nada. A nave foi cambaleando até a Corp, e em vez de pousar normalmente no campo, a nave bateu de frente em um dos prédios. Ele era muito resistente, então nem causou dano a ele. Mas a nave foi amassada como uma latinha. Após bater a nave caiu com tudo no chão, e todos saíram de dentro dela. Tsukasa programou o pequeno painel de naves, e a magia de Falcon voltou para dentro do painel.
— Era uma das favoritas do Hifumi… bom, de qualquer forma, a gente nunca esteve aqui — disse San.
— Nós nunca estivemos, você esteve. Ele deu a nave para você, então a culpa é obviamente sua. Mas felizmente eu nunca fiz parte disso tudo — respondeu Tsukasa, enquanto entrava para dentro da Corp, pois não havia saídas no campo.
San resmungou e seguiu arrastando os pés. Enquanto andavam no corredor, Tsukasa parou do nada e se encostou na parede. Ele estava tentando olhar de canto o corredor ao lado. Os outros três pararam também, para olhar de cantinho. Não havia nada no corredor, nenhum som, nenhuma alma viva.
— Tinha certeza que senti a presença de alguém aqui… tomem cuidado… — sussurrou Tsukasa, aos outros.
— Belas habilidades sensoriais, Sr.Hayami — disse uma voz rouca e grossa, que estava à frente deles. Todos olharam lentamente para frente, com faces assustadas. Era Kenny Williams, o diretor da Infinity Astra em Tóquio. Com seus cabelos grisalhos, olhos vermelhos, um manto branco com detalhes dourados e vermelhos que se arrasta no chão, e uma grande cicatriz que atravessava toda sua face diagonalmente.
— Hifumi vai ficar bem orgulhoso quando ver a surpresa que fez para ele, Sr.Hiroyuki. Lhe desejo boa sorte, Hifumi ultimamente anda bem “esquentadinho.”
Notas:
Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.
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