Volume 2
Capítulo 4: Todas Minhas Mentiras Por Você
Na noite de domingo, Sakuta voltou do trabalho e encontrou uma mensagem na secretária eletrônica.
"Quem será?"
Seu pai não morava com eles, então às vezes ligava para saber como estavam. Imaginando que fosse ele, Sakuta apertou o botão para ouvir a gravação.
"Aqui é Mai Sakurajima. Voltei de Kagoshima. Só queria avisar."
Definitivamente, não era o que ele esperava. Ela parecia mais formal do que de costume, o que, de certa forma, era um charme por si só.
Ele reproduziu a mensagem novamente.
"Aqui é Mai Sakurajima. Voltei de Kagoshima. Só queria avisar."
A secretária eletrônica permitia que ele ouvisse a voz de Mai mais uma vez.
Estava prestes a apertar o botão pela terceira vez quando percebeu que aquilo seria um pouco exagerado. Em vez disso, pegou o telefone e digitou o número dela de cor.
Ela atendeu no terceiro toque.
"Quem é?"
"Sou eu."
"Eu sei. Seu número está nos meus contatos. Eu estava prestes a tomar banho."
Ela parecia irritada, como se a culpa fosse dele por ligar naquele momento. Sakuta atribuiu isso aos mistérios da mente feminina.
"Então você está nua?"
"Se estivesse, eu não teria atendido."
"Por quê?"
"Só um pervertido falaria com um garoto enquanto está nua." Ela tinha um bom ponto. Sakuta preferia que ela realmente não fizesse algo assim.
"E então?" Ele percebeu que ela claramente queria encerrar logo a conversa e ir para o banho.
"Bem-vinda de volta, Mai."
"......" Isso pareceu deixá-la um pouco desconcertada.
"É só isso?" perguntou.
"Essa não era a resposta que eu esperava."
"Não vou dizer 'cheguei'."
Mas ao dizer isso, ela não estaria, de fato, dizendo? Para Sakuta, parecia que sim, mas talvez para Mai não fosse o caso.
Enquanto ele refletia sobre isso, ela disse "Tchau" e desligou.
Não havia como prendê-la.
Certo de que ela não atenderia se ligasse novamente, Sakuta colocou o telefone de volta no gancho e decidiu se contentar com o fato de que ela estava de volta, sã e salva.
No dia seguinte, segunda-feira, 7 de julho, era o Festival das Estrelas. O céu estava limpo, sem uma única nuvem.
Sakuta ligou a TV enquanto tomava café da manhã.
"Parece que Orihime e Hikoboshi poderão se encontrar sem problemas!"
O apresentador do telejornal matinal sempre parecia torcer por eles.
O restante da previsão do tempo indicava que as temperaturas estavam chegando aos 30°C em várias regiões do país. A moça da previsão do tempo parecia muito satisfeita com isso. Sakuta, por outro lado, perdeu completamente a motivação.
Se pudesse, pularia a escola sem pensar duas vezes. Mas ele tinha um bom motivo para não fazer isso: as provas finais começavam naquele dia.
Suportando o calor, ele chegou à escola, onde as provas de matemática e inglês o aguardavam. Conseguiu responder todas as questões de matemática, mas a parte de compreensão auditiva do exame de inglês foi um desastre completo.
No caminho para casa, decidiu que encontraria um emprego que não exigisse nenhum conhecimento de inglês. Talvez ele simplesmente não tivesse nascido para ser Papai Noel.
A curta caminhada até a estação estava cheia de alunos da Minegahara. O movimento era ainda maior que o normal, já que os clubes esportivos não tinham treinos durante a semana de provas.
Ao passar pelos portões, Sakuta reconheceu alguém mais à frente.
Tomoe, carregando a mochila com as alças folgadas para esconder o formato do corpo.
Ela andava cabisbaixa, desconfortável, arrastando os pés. Um pouco mais à frente, cerca de dez metros adiante, estavam as três garotas com quem sempre andava — Rena, Hinako e Aya. Elas riam, mas não pareciam incluí-la na conversa.
Não parecia que Tomoe simplesmente havia ficado para trás por algum motivo e estava tentando alcançá-las. Pelo contrário, dava a impressão de que as outras garotas sabiam que ela estava ali, mas estavam fingindo não notar.
Aquele espaço entre elas parecia proposital.
Na mesma hora, Sakuta se lembrou do que Yuuma havia dito na sexta-feira.
"Tem uns boatos bem feios rolando."
"Feio" era, honestamente, um termo até suave para descrever aquilo.
"Estão dizendo que ela é fácil, uma vagabunda, que está dormindo com você."
Isso podia ser um grande problema.
A pequena plataforma da estação de Shichirigahama estava lotada de alunos da Minegahara.
Tomoe estava no lado que seguia para Fujisawa, encostada no canto mais afastado, parecendo muito pequena. Havia um espaço livre ao seu redor, como se estivesse cercada por uma parede invisível. Apesar de estarem todos no mesmo lugar, o ar ao redor dela era diferente.
Sakuta usou seu passe e passou pelos portões, ignorando os olhares curiosos enquanto se aproximava. Parou ao lado de Tomoe e cutucou sua bochecha.
"Não fica assim, tão abatida," disse ele.
"Senpai..."
Tomoe olhou para ele por um instante, mas logo desviou, consciente dos olhares ao redor.
A presença de Sakuta ao lado dela apenas aumentou a atenção que recebiam. No entanto, ninguém os encarava abertamente. Eram apenas olhares rápidos, curiosos, se perguntando se os rumores eram verdadeiros.
As pessoas estavam rindo deles, se divertindo com as fofocas, se deliciando ao ver alguém que havia saído da linha.
Para Sakuta, aquilo não significava nada. Ele já estava acostumado. Mas para Tomoe, era sufocante.
Ela encarava o chão, e Sakuta percebeu que ela mal conseguia se manter firme. Era evidente que queria fugir dali. Como se estivesse prestes a chorar.
Aquele tipo de atenção era exatamente o que Tomoe mais temia. Ela sempre se esforçara para ler o ambiente e evitar passar por algo assim. Tinha até pedido para Sakuta fingir ser seu namorado para escapar desse tipo de humilhação.
De repente, uma risada alta e debochada ecoou atrás deles, como um chicote estalando no ar.
Tomoe estremeceu.
Sentindo a irritação crescer, Sakuta se virou e encontrou três garotos do terceiro ano rindo. Todos tinham um visual descolado, com correntes penduradas na cintura. No centro do trio estava Maesawa.
Os olhares de Sakuta e Maesawa se cruzaram. Ele sorriu de canto.
"As calouras andam bem fáceis ultimamente."
Ele falou para os amigos, mas alto o suficiente para que todos ao redor ouvissem. Seus olhos desafiavam Sakuta abertamente.
Era uma forma bem preguiçosa de começar uma briga. Aquilo o divertiu, então ele riu. Responder na mesma moeda era apenas uma questão de boas maneiras.
"Ah?!" Maesawa rosnou, franzindo a testa. Com raiva transbordando, deu alguns passos à frente. "Você tá rindo de mim?"
"Ainda estou. E daí?"
"Você acha que isso é uma piada?!"
Maesawa agarrou a camisa de Sakuta com força.
"Estou apenas te ridicularizando abertamente." Alguém mais afastado na plataforma riu alto.
Um instante depois, um soco potente acertou o rosto de Sakuta.
Houve um baque surdo. Ele cambaleou alguns passos para trás.
"Ah!"
Aquele grito provavelmente foi de Tomoe.
Tudo ficou branco por um momento. Sua bochecha esquerda ficou dormente.
Segundos depois, uma dor quente e latejante se espalhou. Maesawa era uns sete centímetros mais alto que Sakuta, seu corpo moldado pelo basquete, e seu soco era ainda mais forte do que Sakuta esperava.
"Ai..."
Um silêncio tomou conta da multidão de alunos da Minegahara. Todos prenderam a respiração. A tensão era palpável.
Maesawa recuou o braço, pronto para um segundo golpe.
"Senpai!"
De repente, Tomoe se colocou entre os dois. Seu pequeno corpo bloqueava o caminho entre Sakuta e Maesawa.
"Não!" gritou Sakuta, puxando-a pelo alça da mochila para trás. O movimento fez com que ele tomasse o lugar onde ela estava.
Maesawa pareceu pego de surpresa. Seu punho ficou suspenso no ar.
A plateia de curiosos mal piscava.
Sakuta tinha planejado simplesmente aguentar aquilo, mas a dor no rosto não sumia, e ele sentiu a raiva crescer dentro de si, o calor da indignação tomando conta.
"Senpai..." Tomoe puxou sua manga, ansiosa. Vê-la à beira das lágrimas fez com que simplesmente suportar a situação parecesse uma ideia idiota.
Dando um passo firme à frente, ele ergueu o punho.
Instantaneamente, Maesawa levantou ambos os braços para se proteger. Mas isso deixou suas pernas expostas.
Sakuta chutou com força a canela de Maesawa.
"Urgh!" Um grunhido de surpresa e dor escapou do valentão.
Maesawa caiu de joelhos, segurando a perna direita machucada.
"Isso não foi justo!" ele sibilou, lançando um olhar mortal para Sakuta.
"Engraçado você dizer isso." Sakuta plantou a sola do pé no rosto de Maesawa, estilo yakuza. O impacto foi forte.
"Argh!"
Sem conseguir se segurar, Maesawa caiu de bunda e rolou pela plataforma.
Ele olhou para Sakuta, o rosto vermelho de vergonha, raiva e humilhação.
Ninguém disse nada. O choque era tão grande que ninguém sabia como reagir. Todos aguardavam as próximas palavras de Sakuta.
Ele não estava interessado em dar ao público o que queria, mas escolheu dizer exatamente o que Maesawa menos queria ouvir:
"Patético."
Um murmúrio percorreu a multidão. Algumas pessoas riram.
"Quem... quem...?!", Maesawa balbuciou, tão furioso que não conseguia completar a frase. Sua boca se abriu e fechou como a de um peixe dourado.
Os dois colegas dele do terceiro ano deram um passo à frente.Sakuta os ignorou.
"Melhor lavar o rosto, senpai."
"Hã?"
"Pisei em merda de cachorro ontem."
Maesawa passou a mão no rosto rapidamente. Quando a multidão viu ele cheirar a própria mão, outra onda de risadas explodiu.
Os dois colegas dele pararam de avançar. A barreira da merda era uma força poderosa.
Sakuta olhou ao redor e viu vários alunos mexendo no celular. Postando nas redes sociais, mandando mensagens para amigos que perderam o espetáculo.
E viu Rena olhando para ele, chocada. Hinako estava em pânico ao lado dela, e Aya tentava acalmá-la.
"I-isso é um absurdo!" Maesawa rosnou, finalmente conseguindo ficar de pé.
"Essa é minha fala. Se não quer ser motivo de chacota, não começa um circo. Viver assim é patético."
"Absurdo!"
"Você já disse isso."
"......"
Parece que os circuitos de fala de Maesawa tinham pifado. Ele não conseguia pensar em mais nada e ficou repetindo "Absurdo" como um disco riscado.
"Senpai, já chega," Tomoe disse. Suas mãos agarravam a parte de trás do uniforme de Sakuta.
Parecia preocupada com o impacto que toda aquela atenção negativa teria sobre Maesawa. Como alguém que odiava estar sob os holofotes, fazia sentido que não quisesse ver isso acontecendo com outra pessoa.
Mas Sakuta ainda não tinha terminado.
"Não, tem mais uma coisa que eu preciso dizer." Ele olhou diretamente para Maesawa.
"Ela tá dormindo comigo? Ha! Eu sou virgem." E com isso, pegou a mão de Tomoe e saiu da estação com ela.
A cada passo, eles aceleravam. Quando perceberam, já estavam correndo.Não porque tinham medo de Maesawa persegui-los.
Eles estavam tão cheios de adrenalina que simplesmente precisavam correr.
Sakuta quase se sentia eufórico. Não sabia exatamente por que aquilo era tão divertido. Mas seu coração estava disparado.
"Senpai, você foi longe demais."
"Fui?!"
"Demais," Tomoe disse. Mas estava sorrindo o tempo todo enquanto corriam.
O som das ondas e o vento acalmaram seus corações acelerados. Os sentimentos ruins que vinham se acumulando dentro deles se dissiparam. A praia tinha esse tipo de magia.
Sakuta e Tomoe haviam fugido da estação e agora caminhavam para o oeste, ao longo da areia de Shichirigahama. Enoshima flutuava sobre as águas à frente, ficando cada vez mais próxima.
"Quer entrar na água?" Tomoe sugeriu. Ela já tinha tirado os sapatos e as meias e estava deixando as ondas tocarem seus pés.
Sakuta andava alguns metros mais para dentro, fora do alcance do mar.
"E quem carregaria meus sapatos?" ele perguntou.
Tomoe tinha largado os próprios sapatos e meias na areia, e Sakuta estava carregando para ela.
Era um dia de semana, mas ainda havia bastante gente na praia. Famílias com crianças pequenas, grupos de universitários, casais mais velhos... todos brincando e rindo na água.
Era um dia lindo, e aquela era a primeira visita à praia do ano para muitas pessoas. Todo mundo parecia feliz.
"Senpai."
"Eu não vou entrar!"
"Não é isso." Tomoe fez um biquinho e estufou as bochechas.
"Então, o quê?"
"Obrigada."
"......"
"Isso me deixou muito feliz."
"De nada," ele disse sem emoção. Sua bochecha esquerda ainda doía. Parecia estar pegando fogo.
"Acho que estou começando a entender o que você disse antes."
"Mm?"
"Aquilo sobre ter o mundo inteiro contra você, mas uma pessoa que precisa de você. Algo assim, pelo menos."
"Você nem lembra direito."
"Eu realmente me senti sua namorada ali. Como se eu realmente importasse para você."
O vento e as ondas levaram a alegria dela até os ouvidos de Sakuta.
"Bem, combinamos isso até o fim do semestre."
Originalmente, era algo como "mais que um senpai, menos que um namorado", mas essa última parte praticamente já tinha sumido.
"A maioria das pessoas não iria tão longe por uma namorada falsa. Não seria algo tão importante assim."
"Sou perfeccionista."
"Você é um jamoke," Tomoe disse, deixando escapar seu sotaque natural.
"Um quê?"
"Nem sabe o que é isso?" Tomoe zombou. Então, seu rosto se iluminou com orgulho.
"Vou te ajudar. Significa que você não tem graça nenhuma."
"Não era pra ter mesmo." Eles continuaram andando lado a lado.
"Koga."
"Mm?"
"Eu que devia te agradecer. Se você não tivesse interferido, ele teria acabado comigo."
Com a vantagem de tamanho de Maesawa, mais dois ou três socos teriam tirado toda a luta de Sakuta.
"Mas seja mais cuidadosa. Se ele tivesse te acertado, poderia ter te machucado de verdade."
"Eu só entrei em desespero."
"Bom, você é a colegial da justiça."
Ele se lembrou de como eles se conheceram, quando ela o confundiu com um tarado e tentou salvar uma garotinha, chutando a bunda dele sem pensar nas consequências.
Essa era a verdadeira essência de Tomoe, pensou Sakuta.
Quando as coisas ficavam sérias, ela se movia antes mesmo de pensar. Movida por uma necessidade de agir.
Não era algo que qualquer um conseguia fazer. A maioria das pessoas congelava em situações perigosas.
"Ah, e desculpa."
"Pelo quê?" Ela franziu a testa, confusa.
"Fui bem cruel com o crush da sua amiga."
"Ahhh, droga." Tomoe parou, e uma sombra passou por seu rosto.
As ondas molharam seus pés.
"Não adianta pensar nisso agora," Sakuta disse.
"A culpa é sua! Me ajuda a pensar!"
"Eu disse que sentia muito, já basta."
"Que irresponsável!" Tomoe se queixou.
Então, seus ombros se sobressaltaram. Ela puxou o celular do bolso. Devia ter vibrado.
"Ah, é da Rena..." Ela ficou olhando para a tela, tensa.
"O que ela disse?"
"'Desculpa, não sei o que deu em mim.'"
"Oh?" Sakuta não conseguiu segurar um sorriso.
"'Perdi todo o respeito pelo Maesawa.'"
"Bom, que pena. Mas, se a paixão dela pôde ser destruída por um pouco de merda de cachorro na cara, não era tão forte assim."
Ela tinha se encantado apenas pela aparência. Se realmente o amasse, um único momento humilhante não teria sido suficiente para mudar isso. Até mesmo aquela vergonha fazia parte dele.
"'Vamos estudar para as provas. Quer vir com a gente?'"
Bom, pelo menos tudo estava resolvido e elas voltaram a ser amigas. Tomoe respondeu e trocaram algumas mensagens. Ela estava sorrindo de novo.
Mas, mesmo depois de guardar o celular, parecia não querer sair da água.
"Você não vai?"
"Eu disse que queria que você me ajudasse a estudar."
"E?" Ela mostrou a tela para ele.
Havia postagens das três amigas, todas sem palavras, apenas figurinhas com rostos enormes e sorridentes.
“Oh, certo, senpai...”
“Mm?”
“Tem uma coisa que eu quero dizer.” Ela estava inquieta.
“Precisa fazer xixi?”
“Não!”
“Então o quê?”
“E-eu... também não.”
“Também não o quê?”
Ele sabia exatamente do que ela estava falando, mas a vergonha evidente era tão divertida que Sakuta fingiu não entender. Como ela explicaria? Ele esperou, curioso.
“Sou virgem,” ela disse, olhando para ele. Ele não conseguiu se segurar. Caiu na risada.
“P-por que você tá rindo?! Isso é maldade!” Ela chutou água nele. Sakuta desviou.
“Não desvia!”
“Você achou que eu acreditava nesses boatos?”
“Não, mas e se você acreditasse? Eu realmente não queria isso.”
“Ainda assim, ir direto pra ‘sou virgem’ e só soltar isso assim?”
Um casal de idosos com um cachorro passou bem ao lado deles.
“F-fala mais baixo!”
“Foi você quem começou.”
“Só queria só deixar claro.”
“E ficou bem claro! Mas tanto faz pra mim.” Sakuta começou a andar. Se não fizesse isso, eles nunca sairiam dali.
“Ah! Espera!”
Ela veio correndo pela água atrás dele.
Tomoe na espuma das ondas, Sakuta na areia—sempre com a mesma distância entre eles, sem se aproximar nem se afastar.
“Mas você disse que já teve um namorado?” ele lembrou, com um sorriso travesso.
“Você sabe muito bem que isso foi mentira,” ela respondeu, meio envergonhada, meio irritada.
“Não parecia tão impossível assim.”
“Quer dizer, todo mundo dizia que tinha tido um namorado no fundamental. A Rena, a Hinako, a Aya. A Hinako ainda tá com o mesmo cara.”
“Hmm.”
“Eu não disse nada! Só que todo mundo concordou que eu definitivamente tinha tido um. Aí pareceu errado discordar e... agora estamos aqui.”
“Ahhh.”
“E se eu dissesse que nunca namorei ninguém, achei que você me olharia de cima.”
“Contra quem é que você tá lutando?”
“Não sei.”
Provavelmente, contra as expectativas que o mundo tinha dela.
Tomoe se esforçava tanto para manter a imagem da "Tomoe Koga" que todos gostavam.
Uma batalha diária contra algo invisível... como o próprio ar.
“Ah, senpai...” Ela olhou para ele de lado, chutando a água.
“Mm?”
Sakuta caminhava devagar pela areia, tentando não tropeçar.
“Como posso te recompensar por isso?”
O som dos passos dela parou. Ele deu mais alguns passos, depois parou e se virou para ela. Ela parecia séria. Esperando uma resposta.
“Não acredito que você tá perguntando isso com essa cara.”
“É uma pergunta séria.”
“Não precisa me recompensar. O time do Japão passou da fase de grupos numa boa.”
Outro dia, eles tinham conseguido uma vitória enorme contra um adversário forte e avançaram para a fase eliminatória. Foram quatro anos de preparação, e o ataque deles finalmente deslanchou.
Tomoe tinha cumprido a promessa e torcido por eles o tempo todo. Até mostrou pra ele uma foto dela com o uniforme da seleção japonesa e a bandeira pintada no rosto.
“Mas...”
“Se isso não for suficiente, sai comigo no fim de semana.”
“Pra onde?”
“Quero comprar roupas pra minha irmã quando meu pagamento cair, mas não faço ideia do que tá na moda.”
“Okay...”
Ela concordou, mas não parecia satisfeita. Como se isso não fosse o bastante para pagar a dívida.
“Beleza, então mais uma coisa.”
“O quê?” ela perguntou, um pouco animada demais.
“Quando essa mentira acabar, continuamos amigos.”
“......”
Ela não esperava aquilo e arregalou os olhos. Então, riu baixinho, mas ainda assim parecia insatisfeita.
“Não quer?”
“Quero, mas não quero.”
“Como é que é?”
Como se algo a incomodasse, Tomoe levou a mão ao peito, abrindo e fechando os dedos nervosamente.
“Não precisa se for um problema,” ele disse.
“Não, você venceu. Vou ser sua melhor amiga.” O sorriso de Tomoe brilhou sob o sol do verão.
“Só amigos normais tá bom.”
“Aah, poxa.”
Sakuta e Tomoe caminharam pela praia por duas estações antes de finalmente pegarem um trem na Estação Koshigoe.
Eles olharam ao redor antes de se sentarem. Já tinha passado mais de uma hora desde a briga de Sakuta com Maesawa, e quase não havia mais uniformes de Minegahara no trem. Todo mundo já tinha ido embora cedo para se preparar para as provas do dia seguinte.
Tomoe parecia muito aliviada.
Eles encontraram assentos vazios e sentaram-se juntos. Havia um grupo de universitários logo à frente, vibrando enquanto o trem passava entre fileiras de casas.
"Isso é incrível!"
"Elas estão tão perto! Vamos bater!"
"Cara, isso é revolucionário."
"Essa palavra não significa exatamente o oposto do que você está tentando dizer?"
No momento em que teve esse pensamento, os olhos de Sakuta encontraram os de Tomoe. Ela devia estar pensando a mesma coisa, pois exibia um sorriso divertido. Para eles, aquela viagem de trem era mais nostálgica do que nova. Aquele cara precisava melhorar seu vocabulário.
"Então, onde vamos estudar, Koga?"
"Hã? Nós realmente vamos?"
"Se não formos, você terá mentido para seus amigos."
"...Você é bom em química?" Tomoe lançou-lhe um olhar avaliador.
"Tenho certeza de que sou melhor que você."
"Isso parece um insulto."
"Por quê?"
"Teremos que descobrir se é verdade."
"Então... quer ir até minha casa?"
"Hã?"
"Meus pais não estão lá."
"Uhhh?!"
"Shhh, não tão alto, estamos no trem." Vários olhares se voltaram para eles.
"M-mas... eu... eu não estava preparado para isso... ainda assim, uh... ok."
Uma sucessão de expressões rápidas passou pelo rosto de Tomoe, pânico, nervosismo, constrangimento, até que, no final, ela assentiu.
"Você definitivamente entendeu tudo errado."
"N-não entendi! Não me trate como uma criança."
"Bem, você não quer dar o primeiro passo para se tornar um adulto."
Nos minutos restantes antes de chegarem à estação de Fujisawa, Sakuta listou dez razões pelas quais nunca tentaria nada com Tomoe. Ela passou o tempo todo emburrada e, ao descer do trem, pisou deliberadamente no pé dele.
O apartamento de Sakuta ficava a dez minutos de caminhada da estação. Ao chegarem, subiram pelo elevador até o quinto andar.
"Cheguei!" ele anunciou, abrindo a porta.
Kaede colocou a cabeça para fora da sala de estar.
"Bem-vin…."
Ela parou no meio da frase ao perceber que Sakuta não estava sozinho. Instantaneamente, escondeu-se atrás do batente da porta e espiou Tomoe como um pequeno animal que avista seu predador natural.
"Você trouxe outra garota para casa?!" ela exclamou. Sakuta considerou isso um ataque à sua honra, então ignorou.
"Entre."
"O-obrigada por me receber."
Tomoe inclinou levemente a cabeça e tirou os sapatos, alinhando-os perfeitamente. Sakuta a conduziu até seu quarto, mas antes que pudesse segui-la, Kaede puxou a manga de sua camisa.
"O que foi?" Ela se esticou para sussurrar em seu ouvido.
"Se for trazer uma dama da noite para nosso lar, deveria me avisar antes."
"Kaede, você definitivamente entendeu tudo errado."
Tomoe estava longe de merecer tal descrição. Seu penteado era simples, a maquiagem leve, e, além disso, por que diabos Kaede usara a palavra "lar" com tanta pompa? Ninguém jamais se referira ao apartamento deles com tamanha formalidade.
"Quanto ela já te extorquiu?"
"Ela é Tomoe Koga, uma kouhai da escola."
"Se você gosta de garotas mais novas, tem a mim!"
"Do que estamos falando, afinal?"
"Vou contar para a Mai!"
Isso era preocupante. Mai havia aprovado a situação com Tomoe, mas um relato detalhado certamente machucaria os sentimentos de Sua Majestade.
"Vamos estudar para as provas. Podemos conversar depois." Ele se desvencilhou de Kaede e fechou a porta atrás de si.
"Sente-se onde quiser." disse, apontando para uma almofada.
Tomoe se ajoelhou de forma formal, no estilo japonês. Sakuta armou uma mesa dobrável à sua frente.
"Se ficar assim por muito tempo, suas pernas vão ficar dormentes."
"C-certo."
Cuidando para não expor demais a barra da saia, Tomoe acomodou suas pernas de um jeito mais confortável.
Sakuta sentou-se de frente para ela.
Ele abriu um livro de Japonês Moderno para se preparar para o dia seguinte. Tomoe tinha seu livro de química e suas anotações, mas não parecia focada neles. Seus olhos percorriam o quarto, observando cada canto.
Quando viu a cama dele, corou imediatamente. Depois, olhou para a escrivaninha e abaixou a cabeça. Por fim, explodiu:
"Eu não consigo!"
Ela rapidamente enfiou os livros de volta na mochila e tentou colocá-la nas costas, mas, atrapalhada, não conseguia passar os braços pelas alças.
"V-vou estudar com a Rena e as meninas, afinal!" disse, saindo do quarto apressada.
"O-obrigada por me receber!" Antes que Sakuta pudesse reagir, ela já estava do lado de fora.
"Ei, Koga!" ele gritou, correndo atrás dela.
Conseguiu calçar apenas uma sandália antes de dar meio passo para fora. Tomoe já estava ao lado do elevador. O sino tocou, indicando que havia chegado ao andar.
Um momento depois, as portas se abriram.
Tomoe tentou entrar, mas parou no meio do movimento, boquiaberta.
"Ah!" Sakuta também ficou imóvel, surpreso.
Diante deles estava uma estudante com o uniforme de Minegahara. Meias-calças pretas, mesmo com o calor do verão.
Era Mai.
Tomoe, sem dizer nada, entrou rapidamente no elevador, tomando o lugar de Mai.
Mai lançou um olhar para Sakuta e depois para Tomoe, exatamente no momento em que as portas se fecharam.
Então, caminhou na direção dele, os saltos ecoando pelo corredor.
"Vocês dois ficaram bem íntimos enquanto eu não estava olhando." Com um dedo fino e pálido, cutucou o nariz dele.
"Ela estava vermelha! O que você fez com ela?" Havia uma acusação em seu olhar.
"Tentei estudar com ela."
"Estudar o quê?"
"Eu fiquei com Japonês Moderno, e Koga com química."
"Hmph."Parecendo ainda mais irritada, Mai pressionou o dedo com mais força. Parecia melhor mudar de assunto.
"Mai... você trouxe lembranças da viagem?"
Seus olhos se fixaram na sacola de papel que ela carregava. O humor de Mai não melhorou visivelmente, mas ela retirou o dedo e, sem cerimônia, empurrou a sacola para as mãos dele.
"Sim."
Sakuta olhou dentro e viu grandes pedaços de peixe seco, bolinhos de peixe e um kasutadon, um bolo recheado com creme.
"Essas coisas também são boas frias."
"Obrigado."
Com isso resolvido, Mai virou-se e seguiu em direção ao elevador.
"Não vai entrar?" ele perguntou.
"Se eu entrasse agora, pareceria que estou competindo com aquela caloura." Isso fazia sentido... ou talvez não. Mas, de qualquer forma, ela se foi.
Sem motivo para continuar parado ali, Sakuta voltou para dentro e chamou Kaede. Juntos, começaram a comer as lembranças da viagem.
"Isso é bom!"
"Sim, muito bom!"
Na terça-feira, segundo dia dos exames finais, Sakuta foi chamado à sala dos professores assim que chegou à escola. De lá, foi levado para a sala do orientador e forçado a fazer as provas sozinho.
Ele nem precisou perguntar o motivo. A causa era óbvia: a briga na estação de Shichirigahama.
O atendente da estação provavelmente tinha denunciado o incidente.
"Durante os exames intermediários, você causa um alvoroço no pátio da escola. Agora, durante os exames finais, se mete em uma briga. Você tem algo contra as provas, Azusagawa?"
"Acho que o mundo seria melhor sem elas."
"Isso nunca vai acontecer."
Seu professor seguiu o protocolo, dando-lhe uma bronca, mas sem parecer realmente irritado. Haviam muitas testemunhas do incidente, e parecia que as circunstâncias atenuantes foram relatadas corretamente. Especialmente o fato de que Maesawa tinha sido o primeiro a atacar.
No final, o professor apenas o advertiu para ter mais cuidado, mas Sakuta não fazia ideia do que exatamente deveria evitar. Talvez merda de cachorro na calçada.
Aparentemente, Maesawa nem sequer apareceu na escola naquele dia.
Depois das aulas, ao sair da sala do orientador, Sakuta encontrou Tomoe esperando por ele no corredor. Ela parecia culpada, como se fosse sua culpa ele estar encrencado.
"Como foram suas provas?" ele perguntou.
"Horríveis." Até sua resposta soava desanimada.
"Estudar com suas amigas acabou virando um encontro no restaurante da família?" ele especulou, começando a caminhar. Tomoe apressou-se para acompanhá-lo.
"E as suas provas?" ela perguntou.
"Consistentes."
"Consistentemente boas?"
"Consistentemente ruins."
"Bom, pelo menos estamos juntos nessa."
Companheirismo na mediocridade não faria nenhum dos dois se tornar um aluno melhor, mas Tomoe parecia aliviada mesmo assim.
"Ah, senpai, você precisa arranjar um celular."
"Hã?"
"Quero dizer, eu saí correndo ontem, certo? Depois... fiquei preocupada com o que você pensaria disso."
"Pensei que você fosse emocionalmente instável."
O rosto de Tomoe ficou vermelho na mesma hora, fervendo de raiva.
"Bom, eu quero poder resolver esse tipo de coisa mais rápido!" retrucou, lançando-lhe um olhar feroz.
"E hoje você foi chamado à sala dos professores. Eu queria falar com você antes... mas não consegui me concentrar nas provas de jeito nenhum."
Ela parecia um pouco ressentida com isso.
"Mas... foi só isso que você pensou?" perguntou, hesitante.
"Só sobre o quê?"
"Você não pensou em mais nada sobre ontem?"
"Pra ser sincero, nem pensei muito em você."
"Que jeito horrível de dizer isso. Mas... ok."
Tomoe murmurou um discreto "Que bom", aliviada. Sakuta notou que seus olhos pareciam um pouco inchados.
"Passou a noite estudando?"
Se fosse esse o caso, não conseguir se concentrar nas provas era uma verdadeira tragédia.
"Não, por quê?"
"Seus olhos estão um pouco de panda."
"Você tá brincando?!" Tomoe puxou um espelho e conferiu.
"Argh, estão mesmo! Preciso consertar isso." E saiu correndo para o banheiro feminino. Sempre apressada. Sozinho, Sakuta murmurou para si mesmo:
"Isso parecia mais com alguém que chorou a noite inteira."
Na quarta-feira, o meio dos exames finais, Sakuta pôde finalmente fazer suas provas em sala de aula.
No trem a caminho da escola, avistou Maesawa. Parecia que ele já tinha se recuperado do choque. Seus olhares se cruzaram por um instante, e a expressão de nojo no rosto de Maesawa deixou claro que ele não tinha aprendido nada com a situação.
Com os dois no mesmo vagão, a atmosfera ficou pesada rapidamente. Algumas pessoas começaram a murmurar "Merda de cachorro" de um lado para o outro. Alguns apontavam para Sakuta, outros para Maesawa.
Entre os cochichos, alguém também comentou "Declaração de virgindade."
Era claramente uma provocação contra Sakuta, mas ele não se importou nem um pouco.
E parece que foi só isso.
Considerando o tamanho da confusão, a reação geral parecia bem moderada. Mas, como era época de provas, ninguém tinha tempo para se importar com mais nada além de si mesmo.
Mas uma coisa era muito clara: todos agora sabiam sobre o relacionamento de Sakuta e Tomoe. Todos sabiam que o motivo pelo qual Sakuta havia lutado contra Maesawa era para proteger Tomoe, o que significava que eles estavam apaixonados. Não havia mais como voltar àquela definição vaga de "mais que um senpai, menos que um namorado".
Isso também significava que a ideia de simplesmente se afastarem naturalmente durante as férias de verão talvez não fosse convincente. Eles precisariam de um motivo claro e definitivo para terminar.
Quando terminou suas provas, Sakuta ficou olhando para o oceano pela janela, tentando pensar em uma solução.
Na quinta-feira de manhã, o tempo começou a mudar e a chuva veio em pancadas intermitentes. O clima estava muito desagradável. À tarde, ainda não havia sinais de melhora. As roupas que ele havia pendurado para secar no quarto não estavam indo bem.
"Pare de ficar olhando ao redor."
Sentada no quarto de Sakuta, debaixo do varal improvisado, estava, por algum motivo, Mai.
Ele tinha acabado de almoçar tranquilamente com Kaede e terminado de pendurar a roupa quando ela chegou.
"Estamos estudando para as provas", anunciou com um tom intimidador.
E foi assim que chegaram àquele momento.
A mesa dobrável estava montada no meio do quarto, e os dois estavam sentados em lados adjacentes. Dali, num ângulo de quarenta e cinco graus, Sakuta percebeu que Mai não parecia estar de bom humor.
"Você está brava comigo, Mai?"
"Por que acha isso?"
"Porque, do nada, você quer que eu estude."
"As provas terminam amanhã. Estou aqui para te ajudar a aprender. Resolva este problema."
Ela apontou para uma questão de física. Era sobre o efeito Doppler.
"Você tem cinco minutos." Uma abordagem bastante espartana.
"Contanto que eu não reprove..."
"Sakuta, você está pensando no seu futuro?"
"Meu futuro é ao seu lado."
"......"
Mai clicou sua lapiseira em silêncio. Ela nem sequer tinha um caderno pronto, então aquele gesto não devia ser para escrever. Parecia mais que queria usá-la para furá-lo. Parecia mais seguro evitar novas piadas.
"Eu quero ir para a faculdade."
Havia duas condições que dificultavam isso. A primeira era simples: seu desempenho acadêmico. Ele não poderia entrar em uma faculdade se não passasse nos exames de admissão. A outra era econômica, considerando a situação de sua família. Seu pai já havia insinuado que faculdades particulares provavelmente não seriam uma opção.
"E você, Mai?"
"O mesmo."
"Não vai focar no trabalho?"
"Posso fazer os dois. Sempre fiz." E estava fazendo agora.
"Estou considerando uma universidade pública em Yokohama."
Seja administrada pelo governo nacional ou municipal, a exigência para entrar seria bem alta.
"Você é uma boa aluna." Ela já havia dito que nunca havia tirado uma nota abaixo de oito.
"......"
Com o queixo apoiado na mão, Mai o observou longamente, de maneira intencional. Sakuta desviou o olhar.
"Não desvie o olhar", ela o repreendeu.
"Você quer ir para a mesma faculdade que eu, certo?" Era isso que ele imaginava.
"Bem, eu não…."
"Você quer." Sorrindo, ela apontou a ponta do lápis para ele.
"Se eu puder."
"Então estude."
"......"
"Se for pública, o impacto financeiro para seus pais não será tão grande, e, se for em Yokohama, você pode ir e voltar de casa."
Mai estava certa. Ela já tinha planejado tudo. O que aconteceu com a campanha de inverno para tomar o Castelo de Osaka? Ela já havia avançado direto para a campanha de verão.
"É, bem..."
"Qual é o problema?"
"Só estou imaginando o quão difícil vai ser alcançar o nível necessário de desempenho acadêmico."
As notas de Sakuta eram completamente medianas. Ele mantinha uma média sólida de seis.
"Mas isso é fácil de resolver se você se esforçar", disse Mai.
"E eu não quero fazer isso, por isso estou resistindo", ele retrucou.
"Mesmo depois do que eu disse?"
"Sendo honesto, ainda não ouvi nada sobre o que você realmente quer." Mai se endireitou e olhou diretamente nos olhos dele.
"Se eu dissesse que quero ir para a mesma faculdade que você, isso te motivaria?"
"......"
As bochechas de Mai estavam levemente coradas. Talvez ela estivesse apenas atuando, mas aquelas palavras atingiram Sakuta em cheio, como uma flecha no coração.
"O-o que foi?" ela perguntou.
"Eu quero te agarrar agora mesmo."
"Eu vou te esfaquear."
Sakuta ergueu as mãos em rendição e, em seguida, rolou pelo chão.
"Sem preguiça!", ordenou Mai.
"Eu simplesmente não consigo me motivar."
"E se eu te ensinasse vestindo aquela roupa de coelhinha?"
"Isso seria extremamente motivador."
O que exatamente ela queria ensinar? Seu coração disparou em expectativa. Mas ele também supôs que fosse apenas uma piada.
"Se você prometer estudar, eu coloco."
"Sério?" Sakuta saltou de pé.
Mai já tinha aberto o armário dele. Ela puxou a sacola de papel que continha a roupa de coelhinha.
"Preciso me trocar. Saia." Ela realmente estava falando sério.
Sakuta nunca teria ousado sonhar com esse momento. Ele não desperdiçaria essa chance.
Sem protestar, ele saiu do quarto.
"Se espiar, você morre", ela rosnou antes de fechar a porta atrás dele.
Sakuta fez exatamente o que foi mandado, esperando pacientemente no corredor.
Mai estava se trocando no quarto dele, apenas uma porta fina os separava. Parte dele queria abri-la por curiosidade, mas ele se conteve.
Não havia necessidade de ações tão arriscadas. Se apenas esperasse, poderia aproveitar novamente a visão dela no traje de coelhinha. Um instante de nudez versus um longo tempo admirando-a fantasiada... Sakuta escolheu a segunda opção. Acreditava que essa era a escolha certa.
Kaede lhe lançou um olhar estranho enquanto ele esperava, mas ele disfarçou dizendo que estava alimentando Nasuno.
A espera durou cerca de quinze minutos.
"Pronto", Mai chamou por fim.
"Vou entrar", ele avisou, certificando-se.
"Pode vir." Assim que ouviu a confirmação, ele abriu a porta.
Mai estava sentada no mesmo lugar, ao lado da mesa, com as pernas dobradas para um lado.
Ela usava um colã preto justo, meias-calças negras que realçavam suas longas e esguias pernas, uma gravata borboleta no pescoço, punhos brancos nos pulsos e uma tiara com orelhas de coelho.
Os saltos altos estavam deixados de lado, já que estavam dentro de casa.
A roupa de Mai havia mudado, mas todo o resto continuava igual.
"Vamos, sente-se."
Quando Mai falou, as orelhas de coelho balançaram levemente.
Sakuta se acomodou do outro lado da mesa. Seus joelhos se tocaram sob ela, mas Mai não recuou. Pelo visto, aquele nível de contato físico era aceitável.
"Agora estude."
Como prometido, Sakuta abriu o caderno e começou a ler o problema no livro.
Mas, antes que percebesse, seus olhos já estavam novamente em Mai. Seus ombros nus pareciam incrivelmente suaves ao toque. A pele pálida do colo, com um suave inchaço formando um delicado vale entre os seios. A cintura fina e bem marcada. A curva harmoniosa dos quadris e coxas. Ele poderia ficar admirando-a o dia todo.
"Suas mãos não estão se movendo." Mai estendeu a mão e cutucou seu nariz.
"Olhe para o livro, não para mim."
Sakuta achou que ela ficaria brava, mas não parecia ser o caso. Na verdade, parecia até gostar de ser o centro da atenção dele.
"O que é isso, Mai?"
"O que é o quê?"
"Você não parece irritada."
"Deveria estar?"
"Aconteceu algo bom?"
"Não... só achei que deveria tentar a tática da cenoura de vez em quando."
Mai desviou o olhar e murmurou algo. Sakuta não conseguiu ouvir.
"O quê?"
"Eu disse que não achei que você fosse brigar por ela."
"Você viu o que aconteceu na segunda?"
"Parte disso. Você lavou o seu sapato, né?"
"Eu inventei aquela história do cocô de cachorro."
"Ah. Argh, eu não gosto disso."
Aquilo não parecia muito justo. Às vezes, era um verdadeiro desafio se manter no lado bom de Sua Majestade. Ele não achava que aquilo se qualificava exatamente como ciúme, mas ela definitivamente não estava satisfeita.
Mai deixou-se cair de bruços sobre a mesa, encarando Sakuta com um olhar penetrante. Aquela posição realçava ainda mais seu decote.
"Pare de olhar para os meus seios!"
"Então, basicamente, você só está carente de atenção."
"Quer levar um soco?"
"Não no rosto!"
Ele ergueu as mãos em uma pose de defesa brincalhona. Mai deu um soco em câmera lenta e girou o punho no ombro dele.
Então, suspirou dramaticamente.
"Vamos! Tente me animar!"
Uma tarefa difícil. Mas, vinda dela, parecia a coisa certa a se fazer.
"Mai, você tem planos para as férias de verão?"
"Vou trabalhar metade do tempo. E você?"
"Principalmente trabalhando também. Mas no resto do tempo, adoraria passar com você. Afinal, é verão."
"Não posso ir a piscinas ou praias."
"Aww."
"Estou falando sério. Sou uma celebridade."
E não qualquer celebridade. Mai era uma atriz famosa nacionalmente. Se aparecesse de biquíni em uma praia ou piscina local, certamente causaria um tumulto.
"Leve sua namorada fofinha para esses lugares", disse Mai, como se aquilo não lhe importasse.
"Mai."
"O quê?"
"Eu te amo." Ela estendeu a mão e apertou a bochecha dele.
"Ai!"
"Não trapaceie! Você ainda é o namorado daquela caloura."
"Bem, eu vi uma garota incrivelmente linda e não consegui resistir."
"Não saia dizendo que ama as pessoas por impulso."
Parecia uma bronca, mas Mai sorria. Seu humor parecia ter melhorado. Ou talvez estivesse apenas se divertindo às custas dele.
"Vamos, estude."
"Aww."
"Você não pode dormir até resolver todos esses problemas."
No livro aberto à sua frente, havia inúmeras equações de física. O preço pelo traje de coelhinha estava saindo bem caro. Mas uma promessa era uma promessa…
Na sexta-feira, depois da escola, com os cinco dias de provas finais concluídos, Tomoe cumpriu sua promessa e foi às compras com Sakuta.
Eles pegaram a Linha JR Tokaido na Estação de Fujisawa. A viagem durou cerca de vinte minutos.
Tomoe tirou uma revista de moda da mochila e mergulhou na leitura, com uma expressão séria. Ainda estava concentrada quando chegaram à Estação de Yokohama.
Essa parada era enorme e parecia estar sempre em construção. Lá, eles fizeram a troca para a Linha Negishi.
Uma estação depois, desceram em Sakuragicho.
Ao redor, destacavam-se a Landmark Tower, que recentemente se tornara o segundo edifício mais alto do Japão, e uma roda-gigante gigantesca, impossível de ignorar. A vista do porto ali era completamente diferente da de Shichirigahama.
Aquelas paisagens eram a essência do que a maioria das pessoas imaginava quando pensava em "Yokohama". No entanto, saindo da Estação de Yokohama, nada daquilo poderia ser visto de imediato.
"Senpai, você é de Yokohama, certo? Ou isso também era só um boato?" perguntou Tomoe.
"Sou de uma parte mais no interior, longe da vista do mar, mas Yokohama é bem espalhada."
Ela sequer parecia escutar. Tomoe já estava com o celular na mão, tirando uma foto da roda-gigante ao longe.
Por mais que fosse um namoro de mentira, válido apenas por aquele semestre, Tomoe fazia questão de registrar cada momento.
O primeiro lugar que visitaram foi um grande shopping a uns sete ou oito minutos a pé da estação. Um centro comercial novo, inaugurado havia apenas um ano, ainda brilhando de tão moderno.
Eles levaram cerca de meia hora para concluir as compras necessárias.
O orçamento que Sakuta tinha estipulado era de aproximadamente sete a oito mil ienes, então Tomoe o ajudou a escolher uma blusa e uma calça para Kaede. O conjunto estava dentro das tendências da moda e, surpreendentemente, era acessível.
Como ainda sobrava um pouco do orçamento, Sakuta pensou em complementar a compra com roupas íntimas apropriadas para a idade dela.
"Uh, Koga..."
"O quê?"
"Que tipo de roupa íntima você usa?"
"......"
"......"
"Hã?!" Ela se virou, boquiaberta.
"Você não está usando nenhuma?"
"Claro que estou! Apenas normais... Por que estou falando disso?! Por que você perguntaria isso?!"
"Eu só achei que deveríamos comprar algo que uma garota de quinze anos consideraria apropriado."
"Sua irmã devia comprar isso sozinha!"
"Ah, eu não mencionei isso quando você foi lá em casa, mas Kaede é bem caseira."
"Caseira?" Tomoe piscou, confusa.
"Basicamente, uma reclusa. Ela sofreu bullying no ensino fundamental."
"O quê? E sua mãe?"
"O que aconteceu com minha irmã foi demais para ela. Não moramos juntos. Meu pai está cuidando dela."
"......" Tomoe o observou atentamente.
"Agora tudo faz sentido."
"O quê?"
"É por isso que você está me ajudando."
"Você realmente sabe ler o ambiente." Não havia motivo para negar.
"E você também. No começo, achei que não soubesse, e era por isso que não se enturmava, mas na verdade você entende muito bem. Só escolhe ignorar."
"É mesmo?"
"É sim." Tomoe sorriu e virou à esquerda.
"Espere aqui."
"Por quê?"
"S-só espere! Nem pense em se mover!" Tomoe subiu a escada rolante para o andar de cima.
Sakuta aguardou por cerca de quinze minutos.
Quando Tomoe voltou, carregava uma sacola plástica azul, opaca o suficiente para não revelar o que havia dentro.
"Toma."
Ela entregou a sacola para ele, mas quando Sakuta começou a afrouxar o laço, ela o interrompeu.
"Não olhe!"
"Por quê?"
"P-porque são iguais às que estou usando agora."
Ela alisou a saia com as mãos, inquieta. Sakuta olhou para ela, depois para a sacola em sua mão.
"Agora eu realmente quero olhar", ele disse, puxando os cordões da sacola novamente.
"Não! Para com isso! Argh, senpai! Se continuar sendo um pervertido, a Sakurajima vai terminar com você."
"Hã?" Por que ela trouxe a Mai para essa conversa?
"De algum jeito, você conseguiu fazer uma atriz famosa nacionalmente se interessar por você. Não estrague tudo!"
"Outro dia mesmo você tava insistindo que era coisa da minha cabeça."
Ela não tinha acreditado nele. Tomoe exigira saber se Mai havia dito expressamente que o amava. Isso foi enquanto ela estava doente na enfermaria.
"Mas então eu vi ela aparecendo no seu apartamento."
"Ah, sim. Ela levou uns souvenirs pra gente." Tomoe tinha desistido de estudar e, ao sair, encontrou Mai no elevador.
"Eu vou te ajudar com ela, senpai! Garantir que vocês fiquem juntos!"
"De quem é a culpa de não estarmos juntos agora mesmo?"
"Urp... é-é por isso que eu quero ajudar!"
"Certo, valeu. Agradeço a intenção... E agora? Tem algo que você quer comprar?"
"Er... uh, hm. Posso dar uma olhada numa coisa?"
Sakuta seguiu Tomoe até o andar de cima, onde um mundo colorido se abriu diante dele. A seção de trajes de banho. Havia biquínis de todos os tipos e cores.
"Eu prometi ir à praia com as meninas", ela disse.
"Mas o único maiô que tenho é o que a escola obriga a gente a usar... O que será que todo mundo vai vestir?"
"Você não tem um do ensino fundamental?"
"Por que eu usaria um antigo? Oh, e esse aqui?"
Um pouco envergonhada, Tomoe pegou um biquíni rosa cheio de babados.
Ela o segurou contra o corpo.
"Nunca fui de usar bojo."
"Não é pra você!"
"Trajes assim..."
Sakuta desviou o olhar para um manequim curvilíneo ao lado, mas seus olhos logo pousaram em algo, ou melhor, alguém muito mais impressionante.
Uma loira deslumbrante, tão bonita que o fez ficar de queixo caído.
Curvas de outro mundo. Olhos azuis hipnotizantes. Lábios sensuais. Suas roupas mal conseguiam esconder o tamanho do busto ou o quão fina era sua cintura. Ela estava num canto da seção de trajes de banho, falando japonês fluentemente.
"E esse? Ou esse?"
Ela mostrava opções para uma pessoa ao lado, um jovem esguio, de cabelos longos e negros. Só que, olhando melhor, Sakuta percebeu que não era uma garota, mas um rapaz de traços incrivelmente andróginos. Um "belo jovem" mais do que um "cara bonito".
O casal internacional chamava atenção por toda a loja, não apenas de Sakuta e Tomoe.
"E esse?"
"Todos são ótimos", o namorado disse, claramente cansado.
"Não precisa ficar todo envergonhado! Ninguém tá olhando."
É, não. Todo mundo estava. Mas o namorado não parecia envergonhado, só exausto. Será que esse relacionamento era saudável?
"São todos iguais!"
"Quer dizer que acha que eu faço qualquer um ficar bom?" ela perguntou, sorrindo maliciosamente.
Isso lembrou Sakuta de Mai. A confiança de uma mulher que sabia exatamente o quão bonita era.
Era uma brincadeira, mas também era pura convicção.
"Sim", ele admitiu.
Isso pareceu pegá-la de surpresa. Mas então ela sorriu, um sorriso radiante que iluminava o ambiente ao redor.
"Não é sempre que recebo um elogio seu."
"É apenas uma constatação", ele respondeu, e então começou a se afastar, como se não aguentasse mais aquilo.
"Ah! Espera!" Ela correu atrás dele, agarrando seu braço apesar das reclamações dele.
"Eu achei que você tivesse voltado para a Inglaterra. Por que ainda está no Japão?"
"Eu te disse que tinha uma exposição aqui. E meus pais vieram comigo. Você devia conhecê-los hoje à noite!"
"O-o quê?! Essa é nova pra mim!"
"Estou te contando agora."
A conversa esquentava, mas como eles já estavam na escada rolante, Sakuta não conseguiu ouvir o resto.
"Uh, então, Koga?" ele disse, voltando-se para ela.
"Quando você tiver um corpo como o daquela loira, pode usar um biquíni desses."
"Eu nunca vou ficar daquele jeito!"
"Então eu escolheria algo assim." Ele pegou um modelo próximo.
Era um tipo camisola, cobrindo tudo do peito até a cintura. A parte de baixo parecia um shortinho. Olhando de perto, dava para ver que tanto a parte de cima quanto a de baixo tinham camadas duplas.
Tomoe ficou olhando para o traje por um longo tempo e, em seguida, o colocou de volta no cabide.
"Vou pensar um pouco e comprar algo mais tarde", disse ela.
Depois de terminarem as compras, Sakuta e Tomoe foram passear pelo Parque Yamashita. Era um parque bem grande, localizado à beira-mar. Tomoe tirou várias fotos e, de vez em quando, eles posavam juntos, como um casal.
Quando o sol começou a se pôr, Tomoe apontou para a enorme roda-gigante.
"Vamos terminar com essa", sugeriu.
As luzes começavam a iluminar a cidade, deixando-a brilhante. A gôndola em que estavam subia lentamente, proporcionando uma vista panorâmica de todo o porto, banhado pelo dourado do pôr do sol. Mais uma vez, Tomoe pegou o celular e registrou o momento, gravando o que parecia um verdadeiro encontro.
Quando ela terminou, Sakuta decidiu que era hora de abordar o assunto que vinha adiando.
"Então, Koga..."
"O quê?" Ela estava colada no vidro, completamente encantada com a paisagem.
"Precisamos decidir como vamos terminar."
"Hã? Ah, é... eu sei."
Ela se virou e assentiu, demonstrando que já tinha pensado sobre isso. A notícia do relacionamento deles já havia se espalhado por todos os cantos da Minegahara. Sakuta até havia brigado com um veterano por ela, o que reforçava a ideia de que o namoro era sério.
Se simplesmente deixassem a relação esfriar durante as férias de verão, ninguém acreditaria. Precisavam de um motivo convincente para justificar o término.
"Não se preocupe, eu já tenho um plano para terminar com você", disse Tomoe, como se tivesse bolado um jogo divertido.
"Espera... eu sou quem vai levar o fora?"
"Sim. Eu percebi que você ainda não superou a Sakurajima e, por isso, terminei com você."
"Isso está perigosamente próximo da realidade..."
"E para fechar, eu te dou um tapa e grito: 'Eu não preciso de você!'"
"A gente tem que encenar tudo isso?"
"Realismo é essencial."
"Ai, ai..."
"Reserve um tempo depois da cerimônia de encerramento do semestre. Vamos ter nossa briga no caminho de volta de um encontro na praia."
Tomoe explicou sua "estratégia do tapa" com um sorriso no rosto.
E tudo isso acontecendo dentro de uma roda-gigante repleta de casais.
Mas, para falar a verdade, a relação entre eles nunca teve aquela atmosfera açucarada de um casal de verdade. Também nunca precisaram forçar a atuação de namorados.
Se tivesse que definir o que tinham, Sakuta diria que eram um senpai e uma kouhai que se davam bem. Em algum momento, haviam criado um tipo de amizade onde provocarem um ao outro parecia algo totalmente natural.
Ele sentia que a promessa que fizeram já havia se concretizado:
"Quando a mentira acabar, continuaremos amigos." O jeito como interagiam um com o outro já demonstrava isso.
"Por que você está sorrindo?"
"Por nada."
"Aff, não brinca comigo assim!"
E Sakuta percebeu que se sentia realmente à vontade com ela.
Com o fim das provas finais, a atmosfera na escola já era de férias de verão. Independente de estarem comemorando ou lamentando as notas, todos estavam ansiosos para escapar, confortando-se com o fato de que só precisavam sobreviver àquela última semana.
Com as praias locais oficialmente abertas, era impossível se concentrar em revisar as respostas das provas.
O único alívio era que as ondas em Shichirigahama estavam muito agitadas, então nadar ainda não era permitido. Nos dias em que a praia ficava lotada logo do lado de fora das janelas da escola, os alunos ficavam à beira de um motim.
Mas, bastava olhar para a esquerda para ver a praia de Yuigahama ou para a direita para avistar Enoshima Eastside Beach. A visão das multidões ao longe e dos telhados das barracas de praia fazia com que estudar parecesse um desperdício de tempo.
Os professores também sabiam disso e estavam apenas cumprindo protocolo. Ninguém se importava.
Assim que as aulas terminavam, vários alunos iam direto para o mar. Era fácil saber quem, já que voltavam todos vermelhos de insolação. Um típico cenário de verão em uma escola à beira-mar.
A semana passou sem incidentes.
O namoro falso com Tomoe estava indo bem. Ninguém suspeitava de nada. Ela também estava se dando bem com suas amigas. No domingo, havia saído para fazer compras com Rena, Hinako e Aya, e acabou comprando um maiô.
Ela contou a Sakuta sobre isso durante o trabalho.
"Quer ver, senpai?"
"Não estou tão interessado assim. Mais importante, Koga..."
"Como isso poderia acontecer?!"
"Minha irmã gostou muito das roupas que você escolheu para ela. Obrigado."
"Ah, sério? Que bom!"
"Mas eu ainda não acredito que você usa aquelas calcinhas."
"Hã?! Você viu?!"
"Nunca imaginaria que algo assim estava escondido sob sua saia."
"E-elas são totalmente normais!"
Aproveitando o tempo juntos, a última semana do semestre chegou ao fim. E o último dia, sexta-feira, 18 de julho, chegou rápido demais.
Na manhã da cerimônia de encerramento, Sakuta foi acordado, como sempre, por Kaede o sacudindo.
"Bom dia, Kaede."
"Bom dia!"
Eles foram para a sala de estar, e Sakuta começou a preparar o café da manhã. Enquanto esperava a torrada ficar pronta, ligou a TV, que exibia os melhores momentos do jogo Fresh All-Star da noite anterior. O estádio em Nagasaki estava lotado, com torcedores vibrando enquanto assistiam aos melhores jovens jogadores de cada liga de beisebol competirem.
Ele e Kaede tomaram café assistindo distraidamente. Aos pés deles, Nasuno comia alegremente sua ração.
"As férias de verão começam amanhã, né?"
"E o que o verão traz?"
"Melancia!"
"Vou trazer uma para casa."
"Tem que ser bem redonda!"
Comer uma melancia inteira parecia uma tarefa difícil. Talvez tivessem que dividir com Mai, pensou Sakuta. Depois de terminar o café, ele se aprontou e saiu para a escola.
"Divirta-se!" Kaede se despediu dele mais uma vez.
No trem a caminho da escola, ele encontrou Yuuma. Os dois ficaram lado a lado, segurando-se nas alças do vagão.
"Tem planos para o verão, Sakuta?"
"Trabalho."
"A Koga também vai estar lá!" disse Yuuma, provocando.
Sakuta o ignorou. No início, Yuuma havia ficado confuso com o relacionamento dele com Tomoe, mas, depois de observá-los, parecia ter aceitado a situação.
"E você, Kunimi?"
"Trabalho, treino, encontros."
"A essência da juventude."
"Olha quem fala!" Yuuma riu e deu um leve empurrão no ombro dele.
Eles continuaram conversando sobre trivialidades até chegarem à escola.
Depois do homeroom matinal, todos os alunos se reuniram no ginásio para a cerimônia. O discurso bem-intencionado do diretor caiu em ouvidos surdos, estava calor demais para prestar atenção. Alguns alunos trouxeram leques e os abanavam sem parar. Ninguém os repreendeu, porque até os professores estavam sofrendo com o calor.
De volta à sala de aula, Sakuta teve que encarar o último homeroom do semestre. O professor chamou os alunos um por um para entregar os boletins.
Azusagawa foi o primeiro chamado, sem tempo para ficar nervoso. A escola usava um sistema de notas de zero a dez, e a realidade logo bateu à porta.
Suas notas eram praticamente as mesmas de sempre. Graças às aulas particulares da Mai, ele conseguiu um oito em física, mas no restante das matérias sua média se manteve em seis.
No campo de comentários do boletim, o professor incluiu um aviso sutil relacionado ao incidente com Maesawa. Fora isso, nada digno de nota.
O professor encerrou o homeroom com um alerta:
"Eu sei que é verão, mas não exagerem e evitem se machucar."
Os professores terminavam as aulas assim desde a infância deles.
O aluno responsável pelo dia gritou:
"Levantar! Reverência!"
E, com isso, um coro de comemoração tomou conta da sala. Finalmente, estava acabado. A emoção era palpável.
Ignorando a agitação, Sakuta saiu rapidamente.
O corredor estava cheio de estudantes demorando-se na despedida. Era um longo período de férias e, já que todos tinham os contatos uns dos outros, por que simplesmente não iam para casa? Será que existia algum motivo para ninguém querer ir embora?
Com a maioria dos alunos demorando-se na escola, o caminho até a estação estava surpreendentemente vazio. O mesmo acontecia com a estação de Shichirigahama. Quando Sakuta chegou, havia no máximo dez pessoas por ali.
Ele desceu até o ponto onde o primeiro vagão do trem com destino a Fujisawa parava e ficou esperando. Faltavam seis minutos.
Antes que o trem chegasse, Tomoe apareceu correndo.
"Você chegou antes de mim!" disse ela.
Eles haviam combinado de ir à praia naquele dia. Seu último encontro. Tinham marcado de se encontrar na estação.
Tomoe estava mexendo na parte de cima da saia, como se ela não estivesse assentando direito. Ela percebeu o olhar dele.
"Eu me troquei para o maiô no vestiário da escola", explicou antes que ele pudesse perguntar.
Um truque clássico das escolas litorâneas. Os alunos de diferentes times esportivos saíam das praias, voltavam para a escola e usavam os chuveiros do time. Yuuma havia mencionado isso no ano passado.
"Você está me encarando, senpai."
"Eu sei." Ele conseguia ver um tom rosado através da blusa do uniforme dela.
"Isso foi uma dica para você parar," repreendeu Tomoe, segurando sua bolsa marinha na frente do corpo, como um escudo.
Enquanto conversavam, o trem chegou lentamente à estação.
Sakuta e Tomoe desembarcaram na estação Enoden Enoshima e, em menos de dez minutos, estavam na praia do lado leste. Uma longa e suave faixa de areia, que costumava ficar bem lotada nessa época do ano.
Mas era um dia de semana, então só havia moradores locais, e o local ainda estava relativamente vazio.
Eles se separaram perto das barracas, e Sakuta trocou de roupa, vestindo sua bermuda de banho. Também colocou uma camiseta. As pessoas costumavam ter a impressão errada ao verem as cicatrizes em seu peito. Ele guardou suas coisas em um armário no momento em que Tomoe apareceu. Trocar-se na escola realmente havia agilizado as coisas.
"Certo, vamos nadar!"
"Hã? Nenhuma opinião?"
"Achei que você não queria que eu olhasse."
Sakuta reconheceu o maiô que ela estava usando. Era o mesmo que ele segurou quando foram às compras juntos. Naquele dia, ela decidiu não comprá-lo, mas acabou voltando com as amigas e escolhendo aquele mesmo modelo.
"Acho que é fofo," disse ele.
"N-não diga que é fofo!"
"Então, o que você quer que eu diga?"
"......" Tomoe pensou por um instante.
"...Fofo, eu acho?"
"Você está instável emocionalmente de novo, Koga."
"Você entende a mente das garotas!"
"Nem um pouco."
"Ah, que saco! Você está fazendo isso de novo!"
"Bom, já que estamos falando disso, que tal comprarmos milho assado?" Ele se virou e foi em direção à barraca.
"Oh! Eu também quero." Tomoe apressou-se para acompanhá-lo.
Milho assado sob o sol do verão era um verdadeiro deleite.
No meio do dia, uma chuva repentina caiu, mas todos ali estavam na praia para se molhar de qualquer jeito.
Na hora do almoço, pegaram um yakisoba em uma das barracas. Enquanto esperavam a comida ser digerida, Sakuta puxou Tomoe para a água. Depois de ficarem completamente encharcados, voltaram a nadar. Quando estavam cansados, começaram a construir castelos de areia.
"Qual castelo vai resistir às ondas por mais tempo?"
"O perdedor paga a raspadinha!"
"Nada de reclamações depois."
"O mesmo vale para você, senpai."
Sakuta perdeu.
O fator decisivo foi a depressão na areia entre o castelo e a água. Tomoe havia se sentado ali enquanto trabalhava, deixando uma grande marca na areia, que acabou servindo como um fosso eficiente.
"Você foi salva pelo seu próprio traseiro, Koga."
"C-cala a boca! Você ainda vai pagar!"
Tomoe colocou as mãos na parte de trás do corpo, corando intensamente.
Uma perda era uma perda, então Sakuta pagou pela raspadinha. Tomoe escolheu calda de morango, e ele ficou com a de melão.
Quando o sol começou a se pôr, os dois se sentaram na areia, observando um menino e uma menina de cinco ou seis anos brincando com uma bola de praia. A menina atacava com força, e o garoto mal conseguia reagir. Ele acabou pegando a bola com o rosto várias vezes.
"Senpai..."
"Com fome de novo?"
"Obrigada por tudo."
"......"
"Certo," disse Tomoe, estendendo a mão.
"Vamos apertar as mãos."
"Por quê?"
"Para nos despedirmos."
Sakuta limpou a mão na camiseta e segurou a dela. Era pequena.
"No fim, você ainda gostava da Sakurajima. Eu não conseguiria lidar com isso, então terminei com você," disse Tomoe, olhando para o mar, como se estivesse narrando uma história.
"Não precisamos fazer aquela coisa do tapa?"
"Melhor não. Se eu te batesse agora, seria muita ingratidão."
"Ok. Bem... boa sorte?"
Sakuta nunca tinha estado em uma situação como aquela antes, então não sabia bem o que dizer.
"Mm."
"Tenha um bom resto de férias."
"Você também. Espero que a Sakurajima diga sim."
"Sou muito persistente." Tomoe soltou a mão dele e se levantou.
"É melhor eu ir indo," disse ela, sorrindo.
"Sim, toda essa natação me deixou acabado." Sakuta se levantou cambaleando.
"Você fala como um velho!" Tomoe riu.
Eles foram até os armários para pegar suas coisas.
Depois de se trocarem, embarcaram no Enoden e voltaram para a estação de Fujisawa.
"Tem planos para as férias de verão, senpai?"
"Vou passar um bom tempo sem fazer nada."
Conversaram sobre assuntos aleatórios... Sem nenhuma insinuação. Foi uma despedida amigável e divertida até o fim.
Um dia realmente agradável, como se tivesse sido passado com um grande amigo.
E assim, a mentira deles chegou ao fim, sem que nenhum estudante descobrisse.
E as alegrias das férias de verão chegaram.
"Tudo deu certo por sua causa, senpai. Agora estou bem. Vou ficar bem. Mas..."
"...Porque você esteve ao meu lado, talvez eu tenha cometido um erro."
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