A Senpai Coelhinha Japonesa

Tradução: GGGG

Revisão: Sakuta, Mon


Volume 2

Capítulo 3: O Começo de uma Mentira de Relacionamento

Por fim, o dia 29 de junho chegou da maneira usual.

Sakuta, acordado por sua irmãzinha o sacudindo, disse: “Bom dia, Kaede” e esticou a mão para o despertador digital ao lado da cama.

Ele conferiu a data, com os olhos ainda semicerrados, e o visor mostrava domingo, 29 de junho, exatamente como deveria.

“......”

Deveria se sentir aliviado com isso? Ele não estava preso em um loop temporal novamente, mas, como a causa e o motivo disso ainda eram um mistério, era difícil sentir-se completamente tranquilo.

Se nunca mais fosse acontecer, ele queria que alguém garantisse isso. Mas, se ainda fosse uma possibilidade... bem, gostaria de ser avisado. Essa incerteza era perturbadora.

Ele observou Kaede sair do quarto atrás do gato deles, Nasuno, e murmurou para si mesmo: “Mas, se eu passar mais tempo com a Koga, eventualmente vou descobrir.”

Parte do motivo de ele ter aceitado a proposta absurda de Tomoe era que isso poderia ajudá-lo a compreender a Síndrome da Adolescência dela. A única maneira de aliviar essa inquietação era se envolvendo diretamente.

Além disso, havia valor em estudar diferentes casos de Síndrome da Adolescência. Kaede ainda estava presa na dela, e esse conhecimento talvez o ajudasse a encontrar uma forma de libertá-la.

Felizmente, as feridas físicas haviam desaparecido, mas isso era apenas resultado de evitar qualquer interação online. Se ela fosse novamente exposta à maldade da internet, ele tinha quase certeza de que as feridas voltariam com força total.

Mas ela não podia passar o resto da vida presa dentro de casa.

Ele não permitiria algo tão injusto.

“Além disso, não saber que dia será até acordar é realmente desconcertante.”

Não havia como planejar o dia com antecedência, porque poderia ser simplesmente o dia anterior de novo.

Sakuta ainda estava se sentindo ansioso quando começou a trabalhar naquela manhã. Mas não deixou isso afetar seu desempenho.

“Mas, se amanhã for hoje de novo, estarei trabalhando de graça...”

Ele certamente não receberia um bônus pelas horas que havia repetido no loop.

Quando seu turno terminou, Sakuta fez uma prece ao deus dos salários, esperando que o amanhã realmente chegasse.

Ele registrou sua saída pouco depois das duas, deixou o restaurante e foi para a estação Fujisawa da Enoden. Seu passe de trem o deixou passar pelos portões.

Um trem havia acabado de sair, então a plataforma estava deserta.

Ele comprou uma garrafa de água em uma máquina de vendas e sentou-se em um banco. Era ali que Tomoe havia marcado de encontrá-lo.

A mesma plataforma que ele usava todos os dias para ir à escola. As paredes estavam cobertas de pôsteres que promoviam atrações turísticas ao longo da linha. Em uma tarde de fim de semana, um público totalmente diferente utilizava essa linha. Havia muito mais turistas do que moradores locais.

Um grupo de mulheres de meia-idade a caminho de Kamakura. Uma família indo para a praia. Jovens casais indo para um encontro em Enoshima. Era ali que Sakuta e Tomoe planejavam ir.

O tempo passava devagar. Eventualmente, ele ouviu passos se aproximando.

“D-desculpa o atraso,” disse uma voz hesitante.

Ele levantou o olhar e viu Tomoe, que o encarava de maneira constrangida.

Ela usava shorts jeans e uma blusa sem mangas com babados nos ombros e nas laterais. Nos pés, tênis confortáveis. Suas pernas estavam expostas, mas, como se bloqueasse a visão delas, ela carregava uma bolsa listrada de azul e branco no estilo marinheiro, segurando-a com as duas mãos.

O visual era suave e feminino, claramente pensado para combinar com o tema praiano do encontro.

Quando Sakuta não disse nada, o olhar de Tomoe começou a vagar por todos os lados. Seu rosto exibia uma mistura de tensão e constrangimento.

“Você está vermelha como um tomate.”

“Eu estava com pressa!”

“Tudo bem.”

“Encontros não são nada demais!” insistiu ela, como se tentasse se justificar.

“Mas você está cinco minutos atrasada, Koga.”

Eles haviam combinado de se encontrar ali às duas e meia, mas Tomoe apareceu às 2h35, e os ponteiros do relógio da estação já se aproximavam das 2h40.

“Bem, eu estava me arrumando.”

“Ah, claro.”

Ele voltou a observá-la. De fato, parecia um visual que exigira esforço. Um estilo moderno, sem exageros, apenas um toque sutil que se mesclava bem com o ambiente ao redor.

“O-o quê?”

“Você está bonita.”

“N-não me chame de bonita!”

“Só estou dizendo a verdade. Você é bonita.”

“Você fez de novo!”

“Vou descontar pontos pela falta da minissaia, mas como você está com as pernas à mostra, vou deixar passar.”

“Para de encarar minhas pernas!” Tomoe se agachou, abraçando-as com os braços. Que desperdício!

“Elas são grossas de qualquer jeito…” murmurou ela, lançando-lhe um olhar irritado.

Isso só aguçou ainda mais o instinto provocador de Sakuta. Seus olhos passaram para o volume arredondado do short jeans de Tomoe.

“Nem ouse falar do meu bumbum!” ela o interrompeu, prevendo sua provocação. Ela era surpreendentemente ágil.

“Por que não?”

“Porque é enorme…” gemeu ela.

“Bom, um dia você terá bebês lindos.”

“E-essa foi a cantada mais bizarra que já ouvi!” exclamou, mais abalada do que nunca.

“Não acredito nisso!”

Seu rosto ficou ainda mais vermelho, e ela começou a se preocupar se as pessoas ao redor estavam ouvindo.

“Onde você compra roupas assim?”

“Hã? Em lojas normais…”

“Quais?”

“Por que quer saber?”

“Quando eu receber, estava pensando em comprar roupas para minha irmã.”

Mai havia dito para ele prestar mais atenção nas roupas dela, e como Tomoe tinha uma idade mais próxima da de Kaede, poderia ser uma boa referência.

“Você tem uma irmã? Quantos anos ela tem?” Tomoe sentou-se ao lado dele.

“Ela está um ano abaixo de você. Mas é maior que você.”

“Eu não perguntei sobre os peitos dela!”

“Eu não estava falando disso. Só da altura.”

“E-eu sabia disso…” De repente, Tomoe pareceu se lembrar de algo importante.

“Ah, certo, senpai! Seu ID!” Ela puxou o celular do bolso da bolsa.

“Hã?”

“Eu ia te avisar que estava atrasada e percebi que não sabia o seu nome de usuário.” Tomoe parecia frustrada.

“E isso é culpa minha?”

“O atraso é culpa minha. Desculpa.” Ela finalmente admitiu.

“Bom, não estou tão incomodado por causa de cinco minutos, mais ou menos.”

“Parece que estava! De qualquer forma, seu ID.” Ela mostrou a tela de registro.

“Eu não tenho um.”

“Hã?”

“Não tenho ID.”

“Você não tem esse aplicativo?”

Ela o olhava como se ele fosse o último ser humano na Terra sem aquele app. Se isso era o suficiente para chocá-la, então ela realmente estava em apuros.

“Eu nem tenho um celular.”

“O quê?” Tomoe piscou, incrédula.

“O que isso significa?”

“Significa que eu não tenho um celular.”

Ele ergueu as duas mãos, como se estivesse confessando. Havia jogado seu celular no oceano, na praia de Shichirigahama, no dia em que soube que havia passado nos exames de admissão da Minegahara. Foi sua forma de cortar Kaede permanentemente de qualquer conexão online.

“Santo Deus.”

“É verdade.”

“Como você consegue viver?!”

“Eu não sabia que a falta de um celular era fatal.”

“É muito!” afirmou ela com convicção. “Espera… você está morto?”

Ela o examinou como se estivesse olhando para um zumbi, pálida de pura incredulidade.

Tomoe estava prestes a dizer algo, mas ele a ignorou.

“Ah, o trem chegou,” observou, seguindo uma família que parecia estar indo para a praia.

“Ah! Espera!”

Ela correu atrás dele, atrapalhada. O sino de alerta soou, e as portas se fecharam lentamente. O trem partiu em silêncio. Sakuta e Tomoe sentaram-se lado a lado, com os corpos balançando levemente com o movimento.

Nos primeiros minutos, Tomoe ainda estava irritada por causa da história do celular, mas, quando chegaram à Estação Ishigami, ela havia se calado.

O trem voltou a se mover. Sakuta sentiu um peso em seu ombro. Tomoe estava encostada nele, a boca entreaberta. Estava dormindo.

“Ei,” ele resmungou, dando um leve peteleco na testa dela.

“Ai!” Tomoe levou as mãos à testa, lançando-lhe um olhar furioso.

“Quem é que dorme tão rápido assim?”

“Eu não dormi muito.”

“Animada para o nosso encontro?”

“Todo mundo estava em um grupo de conversa até depois das duas da manhã… e depois fiquei vendo vídeos fofos de animais até o amanhecer. Aí tive que me arrumar para o encontro…”

Ela cobriu o rosto com as mãos, bocejando. Rapidamente limpou uma lágrima antes que estragasse a maquiagem e puxou um espelho para conferir se estava tudo em ordem.

“Ontem foi seu primeiro dia de trabalho, certo?”

“Uhum.”

“Cansa bastante, né?” Fazer coisas novas costumava ser exaustivo.

“Eu estava exausta.”

“Então deveria ter dormido.”

“Não consigo dormir quando todo mundo ainda está acordado!”

“Você poderia ter assistido aos vídeos de animais em outro momento.”

“Todo mundo já tinha visto! Seria um problema sério se eu não pudesse participar da conversa quando comentassem sobre eles. E a Rena disse que eram imperdíveis.”

“Rena de novo?” Acompanhar o ritmo dos amigos parecia dar muito trabalho.

“Ah, certo! Preciso contar para ela o que achei.”

Tomoe pegou o celular e abriu o aplicativo de mensagens gratuitas. Com habilidade, digitou um texto sobre o quanto os vídeos eram incríveis.

A resposta foi imediata.

Ele espiou a tela dela. Era outro link recomendado. Sakuta pensou que ela provavelmente perderia o sono novamente naquela noite.

Mas, em vez disso, ela começou a assistir ao vídeo imediatamente. Era um panda desajeitado tropeçando em si mesmo, com as perninhas abertas de forma engraçada na pequena tela do celular.

O trem chegou ao destino deles, a Estação Enoshima, antes que o vídeo terminasse. Tomoe estava tão absorta que nem percebeu.

“Vamos, precisamos descer aqui,” Sakuta disse, puxando-a pelo braço.

A Estação Enoshima era uma das maiores paradas da linha Enoden. Era lá que se fazia a conexão com o Monotrilho de Shonan. Também ficava a uma curta caminhada da Estação Katase-Enoshima, da linha Odakyu, cujo prédio era inspirado no Palácio do Dragão da famosa lenda de “Urashima Tarō”. Mas nenhuma das estações ficava, de fato, na ilha de Enoshima, apenas nas proximidades.

Sakuta e Tomoe saíram da estação e seguiram em direção ao sul, rumo ao oceano. O vento trazia consigo o cheiro do verão.

Eles caminhavam pela Rua Subana, uma via de pedras dispostas como tijolos. Havia fileiras de lojas e cafés elegantes, e, nos fins de semana, o lugar ficava bastante movimentado. Hoje, estava cheio de casais.

“Casais por toda parte!”

“É domingo.”

“A gente parece um casal, né?”

“Duvido.”

“Por quê?”

“Bem…”

Sakuta observou a distância entre eles. Tomoe andava a quase um metro dele. Em uma rua tão estreita, nem pareciam se conhecer. Muitas pessoas passavam entre eles. Se fossem um casal de verdade, as pessoas estariam desviando para dar espaço.

Percebendo o motivo do olhar de Sakuta, Tomoe se aproximou, reduzindo a distância de pouco mais de um metro para menos de um.

“Assim está bom?”

“Assim mesmo.” Sakuta apontou para um casal universitário à frente deles. Os ombros dos dois estavam quase se tocando.

Tomoe finalmente se colocou ao lado dele.

“Então, precisamos agir como eles,” disse Sakuta, apontando para um casal da mesma idade deles, concentrados no cardápio de um café na calçada. A garota segurava os dedos do namorado, apenas dois: o mindinho e o anelar.

“Você já namorou antes, então isso não deve ser grande coisa, certo?”

“C-certo.”

Tomoe estendeu a mão de forma hesitante, mas, em vez de segurar a mão de Sakuta, agarrou outra coisa, o pedaço extra do cinto que pendia da cintura dele.

Pelo visto, o relacionamento com o último namorado dela devia ter sido bem inocente. Isso, claro, assumindo que ele tivesse existido.

Ela olhava timidamente para o chão, claramente fazendo o máximo que conseguia.

Considerando a estatura pequena dela, toda a cena parecia estranhamente fofa. Havia apenas um problema.

“Eu me sinto como seu cachorro.”

“Oh, nós temos um cachorro!”

“Temos um gato. Mas, falando sério, não há necessidade real de forçarmos uma intimidade.”

Talvez na escola, mas qual seria o sentido de enganar estranhos em meio à multidão?

“Bem... pode haver, sim,” disse Tomoe, desviando o olhar de forma constrangida.

“Então, ah... tenho uma pequena confissão a fazer.”

Eles chegaram ao final da rua de paralelepípedos, e o mar se estendia à frente deles.

Flutuando sobre aquelas águas estava o destino deles, Enoshima. Uma pequena ilha ligada ao continente, projetando-se no meio da curva em forma de arco da Baía de Sagami. Ao oeste, estavam Odawara e Hakone; em dias claros, era possível ver até o Monte Fuji. Mas, naquele dia nublado, só dava para distinguir o contorno.

“É sobre as três garotas que estão nos seguindo?”

Sakuta já havia sentido olhares desde que chegaram à Estação Enoshima. Tinha verificado discretamente enquanto fingia olhar para Tomoe e avistado Rena e suas duas amigas, Hinako e Aya.

“Você percebeu?”

“Você estava agindo de forma suspeita.”

“E-eu estava?”

Aquilo não seria tão simples quanto tirar algumas fotos que parecessem memórias de um encontro. Se as amigas de Tomoe estavam observando o tempo todo, eles precisariam sustentar a vibe de “mais que um senpai, menos que um namorado” do começo ao fim.

“A Rena disse que precisava julgar você.”

“Ela parecia desconfiada de mim ontem.”

Não em relação à mentira deles, mas à personalidade de Sakuta e à sua falta de tato. Depois de ter se declarado para Mai na frente da escola inteira um mês atrás, agora, de repente, estava ‘envolvido’ com Tomoe. Era natural que Rena estivesse preocupada com a amiga.

“A amizade é uma coisa linda.”

“Você fez isso soar sarcástico.”

Aquelas amizades estavam tornando tudo muito mais complicado, então ele achava que tinha o direito.

Honestamente, saber que estavam sendo observados o deixava desconfortável em manter o papel de bobo. Aquelas garotas pareciam confiantes de que não seriam notadas, mas era papel de um senpai ensinar a uma kouhai como a vida podia ser dura.

“Koga, mudança de planos.”

“Hã? O quê?!”

Ele agarrou o braço de Tomoe e a puxou pela Rota 134, deixando Shichirigahama para trás e atravessando a ponte sobre o rio Sakai, onde ele desaguava no mar.

“O que estamos fazendo?” perguntou Tomoe, completamente perdida.

“Indo para lá,” respondeu Sakuta.

Ele apontou para um grande prédio quadrado na margem oposta ao aquário.

Sakuta e Tomoe compraram ingressos e entraram. Lá, foram recebidos por uma variedade de criaturas marinhas encontradas na própria Baía de Sagami. Os animais nadavam em um enorme tanque que se estendia até o andar inferior. Havia tubarões de cabeças triangulares, pargos de aparência suculenta, tartarugas-marinhas circulando elegantemente o tanque. Dois raias passaram juntos, mostrando suas barrigas, que pareciam rostos.

Um cardume com mais de mil sardinhas formava uma esfera bizarra no centro do tanque, girando sobre si mesmas.

Crianças pequenas estavam coladas ao vidro, fascinadas com a vida marinha em movimento. Tomoe se juntou à borda do grupo, garantindo uma posição privilegiada.

Um enorme tubarão passou bem na frente dela.

“Eeep!”

Tomoe deixou escapar um gritinho adorável e caiu de bunda no chão. Como Sakuta estava bem atrás dela, isso significava que ela havia plantado seu magnífico traseiro bem em cima dos pés dele.

Como o grupo da Rena estava observando, ele a ajudou a se levantar como um namorado de verdade faria.

Ele tinha esperança de que o preço do ingresso desanimasse as amigas dela de continuarem seguindo-os, mas sem sucesso. No entanto, estar dentro do aquário limitava bastante os movimentos delas, e Sakuta estava só esperando a chance de virar o jogo. Ele definitivamente não era bonzinho o suficiente para se deixar ficar como um espetáculo o tempo todo.

Depois de curtirem o grande tanque por um tempo, Tomoe e Sakuta seguiram o caminho mais adiante.

Peixes coloridos de climas tropicais. Criaturas estranhas das profundezas do oceano. As luzes na área das águas-vivas estavam baixas, criando uma atmosfera que lembrava um planetário.

Ele viu casais parando para tirar fotos. Uma água-viva flutuou lentamente à frente deles.

“Tão fofa!” exclamou Tomoe, pegando o celular para tirar uma foto. Outra parecia feita de doce.

“Parece um macaron!” disse Tomoe, claramente pensando na mesma linha.

“Senpai, tira uma foto!”

Ela empurrou o celular para as mãos dele, e Sakuta enquadrou ela e a água-viva juntos na foto.

“Não, assim não!” disse ela, lançando um olhar significativo para um casal mais à frente, que estava ombro a ombro, bem encostadinhos contra o tanque. O garoto esticava o braço para tirar uma selfie dos dois juntos.

Sakuta fez o que ela pediu e encostou o ombro no dela. Esse leve contato fez Tomoe dar um pequeno pulo. Ele olhou de lado e viu que ela estava visivelmente tensa. Mesmo assim, apertou o botão da câmera.

Eles olharam a foto resultante, e Tomoe estava claramente nervosa.

“Senpai, você tem olhos mortos.”

“Eu sempre pareço assim.”

“Então seus olhos estão sempre mortos.” O riso dela pareceu aliviar a tensão.

Eles continuaram andando pelo corredor até perceberem uma aglomeração à frente. Muitas pessoas estavam reunidas em um canto do aquário.

Havia um grupo de pinguins-de-humboldt em uma reprodução de uma costa rochosa.

Um cuidador, com um microfone preso à cabeça, estava dentro do espaço dos pinguins, claramente no meio de uma apresentação.

“Quer assistir?”

“Mm!”

O cuidador explicava as características únicas dos pinguins-de-humboldt. Aparentemente, os padrões no peito de cada pinguim são sempre únicos, mas existem semelhanças entre membros da mesma família. Ele pegou um pinguim no colo, mostrando-o para todos.

Os outros pinguins se aglomeravam aos pés dele. Se ele dava um passo para a direita, todos se moviam para a direita. Se ele ia para a esquerda, eles o seguiam.

Pessoas por toda a plateia sussurravam: “Fofo!”

“Eles são fofos! Muito fofos!” disse Tomoe, com os olhos brilhando de entusiasmo.

Por mais adoráveis que fossem em terra, parecia que estavam prestes a mostrar o quão incríveis podiam ser ao nadar. Sakuta se perguntava como fariam isso, mas o cuidador simplesmente jogou um peixinho na água.

Os pinguins mergulharam todos de uma vez, disparando na água como balas. Era como se estivessem voando. Pinguins não podem voar no ar, mas debaixo d’água, eles definitivamente podiam.

“Olha aquele ali...”

“Hmm?” Tomoe estava olhando para o canto das rochas.

Um pinguim estava tirando uma soneca tranquila, completamente alheio aos outros, que estavam em uma disputa animada pelos peixes.

“É igualzinho a você, senpai.”

“Minhas pernas são tão curtas assim?”

“O jeito que todo mundo está participando do show, mas ele não tá nem aí.”

“Então você é mais como aquele pinguim animado, o segundo da frente?”

Isso faria do pinguim da frente a Rena Kashiba. Os mesmos quatro pinguins estavam pegando todos os peixes que o cuidador jogava. A sociedade dos pinguins também tinha suas hierarquias.

“Não, eu sou mais como aquele ali, seguindo o grupo lá do fundo,” disse Tomoe suavemente.

“Ele tem um bumbum grande.”

“Eu estava falando sério!” Tomoe exclamou, cobrindo o próprio traseiro com as duas mãos. Ela lançou um olhar furioso para ele. O gesto foi incrivelmente parecido com o de um pinguim.

“Por que será que aquele pinguim não está com os outros?” ela se perguntou.

O pinguim no canto havia acordado e estava olhando ao redor lentamente. O tratador percebeu e disse: "Finalmente acordou? O show já acabou!" Mas o pinguim parecia não se importar. Voltou a dormir. O público riu.

"Ele não se importa se todo mundo está rindo... Ele é realmente igual a você", Tomoe repetiu, como se tivesse alcançado uma grande vitória.

O show dos pinguins foi encerrado com sucesso e o público começou a se dispersar. Sakuta deixou Tomoe perto de um tanque de leões-marinhos, dizendo que precisava ir ao banheiro. Ele se afastou, mas, em vez de ir ao banheiro, deu uma grande volta pelo aquário. Durante o show dos pinguins, ele havia localizado Rena, Hinako e Aya. Foi até a entrada e seguiu o caminho por onde elas tinham passado. Encontrou as meninas escondidas perto da loja de souvenirs, observando Tomoe enquanto ela assistia aos leões-marinhos.

Ele se aproximou por trás delas e disse: "Encontrei uns peixes raros!" Hinako e Aya pularam de susto. Rena manteve a calma e se virou para encará-lo.

"Que coincidência te encontrar aqui", ela disse.

Ele ficou impressionado. "As estudantes de hoje em dia realmente têm muito tempo livre."

"Nós estamos muito ocupadas."

"Não parece."

"Você tem certeza que devia estar ignorando a Tomoe?"

"Ah, vê?!" Hinako disse, usando novamente seus óculos falsos. Ela apontou além do pilar, para Tomoe.

Sakuta também olhou. Dois homens se aproximaram de Tomoe. Ambos tinham os cabelos tingidos de marrom, usavam correntes de carteira penduradas ao lado e sandálias. Eles provavelmente estavam convidando-a para assistir ao show dos golfinhos. Um deles apontava para a saída.

"Eles parecem um pouco assustadores", disse Sakuta. Tomoe acenou com a mão, mas um dos homens agarrou seu pulso.

"Devemos fazer algo?" Hinako perguntou, virando-se para Rena.

Mas Sakuta já estava se movendo em direção a Tomoe. Ele se aproximou e deu um leve tapa na cabeça dela.

"Eu tiro os olhos de você por um minuto e já estão querendo te levar?", acusou. Então, ele colocou um braço em volta de seus ombros, afastando-a dos homens.

"Você tinha um namorado?", um deles gritou, parecendo irritado.

"Você ficou no banheiro por uma eternidade!", Tomoe disse em voz baixa.

"Número dois", ele respondeu. Não era de todo o que ele estava fazendo, mas isso foi o suficiente para mandar os dois de cabelos marrons embora.

"Você fez cocô num encontro?", um deles riu, antes de seguir seu caminho.

Sakuta olhou para eles enquanto se afastavam.

"Nenhuma das suas amigas tinha uma queda por eles, né?", sussurrou.

"Claro que não!", Tomoe sibilou.

"Então é só dizer que não está interessada."

"Eu sei, mas..."

"Mas o quê?"

"Eu não esperava que alguém fosse me paquerar! Fiquei toda nervosa."

"Você deveria se acostumar com isso." As praias iam abrir na próxima semana. A área inteira estaria cheia de pessoas em busca de um romance.

"Por que comigo?"

"Você já olhou para si mesma no espelho?"

"Todo dia!" Tomoe olhou para seu reflexo na lateral do tanque.

"O que você acha?", ele perguntou.

"...É como se não fosse eu", Tomoe disse, olhando para o chão.

Tendo deixado o aquário para trás, Sakuta e Tomoe agora estavam na Ponte Benten, que levava diretamente a Enoshima. O som do vento e das ondas, combinado com o cheiro do mar, os envolvia completamente. Eles não estavam muito acima da superfície da água, então a sensação era de que estavam caminhando sobre o oceano.

No meio do caminho, Sakuta parou e olhou para trás. Tomoe estava a três passos dele e também interrompeu seus passos. Ela parecia abatida. Desde que saíram do aquário, estava perdida em pensamentos.

"Estamos fingindo que sou um marido dominador?", ele brincou.

"Não."

"Talvez um casal que não pode ser visto junto?"

Tomoe se aproximou dele lentamente. Parando ao seu lado, apoiou as mãos no corrimão e suspirou. O sol se punha atrás das nuvens, deixando seu rosto avermelhado.

"Eu te disse que sou de Fukuoka, né?"

"Querendo se gabar da sua terra natal?"

"Não."

"Então, o que foi?" Sakuta perguntou, virando-se e apoiando as costas no corrimão.

"Eu não era assim no ensino fundamental", disse Tomoe, olhando para a água.

"Quer ver uma foto?"

"Não estou interessado."

"Aqui." Ela estendeu o celular de qualquer jeito.

Pelo visto, ele não tinha escolha. Na tela, Tomoe aparecia usando um uniforme escolar estilo marinheiro. A saia era longa, ultrapassando os joelhos, e seu cabelo estava preso em duas tranças.

"Uau... Você era uma caipira total."

"É por isso que eu não queria te mostrar!"

"Mas você me obrigou a olhar!"

"Meu pai foi transferido, então tivemos que nos mudar para Tóquio."

"Aqui é Kanagawa."

"Detalhes! É basicamente Tóquio."

"Certo, tanto faz."

"Eu não fazia parte dos grupos populares na minha turma nem nada."

"Entendi."

"Mas eu achava que, se não fosse estilosa, nunca faria amigos na cidade. Tinha medo de sofrer bullying."

"Coisas assim realmente acontecem."

"Ficamos sabendo da transferência do meu pai no começo de janeiro, então passei três meses pesquisando muito." Tomoe ergueu a mão e tocou o próprio cabelo.

"Comecei aprendendo sobre maquiagem. Fui a um salão caro e mudei meu penteado. Li várias revistas de moda e copiei os looks. Treinei para perder o sotaque... e me transformei nisso."

"Você não gosta?"

"Hã?"

"Desse seu novo eu." Tomoe pensou por um momento. Depois de um tempo, respondeu:

"Eu gosto. Gosto muito." Sua voz parecia a de alguém que estava analisando os próprios sentimentos.

"Então, qual é a preocupação? Isso é ridículo."

"R-ridículo?"

"Você só está passando por aquela fase da adolescência, o famoso ‘Esse não é o verdadeiro eu!’, né?"

"B-bem, meio que..."

"Isso é um saco!"

"Você é tão cruel!"

"Mas acho que está tudo bem."

"O quê?"

"Isso é você. Independente de como era antes, você é assim agora."

"Como você pode saber?!" Ela o encarou, como se ele estivesse falando besteira.

"Não importa o motivo, você ficou assim porque se esforçou para isso."

"C-certo..."

"E você gosta de ser assim."

"Mm."

"Então não faz sentido dizer que não é você."

"......"

"Então para de se preocupar com isso!"

"...... Eu não gosto."

"Hã?"

"Parece que você está me enrolando."

"Olha..." Ele estava prestes a retrucar, mas Tomoe olhava para o celular.

"Oh... é uma mensagem da Rena", disse ela, abrindo o chat.

"O que ela disse?"

"'Vocês ficam bem juntos. Ele é um cara melhor do que eu pensava.'"

"Ela finalmente enxergou a verdade."

"Vou contar pra ela que você disse isso."

"Não!"

"Já mandei. Ela acabou de responder: 'Pfft'."

"Certo..." Ficar preso no meio da conversa de uma colegial estava acabando com a paciência de Sakuta.

"Bem, vamos logo para Enoshima."

"Mm... Ah, espera."

De repente, Tomoe desviou o olhar para a praia ao lado da ponte. O sol estava se pondo, e a multidão havia diminuído, mas havia alguém ali, olhando para o chão como se estivesse procurando algo. Pela silhueta, parecia uma garota.

"É a Yoneyama."

"Você conhece ela?"

"Nana Yoneyama, da minha turma."

Tomoe realmente havia se dado ao trabalho de aprender o nome completo da garota. Sakuta, por outro lado, mal sabia os sobrenomes da maioria dos colegas.

Sem hesitar, Tomoe virou as costas para Enoshima e voltou pelo caminho da Ponte Benten. Saiu da estrada e desceu até a praia. Sakuta não via sentido em ir sozinho para Enoshima, então a seguiu.

Ao se aproximarem, ele conseguiu ver melhor Nana Yoneyama. Ela usava óculos de armação preta e tinha o cabelo repartido de um jeito simples, caindo na altura dos ombros. A saia ia abaixo dos joelhos, e ela vestia um cardigã azul-marinho. Era pequena, assim como Tomoe, e parecia do tipo tímida e reservada, alguém que se sentiria à vontade em uma biblioteca.

Nana andava de um lado para o outro na areia, parecendo prestes a chorar.

"Yoneyama", chamou Tomoe.

O corpo de Nana estremeceu de susto. Ela levantou o rosto, viu Tomoe e recuou de novo.

"Você fez alguma coisa com ela? Parece bem assustada", Sakuta observou baixinho.

"Eu, eu não fiz nada!", Tomoe sussurrou de volta.

"Koga... e o senpai que deu a volta e voltou. Por que...?"

"Todos os alunos do primeiro ano falam isso de mim?"

Quando os olhos de Sakuta encontraram os de Nana, ela pareceu ainda mais nervosa.

"S-sinto muito", murmurou.

"O que você fez, senpai?", Tomoe aproveitou a deixa para mudar o foco da conversa.

"Nada. Ainda."

"Então não faça nada no futuro também!" Ela lançou um olhar irritado para ele e depois se virou novamente para Nana.

"Yoneyama, o que houve?"

"N-nada...", disse a garota. Mas, claramente, algo estava errado.

"Está procurando alguma coisa?" tentou Tomoe.

"M-mm." Nana balançou a cabeça afirmativamente.

Não parecia que havia qualquer tipo de rivalidade entre elas. Pelo jeito, Nana só era muito tímida e, como nunca tinha falado com Tomoe antes, estava surpresa com a interação. A fama questionável de Sakuta só tornava tudo ainda mais difícil para ela.

Sakuta pensou em dizer que Tomoe já havia sido ainda mais desajustada no ensino fundamental, mas ele tinha acabado de elogiar o esforço dela para mudar. Então, achou melhor deixar pra lá.

"Três pessoas procurando são melhores do que uma", disse ele, começando a olhar ao redor, embora não tivesse ideia do que exatamente estava procurando.

"Viu? Até ele quer ajudar", incentivou Tomoe.

"O-ok... É um pingente de celular."

"De que tipo?"

"Tem uma pequena água-viva. Da loja de souvenirs do aquário."

"Que cor?"

"É transparente, mas com um tom meio azulado."

"Isso é importante para você?"

"Sim... Minhas amigas e eu compramos um igual durante o feriado da Golden Week."

De fato, seria péssimo ser a única que perdeu o pingente. E não era só questão de comprar outro. Para Nana, o que importava era que elas haviam comprado juntas.

"Tem certeza de que perdeu ele aqui?"

"D-desculpa, não tenho certeza..."

"Não precisa se desculpar." Sakuta acenou com a mão, dispensando qualquer culpa.

Ele manteve os olhos baixos, com medo de que encarar Nana só a assustasse ainda mais. Ter alguém tão apavorado com ele era um pouco desmoralizante.

"Ele é estranho, mas não é assustador," Tomoe disse. Que rude.

Sakuta achava que Tomoe também era bem esquisita.

"M-mm..." Nana ainda mantinha distância dos dois.

Com essa tensão leve no ar, os três continuaram a busca por quase meia hora, sem nenhum sinal do chaveiro de água-viva. O sol estava quase se pondo, e ficaria ainda mais difícil procurar no escuro.

Além disso, como mal se conheciam, não dava para continuar com isso por muito mais tempo.

Justo quando Sakuta pensava que o tempo havia acabado, ele viu algo brilhando na beira da água.

Quando a onda recuou, ele percebeu que era o chaveiro de água-viva, deitado na areia molhada.

"Encontrei!" ele gritou.

"Sério?" Tomoe e Nana correram até ele.

Sakuta tentou pegar o chaveiro, mas a próxima onda veio rolando e ele deu um pulo para trás. Pelo canto do olho, viu alguém se jogando direto na água.

"Ah! Koga!" Nana gritou, tentando detê-la, mas Tomoe já havia se inclinado, mergulhando as duas mãos na água. Um instante depois, uma onda enorme passou por cima dela.

"Ahh!" Ela gritou, perdendo o equilíbrio e caindo na água. Ficou completamente encharcada.

"Tudo certo?" Sakuta perguntou.

Ela se virou para ele com um sorriso. "Não se preocupa!" respondeu animada, erguendo o chaveiro.

Ele estava mais preocupado com Tomoe do que com o chaveiro, mas pelo visto isso não passou pela cabeça dela.

"Você está bem, Koga?" Nana perguntou.

Tomoe definitivamente não parecia bem. Estava ensopada da cabeça aos pés, até a roupa íntima. A blusa branca grudava em seu corpo, deixando visíveis as cores de seu sutiã e de sua pele.

Sakuta entrou na água, sem nem tirar os sapatos, e a ajudou a se levantar. Os pés de Tomoe afundaram na areia, e ela tropeçou, caindo contra ele.

"Ei, cuidado! Vai me molhar!"

"V-você devia estar feliz por mim!"

"Sua sobrancelha tá derretendo."

"Ahh! Não olha!" Tomoe cobriu o rosto. Mas claramente havia coisas mais urgentes para esconder.

"Sua blusa ficou transparente, melhor cobrir isso primeiro."

"Ahh! Não tenho mãos suficientes!"

"Posso te emprestar as minhas," ele sugeriu. Tomoe pensou por um segundo.

"Espera, não! Isso tá completamente errado!"

Nesse momento, Nana começou a rir alto.

 

O dia seguinte ao encontro com Tomoe, segunda-feira, 30 de junho,chegou sem problemas.

Talvez não houvesse mais loops. Talvez eles tivessem resolvido o Síndrome da Adolescência.

Enquanto pensava nisso, Sakuta seguiu para a escola... e deu de cara com Tomoe na plataforma da Estação Enoden Fujisawa.

Com todos os alunos de Minegahara ao redor, não dava para fingirem que não se conheciam. Ele ainda era "mais que um senpai, menos que um namorado", afinal. Precisavam agir de acordo.

Com isso em mente, ele sugeriu: "Vamos juntos, Koga?"

"Mm." Ela assentiu. Sua voz saiu rouca, mal audível.

Ele se inclinou, tentando vê-la melhor. Seu rosto estava avermelhado.

"Você tá ficando doente?"

Se encharcar de água salgada certamente teria esse efeito. Como não podiam pegar o trem com ela pingando, tiveram que caminhar até Fujisawa, quase três quilômetros de distância.

Mesmo no verão, aquilo cobrava seu preço.

"Tô bem," ela insistiu, mas seus olhos estavam desfocados. Nem parecia ter forças para levantar a cabeça. Até respirar parecia cansativo.

"Você realmente não parece bem," disse Sakuta, colocando a mão em sua testa. Ela estava queimando de febre. Se fosse ele, teria chamado a escola dizendo que estava doente sem pensar duas vezes. Mas quando o trem chegou, Tomoe subiu sem hesitar.

Ele a colocou sentada em um assento vazio.

"Vamos descer na próxima estação e voltar."

"Não quero." Ela fez um bico, parecendo uma criança pequena.

"Você gosta tanto assim da escola?"

"Se eu faltar um dia, não vou entender sobre o que estão falando."

"É só um dia."

"Isso é o suficiente para acabar comigo." Que rotina exaustiva.

"Então, tire um cochilo até chegarmos à estação. Eu te acordo."

"Obrigada," disse Tomoe, parecendo aliviada. Seus olhos se fecharam.

Ele acabou escoltando Tomoe até a escola. No entanto, ela teve dificuldades para trocar os sapatos pela pantufa na entrada, então ele a levou diretamente para a enfermaria. Deixou-a sob os cuidados da enfermeira.

Ao sair, ouviu uma voz rouca sussurrar:

"Traidor!"

Ele simplesmente ignorou.

Na hora do almoço, escapou da escola e foi até uma loja de conveniência próxima. Fez suas compras e voltou antes que algum professor percebesse sua ausência. Depois, resolveu dar uma olhada na enfermaria.

Tomoe estava deitada em uma cama. Rena, Hinako e Aya estavam ao redor dela.

Assim que viram Sakuta, as três sorriram e saíram, dizendo:

"Fiquem à vontade!" Parece que a enfermeira estava ocupada em outro lugar.

Agora eram apenas os dois.

"Está se sentindo melhor?" Sakuta perguntou, sentando-se em um banquinho ao lado da cama.

"Mm," murmurou Tomoe fracamente. Sua voz parecia melhor do que naquela manhã.

"Quer tangerinas em calda?" Sakuta ofereceu, colocando a sacola da loja sobre a mesa ao lado da cama.

"Sair no meio do dia é contra as regras da escola."

"Então você não quer?" Ele tirou a lata da sacola.

"Quero," disse Tomoe, estendendo a mão. Ele afastou a lata, brincando.

"Calma aí."

"Por quê? Você comprou para mim, não foi?"

Sakuta tirou um recipiente plástico cheio de gelo moído da sacola.

"Gelo?" Tomoe piscou, confusa.

Ignorando a pergunta, ele colocou o gelo em um copo com água e, em seguida, mergulhou a lata de tangerinas ali, girando-a algumas vezes.

"O que você está fazendo, senpai?" Ele estava imitando uma técnica de resfriamento rápido que Rio havia lhe mostrado.

Depois de alguns minutos, retirou a lata, abriu a tampa e a colocou na frente de Tomoe.

"Ou prefere que eu te alimente?"

"Isso só tornaria as coisas mais difíceis."

Ela pegou um garfo descartável da loja de conveniência e deu uma mordida.

"Nossa, isso está super gelado," disse, sorrindo animada. Então, percebeu que ele a observava.

"Não me olhe enquanto eu como!"

"Por quê?"

"É embaraçoso."

"De novo, por quê?"

Sakuta ficou ainda mais confuso, mas não tinha ido até ali para irritar sua kouhai doente. Levantou-se e abriu a janela.

Uma brisa salgada entrou na sala com ar-condicionado.

"Oh! Posso sentir o cheiro do mar!"

Tomoe fechou os olhos e deixou o vento acariciar seu rosto.

Ficou assim por um tempo. Então, disse:

"Senpai."

"Hm?" Ele respondeu, encostado na janela.

"Por que aceitou o meu pedido ridículo?"

"Você quer dizer o lance de ‘mais que um senpai, menos que um namorado’?"

"Sim, isso mesmo."

Na praia de Shichirigahama, ele podia ver várias pranchas de surfe balançando nas ondas.

"Você parecia bem desesperada."

"Mas você mal me conhece."

"Mas já chutamos a bunda um do outro."

"Ah, você pode ser sério por um segundo?"

Ele olhou por cima do ombro e a viu emburrada, segurando o garfo na boca.

"Mas eu soube, naquele momento, que você era uma boa pessoa, Koga."

Ela havia desferido um chute violento nele porque pensou que estivesse atacando uma criança pequena. Tinha se enganado, mas nem todo mundo teria coragem de agir assim.

E essa mesma faceta de Tomoe tinha se mostrado no dia anterior, quando ajudou Nana Yoneyama a encontrar a alça de seu celular.

"Então é por isso que está me ajudando?"

"Bem… também porque você é fofa."

"De novo com as piadas."

 

"Não sei se teria feito o mesmo se você fosse feia. É uma triste verdade sobre os homens."

 

"...Aposto que teria," ela disse, tão baixinho que Sakuta decidiu fingir que não ouviu.

 

"Não sou bonzinho o suficiente para ser legal com qualquer um," ele disse.

 

"Mas você compensa isso sendo muito mais gentil com algumas poucas pessoas."

 

"Bem, eu quero que algumas pessoas me vejam como um cara legal."

 

"Hmm."

 

Ela parecia não estar convencida, mas também não insistiu no assunto. Terminou de comer as tangerinas e bebeu o líquido em que estavam mergulhadas.

 

"Você está apaixonada por alguém, Koga?"

 

"Hã?!" Ela engasgou, claramente abalada pela pergunta repentina.

 

"P-por que você tá perguntando isso?!"

 

"Se você gosta de alguém, os boatos de que estamos namorando poderiam atrapalhar."

 

"Eu não gosto de ninguém. Não se preocupe."

 

"Nem tem interesse em alguém?"

 

"Não."

 

"Hã. Que desperdício."

 

"Eu só não tenho tempo pra isso agora."

 

"Muito ocupada assistindo todos os vídeos que suas amigas mandam?"

 

"Agora você está sendo cruel."

 

"Parece cruel porque você mesma sabe que é um problema."

 

"Como assim?"

 

"Se não tivesse nenhuma dúvida sobre isso, teria me ignorado completamente."

 

"......"

 O silêncio dela confirmou que ele estava certo. Depois de um tempo, Tomoe suspirou e disse:

 

"Você está certo. Eu me importo muito com o que as pessoas pensam de mim. Até agora, estou me perguntando o que elas acham do fato de eu estar passando o dia inteiro na enfermaria."

 

"Isso é ser autoconsciente demais, Koga."

 

"Acho que o estranho aqui é você, senpai. Como consegue vir para a escola normalmente quando todo mundo acha que você é um esquisito? Quando todos riem de você? Como continua vivendo assim? Isso não te incomoda?"

 

"Não acredito que você disse isso na minha cara."

 

"Urgh... desculpa."

 

"Mas, na verdade, isso nem me incomodou."

 

"Então eu retiro a desculpa," Tomoe sussurrou.

 

Mas o olhar dela era sério. Ela claramente queria uma resposta de verdade. Tudo bem.

 

Mantendo os olhos na paisagem lá fora, Sakuta respondeu, como se estivesse falando consigo mesmo:

 

"O objetivo da vida não é fazer com que todos gostem de você."

 

"Eu quero que todos gostem de mim. Ou pelo menos... que não me odeiem."

 

"Para mim, basta uma única pessoa. Se essa pessoa precisar de mim, consigo continuar vivendo."

 

Ele abriu a embalagem de um onigiri que havia comprado para si. Ajustando a alga no lugar, deu uma mordida. O almoço parecia ter um gosto melhor com a vista do oceano. Só isso já fazia valer a pena ter escolhido estudar ali.

 

"Mesmo que o mundo inteiro te odeie?"

 

"Ainda assim, eu estaria feliz."

 

"Sério?"

 

"Um dia você vai entender," ele disse. A conversa estava ficando cada vez mais estranha, então ele quis encerrar por ali.

 

"Ugh, tão convencido!" Tomoe resmungou, inflando as bochechas como uma criança.

 

Quando Sakuta riu disso, ela logo desinflou. Deve ter percebido que aquilo só o incentivava a tratá-la como uma garotinha.

 

No primeiro dia de trabalho dela, Sakuta achou que ela não fosse muito atenta, mas, conversando assim, percebeu que ela acompanhava bem tudo o que ele dizia, captando tanto o significado literal quanto o subentendido.

 

Na verdade, Tomoe estava sempre focada no ambiente ao redor, atenta a tudo o que acontecia. Se visto de forma positiva, ela sabia interpretar bem as situações. Mas, por outro lado, se preocupava demais em se encaixar no grupo e sempre agia conforme a dinâmica do momento.

 

Sua maquiagem, seu penteado e suas escolhas de roupa eram exemplos claros disso.

 

Até mesmo o seu "namorado de mentira" fazia parte dessa necessidade de adaptação.

 

Ela era muito boa em levar uma vida sem conflitos ou atritos, sempre se esforçando para evitar problemas antes mesmo que surgissem. Sempre em alerta para não causar desconforto.

 

Sakuta nunca conseguiria viver assim. Só de pensar, já se sentia cansado.

 

"Você está pensando em algo rude, não está?"

 

"Nem um pouco."

 

"Tá sim."

"Na verdade, é o contrário."

"O que isso quer dizer? Sakuta ignorou a pergunta e lançou outra para Tomoe:

"Koga, se você se apaixonasse pela mesma pessoa que a Rena, o que faria?"

Ele já imaginava a resposta, mas perguntou mesmo assim, porque queria que Tomoe chegasse à mesma conclusão.

Nem todo conflito podia ser evitado. E tentar fazer isso só desgastava ainda mais a pessoa.

"Se isso acontecesse, eu com certeza nunca deixaria a Rena saber."

"E se fosse a mesma pessoa que a Hinako?"

"Não contaria para ela."

"Ou a Aya?"

"Mesma coisa."

"Então você simplesmente desistiria?"

"Acho que sim."

"Foi o que imaginei."

"Então por que perguntou?"

Desistir era uma opção válida, desde que ainda fosse possível. Se os sentimentos não fossem tão fortes, então tudo bem.

Mas Sakuta suspeitava que, se algum dia Tomoe gostasse de alguém a ponto de não conseguir abrir mão, ela ficaria presa nessa mesma lógica. E isso poderia ser um grande problema para ela.

"Você é uma criança."

"N-não me trate como uma criança!"

"Acho que essa resposta só prova que você é."

"Urgh... Ah, certo. Senpai, isso me lembrou de uma coisa..."

"Hm?"

"O que aconteceu com a Sakurajima?"

"Ainda estou esperando a resposta dela."

"Hã?! Ela ainda não te deu um não definitivo?!"

"Se o fenômeno do loop não tivesse acontecido, eu já estaria oficialmente namorando com ela depois do almoço daquele dia."

"Você tá brincando?!"

"Juro por Deus."

"Não acredito."

"Por quê?"

"Estamos falando da Sakurajima?! Da famosa Mai Sakurajima?! A Mai Sakurajima?!"

"Sim."

"A Sakurajima disse que te amava?"   Tomoe lançou um olhar profundamente desconfiado para ele.

"Bem... não exatamente com essas palavras."

"Viu? Você só imaginou isso."

Era um fato: Mai nunca havia dito especificamente "Eu te amo".

E era outro fato que Sakuta queria muito ouvi-la dizer isso. Tornaria o relacionamento deles muito mais definitivo.

O jeito como Tomoe zombava da situação só o incomodava ainda mais.

Mai realmente gostava dele? Depois de um mês inteiro insistindo para que ela namorasse com ele, parecia mais que ela simplesmente tinha parado de se importar. Mesmo assim, ignorava suas declarações. Às vezes, dava até a impressão de que tinha desistido de rejeitá-lo.

E essa dúvida o deixava extremamente desconfortável.

"Da próxima vez que eu pedir para namorar comigo, vou fazer o possível para que ela diga isso."

"Ela vai te dispensar na hora."   Tomoe afirmou com convicção.

"Bom, de qualquer forma, primeiro precisamos terminar este semestre." Eles só precisavam enganar todo o corpo estudantil até lá.

Se não conseguissem, nem Sakuta nem Tomoe teriam um futuro muito promissor pela frente.

"...Mm."

Felizmente, não havia sinais de que Rena tivesse percebido algo. Se continuassem assim, poderiam levar a farsa pelas próximas três semanas.

O problema era Maesawa.

Se ele acreditava ou não que Sakuta e Tomoe estavam namorando, era uma incógnita. Mas havia a possibilidade de que ele tentasse convidá-la para sair ou fizesse algo que desse uma pista para Rena.

Se isso acontecesse, tudo estaria perdido.

Rena jamais poderia descobrir que Maesawa já havia se interessado por Tomoe antes.

Sakuta achava difícil ser otimista.

 

 

 

 

 

No dia seguinte, era terça-feira. Virando o calendário, marcava o primeiro dia de julho.

Tendo ido à escola com febre e passado o dia inteiro na enfermaria, Tomoe aprendeu a lição e ficou em casa. Mas, na quarta-feira, já estava totalmente recuperada e, na hora do almoço, levou uma lata de pêssegos para a Classe 2-1.

Os olhos de todos que comiam na sala se fixaram na lata, claramente se perguntando: "Por que pêssegos?"

Presumivelmente, era para retribuir as tangerinas. Bem ciente do motivo, Sakuta decidiu provocá-la.

"Porque você tem um bumbum de pêssego?", perguntou ele.

"Para de ser pervertido!", ela retrucou, franzindo os lábios.

"Bom, vou saborear isso à noite, pensando em você", disse ele, insistindo na provocação. Tomoe arrancou a lata das mãos dele.

"S-seu idiota!", ela gaguejou antes de fugir da sala. Sakuta suspirou.

"Talvez eu tenha ido um pouco longe demais."

Muitas pessoas estavam olhando para ele. As garotas expressavam desprezo, como se pensassem: "Assédio? Que nojo." Já os garotos olhavam com inveja:

"Flertando na frente de todo mundo!"

Ninguém parecia surpreso por ver Sakuta e Tomoe juntos. Viva a era digital. Os boatos sobre os dois claramente já tinham se espalhado por toda a escola.

Tomoe ainda estava brava com ele depois das aulas. Como trabalhavam no mesmo turno, estavam juntos no restaurante, mas toda vez que seus caminhos se cruzavam, ela escondia o bumbum e o encarava como se ele tivesse assassinado seus pais.

Infelizmente, isso não era nada intimidador.

Por volta das oito, o movimento do jantar começou a diminuir. O fluxo de clientes entrando diminuiu, e todos os que estavam sentados já haviam feito seus pedidos. A maioria já estava comendo.

Sakuta estava no caixa quando Tomoe se aproximou.

"Tem só uma coisa que eu quero deixar clara", ela começou.

"Eu sei que não tenho tato."

"Já desisti disso."

"Então, o quê?"

"......" O olhar dela o fez se remexer, desconfortável. Isso parecia ser algo importante.

"Meu bumbum não é tão grande assim", ela insistiu.

Não era bem o que ele esperava.

"Quanta modéstia!", disse ele, dando um tapinha reconfortante no ombro dela.

"Resposta errada!"

"Você devia ter mais confiança."

"Em quê?!"

"No seu bumbum de pêssego."

"Eu não tenho um! Esse é o meu ponto!"

"Não, não, não negue!"

"Argh, eu nunca deveria ter tentado falar com você!" Dessa vez, ela parecia realmente irritada e se afastou furiosa.

Mas menos de um minuto depois, ao receber um pedido de bebida que não conhecia, foi forçada a voltar.

"O que eu faço com a cerveja?", perguntou ela, meio sem jeito.

"......" Sakuta fingiu não ouvir enquanto enchia os copos no balcão de bebidas.

"Não me ignora!", ela reclamou, puxando o avental dele.

"......"

"P-por favor! Me ajuda!", Tomoe começou a ficar aflita.

"E-eu prometo que vou ter mais orgulho do meu bumbum." Ao ouvir isso, Sakuta finalmente encontrou o olhar dela.

"Você admite que é um pêssego?"

"T-tá bom! Eu admito! Meu bumbum é um pêssego!" Ela claramente já tinha desistido de argumentar.

"Ótimo, então. Vou te mostrar como faz."

"Você é tão cruel!"

Sakuta continuou provocando Tomoe até o fim do expediente, às nove. Depois, a acompanhou até em casa antes de voltar ao próprio apartamento às nove e meia.

Kaede estava saindo do banho quando ele chegou, então ele aproveitou para tomar o seu, lavando o suor do dia. Saiu do banheiro se sentindo revigorado.

Vestindo apenas sua roupa de baixo, Sakuta pegou uma bebida esportiva na geladeira, serviu-se de um copo e bebeu de uma vez. O frescor gelado se espalhou por seu corpo ainda quente. Sempre gostara daquela bebida, mas agora que Mai estrelava os comerciais dela, parecia ainda melhor. Cada gole que tomava fazia com que ele se lembrasse dela.

Mai estava em Kagoshima esta semana, gravando um programa de TV. Já passava das dez, mas talvez ela ainda estivesse trabalhando. Ou será que já tinha voltado para o hotel? Era difícil dizer com a agenda dela.

Sakuta se serviu de um segundo copo da bebida esportiva. Dessa vez, bebeu devagar, em três goles. Quando terminou, lavou o copo e o colocou no escorredor.

O telefone tocou. Ele secou rapidamente as mãos e atendeu.

"Alô, Azusagawa falando."

"Sou eu." Ele reconheceu a voz na mesma hora.

"Mai, como você está?"

"Imaginei que já estivesse querendo ouvir minha voz."

"Eu estava pensando em você agora mesmo."

"É bom que esteja de roupa de baixo." Ela claramente chegou à conclusão errada.

"Eu sei muito bem que você me vê dessa forma, mas..." Pelo jeito, ela achou que ele estava fazendo algo suspeito.

"Estou usando roupa de baixo. Apenas roupa de baixo."

"Hã? Só roupa de baixo por quê?"

"Acabei de sair do banho."

"Ah. Que motivo normal." Isso era algo ruim?

"Bom, se eu acabar rolando na cama sem conseguir dormir, talvez precise da sua ajuda."

"Beleza, beleza, vá em frente." Ele achou que ela ficaria constrangida, mas ela apenas ignorou.

"Como estão as coisas por aí?", ela perguntou.

"Ah, sei lá, tudo como sempre."

"Se divertindo nos encontros com sua namorada fofa?"

"Estão... razoáveis." As reações de Tomoe eram bem divertidas.

"Hmph." Mai não parecia nem um pouco satisfeita.

"Qual seria a resposta certa para essa pergunta?"

"Que você quer fugir e vir me ver em Kagoshima."

"Te pegar nos braços e te levar comigo?"

"Isso já seria um pouco exagerado." Ela parecia irritada. Será que era uma ideia tão ruim assim?

"E você, Mai? Fez algo além das gravações?"

"Comi um urso polar."

"Que carnívora."

"É um tipo de raspadinha."

"Na verdade, eu sabia disso. É aquela com frutas por cima, certo?"

"Que sem graça." A rainha não estava sendo muito justa naquela noite.

Mas seu tom era animado, e ela parecia empolgada com alguma coisa. Talvez estivesse feliz por estar atuando de novo.

"Está gostando das filmagens?"

"Sim!" A resposta veio imediatamente.

"Sakuta, você já sabe o que quer fazer no futuro?"

"A maioria dos estudantes do ensino médio ainda não resolveu isso."

"Que pena."

"Eu gostaria de ser o Papai Noel."

"Porque ele tem trezentos e sessenta e quatro dias de folga?"

"Tão óbvio assim?"

"Ficar falando bobagens vai te deixar mais bobo. Boa noite."

"Ah... certo. Boa noite." Sakuta esperou Mai desligar antes de recolocar o telefone no gancho.

 

Naquele fim de semana, o serviço meteorológico confirmou oficialmente o fim da temporada de chuvas na região de Kanto. O verão finalmente havia chegado. O verdadeiro calor estava a caminho e, com a abertura das praias na próxima semana, a área costeira ganhou vida.

Sakuta percebeu um aumento no número de grupos de universitários entediados que apareciam por ali para passar o tempo, e o número de surfistas nas águas de Shichirigahama crescia a cada dia.

Embora o céu azul e o mar fossem os símbolos da estação, Sakuta e Tomoe continuavam sustentando a mentira em que haviam se metido. Ambos faziam um bom trabalho simulando o constrangimento típico de um casal recente.

Não havia necessidade de forçarem a proximidade. Até mesmo no caminho para a escola, só se encontravam se seus horários coincidissem. Isso permitia que Tomoe priorizasse seu tempo com as amigas.

Parecia que toda a escola já sabia sobre o relacionamento deles, e Sakuta percebia que seus colegas morriam de curiosidade para saber mais. No entanto, apesar do evidente interesse, ninguém tinha coragem de perguntar diretamente.

Por isso, ninguém suspeitava que era tudo uma farsa. Por que suspeitariam? Normalmente, ninguém se daria ao trabalho de enganar os próprios colegas desse jeito, e não era como se alguém realmente se preocupasse em verificar a veracidade dos boatos. Ninguém estava tão interessado assim na vida alheia.

Dessa vez, esse nível de desinteresse jogava a favor de Sakuta. Isso significava que ele não precisava se preocupar em ser desmascarado.

No entanto, havia uma preocupação completamente diferente que continuava a atormentá-lo.

A Síndrome da Adolescência causada por Tomoe ainda não havia sido resolvida.

Isso fazia com que Sakuta olhasse para o relógio digital ao lado de sua cama todas as manhãs assim que acordava. Esse já havia se tornado um hábito diário.

Até aquele momento, nenhum dia havia se repetido desde 27 de junho, mas ele não podia ter certeza de que isso não voltaria a acontecer. Nunca se sentia totalmente seguro.

Essa ansiedade o acompanhou durante toda a semana.

Era 5 de julho, exatamente uma semana desde que ele havia escapado do primeiro loop.

Assim que a aula terminou, Sakuta foi até a sala de ciências.

"Futaba, você está aí?"  chamou ele, deslizando a porta para o lado.

Ele a encontrou de jaleco, perto da janela, conversando com alguém do lado de fora.

Alguém vestindo uma camiseta e um short de moletom até o joelho. Yuuma. Ele segurava uma bola de basquete em uma das mãos. Devia estar a caminho do treino.

Os dois se viraram para encarar a porta. Sakuta olhou de um para o outro.

"Desculpem a interrupção" disse ele, antes de se virar e fechar a porta atrás de si.

Ele havia planejado pedir a ajuda de Rio para entender melhor a Síndrome da Adolescência, mas parecia melhor deixar isso para outro dia.

No entanto, antes que pudesse ir longe, a porta se abriu com um estrondo atrás dele.

Ele olhou para trás e viu uma Rio visivelmente nervosa.

"Você é um completo idiota, Azusagawa?!", ela sibilou. "Você é genuinamente burro?!"

Ela parecia bastante consciente do olhar de Yuuma, que ainda estava do lado de fora da janela, girando a bola de basquete no dedo.

"Bem, com certeza sou mais burro que você", admitiu Sakuta.

"Não tente me ajudar! Kunimi pode perceber!"

"Se ele fosse capaz de entender algo só com isso, ele já sabe como você se sente."

Havia uma grande possibilidade de que Yuuma apenas estivesse fingindo não perceber.

"Isso... seria horrível", Rio disse, mal conseguindo terminar a frase. Ela estava ficando visivelmente vermelha.

Provocá-la ainda mais parecia uma má ideia, então Sakuta passou por ela e entrou no laboratório.

"Estávamos falando sobre você", disse Yuuma quando o amigo se aproximou da janela.

"Falando de mim pelas costas? Que crueldade." Yuuma ignorou a tentativa de humor.

"É verdade que você está namorando a Koga agora?", perguntou.

"É."

"Sério?"

"Quero dizer, ainda estamos só testando."

"Hmph."

Yuuma parecia desconfiado. Quando Rio se aproximou deles, também parecia suspeitar de algo. Provavelmente, ela já tinha uma ideia do que realmente estava acontecendo. Afinal, ele já havia contado a ela que Tomoe era o demônio de Laplace quando discutiam o fenômeno atual da Síndrome da Adolescência. Mas, mesmo assim, ela não perguntou mais nada.

"Bem, então acho que devo pelo menos te avisar", disse Yuuma, driblando a bola.

"Sobre a Koga..." Ele fez uma pausa dramática.

"O quê?"

"Há alguns boatos feios por aí."

"Sobre o gosto dela para homens?"

Considerando a reputação de Sakuta, isso parecia bastante provável. Os alunos do primeiro ano talvez pensassem que ele havia voltado a ser visto como alguém decente, mas os do segundo e terceiro anos ainda estavam presos ao incidente da internação. Uma vez que um rótulo desses fica preso a você, mesmo que consiga arrancá-lo, a marca continua lá.

"Coisas como dizerem que ela é fácil, uma vadia ou que está dormindo com você."

Yuuma abaixou um pouco a voz, talvez por consideração a Rio. Percebendo isso, ela se absteve de participar diretamente, mas claramente estava ouvindo.

"O quê?" Essa era a primeira vez que Sakuta ouvia falar disso.

"Isso apareceu no grupo de mensagens do time masculino de basquete." Isso explicava muita coisa.

"Você perguntou sobre Yousuke outro dia no trabalho, certo?", disse Yuuma, lançando-lhe um olhar significativo. Estava claro de onde vinham esses rumores.

"As meninas também estavam comentando sobre isso na sala de aula", acrescentou Rio.

Isso significava que os boatos já tinham se espalhado bastante. As coisas estavam piorando de novo. Sakuta não se importava com o que diziam sobre ele, mas Tomoe com certeza se importaria.

"Imaginei que você deveria saber."

"Sim..."

Yuuma ergueu a mão, disse "Tenho que ir para o treino" e saiu correndo em direção ao ginásio. Rio observou enquanto ele se afastava.

Sem querer interromper o momento, Sakuta desviou o olhar da janela e acendeu o bico de Bunsen. Encheu um béquer com água e esperou que começasse a ferver. Ele precisava fazer algo antes que os boatos sobre Tomoe se espalhassem ainda mais.

"O que você está fazendo, Azusagawa?" Ele levantou o olhar e viu Rio parada do outro lado da mesa.

"Pensei em tomar um café para me acalmar."

"Não isso. E sobre Sakurajima?"

"Onde está o café solúvel?" Ela abriu uma gaveta e pegou o pote.

"Tudo bem", disse ela.

"Mas o que te trouxe aqui?"

"Bem, eu não voltei no tempo desde então, então... ainda estou tentando entender por que aconteceu."

A água já estava fervendo, então ele apagou a chama. Colocou uma colher de café solúvel no béquer, e uma nuvem negra se espalhou pela água cristalina.

"Imagino que o que você disse esteja certo."

"Mm?"

"A aluna do primeiro ano que você está chamando de namorada era o demônio de Laplace."

Foi uma escolha de palavras muito deliberada. Rio claramente sabia que eles estavam fingindo.

"E ela está jogando os dados até as coisas saírem do jeito que ela quer."

Rio tirou um dado do bolso e o rolou sobre o balcão. Saiu um cinco, depois um quatro e, em seguida, um dois.

"No momento, ela está satisfeita com o rumo das coisas, então não precisa de um novo lançamento."

O número um no dado estava pintado de vermelho. Quando ele saiu, Rio parou de rolar.

"E ela não tem consciência disso."

"Se tivesse, seria um verdadeiro demônio."

"Verdade." Sakuta tomou um gole de café. Estava amargo.

"Parece até que você quer que outro loop aconteça", comentou Rio, tirando os óculos.

"Se não vai acontecer de novo, só queria que alguém me dissesse isso." Ela o ignorou.

"Tem certeza de que você mesmo não quer uma segunda chance?" perguntou, como se esse fosse o verdadeiro motivo para ter trazido o assunto à tona.

"......"

"Então quer."

"Você nunca pensou: 'E se eu tivesse...’?"

"Isso é sobre sua irmã?"

Rio não ia deixar ele escapar dessa vez. Seria vingança por tê-la provocado sobre Yuuma?

"Sim. Isso é um problema?"

"Não é um problema, mas não combina com você."

"Não é como se eu quisesse voltar e tentar de novo de verdade."

"Então o que é?"

"Eu só quero parar de pensar nos ‘e se’ e nos ‘eu deveria ter’ quando sei que isso não vai me levar a lugar nenhum."

"Isso sim soa como você."

"Mal consigo lidar com o presente. Voltar no tempo... não conseguiria lidar com todas as possibilidades que isso traria. Seria um pesadelo."

Rio o ignorou enquanto ajustava seu bico de Bunsen. Sakuta deu um peteleco no dado sobre a mesa. Saiu um três.

"Uh, Futaba..."

"O quê?"

Ocupada com a chama, ela parecia irritada, como se já tivesse ouvido o que queria e perdido todo o interesse na conversa.

"Alguma ideia de como derrotar alguém maior e que também é um atleta?"

"......"

As mãos de Rio pararam. Havia um olhar de surpresa em seus olhos. Mas ele rapidamente se dissolveu em desdém. Por fim, ela deu um risinho debochado.

"Não é a minha área."

"Imaginei." Ela ajustou a chama até que ficasse azul.

"Mas..."

"Hmm?"

"Os humanos não são macacos, então, se usar a cabeça... pode ter uma chance." Esse era um conselho bem no estilo de Rio.

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