A Senpai Coelhinha Japonesa

Tradução: GGGG

Revisão: Sakuta, Mon


Volume 2

Capítulo 1: O Jovem Patife não tem o Amanhã

"Uma grande vitória para o time do Japão!" O âncora do noticiário matinal soava particularmente entusiasmado.

"Bom dia. Hoje é sexta-feira, vinte e sete de junho. Nossa principal notícia de hoje são os resultados do grande jogo de ontem."

A televisão na sala de estar exibia uma sequência de destaques da Copa do Mundo, que estava sendo realizada do outro lado do mundo. O segundo jogo da fase de grupos havia sido disputado no meio da noite, no horário do Japão.

O time japonês estava um ponto atrás quando o primeiro tempo se aproximava do fim. Um jogador japonês (camisa número dez) fazia dribles habilidosos quando a defesa agressiva do adversário o derrubou. Apitos ecoaram pelo estádio. Isso garantiu ao Japão uma cobrança de falta bem próxima à grande área.

O jogador número quatro posicionou a bola e deu dois passos para trás para a corrida. A tensão era palpável. Sakuta Azusagawa assistia com um horror estupefato.

"Já vi isso antes...", ele murmurou.

E não era da transmissão ao vivo da meia-noite. Ele tinha visto exatamente o mesmo destaque... na manhã anterior. Ele sabia que o número quatro do Japão estava prestes a chutar a bola, que o goleiro do outro time pularia para o lado errado e que a bola entraria direto no gol.

Sakuta engoliu em seco, observando. O chute do número quatro marcou exatamente como ele se lembrava, garantindo um gol para o time.

As expressões dos adversários desabaram enquanto mordiam os lábios, angustiados por terem perdido a vantagem. Atrás deles, o número quatro comemorava sua cobrança de falta bem-sucedida. O time japonês o cercava, todos vibrando.

O Japão aproveitou o impulso daquele momento para marcar mais um gol no segundo tempo. Eles mantiveram a vantagem de um ponto e garantiram a vitória.

Sakuta assistiu sombriamente ao resultado idêntico e voltou para o quarto, tentando afastar as perguntas que inundavam sua mente. Ele olhou para o despertador ao lado da cama. O visor digital mostrava a data: 27 de junho.

A mesma data anunciada pelo âncora do noticiário.

"Mas como...?"

Sakuta tinha certeza de que hoje deveria ser 28 de junho. No dia anterior, tanto a TV quanto seu relógio claramente indicavam 27 de junho. Isso significava que hoje era ontem e ontem era hoje.

"Ahhh, entendi. Deve ser um sonho."

Sakuta jogou-se na cama, puxou as cobertas sobre si e voltou a dormir. Se aquele era o dia anterior, ele poderia simplesmente dormir até amanhã. Mas mal fechara os olhos quando a porta se abriu.

"Eu achei que você já estava de pé!", disse Kaede, sua irmã mais nova. Seus passos se aproximaram.

"Você não pode voltar a dormir! Levante-se!" Ela começou a sacudi-lo.

"Vou dormir até ser amanhã."

"Você não se importa com a escola?"

"Não."

"Então eu vou dormir com você!" Ela puxou as cobertas e tentou se enfiar debaixo delas.

"Melhor eu levantar", disse Sakuta, sentando-se.

"Hã? Já?"

Ele saiu enquanto os pijamas de panda de Kaede ocupavam seu lugar. Escapar da realidade só o levaria até certo ponto. Ele foi de volta à sala de estar. O noticiário da manhã ainda falava sobre futebol. Kaede veio logo atrás dele.

"Ei, Kaede..."

"Sim?"

"Isso vai soar estranho."

"Hum... tipo de um jeito impróprio?"

"Não."

"Saia dessa mentalidade!" Kaede disse. Ela cobriu o rosto com as mãos, mexendo-se de forma inquieta e se recusando a ouvir.

"Assistimos ao mesmo noticiário ontem, certo?"

"...A notícia do futebol?", perguntou Kaede, espiando entre os dedos.

"Sim."

"Hum... tenho quase certeza de que não." Ela parecia não entender o que ele queria dizer. Sua testa se franziu.

"Era isso que eu temia... Nesse caso, não se preocupe."

Sakuta sentiu um pressentimento ruim. Aquele tipo de sensação que você tem quando sabe que está encrencado.

Com a persistente sensação de que algo estava errado, ele tomou café da manhã com Kaede. Quando nenhuma explicação surgiu, Sakuta decidiu que o melhor seria ir para a escola.

Talvez Sakuta pudesse descobrir mais se simplesmente seguisse sua rotina.

"Até logo!" Kaede o chamou, sorrindo.

Ele saiu do elevador no primeiro andar, respirou fundo e começou a caminhada até a estação.

Sakuta prestava muito mais atenção aos arredores naquele dia. Passou pela área residencial, repleta de prédios de apartamentos e casas. Ele cruzou o parque, atravessou a ponte e chegou à avenida principal. Conforme se aproximava da estação, edifícios altos começaram a surgir: hotéis comerciais, lojas de eletrônicos, entre outros.

Nada parecia particularmente fora do comum. Havia pessoas indo para a estação, como ele, e donas de casa levando o lixo para fora. O homem da floricultura estava varrendo a calçada em frente à loja.

Dez minutos a pé o levaram até a Estação Fujisawa, no coração da cidade de Fujisawa, na província de Kanagawa. A estação estava lotada de trabalhadores e estudantes em seus deslocamentos diários. Empresários trocando para a Linha Tokaido, estudantes passando apressados pelos portões da Odakyu. Um bom número de pessoas, como Sakuta, atravessava a passagem conectiva até a estação da Linha Enoden (Enoshima Electric Railway).

Ninguém parecia perdido ou confuso. Todos seguiam suas rotas habituais. Ninguém fora do lugar. Sakuta era o único olhando ao redor, observando as multidões.

"Sou só eu...?" Quando passou pelos portões da Estação Enoden Fujisawa, a possibilidade parecia alarmantemente certa.

O trem chegou alguns minutos depois. Um curto trem de quatro vagões com um estilo retrô. O sino tocou, as portas se fecharam, e o trem partiu.

Após uma viagem sacolejante de quinze minutos, ele chegou à Estação Shichirigahama, próxima à costa. Dali, era apenas uma curta caminhada até a escola de Sakuta, o Colégio Minegahara.

Um grupo de estudantes com uniformes iguais saía da estação. No momento em que emergiram, puderam sentir o cheiro do mar. O verão estava quase chegando, e em dez dias, as praias estariam abertas para os banhistas. A área ficaria cheia de turistas.

Sakuta olhou para a água e viu um grupo de praticantes de windsurf aproveitando um raro dia de sol no meio da temporada de chuvas.

Tudo estava como deveria estar. Nada parecia fora do lugar.

A curta caminhada da estação até a escola foi preenchida pelo som de estudantes conversando. Alguns garotos do primeiro ano brincando. Uma aluna do terceiro ano com o nariz enfiado em um guia de estudos. Um grupo de garotas animadas discutindo a sessão de karaokê do dia anterior.

Tudo exatamente como sempre.

Ninguém dizia algo como: "Nós já vivemos este dia?" ou "Eu sabia! Eu disse que era!" ou ainda "Sério? Isso é assustador." Por que diriam?

Somente Sakuta se sentia preso em um sonho, confuso com seu segundo dia 27 de junho.

Ele passou pelos portões da escola. Quando chegou à entrada, um de seus dois amigos se aproximou. Yuuma Kunimi.

"E aí, Sakuta. Outro dia incrível com esse cabelo de quem acabou de sair da cama."

Yuuma estava voltando do treino matinal de basquete, vestindo shorts até o joelho e uma camiseta. Muitos estudantes assistiam às aulas assim, sem trocar para os uniformes até depois da escola. Yuuma era um deles.

"Esse penteado está super na moda."

"Você está na vanguarda da moda."

Yuuma riu, como sempre fazia. Mas Sakuta se lembrou daquela conversa. Haviam tido exatamente a mesma no que ele lembrava como o "ontem" de Sakuta.

"......"

"Algo errado, Sakuta?"

"......Não."

"Sério, o quê?"

"Esse rosto bonito seu é irritante."

"Hã? De novo isso?"

Incapaz de admitir que estava repetindo um dia, Sakuta optou por uma provocação simples e seguiu para a sala de aula.

As aulas matinais foram de matemática, física, inglês e japonês moderno. Todas cobriram exatamente o mesmo conteúdo que Sakuta já havia aprendido no dia anterior. O professor de matemática dizendo: "Isso vai cair na prova, pessoal", a piada ruim do professor de física, o professor de inglês reclamando: "Sr. Azusagawa, me escute!" e a mancha de batom na gola do professor de japonês moderno, tudo exatamente como havia sido no ‘ontem’ de Sakuta.

Quanto mais o tempo passava, mais as suspeitas de Sakuta se transformavam em certezas.

"Tenho certeza de que este dia é ontem... mas só eu me lembro disso."

Somente isso transformou um dia escolar totalmente normal em um pesadelo. O mundo tinha enlouquecido? Ou era só Sakuta?

"Não... definitivamente o mundo." Seus sentidos estavam funcionando perfeitamente. Tudo parecia real. Ele não conseguia encontrar nenhuma evidência de que aquilo era um sonho.

E então chegou a hora do almoço.

"Se hoje é ontem, então..."

Sakuta havia prometido encontrar alguém. Isso valia a pena investigar. Ele se levantou para sair.

Dez minutos depois, Sakuta estava em uma sala de aula vazia no terceiro andar. As janelas ofereciam uma vista para o mar. Do outro lado da mesa, estava uma aluna do terceiro ano, Mai Sakurajima.

Com traços elegantes e um rosto tão bonito quanto o de qualquer celebridade—para ser justo, isso era exatamente o que Mai era. Ela trabalhava como atriz desde criança, famosa em todo o país. Nos últimos dois anos, estava em um hiato e havia começado a aceitar novos trabalhos apenas recentemente.

Mas ali estava ela, sentada à sua frente, com uma refeição feita por ela mesma disposta entre os dois. O mesmo cardápio que Sakuta havia comido no dia anterior: frango frito, rolinhos de ovo, um acompanhamento de hijiki com soja, salada de batata e tomates cereja.

Ele pegou um pouco de cada coisa com os hashis, experimentando. Não estavam muito temperados, mas tinham um sabor delicado e delicioso. Pareciam e tinham exatamente o mesmo gosto que Sakuta se lembrava.

"......" O que diabos estava acontecendo? Ele não tinha ideia.

"Não está bom?"

"Hm?"

Ele levantou o olhar e encontrou Mai com uma expressão chateada. Ela nem sequer tentava esconder isso.

Ele estava tão perdido em pensamentos que esqueceu de dizer o que achava do almoço. Sakuta havia feito isso no dia anterior, então acabou se esquecendo dessa vez.

"Está tudo realmente ótimo!"

"Não pareceu."

"Eu juro que está! Adoraria comer isso todos os dias."

"Transformar isso em uma proposta de casamento da era Showa não vai te salvar agora. Você estava pensando em outra coisa o tempo todo enquanto comia meu almoço." Mai podia ser realmente perceptiva assim.

"Eu estava pensando em como sou abençoado por poder comer sua comida caseira, Mai."

Ele sentia que não deveria envolvê-la nisso ainda. Ele mesmo estava muito incerto sobre o que estava acontecendo. Explicar as coisas a ela enquanto estavam tão confusas só daria motivos para ela se preocupar.

"Hmph." Mai não parecia nem um pouco convencida e fez questão de deixar isso claro.

"Mai, posso te fazer uma pergunta estranha?"

"É algo indecente?" Kaede havia reagido da mesma forma. O que ele tinha feito para merecer essa reputação?

"Não vou te dizer a cor da minha roupa íntima," ela acrescentou.

"É mais divertido imaginar, então tudo bem."

"Uau. Nojento." Ele estava brincando, mas ela parecia genuinamente enojada.

"Então, qual é a coisa estranha?"

"O que eu sou para você?"

"Somente um kohai insolente," ela respondeu, sem nem sequer pensar. Ela também fez questão de enfatizar o "somente" para que ele notasse bem.

"...Oh. Então o que você acha que é para mim?"

"Uma paixão não correspondida. Uma grande beleza, sempre pronta com uma palavra gentil, o tipo de senpai que todos admiram."

"Acertou em cheio," ele disse, levando um pedaço de rolinho de ovo à boca. Ele mastigou por um tempo.

Era uma situação realmente trágica, mas o relacionamento dele com Mai definitivamente havia voltado ao que era antes. Mesmo depois de ela ter concordado em namorar com ele no dia anterior.

Eles deveriam ser um casal agora! Ser rebaixado a um mero kohai insolente era simplesmente deprimente.

Mas, se esse fenômeno confuso estava atrapalhando seu relacionamento, ele apenas teria que lutar contra isso. Convencer Mai a aceitar namorar com ele novamente. Ele não podia deixar isso abatê-lo. Desistir não era uma opção.

"Então, por que a pergunta estranha?" ela perguntou, franzindo a testa.

"Eu queria esclarecer nosso status atual antes de continuar."

Isso foi uma evasão, mas ele sentiu que era convincente. Não era uma mentira. Ele genuinamente queria mais informações sobre sua situação atual.

"Isso soa suspeito." Os olhos de Mai se estreitaram, e ela o olhou de forma inquisitiva.

"Mais importante, Mai..."

"Não mude de assunto." Sakuta prosseguiu como se não tivesse ouvido o que ela disse:

“Eu amo você. Você quer namorar comigo?”  Ele olhou diretamente nos olhos dela.

“Eu já falei, não mude de assunto.”

“Eu realmente preferia que você não ignorasse algo tão importante assim.”

“Já ouvi tudo isso antes,” ela respondeu com tédio, parecendo completamente entediada.

“Ah... rejeição? Então vou ter que procurar o amor em outro lugar.”

“Co-como é?”

“Obrigado por tudo.”  Ele abaixou a cabeça e suspirou, fingindo estar de coração partido.

“E-eu não disse não! Por que você está desistindo?”  Mai protestou, lançando-lhe um olhar de reprovação.

“Então é um sim?”

“Você tem muita coragem...”

“É um sim?” – Ele insistiu, determinado, fazendo mais uma tentativa.

“...Sim”  ela murmurou, quase inaudível, com a voz baixa.

“É um sim.” Como se quisesse esconder o constrangimento, Mai rapidamente começou a comer um rolinho de ovo. Era adorável. Um arrepio percorreu Sakuta.

“Mai!”

“O-o que foi?”

“Posso te abraçar?”

“Por quê?”  Ela levantou o olhar para ele, desconfiada.

“Você estava tão fofa agora há pouco.”

“Então não. Definitivamente, não.”

“Ahhh.”

“Sinto que isso não terminaria apenas com um abraço. Ninguém em sã consciência diria sim para isso!”

Mai passou o restante da refeição resmungando. Quando o sinal de aviso tocou, indicando o fim do intervalo, o almoço deles terminou, e Sakuta e Mai seguiram para suas respectivas salas de aula.

No caminho, ele avistou uma figura familiar parada no patamar da escada. Era uma garota com cabelo curto, moderno e macio. Uma leve maquiagem em suas bochechas dava apenas um toque de cor, o suficiente para suavizar toda sua expressão.

Tomoe Koga, ela era um ano mais nova que ele, sua kouhai  e, um mês atrás, tinha confundido Sakuta com um sequestrador. Certamente um encontro memorável, por isso ele havia guardado o nome dela.

Naquela ocasião, Sakuta estava tentando ajudar uma garotinha perdida a encontrar sua mãe, em um ato de pura bondade. E Tomoe havia dado um chute em sua lombar, gritando:
“Morra, seu pedófilo nojento!”

Mas agora, a mesma Tomoe estava cabisbaixa, com uma expressão submissa. Ao olhar mais de perto, Sakuta percebeu que ela estava com outra pessoa. Um estudante alto, provavelmente atleta. Tinha cabelo castanho e usava os chinelos de forma descuidada, com os calcanhares esmagando o fundo. Pelo desgaste do uniforme, ele parecia ser um veterano do terceiro ano. Era um rapaz bem-apessoado.

“Maesawa... o-que significa isso?”  perguntou Tomoe, nervosa. Maesawa devia ser o nome do rapaz.

“Então, hm... você gostaria de sair comigo?”

“Quê?!”

“Isso é um não?”

“B-bem... hum... eu posso pensar sobre isso?”  Tomoe soava desesperada.

“Claro! Quando estiver pronta!”  disse Maesawa, com leveza, antes de subir as escadas.

Para não parecer que estava espionando, Sakuta continuou caminhando pelo corredor.

“Eu sabia que ela era popular... Ela é realmente muito fofa.”

Normalmente, ele estaria amaldiçoando o nome dela, mas hoje sentia-se mais inclinado a celebrar a sorte de todos. Afinal, ele finalmente havia conseguido um “sim” de Mai.

“Agora... só preciso que amanhã chegue.” Essa era a maior preocupação de Sakuta.

Sem conseguir suportar a ideia de repetir o dia mais uma vez, Sakuta agiu com base em uma intuição... e decidiu ficar acordado a noite inteira.

Como havia acordado para descobrir que era ontem novamente, ele queria ver o que aconteceria se não dormisse. Era melhor evitar o sono até que o amanhã finalmente chegasse.

Pouco depois das duas da manhã, Sakuta abafou um bocejo e ligou a televisão para passar o tempo. Na tela, havia uma partida de futebol. Uniformes azul-escuros. Samurai Blue. Era o time do Japão jogando. Grupo A.

“Sério? Dois dias seguidos?”

Mesmo com uma agenda apertada, normalmente havia três dias de intervalo entre os jogos.

“Hmm?” Algo o incomodava. Enquanto assistia à partida, Sakuta começou a perceber o que era.

“Eu já vi isso antes...”

Estava quase no final do primeiro tempo. O jogador número dez estava no centro do campo, recebeu um passe de um companheiro e avançou rapidamente para o território adversário. Ele driblou dois defensores, mas um terceiro o atingiu por trás. O apito soou. O Japão ganhou um tiro livre, logo fora da área de pênalti.

Era exatamente o que ele tinha visto nos melhores momentos do noticiário matinal. Mas, desta vez, o canto superior da tela indicava: AO VIVO. O que ele assistia era uma transmissão via satélite. O jogo estava acontecendo naquele exato momento, do outro lado do mundo.

“...Certo, haha, boa piada.”

Sakuta correu de volta para seu quarto e conferiu o relógio. 2h10 da manhã. E, ao lado disso, a data: 27 de junho.

“......” Ele tinha assumido que já era o dia seguinte... mas era ontem de novo.

De volta à sala de estar, ele assistiu à transmissão se desenrolar. O apito do árbitro soou, e o jogador número quatro correu para a bola.

A bola atingiu a rede... ou, não, o chute potente bateu no travessão. Um zagueiro alto do time adversário afastou a bola, e o Japão não conseguiu marcar.

“Quê? Como assim?”

Esse não era o resultado que ele esperava. Ele se lembrou de uma conversa que teve com sua amiga Rio Futaba:
“Então, tipo, quando o time do Japão tem uma partida de futebol e eu só vejo o placar final no noticiário, eles ganham. Mas, se eu assisto ao jogo, eles sempre perdem?”

“Pelo bem do time do Japão, é melhor você nunca mais assistir a um jogo. Sério, nunca mais.”

Ele tinha quase certeza de que isso fazia parte de uma conversa sobre como a observação pode afetar um resultado.

“Não pode ser verdade...”  murmurou Sakuta.

Assistir não poderia ter feito o time do Japão perder, poderia?

Quase como se estivesse rezando, Sakuta torceu pelo time até o final do jogo. Mas eles nunca compensaram o ponto sofrido no primeiro tempo, e o resultado final foi uma derrota por 1–0.

Os comentaristas recapitulavam momentos em que o jogo poderia ter virado, mas, no fim, concluíram apontando a fraqueza já conhecida do time japonês, a incapacidade de se sobressair nos momentos decisivos.

Se quisessem sair da fase de grupos, o Japão precisava vencer a próxima partida. O comentarista foi bem claro sobre a gravidade da situação.

“Amanhã...”  Sakuta disse.

“Não, hoje... ou, acho, ontem? Eu realmente preciso conversar com a Futaba.”

Por ora, ele ficou sozinho na sala de estar, à noite, segurando a cabeça entre as mãos.

Agora que sabia que ficar acordado não fazia diferença, Sakuta foi para a cama. Na manhã seguinte, sem conseguir desistir completamente, ele ligou a TV. Mas todas as notícias falavam sobre a trágica derrota do Japão.

“Será que isso é mesmo culpa minha?” Como se tentasse escapar da culpa, Sakuta saiu de casa trinta minutos mais cedo.

Essa meia hora extra fazia tudo parecer diferente. O ar parecia um pouco mais fresco, o fluxo de pessoas entrando na Estação Fujisawa estava um pouco alterado. Parecia haver mais profissionais de negócios. No horário normal, ele veria mais estudantes uniformizados.

Essa impressão era ainda mais forte no enoden, havia bem menos passageiros no geral.

E o caminho da Estação Shichirigahama até a escola estava, naturalmente, quase vazio. Apenas alguns estudantes além de Sakuta. Mais perto do horário das aulas, esse caminho estaria lotado de alunos da Minegahara.

Parecia que ele estava em um lugar completamente diferente.

Ele trocou seus sapatos pelos chinelos no saguão de entrada deserto. Sem ninguém ali, até mesmo o ar parecia diferente. Era tão silencioso. Até tranquilo.

Agudamente consciente dessa diferença, Sakuta passou direto pelas escadas e foi até o laboratório de ciências.

“Futaba, você está aí?”  chamou ele, abrindo a porta.

A pessoa que ele procurava estava ao lado do quadro-negro. Uma aluna menor, vestindo um jaleco branco sobre o uniforme. Era uma das duas amigas de Sakuta, Rio Futaba.

Sem sequer olhar na direção dele, ela soltou um suspiro exasperado.

Ignorando isso, Sakuta sentou-se na cadeira oposta à dela. Entre eles, havia uma fatia de torrada descansando sobre um béquer e uma xícara de café, com vapor subindo dela. A torrada estava perfeitamente dourada. Devia ser o café da manhã.

Com Rio como sua única integrante, o Clube de Ciências fazia o que bem entendia. Ela pegou a torrada com as duas mãos e deu uma mordida. O aroma era delicioso.

“Então.”

“Não.”

“Eu ainda nem disse nada.”

“Se você está aqui a essa hora, deve ser problema.” Esperta. Na verdade, qualquer pessoa poderia deduzir isso.

“Estou aqui para relatar um fenômeno fascinante.”

“Foi o que eu quis dizer com problema.” Rio tentou dispensá-lo, sem dar a mínima atenção.

“Vá embora!”  disse ela, irritada, dando outra mordida na borda da torrada.

Rio geralmente era bem tranquila, mas hoje parecia estar no limite. Devia ter acordado com o pé esquerdo.

“O que aconteceu com você, então?”  perguntou Sakuta.

“Por quê?”

Rio finalmente encontrou o olhar dele. Por trás das lentes dos óculos, ele podia ver que ela estava na defensiva.

“Você está de mau humor.”

“Não estou...,” ela começou, mas desistiu de esconder e simplesmente soltou um longo suspiro. Rio se virou para as janelas, admirando a vista e, como se falasse consigo mesma, disse:

“Bem, em vez de ficar remoendo isso sozinha, é melhor te contar e rir disso depois.”

“É mesmo?”  Sakuta respondeu. Ele não tinha certeza se isso era algo positivo ou não.

“Eu estava no trem com o Kunimi esta manhã. Ele estava indo para o treino matinal.”

“Ele estava te importunando?”

Os olhos de Sakuta foram direto para o peito dela.

“O Kunimi nunca faria isso.”

“Esse olhar diz que você acha que eu faria! Estou chocado.”

“Então pare de encarar.”

Rio se virou, como se estivesse protegendo o peito. Ela claramente não gostou da atenção dele, então Sakuta decidiu fazer o possível para não olhar novamente.

“E então? O que aconteceu com ele?”

“Nada, na verdade,” Rio disse com um sorriso autodepreciativo.

“Só me odiei por ficar feliz que um garoto falou comigo, mesmo sabendo que ele tem namorada.”

“Que preocupação tão feminina.”

“Se você falasse comigo no trem, eu visivelmente estremeceria.”

“Isso era mesmo necessário?”

Ele tinha certeza de que não. Mas, se descontar nele ajudasse a melhorar o humor dela, ele poderia aguentar.

“Sinto que estou em uma espiral descendente,”  disse ela. Terminaram a torrada, tomou um gole de café e suspirou novamente.

“Talvez você devesse simplesmente contar a ele?”

“Contar o quê?” Ela sabia muito bem do que ele estava falando.

“Que você o ama?”

“...Amar quem?”

Dessa vez, ela claramente hesitou, temendo que ele dissesse o nome em voz alta se ela continuasse negando.

“Obviamente o Kunimi.”

“Olha, Azusagawa...”

“Só diga a ele como se sente.” Sakuta a encarou, sem deixar que ela escapasse.

“......” Rio encontrou o olhar dele, apertando os lábios. Ela se sentou na cadeira, com os joelhos dobrados, virada de lado.

“Hoje, não quero bons conselhos,”  disse ela, de mau humor.

“Sinto muito.”

“É bom que esteja.”

“Mas você vai ficar assim? Se está em uma espiral descendente, talvez fosse melhor desabafar.”

Ele sabia que a única razão para ela estar no Clube de Ciências tão cedo era porque podia encontrar Yuuma indo para o treino matinal. Mas, quando isso acontecia, o resultado era esse.

“Como eu disse, não quero bons conselhos.”

Ela suspirou mais uma vez, como se estivesse esvaziando um balão. Seu perfil era o retrato da melancolia.

"Dizer qualquer coisa só preocuparia o Kunimi."

"Todo cara charmoso merece uma preocupação ou outra."

"Se ao menos eu fosse tão sem tato quanto você."

"Que elogio! Estou até corando."

"Você acabou de provar meu ponto."

"Os homens adoram ser manipulados por mulheres."

"Isso é exclusivo de rascais como você, Azusagawa."

"A namorada do Kunimi é muito boa nisso."

A namorada de Kunimi uma vez disse a Sakuta que ele não se encaixava na classe e que sentia pena de Yuuma sempre que os via juntos. Dada a forma como ela o tratava, Sakuta achava que merecia muito mais pena do que Kunimi.

O nome da namorada era Saki Kamisato. Ela estava na mesma turma que Sakuta, na 2-1. Apesar de não ser o tipo dele, Saki era bastante popular entre os garotos; todos concordavam que ela era bonita. Ela era uma figura central no grupo mais chamativo e influente da classe.

O oposto completo de Rio, que estava sozinha em um laboratório de ciências, fazendo experimentos.

"Azusagawa."

"O quê?"

"Mencionar ela foi sem tato até para você."

"Pensei que a situação exigia medidas drásticas. Se não gosta, vá levar um fora!"

"Eu odeio quando você tem razão."

Rio sabia muito bem que essa era a única maneira de encerrar o assunto. Ela sabia disso, mas não conseguia se forçar a fazê-lo. Porque isso significaria o fim.

"Eu sou a única pessoa que se atreve a dizer a você a verdade brutal."

"E admitir isso prova que você é uma pessoa horrível." Rio riu. Parecia que estava um pouco mais animada.

"Então, qual é o seu problema?" ela perguntou.

"O amanhã não chega", ele respondeu diretamente.

"E o que importa? Você nunca teve um futuro brilhante." A resposta foi simplesmente cruel.

"É um grande problema! Tenho um amanhã promissor me esperando!"

Ele começou a namorar Mai no almoço de hoje. Chamar isso de futuro promissor não era nem um pouco exagerado.

"O problema é que hoje é ontem, e ontem foi hoje."

"Reformule para que um humano possa entender."

"Eu sou humano!"

"Eu achei que você fosse um canalha."

"Olha... Argh, deixa para lá. Certo. Hum..."

Decidindo escolher as batalhas, Sakuta explicou a Rio os estranhos acontecimentos que estavam acontecendo com ele.

Cinco minutos depois, após ouvir tudo, Rio apenas bocejou, sonolenta.

"Então? O que você acha, Futaba?" Ele olhou para ela, sério.

"Azusagawa... você é um adolescente delirante do ensino fundamental."

"Eu tenho dezessete anos."

"Então você é um adolescente delirante do ensino médio."

"Então você desiste."

Rio certamente não parecia interessada. Ela havia feito outra xícara de café e estava lá, bebendo.

"A única outra opção é a sua querida Síndrome da Adolescência." Ela parecia igualmente despreocupada com isso.

"Eu realmente não gosto disso", ele resmungou.

A Síndrome da Adolescência. Um termo coletivo para fenômenos estranhos que eram um tema quente na internet. "Eu posso ler mentes" ou "Eu consigo ler as memórias de objetos", etc. Um monte de histórias de eventos sobrenaturais que levantavam sobrancelhas.

Ninguém realmente acreditava nelas.

Mas Sakuta já havia encontrado vários desses fenômenos antes. Isso provavelmente era mais um. Ele certamente não conseguia pensar em nenhuma outra explicação.

"Então, por favor, faça algo?"

"Você vai ter que resolver isso sozinho."

"Posso perguntar por quê?"

"Por tudo o que parece, nem eu, nem os outros estudantes, nem os sete bilhões de pessoas na Terra parecem estar cientes de que este é o terceiro 'hoje'."

Rio estava observando o time de beisebol correndo pelo pátio da escola. Ninguém se esforçaria tanto em um treino matinal se este fosse o terceiro dia seguido. Eles teriam assuntos muito mais urgentes para tratar.

"Eles estariam em pânico se estivessem", disse Rio. Ela estava mexendo no celular e mostrou a Sakuta os resultados de uma pesquisa. Ela procurou por "27 de junho", "terceira vez" e "repetir". Nenhum dos resultados parecia relacionado.

"O que me leva à conclusão de que você está causando essa Síndrome da Adolescência", anunciou Rio. Um pensamento horrível.

"Eu não tenho nem a instabilidade mental associada à Síndrome da Adolescência nem estou sob uma quantidade incomum de estresse."

Especulações online culpavam essas coisas pela Síndrome da Adolescência. A teoria mais popular sustentava que esses fenômenos eram delírios causados pelo estresse de a realidade não sair como planejado. Uma forma de escapar dessa realidade.

"Bem, você pode não estar ciente disso." Rio parecia bastante certa de que Sakuta era o culpado. "Mas, seja qual for a causa, permita-me oferecer uma interpretação dos eventos diferente da sua."

"Diferente como?"

"Do que você disse, Azusagawa, você acredita que está preso em um loop temporal."

"Com certeza parece que estou." Esse tipo de coisa acontecia o tempo todo em romances de ficção científica.

"Eu recomendaria não se prender a essa ideia."

"Por quê?"

"Voltar ao passado é realmente problemático."

Ela não disse que era impossível, então devia haver alguma teoria sobre isso em algum lugar.

"O 27 de junho que você tem experimentado pode ser uma visão do futuro, vista do seu momento anterior no tempo." Isso soava bem absurdo por si só.

Era difícil acreditar que ela fosse a mesma pessoa que acabara de apontar o quão difícil poderia ser viajar para o passado.

"Você está fazendo isso soar como se prever o futuro fosse simples."

"É mais próximo de ser possível do que viajar temporariamente ao passado."

"Sério?"

"Contudo, estamos falando da física clássica, antes da introdução da mecânica quântica."

"Uau."

"Você já ouviu falar do demônio de Laplace?"

"Nunca conheci nenhum demônio."

"Então isso é um não. Toda a matéria no universo está igualmente sujeita às mesmas leis científicas. Entendeu?"

"Claro. Física básica, certo?"

"Sim. E se transformarmos essas leis em fórmulas e fizermos os cálculos, elas nos mostrarão as condições que estão no futuro."

Isso parecia extremamente simples. Sakuta inclinou a cabeça, incapaz de ver aonde ela queria chegar com isso.

"Qual é o seu ponto?"

"Especificamente, para cada átomo do mundo, se soubermos a posição e o momento, o produto da massa e da velocidade, então as equações da física clássica nos permitirão calcular com precisão as condições futuras. Isso está bem dentro do conteúdo coberto no ensino médio."

Era realmente uma tragédia, mas, apesar de estar no ensino médio, Sakuta não fazia ideia do que Rio estava falando. Ele tinha muitas perguntas.

"Todos os átomos são muitos." Basicamente, infinitos, certo?

"Sim."

"É realmente possível determinar a posição e o momento de todos eles?"

Era difícil o suficiente descobrir quantos grãos de arroz havia em um único onigiri.

"No mínimo, os físicos da época, estamos falando do século XIX, não conseguiam fazer isso. Mesmo que, de alguma forma, eles soubessem as posições e os momentos de tudo, calcular as equações para essa quantidade de dados levaria uma quantidade considerável de tempo. Se calcular o mundo um segundo no futuro levar mais de um segundo, você nunca pode realmente avançar."

"Entendi."

Provavelmente era impossível até mesmo para os computadores modernos.

"Então, um físico chamado Laplace pensou em um ser imaginário que poderia realizar essa façanha impossível."

"E esse é o demônio de Laplace?" Rio assentiu lentamente.

"Esse demônio tem a capacidade de instantaneamente saber as posições e os momentos de cada átomo no mundo e pode usar esses números para calcular o futuro instantaneamente. Em outras palavras, o demônio de Laplace sabe tudo o que vai acontecer."

"Hmm."

"Você não parece convencido."

"Bem, mesmo que ele consiga calcular o futuro, isso não leva em conta nosso livre-arbítrio, leva? Isso realmente conta como conhecer o futuro?"

"Ah, essa velha questão."

"Não tem como prever emoções."

"Tem", Rio disse firmemente.

"Hã?" Sakuta piscou, perplexo.

"Os corpos humanos são feitos de átomos. Se você puder compreender as posições e o momento deles, pode calcular as escolhas que o cérebro fará e as emoções que ele produzirá."

"Entendi... mas gostaria de não ter ouvido isso."

"Você mudará de ideia quando eu terminar."

"Sério? Quer dizer, pelo que você acabou de dizer, se os aspectos emocionais já fazem parte disso, então, se você souber as posições e o momento de todos os átomos em um dado momento, você pode calcular tudo no futuro para sempre."

"Exatamente."

"Então isso não significa que existe apenas um futuro definido?"

Se você tivesse os dados para a posição e o momento iniciais, bastava alterar a variável para a passagem do tempo, e os outros números sempre funcionariam da mesma forma. Não importava onde você estivesse no tempo, o destino estava gravado na pedra, seu curso determinado pela matemática e pela física.

"Você deduziu isso, Azusagawa? Não é esperto," Rio disse com um tom que parecia elogiar uma criança pequena.

"Você está certo... com base no que discutimos até agora."

"Então, espera... Se eu estudar antes de uma prova ou não, não faz diferença, já que os resultados dos exames finais da próxima semana já estão definidos?"

"Isso não é bem assim. Seus resultados estão definidos. Mas você assume que a parte em que escolhe estudar ou não não está. Na verdade, a escolha que você faz também já está definida."

"Mm. Ah. Certo." Isso é o que significava ter todo o futuro já determinado.

"Depois de ouvir o que eu disse, você pensou: 'Se o futuro já está definido, não há motivo para me esforçar', certo?"

"Então você quer dizer que o demônio de Laplace já sabia como eu responderia à sua explicação?"

"Exatamente." Isso era complicado, mas ele achava que estava acompanhando. Mas isso significava...

"Nossos destinos já estão selados." Sombrio.

"Você esqueceu o que eu disse antes?"

"Você ficou super feliz quando Kunimi falou com você esta manhã?"

"Vá se ferrar."

"Ah... a parte sobre isso ser antes da introdução da mecânica quântica?"

"Se você lembra, não seja um idiota."

Rio lançou-lhe um olhar carrancudo. Ela normalmente era tão impassível que era estranho vê-la fazer uma expressão tão infantil.

"Eu expliquei o gato de Schrödinger para você antes, certo?"

"Quando não sabemos se o gato está vivo ou morto antes de abrir a caixa?"

Isso aconteceu quando ele estava conversando com Rio um mês atrás sobre como lidar com os sintomas da Síndrome da Adolescência que Mai estava enfrentando.

"Estou impressionada que você se lembre disso."

"Fique à vontade para me cobrir de elogios." Rio o ignorou.

"No mundo da física quântica, a posição das partículas só existe em termos de probabilidade. Eu expliquei isso, se você se lembra?"

"Soa familiar. A única maneira de determinar as posições exatas é por meio da observação, não era?"

"Sim. Como essa observação é crucial, você tem que lançar luz sobre elas para que possam ser vistas."

Rio puxou uma lanterna de uma gaveta e a apontou para uma bola de beisebol que colocou sobre a mesa.

"Agora sabemos onde a partícula está?"

"Sim. Mas partículas são extremamente pequenas, então, se você iluminar uma partícula com uma luz do mesmo tamanho, isso mudará a velocidade e a direção da partícula."

Rio fez a bola rolar. Ela caiu da mesa, quicou duas vezes, bateu na perna de uma cadeira e parou.

"Em outras palavras, determinar as posições das partículas muda a velocidade. Para determinar com precisão o momento de uma partícula que inclui sua velocidade, sua posição se torna um intervalo provável. Não há como saber ambos os valores ao mesmo tempo."

"Parece frustrante."

"Felizmente, a mecânica quântica baniu o demônio de Laplace e provou que o futuro não está gravado na pedra. Não é um alívio?"

Honestamente, não muito. Sakuta ainda não entendia direito essas coisas quânticas. E, se ele não entendia, era difícil achar isso reconfortante.

"Mas a mecânica quântica é toda do ponto de vista dos humanos, certo?"

"Claro."

"Então..." Rio adiantou-se.

"Eu sei o que você está pensando, Azusagawa. Se o demônio de Laplace sempre foi uma entidade além da capacidade humana, talvez ele consiga medir com precisão a posição e o momento ao mesmo tempo."

Ela lançou um olhar para ele, verificando se estava no caminho certo.

"Sim, era exatamente isso que eu ia dizer."

"Bem, depende de você decidir o quão poderoso é esse demônio," Rio aconselhou, como se esse fosse todo o ponto dela.

Então, Rio estava sugerindo que o próprio Sakuta era o demônio de Laplace.

"Desculpe, mas eu não sou nenhum tipo de demônio."

"Tome cuidado para que ninguém decida te dissecar."

"Estarei bem enquanto você não me denunciar para algum laboratório sinistro."

"Talvez não nos vejamos de novo." Rio olhou para o celular.

"Se você tem certeza de que não é você, então terá que encontrar o verdadeiro demônio de Laplace."

"Onde eu o encontraria?"

As aulas não incluíam como localizar demônios.

"Assim como você, o demônio se lembrará de que está repetindo o dia 27 de junho. E, se eles têm essas memórias, há uma boa chance de estarem se comportando de forma diferente em relação ao dia 27 de junho anterior. É o que eu imagino."

"Ahhh... Entendi."

Rio tinha um ponto. Qualquer um que soubesse o que estava acontecendo tentaria fazer algo a respeito. Era provável que estivessem agindo para mudar o resultado. Ou, no mínimo, extremamente abalados com toda a situação.

Mas ele não tinha nenhuma pista no momento. Onde ele sequer começaria?

Antes que pudesse perguntar, o sinal de aviso tocou. O homeroom da manhã começava em cinco minutos. Seria estupidez chegar atrasado depois de chegar à escola tão cedo.

Ele jogou a mochila no ombro e se levantou. Tentou ajudar Rio a arrumar as coisas, mas ela apenas disse:

"Vai logo."

"Okay. Então... obrigado!"

Quando estava prestes a sair do laboratório de ciências, uma ideia lhe ocorreu. Ele parou na porta.

"Ah, certo... Futaba."

"O quê?"

"Se eu repetir o dia de hoje de novo, deveria tentar impedir você de encontrar Kunimi esta manhã?"

Se ele o fizesse, talvez ela não começasse o dia tão deprimida.

"......" Rio pensou por um segundo. Então...

"Cuide da sua própria vida," disse ela com um sorriso. "Por enquanto, quero lidar com isso sozinha."

"Se algum dia for demais para você, é só dizer."

Sim. Você me deve muito, então farei você pagar isso algum dia."

"Vou pagar com juros."

Com um último olhar para seu sorriso sarcástico, Sakuta deixou o laboratório.

Encontre o verdadeiro demônio de Laplace.

Rio havia lhe dado um objetivo, mas onde ele poderia começar? Ele não tinha ideia de quem poderia ser o demônio, e não havia garantia de que fosse alguém próximo a ele. No pior dos cenários, poderia ser alguém do outro lado do mundo.

"E, se for isso, estou ferrado."

Um estudante do ensino médio não tinha fundos para viajar tão longe. Ele nem sequer tinha passaporte. Suas perspectivas eram sombrias. Não—ele nem mesmo tinha perspectivas.
Ele já estava deprimido.

Mas, na hora do almoço, ele deixou sua sala e subiu para o terceiro andar. Ele tinha prometido almoçar com Mai na sala vazia.

Seu relacionamento com Mai era a única coisa que Sakuta mais prezava. Mas estava sendo apagado a cada reinício. Mais uma vez, ele estava prestes a comer o almoço caseiro dela e a convidá-la para sair. A única graça salvadora era que ele genuinamente gostava de fazer isso.

Ansioso por isso, ele abriu a porta da sala vazia.

Ou... não tão vazia.


Havia um som vindo do fundo. Virando-se para lá, ele viu uma saia cobrindo um traseiro que estava saindo de trás do pódio. Quem quer que fosse parecia achar que estava totalmente escondida.

"......"

Definitivamente havia algo errado ali.
Nada disso havia acontecido na primeira ou segunda vez pelo dia 27 de junho. Ele tinha vindo direto para cá quando o almoço começou, esperado por Mai chegar, e então os dois tinham passado o tempo felizes.

Isso era tudo. Ninguém mais interrompeu, e Sakuta não encontrou ninguém naquela sala além de Mai. Isso significava que era um novo acontecimento. Algo que não havia ocorrido nas duas primeiras vezes. Um encontro casual com alguém tomando decisões diferentes.

Algo que Rio havia dito naquela manhã passou por sua mente:

"Assim como você, o demônio se lembrará de que está repetindo o dia 27 de junho. E, se ele tem essas memórias, há uma boa chance de que esteja agindo de maneira diferente em relação aos outros dias 27 de junho, eu imagino."

E o que ele estava vendo parecia se encaixar perfeitamente.

"Te peguei agora, demônio de Laplace!" exclamou Sakuta.

A garota atrás do púlpito lentamente colocou a cabeça para fora, como um roedor saindo de sua toca.

Sakuta a reconheceu. Um cabelo moderno, em um corte curto. Olhos grandes e redondos. Maquiagem suave e fofa. Um visual muito colegial, tudo impecável, a personificação da "garota do ensino médio" de hoje.

Ela segurava um celular com uma capinha da cor de ovas de bacalhau.

"Oh", disse ela. Era Tomoe Koga, uma aluna do primeiro ano.

Ela era mais baixa do que a maioria das garotas de sua idade. Tudo nela era pequeno. Não parecia nem de longe ameaçadora o suficiente para ser chamada de demônio. Talvez um mini-demônio. Ou um pequeno diabinho.

Uma rajada de vento do mar passou pela janela, balançando seu cabelo e a barra de sua saia. Ela quebrou o silêncio primeiro.

"Ichirou Satou."

"Esse é apenas um nome falso para enganar os olhos do mundo."

Sakuta ficou surpreso por ela ainda se lembrar do nome falso que ele havia dado quando se conheceram. Ele era péssimo para lembrar nomes, mas Tomoe parecia ter adquirido essa habilidade em algum lugar.

"Azusagawa, certo?" perguntou ela, aparentemente menos confiante.

"Sakuta Azusagawa. Segundo ano."

"Tomoe Koga. Primeiro ano..."

Ela hesitou, então decidiu se apresentar formalmente. Isso parecia fora de seu caráter.

"Não precisa ser tão formal", disse Sakuta. "Já chutamos a bunda um do outro, afinal."

"Esqueça que isso aconteceu!" gritou ela. Isso era mais parecido com sua primeira impressão dela.

Ela estava segurando o próprio traseiro com as duas mãos, como se lembrasse da dor. Isso fez Sakuta se sentir um pouco cruel demais.

"Koga, vamos direto ao ponto."

"O quê?"

"Quantas vezes você passou por hoje?"

"?!", seus olhos se arregalaram. Então, o choque deu lugar à ansiedade, e eles tremularam.

"Esta é minha terceira vez", disse ele. Tomoe assentiu uma vez, depois disse:

"Minha também." E ergueu três dedos.

Mas, então, seu rosto se contorceu, como se ela estivesse prestes a chorar. Antes que Sakuta pudesse se surpreender, ela gritou:

"Eu não era a única!" Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ela desabou no chão, dominada pelo alívio.

"O que é isso?!" perguntou ela.

"Não faço ideia."

"Por que estamos repetindo o mesmo dia?!"

"Eu não sei."

"Por que você não sabe?!"

"Não dá para saber o que eu não sei." O alívio dela já estava se transformando novamente em ansiedade.

"Eu pensei que estava salva! Devolva minhas lágrimas!"

"Beba um pouco de água da torneira e recupere os líquidos perdidos."

"E agora?" Essa era exatamente a pergunta que Sakuta queria fazer.

"E agooora?" repetiu Tomoe, deixando seu sotaque natural escapar. Parecia que ela não fazia a menor ideia de que estava causando aquela situação.

"Por que você está tão calmo?!" gritou Tomoe, agarrando sua camisa e o sacudindo.

"Entrar em pânico vai ajudar?"

"Não, mas é natural!"

"Ah-ha."

"Argh, eu sei que você é maluco demais para isso! Você é o louco que convidou alguém para sair na frente da escola inteira!"

"Eu acho que chamar alguém de louco na cara dele é bem maluco também."

"Cale a boca."

"Já que estamos aqui, você tem alguma ideia de por que isso está acontecendo?"

"Nem um pouco."

"Um o quê?"

"N-nem um pouco!"

"Você não ajuda."

"Nem você!"

"Nada de ruim aconteceu com você? Nada que te incomode?"

"Por que eu deveria te contar? Ah, uma mensagem." A atenção de Tomoe se voltou para a tela do celular.

"Tenho quase certeza de que isso é a Síndrome da Adolescência", disse Sakuta. "Se esse fenômeno é causado pela sua instabilidade mental adolescente, precisamos identificar e eliminar a fonte dessa instabilidade."

"Síndrome da Adolescência? Você é maluco?" Ela zombou, sem nem tirar os olhos do celular, ocupada digitando uma resposta. "Isso é só fofoca da internet. Ninguém acredita nisso."

Sakuta só acreditava porque essas coisas inacreditáveis já tinham acontecido com ele antes.

Sua irmã, Kaede, tinha sido a primeira. Ele havia testemunhado como mensagens e postagens cruéis de colegas davam a ela hematomas, como se tivesse levado socos, e cortes, como se alguém tivesse passado uma faca nela.

Então, um mês atrás, as pessoas ao redor de Mai começaram a perder a habilidade de percebê-la e até esquecer que ela existia.

E essa situação definitivamente parecia do mesmo tipo.

"Eu entendo como você se sente, mas depois de repetir o mesmo dia três vezes, acho que a Síndrome da Adolescência começa a parecer bem convincente."

"Urgh... bom ponto..."

Havia um limite para o quanto você podia se convencer de que tudo era apenas um sonho. E encontrar outra pessoa na mesma situação tornava tudo muito mais real. Rio havia dito que eles poderiam estar apenas vendo uma visão do futuro, mas, de qualquer forma que olhasse, aquilo parecia o mundo real.

"Você poderia não fazer isso enquanto conversamos?" insistiu ele, pegando o celular da mão dela.

"Ei! Devolve isso!"

Ele levantou o celular bem alto. Ela era baixa demais para alcançar. Tentou pular algumas vezes, mas não conseguiu pegá-lo.

"Eu não vou mandar mensagens enquanto conversarmos." Um sinal de arrependimento. Ele devolveu o celular.

"Toma." Ela agarrou o aparelho como um animal selvagem e imediatamente voltou a tocar na tela em silêncio.

"......"

"......"

"Então você abandonou a parte de conversar."

"Você me distrai. Eu preciso de silêncio."

"As colegiais de hoje em dia realmente são algo." Sakuta foi forçado a esperar por vinte segundos inteiros.

"Então, o que você estava dizendo?" Tomoe perguntou, finalmente levantando o olhar.

"Aconteceu algo ruim? Algo te preocupando? Estou procurando qualquer pista para sair do dia 27 de junho."

"...... Hum..." Tomoe franziu a testa, pensando intensamente por uns bons dez segundos.

"Eu engordei um pouco?", sugeriu, corando levemente. Ela parecia sincera.

"......" Tomoe era tão magra quanto baixa. Tudo nela era esguio.

"O-o que é esse olhar?"

"Não se preocupe, Koga. Você é totalmente magra. Sem problemas aí. E, olha, alguns quilos a mais podem até melhorar o problema do seu peito achatado."

"Vai tudo para meu bumbum e minha barriga." Ela suspirou. Agora que mencionava, seus quadris e traseiro pareciam... robustos.

"Dizem que eles aumentam se você apertar."

"Já tentei isso!" Tomoe resmungou, dando mais um aperto neles, mesmo sob o olhar atento de Sakuta.

"Então é melhor desistir. Garotos não se apaixonam por garotas pelo tamanho dos seios, de qualquer forma. Mas tem algo mais te preocupando? Algo um pouco menos 'coisa de adolescente típico'?"

"As aulas de natação estão para começar! Isso é uma preocupação urgente! Se eu não tenho seios e nem cintura, os verões são um inferno."

Tomoe subitamente parou, seus olhos se arregalando.

"Ah!" Ela estava olhando para o corredor atrás dele.

"E-esconde!" ela sussurrou, agarrando o braço dele e o puxando para trás do púlpito.

"Por quê?"

"Apenas faça!"

Tomoe empurrou Sakuta para trás do estreito púlpito e, em seguida, escondeu-se ali também. Isso exigiu que ele praticamente se deitasse enquanto ela ficava montada sobre ele.

Será que isso era algum passatempo popular entre os alunos do primeiro ano? Sakuta simplesmente não entendia a juventude de hoje.

Confuso, ele desviou a atenção para fora e viu, através da fresta da porta, um estudante do sexo masculino. Era o veterano do terceiro ano que havia chamado Tomoe para sair no último dia 27 de junho. Tomoe o chamava de Maesawa.

"Fique abaixado!" Tomoe agarrou o rosto de Sakuta, puxando-o para baixo do púlpito.

"Ele não está te procurando?"

"Acho que sim, mas... eu mandei uma mensagem dizendo que talvez estivesse ocupada no horário do almoço."

"Sério? Você não parece ocupada."

"Eu disse 'talvez'!"

Em outras palavras, ela estava mentindo para Maesawa.

"Isso não faz sentido. Por que não vai logo ser chamada para sair?"

"Como você sabe disso?"

"Vi na última vez."

O rosto dela estava a poucos centímetros do dele. Lábios rosados e brilhantes. Sua respiração fazia cócegas em suas bochechas. Sakuta ajustou sua posição, tomando cuidado para não esbarrar em nada indevido...

"Kya!"

Tomoe pulou de repente. Sakuta ficou com medo de ter tocado nela em algum lugar sensível, mas esse não era o motivo. O celular em sua mão havia vibrado. Com a luz da tela refletindo em seu rosto, ela começou a digitar uma resposta.

"Isso é algum fetiche novo?"

"......" Tomoe estava muito concentrada no celular para responder.

Enquanto esperava, Sakuta olhou para baixo e notou que a saia dela tinha subido. Um pedaço de tecido branco estava visível onde a perna direita encontrava o corpo.

"Hum, Koga."

"Depois."

"Eu consigo ver sua calcinha."

"Não tenho tempo para isso agora." A confissão de Sakuta foi sumariamente ignorada.

"Eu nunca vou entender as colegiais."

Aparentemente, mandar uma mensagem para alguém era muito mais importante do que sua própria modéstia. Sakuta não teve escolha. Ele ajeitou a saia dela. Agora tudo o que podia ver eram suas coxas.

Enquanto ele fazia isso, Tomoe enviou a mensagem.

"Então, por que se esconder?" ele perguntou. E por que ele também precisava se esconder?

"Bem... a Rena gosta do Maesawa", Tomoe sussurrou, como se isso explicasse tudo.

"Hum?" Sakuta perguntou. Isso não fazia o menor sentido.

"Hum?" ela repetiu, de alguma forma ainda mais confusa do que ele. "O que você não entendeu?"

"Você não explicou nada ainda."

"Então, uh... Eu costumo ir com a Rena assistir aos treinos de basquete."

"Quem é Rena?" Não era exatamente uma atriz famosa nacionalmente.

"Uma amiga da minha turma. Rena Kashiba. Ela sempre fala sobre como o Maesawa é legal... e eu só acompanhava." O restante parecia difícil para Tomoe dizer.

"Mas esse Maesawa se interessou por você em vez dela?"

"B-basicamente." Ela assentiu.

"E você gosta dele também?"

"Não... não gosto de caras que atraem todas as garotas."

"Então, apenas diga não quando ele te chamar para sair."

Por que se esconder? Era só rejeitá-lo calmamente. Ele parecia ser o tipo de galã que forma uma banda logo antes do festival cultural, alguém que merecia ser rejeitado por princípio.

"Se eu fizesse isso, seria imediatamente excluída! Ele é o cara que a Rena… minha amiga… gosta!"

"Hum? Não entendi. Se você não está namorando ele..."

"Ser chamada para sair já é um problema!"

"Eu estou tão perdido."

"Eu prometi para a Rena que ia apoiá-la! Mas, se eu for chamada para sair... não estou 'lendo o clima'!" A voz de Tomoe tornou-se sombria.

"O que eu faço...?"

Ela estava ficando pálida. Isso claramente era uma grande crise para ela. Pelo menos, Tomoe genuinamente acreditava que fosse.

"Você não o seduziu, certo?"

"Claro que não!"

"Shh, ele vai te ouvir."

Tomoe tapou a boca com as duas mãos.

"D-de qualquer forma, esse é o meu problema. Entendido?"

Sakuta entendeu as palavras, pelo menos. Mas o sistema de valores por trás delas? Nem um pouco.

"Nem um pingo."

"Argh, preciso de um tradutor!"

Tomoe ficou tão frustrada que tentou se levantar de um salto, mas eles estavam debaixo do púlpito, e acima dela...

"Ah! Espere!" Sakuta gritou. Tarde demais. Tomoe bateu a cabeça, forte. Tão forte que o púlpito se levantou... e tombou.

Ela tentou segurá-lo, mas suas mãos agarraram apenas o ar. O púlpito caiu no chão com um grande estrondo.

E Tomoe, por sua vez, tropeçou em Sakuta, perdendo o equilíbrio.

"Kyaaa!"

Com um grito, ela caiu em direção a ele. Instintivamente, Sakuta abriu os braços, segurando-a. Ela era realmente leve. Definitivamente não parecia precisar se preocupar com alguns quilos a mais.

"Geez..."

Ele estava planejando tentar acalmá-la, mas não teve a chance. No meio de sua fala, uma figura apareceu no canto de sua visão.

Um estudante do sexo masculino estava parado na porta, olhando fixamente para eles. Era o terceiro-anista em questão, Maesawa, do time de basquete.

Maesawa parecia não saber o que pensar. Aquela situação era, sem dúvida, constrangedora. Do ponto de vista dele, Sakuta e Tomoe estavam deitados no chão da sala de aula, abraçados.

"Então, é com isso que você estava ocupado?" Maesawa perguntou.

"Você tem um gosto péssimo para homens."

Claramente, ele havia tirado conclusões completamente erradas. E foi muito rude.

"Não, isso não é..." Sakuta tentou esclarecer, mas antes que pudesse, a outra porta se abriu com força.

O coração de Sakuta quase saiu do peito.

Uma onda involuntária de pânico o percorreu. Todos os seus instintos gritavam perigo.

Sakuta sabia quem era antes mesmo de ver. Ele estava dolorosamente ciente.

Ele lentamente virou os olhos para a porta de trás.

Sim. Era Mai.

Ela segurava uma sacola de papel em uma das mãos. O almoço que ela havia preparado para ele. Sakuta podia recitar o menu inteiro de cor: frango frito, rolinhos de ovo, alga hijiki com soja, salada de batata e tomates cereja.

Ele sabia de tudo isso, mas no momento em que seus olhos se encontraram, Sakuta percebeu que não comeria uma única mordida daquele almoço hoje.

Mai estava imóvel na entrada, olhando friamente para ele. Os braços de Sakuta ainda estavam ao redor de Tomoe, um fato que parecia distanciar Mai ainda mais.

"Isso é um grande mal-entendido," Sakuta disse, transmitindo os fatos com calma. Uma crise era o teste definitivo da verdadeira natureza de uma pessoa. Sua única escolha era permanecer calmo e explicar sua inocência com um tom equilibrado.

"......" Ele olhou diretamente nos olhos de Mai, jurando que era inocente.

"......" Mas Mai, sem dizer uma palavra, se virou e foi embora.

"Augh! Espere, Maiiii!"

Sakuta empurrou Tomoe para o lado e se levantou de um salto. Tomoe rolou, bateu a cabeça em uma mesa e gritou "Ai!", mas ele a ignorou.

"Deixe-me explicar!"

"Não fale comigo. Pode ser contagioso." E, com isso, Mai foi embora.

"Yikes... ela está muito brava."

Definitivamente, aquele não era um clima de "vamos almoçar juntos". Mesmo que ele a convidasse, duvidava que conseguiria um "sim" agora.

"Suspiro..."

Suspirar era sua única opção.

Ele olhou para a outra porta, e Maesawa também havia sumido.

Tomoe ainda estava deitada no chão, então ele a ajudou a se levantar.

"Ob-obrigada..."

Sakuta colocou a mão na cabeça dela e bagunçou seu cabelo com força.

"Augh! Pare!"

Tomoe rapidamente se afastou. Ela arrumou o cabelo com as duas mãos e lançou um olhar furioso para ele.

"Eu tenho que acordar às seis da manhã para deixar isso perfeito!"

Garotas escolares estilosas tinham manhãs longas.

Sakuta a ignorou.

Ele respirou fundo.

Pânico não o levaria a lugar nenhum. O que aconteceu, aconteceu.

Sua única opção era aceitar a situação e buscar uma solução.

"Bem. Muito provavelmente, amanhã será hoje novamente, de qualquer forma."

Tomoe era claramente o demônio de Laplace, mas ele ainda tinha apenas uma compreensão superficial da situação e nem sequer uma pista de uma possível solução. No que dizia respeito a Mai, ele só precisava fazer um trabalho melhor no dia seguinte, em seu quarto 27 de junho. Tudo o que tinha que fazer era evitar abraçar Tomoe acidentalmente.

Essa parecia ser a solução ideal.

Mas na manhã seguinte, Sakuta se arrependeria amargamente dessa suposição...

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