Volume 1
Capítulo 5: Um Mundo Apenas Sem Você
Ele estava sendo sacudido. Alguém o balançava.
“... acorda.” Uma voz distante.
“... acorda.” Mais perto.
“... Acorda!” Ele reconhecia aquela voz.
“Já é de manhã!” Uma luz branca atravessou a escuridão.
“... Hmm?”
Ao despertar, Sakuta abriu os olhos. Ainda grogue de sono, conseguiu distinguir o rosto de Kaede. Ela estava inclinada sobre a cama, observando-o de perto. A luz do sol que passava pela fresta das cortinas feria seus olhos.
“Hoje é o último dia das provas semestrais, não é? Você vai se atrasar!”
Ela o sacudiu novamente.
“Ah, é... prova...”
Sakuta abafou um bocejo e se sentou. Seu corpo inteiro parecia pesado, como se estivesse prestes a pegar um resfriado ou tivesse febre. No entanto, ele não se sentia doente, apenas... extremamente cansado. Essa descrição parecia mais apropriada.
Lutando contra a tentação de voltar para a cama, ele forçou seu corpo exausto a se levantar. Faltar ou se atrasar em dia de prova seria ruim. Provas de recuperação eram um pesadelo.
O relógio marcava 7h45. O trajeto até a escola era de cerca de dez minutos até a estação Fujisawa, quinze minutos de trem e mais cinco minutos da estação Shichirigahama até a sala de aula. No total, levava aproximadamente meia hora. Ele precisava sair de casa até, no máximo, 8h. Não tinha muito tempo.
“Obrigado por me acordar, Kaede. Você me salvou mesmo.”
“Te acordar é a razão da minha vida!” O sorriso dela era adorável, mas não o motivava a exagerar nos elogios.
“Você precisa encontrar outras fontes de alegria na vida.”
“Tipo lavar suas costas no banho?”
“Fontes que não tenham a ver comigo.”
“Dispenso.” Foi uma recusa rápida.
“Me preocupo com o seu futuro,” disse Sakuta, abrindo o armário para se trocar.
Ele tirou a camisa do uniforme do cabide, mas ela escapou de suas mãos e caiu em cima de uma sacola de papel.
“O que é isso?” perguntou, espiando dentro da sacola enquanto pegava a camisa.
Kaede também se inclinou para olhar. Ambos viram o que havia dentro.
“...”
“...” Houve um breve silêncio.
“O-o que é isso?!” Kaede perguntou, apontando para o conteúdo com a voz trêmula.
Sakuta poderia fazer a mesma pergunta. Dentro da sacola havia um collant preto com um pompom branco nas costas, meias-calças pretas, saltos altos, um laço borboleta, punhos brancos... e uma tiara com orelhas de coelho, que completava o conjunto. Era claramente uma fantasia de coelhinha.
“Será que eu estava pensando em fazer você usar isso?” Foi a única possibilidade que lhe veio à mente.
“Hã?” Kaede congelou, chocada. Ele colocou a tiara com orelhas de coelho na cabeça dela.
“Nada mal.”
“E-eu não vou usar isso! De jeito nenhum estou pronta para algo tão sexy!”
Sentindo o perigo, Kaede saiu correndo do quarto. Sakuta não estava disposto a persegui-la tão cedo, então colocou a fantasia de volta na sacola e a guardou no armário.
“Quão estressado eu estava?” murmurou para si mesmo.
Ele vestiu a camisa e a abotoou. Depois, colocou a calça e a gravata. Esta última acabou ficando meio torta.
“...”
Normalmente, ele sairia assim mesmo, mas, naquele dia, sentiu que deveria tentar novamente. Afrouxou a gravata e refez o nó. Dessa vez, ficou reto.
Antes de vestir o blazer, Sakuta colocou os livros na mochila escolar. Enquanto fazia isso, notou um caderno em sua escrivaninha e o pegou.
“O que é isso?”
Ele folheou as páginas. Estavam quase todas preenchidas.
Anotações de japonês moderno? Olhando com mais atenção, percebeu que não.
O caderno começava com um aviso e, depois, parecia um diário:
"O que está escrito aqui pode ser difícil de acreditar, mas tudo é verdade. Certifique-se de ler até o final! Você precisa!"
6 de maio
"Encontrei uma coelhinha selvagem. Ela era uma senpai do Colégio Minegahara. A famosa...
Este é o começo. Foi assim que nos conhecemos. Não há como eu esquecer isso.
Mesmo que você se esqueça, lembre-se. Você precisa lembrar, eu do futuro."
Sakuta não sabia como reagir.
“Uma tentativa embaraçosa de ficção?”
Talvez fosse uma manifestação da puberdade. Ideias estranhas que cresceram até se tornarem uma fantasia bizarra. Ele não se lembrava de ter escrito nada assim, mas a letra era, sem dúvida, sua. Reconheceu instantaneamente. Então, Sakuta devia ter escrito aquilo.
Mas, quanto mais lia, mais doloroso aquilo se tornava.
O diário falava sobre uma namorada imaginária. Página após página, preenchendo o caderno inteiro. Descrevia conversas enquanto esperavam pelo trem, passeios no Enoden. Um encontro que se transformou em uma jornada até Ogaki.
Sakuta de fato tinha ido a Ogaki alguns dias antes, mas só se lembrava de ter sentido um desejo repentino de ir para um lugar qualquer e ter pegado um trem. Infelizmente, ele tinha feito isso sozinho.
“...”
Os espaços em branco no texto o incomodavam. Pelo contexto, parecia que deveriam conter um nome, mas ele estava ausente. Havia espaço suficiente para várias letras.
“Será que era para eu preencher depois que arranjasse uma namorada de verdade?”
Essa possibilidade era ainda mais constrangedora. Aquele caderno era, sem dúvida, algo que ele jamais poderia mostrar a alguém. Ele tinha certeza de que deveria destruí-lo o mais rápido possível. Era, claramente, uma vergonha viva.
O que tornava tudo pior eram os trechos endereçados a ele mesmo. A melosidade o fazia se contorcer.
O sino das 8 horas tocou, lembrando Sakuta de que estava com pressa.
Ele jogou o caderno no lixo, vestiu o blazer, pegou a mochila e gritou:
“Estou indo!”
Kaede respondeu algo do outro lado da casa, mas ele já estava saindo para a escola.
Sakuta fez o percurso de dez minutos até a estação um pouco mais rápido do que o normal. Passou pela área residencial, atravessou a ponte e chegou à estrada principal. Apesar de ter ficado preso em alguns semáforos, logo alcançou a área comercial perto da estação. Após passar por casas de pachinko e lojas de eletrônicos, viu a estação à frente.
A Estação Fujisawa estava como sempre àquela hora da manhã. Correntes de trabalhadores e estudantes seguiam para dentro, enquanto adultos de terno saíam, indo para escritórios próximos. Passageiros que precisavam trocar de trem se dirigiam às plataformas de conexão. Sakuta atravessou a passagem de ligação, apressando-se como muitos outros em direção à Estação Enoden Fujisawa.
Ao entrar nos portões da estação, viu que seu trem habitual ainda estava esperando. Recuperando o fôlego, subiu no primeiro vagão. Ele encontrou um lugar próximo à porta do lado oposto, e alguém se juntou a ele.
“Yo,” disse Yuuma Kunimi, levantando a mão em cumprimento.
“E aí.”
O trem começou a se mover. Yuuma segurou-se nas alças com as duas mãos e examinou Sakuta.
]“Você parece melhor hoje,” comentou.
“Hmm?”
“Ontem você estava parecendo um zumbi completo. Sempre foi do tipo que estuda até tarde antes das provas?”
“Não, sou mais do tipo que desiste rápido e vai dormir.”
“Foi o que pensei.”
Na noite anterior, Sakuta tinha ido dormir bem cedo. Pelo menos, ele não se lembrava de nada com clareza depois das nove ou dez horas. Mais cedo do que o habitual, apesar das provas.
Sakuta olhou ao redor do vagão. Vários outros alunos com uniformes de Minegahara estavam ali. Muitos tinham livros abertos, tentando revisar o máximo possível antes das provas. Yuuma também tirou um livro da mochila e começou a revisar uma lista de fórmulas.
Enquanto Sakuta distraía Yuuma de seus estudos ocasionalmente, o trem passou pela Estação Koshigoe, e a vista do oceano se abriu do lado de fora.
Sakuta sentiu como se alguém o estivesse observando.
“...” Ele olhou ao redor, tentando encontrar a fonte.
“O que foi?” Yuuma perguntou. Talvez Sakuta tivesse sido óbvio demais.
“Acho que alguém estava me olhando.” Enquanto falava, seus olhos encontraram os da garota próxima à outra porta. Tomoe Koga. O uniforme dela parecia novo em folha.
Hmm? Ela? Uma caloura?”
Tomoe fez questão de desviar o olhar de forma tão óbvia que até Yuuma notou.
“Você conhece ela?”
“Ela e a amiga às vezes assistem aos treinos de basquete.” Sakuta também reconheceu a amiga dela.
“Meus colegas acham que as duas são bem bonitas.”
“Ah, então ela estava olhando para você.” Sakuta se sentiu um idiota.
“Não acho que seja isso,” disse Yuuma, voltando a atenção ao livro.
“Por quê?”
“Nos treinos, ela geralmente olha para um dos veteranos do terceiro ano.”
“Ah.”
“Considerando que você nem sabe o nome dos seus próprios colegas de classe, estou surpreso que conheça uma caloura. Algo aconteceu?”
“Mais ou menos.”
“Ah, conta aí.”
Yuuma guardou o livro e deu um leve empurrão no ombro de Sakuta, com um sorriso.
“Olha, foi só um caso de ‘pé na bunda’ mútuo. Nada demais.”
No domingo anterior, Sakuta tinha tentado ajudar uma criança perdida, mas alguém tirou conclusões precipitadas, e a situação ficou estranha.
“Qualquer história que envolva ‘pé na bunda’ certamente tem confusão.”
“Essas coisas acontecem às vezes.”
“Não comigo. Onde você quer chegar?”
“A qualquer lugar menos aqui.”
“Certo...”
Sakuta olhou pela janela, sinalizando que a conversa havia acabado. Algo o incomodava. Não era o encontro com Tomoe Koga, mas o fato de ele não se lembrar exatamente de como tinha chegado àquele parque em primeiro lugar.
Quando o trem chegou à Estação Shichirigahama, todos os estudantes de uniforme de Minegahara desceram na plataforma minúscula. Sakuta não foi exceção.
Apreciando o cheiro do mar, ele e Yuuma caminharam o curto trajeto até os portões da escola. Ao redor deles, os alunos conversavam animados.
“Mais provas. Estou ferrado.”
“Eu nem estudei.”
“Eu também não!”
“Quem diz isso sempre estudou.”
As provas de meio de período eram um problema comum enfrentado por todos os alunos, mas, fora isso, era uma manhã típica. Essa era a rotina diária deles. Faziam as mesmas coisas de sempre no caminho para a escola. Nada particularmente divertido ou irritante. Apenas seguindo com o dia.
Tudo ao redor de Sakuta parecia normal.
As duas alunas do primeiro ano, Tomoe Koga e sua amiga, passaram correndo por Sakuta e Yuuma, conversando sobre seus planos para depois das provas: karaokê e outras coisas do tipo.
“Você tem algum plano para depois das provas, Sakuta?” perguntou Yuuma.
“Trabalho. E você?”
“Apenas treino. Temos um torneio em breve.”
“Ah, bom.”
“Bom por quê?”
“Se você tivesse um encontro, eu ficaria irritado.”
“Isso eu estou guardando para o fim de semana.”
“Às vezes eu odeio você, Kunimi.”
“Você vai mesmo dizer isso na minha cara?”
“Melhor do que esconder.”
Enquanto trocavam provocações, os dois chegaram à entrada da escola. Sakuta pegou seus chinelos no armário de sapatos, trocou os calçados e subiu as escadas até as salas do segundo ano.
Yuuma estava em uma turma diferente, então eles se separaram no corredor, e Sakuta foi sozinho para a sala 2-1.
Na sala de aula, ele ocupou sua cadeira perto da janela, na primeira fila.
A primeira prova do dia era de Matemática II. A segunda, de Língua Japonesa Moderna. Alguns alunos estavam freneticamente revisando, outros calmamente revisavam suas anotações e se preparavam para o exame. Havia também aqueles que já haviam desistido e dormiam em suas mesas.
Saki Kamisato, sentada em sua mesa (na diagonal atrás de Sakuta), estava mastigando um Pocky. Era um pouco cedo para um lanche, mas talvez ela estivesse apostando que o açúcar ajudaria a mente a funcionar melhor.
Sakuta também pegou seu livro didático. Seu nariz estava coçando muito.
“Espero que não esteja pegando um resfriado...” murmurou, enquanto esfregava o nariz com um lenço e começava a revisar os exemplos de equações de ordem superior.
Havia algo estranho o impulsionando a tentar obter uma boa nota.
Depois de dar uma olhada geral no conteúdo, uma sombra caiu sobre seu livro. Alguém estava parado em frente a ele. Ele sabia quem era sem precisar levantar os olhos. Mesmo olhando para o livro, podia ver a borda do jaleco branco que ultrapassava a bainha da saia dela.
“Não é comum você vir me ver, Futaba,” disse Sakuta.
“Aqui,” respondeu Rio, com uma expressão irritada, enquanto estendia um envelope de estilo ocidental.
“Uma carta de amor?”
“Não.”
“Imaginei.”
Sakuta sabia muito bem onde estavam os sentimentos de Rio. Ele pegou o envelope e espiou dentro. Como esperado, havia uma carta ali. Ele olhou para Rio, como quem perguntava se deveria ler.
“......” Ela assentiu em silêncio. Sakuta abriu a carta e começou a ler.
"Esta é uma extrapolação pseudocientífica absurda da Teoria da Observação, mas suponhamos que toda matéria no mundo só ganha forma quando é observada por alguém. Nesse caso, se a causa do desaparecimento de ***** for o inconsciente coletivo dos alunos que a ignoram, então, se Azusagawa fornecer uma razão para existir que sobreponha isso, ele poderá salvá-la. Essencialmente, fechar a tampa sobre o que não querem ver deve restaurar a frequência à probabilidade original, antes que ***** ganhasse forma... Em outras palavras, revertendo-a a um estado anterior à definição de sua existência, como se fosse éter. A negação inconsciente de sua existência pelos alunos pode ser sobreposta pelo amor de Azusagawa."
Uma carta estranha, cheia de lacunas suspeitas. O conteúdo não fazia o menor sentido, mas estava claro que fora escrito por Rio e destinado a ele.
“......” Sakuta levantou os olhos, esperando uma explicação.
“Também não sei. Encontrei isso ontem à noite, preso no meu livro de Matemática II,” disse Rio.
“Que diabos?” Rio colocou outro envelope idêntico sobre a mesa dele.
“Isso estava junto.”
Ainda mais confuso, Sakuta leu a segunda carta. Era composta de apenas uma única linha.
"Não pense. Apenas entregue isso para Azusagawa."
Claramente, era um recado que Rio havia deixado para si mesma.
Isso lembrou Sakuta do estranho caderno que encontrara em seu quarto naquela manhã. Algo o incomodava no fundo da mente, mas ele não conseguia lembrar exatamente o quê. Apenas uma sensação geral de que algo estava faltando.
“Então é isso,” disse Rio, virando-se para sair.
“Ei, espera,” ele a chamou, mas o sinal tocou, forçando-o a deixar o assunto de lado por enquanto.
O professor entrou na sala, e o período de homeroom começou.
“Hoje é o último dia das provas de meio de período, mas tentem não exagerar depois que elas terminarem,” alertou o professor.
Sakuta releu a carta de Rio.
"Esta é uma extrapolação pseudocientífica absurda da Teoria da Observação, mas suponhamos que toda matéria no mundo só ganha forma quando é observada por alguém. Nesse caso, se a causa do desaparecimento de ***** for o inconsciente coletivo dos alunos que a ignoram, então, se Azusagawa fornecer uma razão para existir que sobreponha isso, ele poderá salvá-la. Essencialmente, fechar a tampa sobre o que não querem ver deve restaurar a frequência à probabilidade original, antes que ***** ganhasse forma... Em outras palavras, revertendo-a a um estado anterior à definição de sua existência, como se fosse éter. A negação inconsciente de sua existência pelos alunos pode ser sobreposta pelo amor de Azusagawa."
“Meu amor, é?” Ele não fazia ideia do que isso significava.
A prova de Matemática II havia corrido bem.
Sakuta respondeu todas as questões, mostrando os cálculos corretamente. Sentia que isso era importante por algum motivo. Ele geralmente não se dava ao trabalho de revisar as respostas, mas dessa vez, tomou cuidado especial. Tinha uma boa chance de conseguir uma nota alta.
A segunda prova era de Língua Japonesa Moderna.
Quando o sinal tocou, toda a classe abriu os cadernos de prova ao mesmo tempo. A sala se encheu com o som de lápis riscando o papel. Sakuta escreveu seu nome, turma e número do assento. Em seguida, foi para a primeira questão, de interpretação de texto. Ele leu as perguntas primeiro e depois passou para o texto.
Levou cerca de vinte minutos, mas conseguiu resolver o primeiro desafio. Logo, veio outro texto longo, que não estava nos livros didáticos.
Parecia que isso levaria tempo, então Sakuta decidiu pular para o final da prova, onde estava o quiz de kanji.
A temida seção de homônimos.
1.Eu posso __sure que ele pagará.
1.Eu posso __sure você de que o país permanecerá estável.
Ambas frases tinham hosho em katakana, e ele precisava escrever o kanji correto.
Sem hesitar, ele escreveu ensure na primeira frase e assure na segunda.
“......”
Quando terminou, parou, sentindo a ponta do lápis vacilar. Uma dúvida, sem relação com a prova, surgiu em sua mente.
A razão pela qual sabia a resposta era porque havia estudado isso na noite anterior. Mas ele não conseguia se lembrar exatamente como. Algo parecia errado.
A sensação começou em sua cabeça e, gradualmente, tomou conta de seu corpo. Era muito desconfortável, como tentar lembrar de algo que teimava em não vir à tona. Estava na ponta da língua, mas preso ali.
Quanto mais pensava nisso, mais irritado ficava. Sentia como se algo gritasse dentro de si.
“...O que é isso?”
Ele não conseguia explicar. Era como...
Como uma luz de alegria em seu coração.
Como memórias doces e amargas.
Como uma lembrança de bons momentos.
Mas também havia uma tristeza intensa acompanhando tudo isso.
Uma emoção após a outra o atravessava, sumia e voltava em ondas, abalando-o profundamente.
Foi então que algo caiu em sua folha de respostas.
Ele se preocupou que fosse seu nariz escorrendo, mas não era isso. Algo caiu de seu olho.
Uma lágrima.
Sakuta olhou rapidamente para cima. Não podia simplesmente começar a chorar no meio de uma prova.
Ele respirou fundo, tentando se recompor, e uma voz flutuou pela sua mente.
“Então, qual é o par usado em: ‘Ninguém pode ensure o seu futuro’?” Ele conhecia aquela voz.
“Você também pode me mostrar: ‘A segurança de Sakuta não está assured se ele tentar trapacear em outra questão.’”
A névoa que obscurecia sua mente começou a se dissipar.
“Ensure significa garantir que algo aconteça, enquanto assure significa convencer alguém de que isso acontecerá.”
Ele havia respondido exatamente como ela lhe ensinara.
O lápis caiu de sua mão. Ele não deveria estar ali, sentado, fazendo essa prova. Não agora.
“Whoa!”
O colega sentado atrás dele recuou, surpreso. A garota ao lado deixou escapar um pequeno grito.
Todos levantaram os olhos de suas folhas, olhando para ele. O professor, que monitorava a prova do fundo da sala, o encarou confuso.
“O que foi, Azusagawa?”
“Número dois,” disse Sakuta A sala explodiu em risos.
“Foco, pessoal!”
Enquanto o professor se distraía, Sakuta saiu da sala rapidamente.
Ele passou direto pelos banheiros e desceu as escadas. A entrada principal estava longe demais, então ele simplesmente escalou a janela do primeiro andar. Ele havia se lembrado de algo importante. Memórias de alguém importante. Havia algo que ele precisava fazer por ela.
"Ah, isso vai ser horrível...", ele murmurou, já se encolhendo de antecipação.
O pátio da escola Minegahara se estendia à sua frente. Ele caminhava em direção ao centro, medindo cada passo.
"Que ideia idiota...", resmungou novamente.
A carta de Rio o havia levado a um plano. A última linha ecoava em sua mente: "A negação inconsciente da existência dela por parte dos alunos pode ser sobreposta pelo amor de Azusagawa."
Sakuta não tinha certeza se aquilo era a resposta certa, mas sabia que precisava tentar. Para ser honesto, ele não achava que as chances estavam a seu favor. Afinal, ele estava prestes a lutar contra o próprio ar.
Empurre, puxe ou dê um tapa: o ar nunca reagiria. O ar da escola. O mesmo ar que ele passara todo aquele tempo evitando enfrentar.
As pessoas responsáveis por criar aquela atmosfera nem sequer sabiam que estavam envolvidas. E, se não tinham consciência disso, por mais que ele argumentasse com paixão, seus pensamentos e sentimentos jamais as alcançariam. Elas apenas ririam de seu desespero.
Quanto mais ele se agitasse, mais frios seriam os olhares delas. Tudo o que ele encontraria seria aquele silêncio telepático, repleto de emoções não ditas, ordenando que ele "se tocasse."
Esse era o mundo em que viviam, e Sakuta estava profundamente consciente de seu lugar naquele mundo.
Era mais fácil seguir a onda de quem estava ao lado. Decidir sozinho o que era certo ou errado demandava muita energia, e, quanto mais fortes fossem suas opiniões, mais doía quando alguém discordava. Concordar com "todo mundo" era seguro. Confortável.
Ignorar o que você não queria ver. Não pensar no que não queria se preocupar. Deixar tudo isso nas mãos de outros.
O mundo era cruel assim.
Tão cruel que isolava alguém sem piedade, virando as costas para quem quer que fosse excluído. Para proteger o ar e a si mesmo, era fácil fingir que não notava. Não importava quem saísse ferido.
O mundo era tão cruel que se entregava a esse entendimento silencioso, sem sentir dor alguma pelo sofrimento dos outros.
Mas ‘’Todo mundo faz, então eu também fiz’ não era motivo suficiente para alguém ter que sofrer. E ‘Se todo mundo faz, deve estar certo’ não era, necessariamente, verdade. Afinal, quem definia esse ‘todo mundo?’
Se ele não a tivesse encontrado na biblioteca Shonandai naquele dia, talvez Sakuta tivesse permanecido parte desse vago ‘todo mundo.’ Ele seria apenas mais um contribuindo para o sofrimento dela.
Mas, agora que ele havia entendido, precisava resolver aquilo. Mesmo que isso o colocasse contra a escola inteira. Contra todos os alunos. Contra o ar que ele tanto evitara confrontar.
Sakuta não podia mais virar as costas para aquele problema. Porque ele havia encontrado algo mais importante do que manter o status quo.
Ele havia amado o tempo que passaram juntos.
Lembrava-se de como ela sempre o provocava por ser mais novo. Das piadas de duplo sentido que a deixavam tão envergonhada que ela ficava completamente vermelha. E de como tentava disfarçar, permanecendo teimosa e firme.
Lembrava-se de como ela fazia birra infantilmente quando ele não fazia o que ela queria.
Ela era um pouco egoísta, mandona e temperamental. Mas, apesar de ter um ano de vantagem, às vezes sua inexperiência ficava evidente. Ela já havia pisado em seu pé, beliscado sua bochecha e até mesmo lhe dado um tapa.
Ser arrastado por ela havia sido a melhor coisa de sua vida.
Quando ela retrucava, ficava indignada ou o chamava de atrevido, ele se sentia imensamente feliz.
Somente ela conseguia fazer Sakuta se sentir assim. Ela era a única pessoa no mundo capaz disso. E agora que ele conhecia aquela alegria, a vida não fazia sentido sem ela. Ele não tinha um plano. Mas sabia o que precisava fazer.
Era hora de parar de se preocupar com uma coisa ou outra. Ele tinha que fazer o que achava certo. O que sentia ser o correto. Que se dane as razões e desculpas.
Sakuta firmou os pés no chão. Respirou fundo, reunindo força no próprio âmago. Então, lançou o primeiro grito, do fundo de seus pulmões:
"Ouçam bem, todos vocês!" Todos estavam concentrados nos exames semestrais. A escola estava em silêncio, e sua voz ecoou longe.
"Sou Sakuta Azusagawa!" As vibrações já começavam a machucar sua garganta. Mas ele não iria recuar.
A primeira reação veio da sala dos professores. Uma janela se abriu, e três professores se inclinaram para fora, acenando para que ele fosse até lá. Sakuta os ignorou.
"Da turma 2-1! Carteira número um!" Um burburinho começou a se espalhar pela escola inteira.
"Tenho uma mensagem...!" Ele percebeu as pessoas sussurrando: "Lá fora!" Olhos começaram a se voltar para as janelas, um após o outro.
"Para Mai Sakurajima, da turma 3-1!"
Ao dizer o nome dela, ele sentiu arrepios por todo o corpo, emoções explodindo por cada poro e cada fio de cabelo. Era como se, naquele instante, tudo finalmente fizesse sentido. Ele sabia, com absoluta certeza, que seus sentimentos por Mai eram reais.
Sakuta soltou o ar de seus pulmões e respirou fundo novamente. Olhou para a escola, para as janelas das salas de aula, para os alunos que se reuniam ao redor delas, todos olhando para ele.
Com os olhos de mil pessoas fixos nele, Sakuta deixou seus sentimentos explodirem:
"Eu te amo, Mai Sakurajima!" Ele lançou à escola tudo o que tinha.
"Eu te amo, Mai!" Era como se estivesse tentando rasgar a própria garganta. Ele queria que todos na cidade, e além dela, soubessem como se sentia.
Para que ninguém pudesse ignorá-lo. Para que ninguém pudesse fingir que não tinha visto.
Ele colocou tudo para fora. Quando seu fôlego acabou, seu grito o deixou tossindo. Houve um longo e confuso silêncio. Então, um turbilhão de sussurros tomou conta do ar.
Todos os alunos estavam olhando para o pátio, para Sakuta. O olhar coletivo era como um martelo gigante, golpeando-o repetidamente. Mas, em vez de um único golpe fatal, era uma pressão lenta e indecisa, esmagando-o aos poucos.
Ele sentiu vontade de se virar e correr. Sair pelos portões da escola e voltar para casa. Sua apaixonada declaração de amor estava claramente falhando.
"Ah, droga! Eu sabia que isso ia acontecer. Estou só me fazendo de bobo. Merda." A frustração escapou de seus lábios.
"É por isso que eu não queria brigar com o ar!" Sob o peso dos olhares, Sakuta passou os dedos pelos cabelos, agoniado.
"Isso é o pior..." uma vez, o desejo de fugir cruzou sua mente. Ele olhou para os portões da escola.
"......" Mas seus pés não deram nem um passo nessa direção.
"Cheguei até aqui. Se eu não conseguir uma recompensa da Mai, qual é o sentido?"
Por pura teimosia, Sakuta se virou novamente para a escola e começou a gritar outra vez:
"Quero segurar sua mão e caminhar pela praia de Shichirigahama!" Ele nem sequer parou para pensar.
"Quero te ver naquele traje de coelhinha de novo!” Sakuta apenas deixou seus sentimentos o guiarem.
"Quero te abraçar e te cobrir de beijos!" Ele mal sabia o que estava saindo de sua boca.
"O que quero dizer é...! Eu te amo, Maiiiii!"
Seu grito ecoou pelo céu. Cada aluno e professor na escola o encarava, o que era incrivelmente desconfortável... mas, naquele momento, Sakuta estava tão eufórico que não se importava.ortava o preço, ele precisava trazer aquela alegria de volta.Era o preço que tinha que pagar.
Ele pode ter perdido Shouko Makinohara sem jamais dizer uma palavra, mas não permitiria que isso acontecesse de novo. Ele nunca mais queria sentir aquela dor.
"Estou farto de sempre ter que me adequar. Que se dane isso!"
No centro do pátio, Sakuta se virou lentamente para encarar o prédio da escola. Três andares se erguiam à sua frente. Mil alunos estavam dentro daquelas paredes.
A magnitude da situação o esmagava. E, se todos ignorassem seus esforços, ele estaria acabado. Um silêncio tomou conta da escola.
Como se todos tivessem combinado isso antes. Como um engolir em seco coletivo. Sakuta não sabia por quê.
Um estudante que ele não reconhecia estava apontando para ele pela janela. Ele também não sabia o motivo. No início, achou que estavam zombando dele. Mudou de ideia ao perceber que o dedo apontava para algo além dele.
Ele ouviu passos na terra. Alguém estava parado atrás dele. Sakuta ficou boquiaberto... e a voz dela chegou aos seus ouvidos.
"Eu consigo te ouvir perfeitamente. Não precisa gritar."
Parecia que fazia séculos desde a última vez que ouvira aquela voz. Como se tivesse esperado anos para ouvi-la novamente.
Sakuta se virou rapidamente. Uma brisa do mar soprou ao redor dos pés dela. A barra da saia balançou.
Os habituais collants pretos eram visíveis por baixo. Seus pés estavam firmemente plantados no chão, afastados na largura dos ombros. Uma mão repousava sobre o quadril, enquanto a outra afastava os cabelos que o vento insistia em bagunçar.
Seus olhos carregavam um ar maduro, mas o leve toque de irritação em sua expressão a fazia parecer mais jovem.
Uma onda de emoção subiu pelo corpo de Sakuta. Mai estava ali, a menos de dez metros de distância.
"Você vai incomodar o bairro."
"Eu só queria que todos no mundo soubessem."
"Eles não falam japonês."
"Ah! Não pensei nisso."
"Você é tão idiota", ela disse, abaixando a cabeça como se estivesse se contendo.
"Melhor do que fingir que sou esperto."
"Isso é ainda mais idiota." Os ombros dela estremeceram.
"Fazer algo assim só vai gerar mais rumores sobre você."
"Se forem rumores sobre nós, estou bem com isso."
"Não é isso que eu... Seu idiota."
"......"
"Droga, Sakuta!", ela gritou, levantando o rosto enquanto lágrimas escorriam por suas bochechas.
O primeiro passo dela em direção a ele foi em câmera lenta.Então, ela começou a correr.Sakuta abriu os braços, pronto para recebê-la.
Ela estava a três passos dele. Dois. Um.E então, um estalo ecoou pelo pátio da escola. O som reverberou pelos céus acima.
Chocado, Sakuta ficou parado, boquiaberto. Um momento depois, sua bochecha começou a latejar.Só então ele percebeu que Mai o havia esbofeteado.
"Eh? Por que isso?" ele perguntou, genuinamente confuso.
"Você mentiu para mim!" Ainda havia lágrimas em seus olhos. Ela o encarava como se estivesse prestes a explodir de tanto medo e frustração.
"Você disse que não ia se esquecer de mim!" Finalmente, ele entendeu. Ela tinha todo o direito de estar brava com ele. Ele havia mentido.
"Desculpa", ele disse, puxando o corpo trêmulo dela para perto. Ele apertou os braços ao redor dela com cuidado. Mai escondeu o rosto no ombro dele.
"Isso é imperdoável." A voz dela saiu abafada.
"Desculpa."
"Eu nunca vou te perdoar." Mai esfregou o rosto no ombro dele, fungando.
"Então eu não vou te soltar até você me perdoar."
"Então você vai me segurar pelo resto da vida." A voz dela ainda carregava um tom molhado pelas lágrimas.
"Uh..."
"Isso é um problema?" Ela havia parado de chorar, reprimindo as emoções.
"Nem um homem reclamaria de uma senpai tão bonita dizendo— Ai! Mai, meu pé!"
"Você me faz dizer tudo isso e ainda tenta se esconder atrás de generalizações? Como ousa!"
"Er... meu pé..."
"Você gosta de ser pisoteado, né?"
"Desculpa. Eu sinto muito! Me arrependo! Por favor, me perdoa!" Ela estava girando o salto no pé dele, e doía de verdade.
"Mais alguma coisa a dizer em sua defesa?"
"Se estava tão assustada a ponto de chorar, não deveria ter me dado pílulas para dormir!"
"Essas lágrimas são só uma atuação para mexer com sua cabeça."
"Então, obrigado por me fazer desistir de toda essa ideia de não dormir."
"De nada. Mas eu não quero sua gratidão agora." O salto dela voltou a pressionar o pé dele.
"Você sabe o que eu quero." Ela aplicou ainda mais força. Sakuta desistiu e disse as palavras que ela queria ouvir:
"Eu amo você."
"Mesmo?"
"Desculpa. Isso foi mentira. Eu sou absolutamente louco por você."
"......" Houve um breve silêncio, e então Mai deu um passo para trás. Suas lágrimas haviam desaparecido, restando apenas alguns traços em suas bochechas.
"Sakuta."
"O que foi?"
"Diga isso de novo daqui a um mês."
"Por quê?" ele perguntou, sem entender o que ela queria dizer.
"Se eu te responder agora, vai parecer que me deixei levar pelo momento."
"Eu estava esperando aproveitar o momento e partir direto para um beijo, na verdade."
"Meu coração está disparado, mas... pode ser só pela situação," disse Mai, virando o rosto para o lado, corada. O leve tom de vermelho em suas bochechas era incrivelmente fofo.
"Estou surpreso que você consiga se manter tão calma." Ela não estava se deixando levar pelo chamado efeito da ponte suspensa.
"E quero que você pense sobre isso também."
"Sobre o quê?" Ele já sabia o que sentia. Não havia mais nada para pensar.
"Eu sou mais velha que você."
"Isso é uma vantagem!"
"Estou um pouco hesitante em namorar um garoto mais novo."
"Você não confia em mim?"
"Não... Eu confio, mas..." Sua voz baixou para um sussurro. "Só parece que estou te seduzindo."
"Você está completamente me seduzindo, então..."
"Eu não estou!"
"Você vive me provocando!"
De cabeça, ele já conseguia se lembrar de várias vezes em que ela havia feito contato íntimo. Somando isso a todos os apertões na bochecha e pisões no pé, o resultado era um número considerável.
"Fui clara?"
"Eu não sei..."
"Sem reclamar."
"Eu não consigo esperar um mês! Que tal eu dizer isso todo dia?"Mai pareceu surpresa, mas também satisfeita. Ela sorriu.
"Está bem, mas você tem que manter isso por um mês. Se pular um único dia, vou assumir que mudou de ideia."
Ela cutucou o nariz de Sakuta e lançou-lhe um sorriso travesso. Ele queria aquela expressão só para si. Mas, só dessa vez, deixaria que todos vissem.
O corpo estudantil inteiro de Minegahara estava olhando para eles, perplexos, bocas abertas. Ninguém sabia como reagir. Estava claro que todos esperavam pelos outros para decidir o que pensar.
"As pessoas aqui gostam mesmo de seguir o fluxo," disse Mai sarcasticamente. Ela deu uma olhada pelas janelas ao redor e então respirou fundo antes de gritar:
"As histórias sobre Sakuta mandar colegas para o hospital? São só rumores!" Houve um breve silêncio. Então, ela se virou para Sakuta, parecendo orgulhosa de si mesma.
"Você queria que todos soubessem, certo?" Pensando bem, eles haviam conversado sobre isso no Enoden.
Um momento depois, uma onda de surpresa tomou conta dos alunos. A escola inteira estava ficando animada. Todos os olhares estavam fixos neles, fascinados.
"...Não era a reação que eu esperava," disse Mai. Naturalmente. Não foram os fatos que ela havia declarado que provocaram tal reação.
"Mai, você me chamou pelo meu primeiro nome. Acho que eles estão interpretando isso de um jeito errado," disse Sakuta.
Naquele instante, todos os presentes haviam parado de se preocupar com o que os outros poderiam estar pensando e se jogaram na possibilidade de um escândalo diante deles, obedecendo aos instintos profundos e irreprimíveis da adolescência. Era realmente impressionante o que aquele período da vida podia fazer.
"Graças a você, estamos atraindo muita atenção."
"Há apenas mil pessoas aqui. Isso mal pode ser considerado muita atenção. Você é tão sensível," respondeu Mai. Aqueles acostumados à fama certamente tinham uma perspectiva diferente.
"Talvez sejam três ou quatro zeros a menos do que você está acostumada, Mai, mas..."
Eventualmente, alguém decidiu que era hora de encerrar aquilo. O professor da turma de Sakuta, o diretor e um homem vestindo um agasalho esportivo, o instrutor de educação física, começaram a correr em direção a eles.
"Estou prestes a levar uma longa bronca, né?" comentou Sakuta.
"Não se preocupe."
"Com base em quê?"
"Eu vou com você e também vou levar uma bronca," respondeu Mai com um sorriso.
"Ah. Isso realmente soa melhor." Ao menos ele estaria ao lado dela.
Mai e Sakuta começaram a caminhar em direção à escola. Lado a lado. E assim, Mai Sakurajima retornou ao mundo.
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