A Senpai Coelhinha Japonesa

Tradução: GGGG

Revisão: Sakuta, Mon


Volume 1

Capítulo 4: Nossas Memórias

Eles pegaram a Linha Tokaido no sentido oeste a partir da Estação Fujisawa, viajando por cerca de uma hora. aproximadamente 50 quilômetros. Os vagões prateados com duas faixas ao redor, uma verde e outra laranja. os levaram da Prefeitura de Kanagawa até Atami, na Prefeitura de Shizuoka, uma cidade famosa por suas fontes termais. Já eram sete da noite. Eles precisavam saber: o que estava acontecendo com Mai? Quem conseguia vê-la? Quem ainda se lembrava dela?

A princípio, eles acreditavam que os sintomas da Síndrome da Adolescência estavam restritos apenas a Mai. Agora, a questão era a escala desse fenômeno que fazia Mai sofrer. Até onde isso se estendia?

No caminho, eles desceram nas estações Chigasaki e Odawara, mas ninguém parecia ser capaz de ver Mai. Sakuta perguntou a algumas pessoas sobre ela:

“Hã?”, “Quem?”, “Nunca ouvi falar dela.”, “Não conheço nenhuma novata.”

Nenhuma resposta positiva. Quando chegaram à Estação Atami, ele tentou novamente, mas nada mudou.

Parecia que todos realmente tinham esquecido Mai Sakurajima. Era como se ela nunca tivesse existido. Mai observava tudo sem demonstrar emoção. Não havia sequer um indício de surpresa, tristeza ou medo em sua calma, que parecia com a superfície imperturbável de um lago tranquilo.

Na plataforma da Estação Atami, Sakuta olhou para o painel eletrônico que mostrava o horário dos trens. Eles precisavam trocar de trem para continuar, mesmo sendo ainda na Linha Tokaido. O trem em que estavam fazia sua última parada em Atami. Ele sabia que havia um trem para Shimada que chegaria às 19h11. Não fazia ideia de onde ficava Shimada ou mesmo em qual prefeitura estava, mas sabia, pelo mapa da linha, que era mais a oeste que Shizuoka. Isso bastava.

Faltavam seis minutos para o trem partir. Eles tinham um pouco de tempo.

“Vou ligar para minha irmã.”  disse Sakuta.

Ele correu até o telefone público próximo à loja da estação. Inseriu uma moeda e levantou o fone. Depois de discar um número, ouviu o telefone tocar. Após alguns instantes, caiu na secretária eletrônica.

“Kaede, sou eu.”

Kaede nunca atendia ligações de ninguém além de Sakuta, então ele sempre tinha que começar falando na secretária eletrônica.

“Olá! Aqui é a Kaede.”

“Que bom que você ainda está acordada.”

“Ainda são sete horas!”  Mesmo sem vê-la, ele podia imaginar suas bochechas infladas.

“O que foi?”

“Desculpa. Não vou conseguir voltar para casa esta noite.”

“O quê?”

“Precisei ir bem longe por causa de algo.”

“Que tipo de coisa?”

“Bem…” Ele hesitou, mas decidiu que deveria perguntar.

“Kaede, você se lembra da garota que esteve em casa outro dia? Mai Sakurajima?”

“Nunca ouvi falar.”  Ela respondeu como se fosse nada.

“......”

As palavras seguintes não saíram. Ele mordeu os lábios, tentando conter a turbulência dentro de si.

“Quem é ela?”  Kaede perguntou, parecendo enciumada.

Sakuta mal conseguiu ouvi-la. Ter alguém próximo forçando-o a encarar a verdade era especialmente doloroso. Fumika Nanjou já tinha sido difícil, mas isso era muito pior do que estranhos dizendo que nunca ouviram falar de Mai.

As memórias que haviam compartilhado estavam realmente desaparecendo. Isso tornava tudo mais pessoal. Era muito mais real para ele.

“Bem, se você não se lembra, tudo bem.”  ele disse, esforçando-se.

“Você vai ter que se virar com o miojo instantâneo no armário da cozinha para o jantar. Escolha qualquer sabor. Não se esqueça de alimentar Nasuno. E escove os dentes antes de dormir. Vou ligar de novo. Boa noite.”

“O quê? Espere….”

A moeda de dez ienes que ele colocou no telefone acabou no meio da frase de Kaede, e a ligação foi desconectada. Além disso, o trem estava prestes a chegar.

“Vamos, Mai.”

“Sim, vamos.”

Sakuta e Mai embarcaram no trem que estava parado na plataforma dois, com destino a Shimada.

 

O trem partiu de Atami, contornando a costa do Pacífico enquanto seguia para o oeste. Eles trocaram de trem novamente nas estações Shimada e Toyohashi, deixando a Prefeitura de Shizuoka para entrar na Prefeitura de Aichi. Viajaram centenas de quilômetros, indo em direção à Prefeitura de Gifu.

Enquanto avançavam, Sakuta perguntava às pessoas desses lugares desconhecidos sobre Mai, mas não encontrou ninguém que soubesse quem era Mai Sakurajima ou sequer a tivesse visto. Agora, estavam em um trem rumo a Ogaki. Provavelmente, esse seria o limite das investigações daquele dia. Chegariam depois da meia-noite. A cada parada, menos passageiros permaneciam no trem.

As rodas do trem emitiam um som áspero ao correrem pelos trilhos. Os pequenos impactos entre os trilhos produziam um som suave, quase como um embalo. Com o barulho das multidões desaparecendo, os ruídos ao redor se transformaram em uma espécie de canção de ninar.

Um banco reservado para quatro pessoas ficou vazio, e Sakuta e Mai sentaram-se juntos em um dos lados.

“Segunda maior população da Prefeitura de Gifu, depois de Gifu City.”  disse Mai de repente, olhando para a tela de seu celular.

“O quê?”

Havia poucos passageiros restantes no vagão, talvez três, espalhados a certa distância. A sensação era de que ele e Mai estavam sozinhos.

“Ogaki.”

“Ah.” Ele conseguia ouvi-la claramente, mesmo quando falava baixo.

“Diz aqui que eles também têm muita água subterrânea.”

“Bom, eu nunca recuso uma boa água.”

“......”

“......”

Quando ficaram em silêncio, os sons do trem preencheram o espaço vazio. Estava escuro demais lá fora para aproveitar qualquer tipo de paisagem, mas Mai ainda apoiava o cotovelo na pequena mesa sob a janela, observando as terras desconhecidas que passavam.

Dez minutos se passaram sem que nenhum dos dois dissesse uma palavra.

“Ei, Sakuta…”

“O que foi?”

“Você consegue me ver?” Seus olhos, refletidos no vidro da janela, captaram o perfil de Sakuta.

“Consigo te ver.”

“E me ouvir?”

“Sim.”

“Você se lembra de mim?”

“Você é Mai Sakurajima. Uma estudante do terceiro ano da Minegahara High, em Kanagawa. Uma atriz mirim famosa que fez ainda mais sucesso depois.”

“O que isso quer dizer?”

“Como resultado de sua fama desde criança, ela se tornou um pouco complicada e incapaz de compartilhar seus verdadeiros sentimentos.”

“Quem? Eu?”

“Você está com medo, mas está tentando esconder isso.”

Dizendo isso, Sakuta segurou a mão dela. Mai ergueu as sobrancelhas, surpresa. Seu olhar caiu para as mãos dos dois.

“Eu não disse que você podia segurar minha mão.”

“Mas eu quero.”

“......”

“Acho que mereço uma pequena recompensa aqui.”

“...Então vá em frente.”

Mai voltou seu olhar para a janela, mas seus dedos se entrelaçaram com os dele. Como um casal de namorados. Um pouco embaraçoso. Um pouco emocionante.

“Não se acostume com isso.” disse Mai.

Ele tinha certeza de que ela estava corando, mas também parecia se divertir com a expressão no rosto dele.

Eventualmente, o sistema de som anunciou que a próxima parada seria Ogaki, o fim da linha. Eles permaneceram de mãos dadas até o trem parar.

Quando desceram na plataforma da Estação Ogaki, já era 12h40, um novo dia. Sakuta perguntou a um funcionário sobre Mai e recebeu um "Nunca ouvi falar dela" como resposta. Então, eles saíram pelos portões.

Escolheram a saída sul ao acaso, caminharam até o terminal de ônibus e pararam ali. Sakuta estava preocupado que fosse o tipo de estação com nada ao redor, mas parecia estar no coração da cidade. Havia prédios e estabelecimentos por toda parte. Não seria tão difícil encontrar um lugar para passar a noite.

A única questão era onde ficar. Sozinho, Sakuta usaria um mangá café em vez de um hotel, mas ele não queria levar Mai para um lugar assim. Mais importante ainda, essa opção foi descartada quando Mai disse:

“Eu realmente preciso de um banho.”  assim que saíram do trem.

Sakuta sentia o mesmo. Eles haviam passado muito tempo na brisa salgada de Shichirigahama, e ele definitivamente precisava de um banho. Suas roupas estavam pegajosas, e tinha certeza de que ambos cheiravam a sal.

Ele considerou algumas opções, mas decidiu que a aposta mais segura seria o hotel empresarial em frente à estação. Perguntou se havia quartos disponíveis, e o homem na recepção lançou-lhe um olhar profundamente desconfiado. Uma reação totalmente normal quando um garoto do ensino médio, sem bagagem, tenta alugar um quarto no meio da noite.

Mesmo assim, conseguiu passar pelo processo de check-in sem problemas. Pagou a diária antecipadamente para evitar mais suspeitas. Como o recepcionista não podia ver Mai, não havia necessidade de registrá-la. Sakuta se virou para confirmar se ela estava bem em compartilhar o quarto, mas ela já estava indo em direção ao elevador.

O elevador estava esperando, então eles entraram e subiram até o sexto andar. O quarto deles ficava no final do corredor: Quarto 601.

Quando Sakuta se atrapalhou tentando descobrir como usar a chave-cartão, Mai estendeu a mão e abriu a porta para ele.

“Você precisa empurrar a chave até o final e depois puxá-la para fora.”

Sakuta tentou ele mesmo. Não parecia certo. Não tinha a sensação de que tinha destrancado nada. Mas, como Mai disse, a porta indiscutivelmente abriu.

Era um quarto simples. Uma cama, uma mesinha com um espelho e uma cadeira em frente. Também havia uma TV de 19 polegadas, um minirrefrigerador e uma chaleira elétrica.

O espaço era apertado. A cama ocupava cerca de 70% do ambiente. Quando ele comentou isso, Mai zombou, dizendo:

“Isso é padrão.”

Ela se sentou na cama, usou o controle remoto para ligar a TV e tirou as botas. Enquanto balançava as pernas, passou por todos os canais antes de desligá-la.

Mai deixou-se cair de costas na cama. Ela devia estar exausta. Passaram o dia inteiro sentados, mas isso já tinha sido suficiente para deixar Sakuta completamente cansado. Seu corpo todo parecia pesado.

“Vou tomar um banho” anunciou Mai, sentando-se.

“Fique à vontade.”

“Sem espiar.”

“Não se preocupe. O som do chuveiro já vale por três refeições.”

“......” Mai apontou silenciosamente para a porta. Um sinal claro para ele sair.

“Permitir que um garoto mais jovem ouça o som do seu banho e se contorça de agonia é um privilégio reservado para mulheres confiantes e maduras.”

“Q-que absurdo! Eu já sabia disso, obviamente,”  Mai bufou, tentando soar indiferente.

“Só não faça nada estranho aqui fora.”

“Estranho como?” Ele sabia exatamente o que ela queria dizer, claro.

“Estranho do tipo estranho! Não me faça explicar!”

Ela virou as costas e foi para o banheiro. A porta se fechou com um estrondo atrás dela, seguido por um clique alto ao trancar a fechadura.

“Isso foi realmente fofo.”  murmurou Sakuta.

Eventualmente, ele ouviu o chuveiro ligar.

Ouvindo com atenção, Sakuta examinou o telefone do quarto. Parecia que permitia chamadas externas. Ele pegou o fone e discou o celular de seu amigo, o único número que sabia de cor.

No meio do terceiro toque, uma voz familiar atendeu.

“Você sabe que horas são?”  perguntou Yuuma, soando sonolento.

“Uma e dezesseis da manhã.” Havia um relógio embutido na cabeceira da cama.

“Eu sei!”

“Você estava dormindo?”

“Dormindo profundamente! Os treinos e o trabalho me acabaram.”

“É uma emergência. Preciso da sua ajuda.”

“Com o quê?”

“Primeiro, uma pergunta: você se lembra de Mai Sakurajima?”

Ele não tinha muita esperança. Já havia perguntado a dezenas... talvez centenas... de pessoas sobre Mai sem nunca obter a resposta que queria.

“Hã? Claro que sim.”

“É, imaginei que não” respondeu automaticamente, por reflexo.

“O quê? Claro que lembro.”  insistiu Yuuma, ainda soando sonolento.

O cérebro de Sakuta começou a girar. O que Yuuma acabara de dizer?

“Kunimi!”

“Ugh, por que você está gritando?”

“Você lembra da Mai Sakurajima? A Mai Sakurajima?”

“Por que eu não lembraria?”

Ele não sabia o motivo. Não fazia sentido. Mas Sakuta finalmente havia encontrado o que estava procurando, da forma mais inesperada. A alegria e a surpresa fizeram seu coração bater tão rápido que chegou a doer.

“É só isso? Posso voltar a dormir?”

“Espera. Me passa o número da Futaba.”

“Ah, tá…”

Yuuma começava a despertar. Resmungando, ele ditou o número de celular de Rio Futaba. Sakuta encontrou um bloco de notas ao lado do telefone e anotou rapidamente.

“Você vai ligar pra ela agora, Sakuta?”

“Por isso pedi o número.”

“Ela vai ficar furiosa se você ligar.”

“Não se preocupe. Eu também ficaria.”

“Então tá. Você me deve um almoço por isso. E a Futaba também.”

“Fechado. Boa noite.”

“É... boa noite…” Yuuma desligou. Sakuta imediatamente discou o número de Rio. Ela atendeu.

“Aqui é o Azusagawa.”  disse ele.

“Você sabe que horas são?” reclamou ela, irritada. Mas sua voz estava clara, sugerindo que talvez ainda estivesse acordada.

“Uma e dezenove da manhã.”

“Uma e vinte e um. Seu relógio está atrasado.

“Sério? Achei que um hotel empresarial acertaria isso.”

“Tem um minuto? Preciso de um conselho seu.”

“Você se meteu em encrenca de novo, né?”

“Não sei se isso conta como encrenca.”

“Estou ouvindo um chuveiro. É a Sakurajima?”

“...Como você sabe?” Aquilo foi direto ao ponto, e algo sobre isso o incomodava.

“Sua adorável irmãzinha não tomaria banho a essa hora. E eu sei pelo identificador de chamadas que você não está em casa.”

Enquanto ela falava, ele percebeu o que estava errado.

“Futaba, você também lembra da Sakurajima? Você a conhece?” Ele precisava ter certeza.

“Por que eu não conheceria alguém tão famosa? Você é um completo idiota?”

“Algo incrivelmente absurdo está acontecendo. É por isso que estou ligando a essa hora ridícula.” Rio suspirou.

“Tá bom. Se você tem algo absurdo a dizer, pode falar.”

Sakuta levou cerca de vinte minutos para explicar tudo o que estava acontecendo com Mai. Fez o possível para deixar conjecturas de fora, relatando apenas o que havia testemunhado pessoalmente. Rio fez algumas perguntas ao longo do relato, mas principalmente ouviu atentamente.

“...O que acha?”  perguntou ele, quando terminou. Houve um longo silêncio.

“Entendi.” disse ela, por fim. Deu um suspiro pensativo.

“Você e a Sakurajima estão bem mais próximos do que eu imaginava.”

“Isso é tudo o que você tirou disso?”

“Eu não queria ouvir a sua história de amor.”

“Eu não pedi ajuda nesse sentido!”

“Você acabou de passar vinte minutos se gabando disso. E a essa hora da noite.”

“Eu não estava me gabando!”

“Então estava se exibindo.”

“Seja razoável!”

“Isso tudo é intrinsecamente irracional.”  resmungou Rio.

“É, eu sei, mas... pense nisso. Comparado a eu estar com a Mai Sakurajima, as pessoas não enxergarem ou esquecerem que ela existe parece totalmente normal.”

“Concordo totalmente.”

“Argh…” Ele estava brincando, mas Rio concordou sem hesitar.

“Mas, como eu já disse antes, não acredito que a Síndrome da Adolescência seja real.

“Eu sei. Porque não é lógica, certo?”

“Exato.”

Mas ela não acusava Sakuta de estar mentindo, porque ele havia mostrado as cicatrizes no peito e contado sobre o que aconteceu com Kaede. Rio havia dito:

“Pode não ser lógico, mas, se eu acreditar na sua história, isso explica algumas coisas.”

Naturalmente. Sakuta estava dizendo a verdade, afinal. A Síndrome da Adolescência de Kaede foi uma das principais razões pelas quais ele saiu de casa e foi para o Colégio Minegahara. Caso contrário, ele teria apenas frequentado a escola local, nunca teria conhecido Shouko Makinohara, e nem sequer saberia que o Colégio Minegahara existia.

“Então, o que você espera de mim?”

“Preciso da sua ajuda para entender por que isso está acontecendo e encontrar uma solução.”

“Isso é pedir muito, Azusagawa.”

“Estou desesperado o suficiente para pedir mesmo assim.  “

“......”

“Futaba? Ainda está aí?”

“Kunimi uma vez disse…”

“Hã?” Por que ela estava mencionando Yuuma agora?

“Que sua melhor qualidade é ser capaz de dizer coisas como ‘obrigado’, ‘desculpa’ e ‘me ajuda’.”

“Quero dizer, não é como se eu dissesse isso para qualquer pessoa além de vocês dois.”

Ele estava desconversando, envergonhado, mas Rio apenas deu um risinho de desprezo.

“Tudo bem.”  disse ela. 

“Vou tentar pensar sobre isso. Mas não espere muito.”

“Estou esperando muito!”

“Olha…”

“Obrigado. Isso já ajuda muito.”

Sinceramente, Sakuta estava com medo. Ele não via saída. Não se sentia tão assustado desde a pior fase da Síndrome da Adolescência de Kaede. Não fazia ideia de onde começar a lutar, e isso era aterrorizante.

Talvez Sakuta perdesse a capacidade de ver Mai. De ouvir sua voz. Ele poderia até mesmo esquecer que ela existia. Essa era a coisa mais assustadora de todas.

“Você vai à escola amanhã?”

“Estamos em Ogaki agora, então... pelo menos de manhã, não. Por quê?” Rio não perguntaria sobre seus planos sem um bom motivo.

“Pensando rápido, a escola é a única coisa que conecta você a mim e ao Kunimi.”

“Entendi.”

“Então pensei que a escola poderia ser a origem de tudo isso.

“...Pode ser.”

Sakuta acabou de se lembrar de algo. Hoje  bem, tecnicamente ontem  pouco depois de encontrar Mai, eles deram de cara com Tomoe Koga, a garota que ele conheceu ajudando uma criança perdida.

Mas, na estação, Tomoe viu Mai perfeitamente. Assim como as amigas dela.

“Talvez ter vindo até aqui tenha sido uma perda de tempo…”  disse ele. Ele contou a Rio sobre Tomoe e suas amigas.

“Eu não chamaria isso de uma perda total.”  respondeu Rio.

“As informações que você reuniu nos dão uma compreensão mais precisa da situação dela. E isso nos ajudou a formular a hipótese de que a causa raiz está ligada à escola.”

“Ah... Bom, isso é ótimo. Provavelmente não vou chegar antes do meio-dia amanhã, mas estarei na escola. Desculpe ligar no meio da noite.”

“É bom mesmo estar arrependido.

Rio bocejou e desligou. Sakuta colocou o telefone de volta no gancho. Ele percebeu que estava de pé sem motivo e sentou-se na cama. O chuveiro havia parado. Ele estava tão focado na ligação que nem notou.

“Argh! Que desperdício!”  murmurou.

A porta do banheiro se abriu uma fresta. Mai enfiou a cabeça para fora, com uma toalha enrolada na cabeça. Ele conseguiu ver seu ombro, avermelhado pela água quente, com vapor subindo de sua pele.

“Roupa íntima!.” disse ela.

“Hã?”

“Posso usar as mesmas roupas, mas roupa íntima e meias? Ew!

“Quer que eu lave para você?

“Prefiro morrer.”

“Se fosse sua roupa íntima, eu não ligaria o quão suja estivesse.”

“Não estão sujas!”

“Que pena. Isso poderia ser mais... valioso.”

“Pare com essas fantasias nojentas!

Mai tirou a toalha da cabeça e jogou em Sakuta. Acertou-o bem no rosto. Ele estava ocupado demais olhando o cabelo molhado e brilhante dela para desviar.

Mas não desviar tinha sido a escolha certa. Um cheiro doce estava impregnado na toalha, provavelmente do shampoo.

“Posso presumir que você está completamente nua agora?”

“Estou com uma toalha de banho!”

“Ohhh!”

“Para de imaginar coisas!”

“Sou livre para imaginar o que quiser.”

“Por que você é tão pervertido?!”

“Como não me animar quando estou dividindo um quarto de hotel com uma garota tão linda quanto você?”

“Está dizendo que a culpa é minha?!”

“Mesmo arredondando para baixo, pelo menos metade da culpa é sua.” Enquanto falava, ele se levantou, conferindo sua carteira.

“Vou até a loja de conveniência comprar roupas íntimas. Também preciso trocar as minhas.”

“Tem certeza?”

“Tenho dinheiro suficiente.

Ele mostrou o conteúdo modesto da carteira. Antes de sair da Estação Fujisawa, ele havia sacado todo o dinheiro que ganhou trabalhando. Era algo em torno de cinquenta mil ienes, mais que o suficiente para comprar roupas íntimas de quinhentos ienes que as lojas de conveniência vendiam.

“Não, quero dizer... garotos não ficam envergonhados com esse tipo de coisa?”

“Hm? Ah, claro, um pouco. Mas já me acostumei.”

“Sério?”  Mai piscou, sem entender o que ele queria dizer.

“Depois de comprar coisas para os períodos da minha irmã, parei de ligar. Até comecei a achar engraçada a reação dos atendentes.”

Como Kaede não saía de casa, era Sakuta quem comprava as roupas e os itens dela.

“Você é o pior tipo de cliente.”

“Volto já.”

“Espere, eu vou também.”

Mai recuou e fechou a porta. Trancou-a de novo. Ela estava realmente na defensiva. Nenhuma confiança nele.

“Posso lidar com isso.”

“Tenho medo do que você vai escolher.”

“Não é como se eles tivessem muita variedade. Lojas de conveniência só vendiam o básico.

“Só a ideia de usar roupas íntimas compradas por um garoto me dá arrepios!”

Ela devia estar se vestindo naquele banheiro minúsculo. Ele conseguia ouvir uns gemidos leves entre as palavras. Até isso parecia meio sensual.

Depois de um tempo, o som de um secador de cabelo começou a ecoar.

Ele ficou esperando por mais de dez minutos até que ela saísse.

“Vamos lá.” disse ela.

“Aqui vamos nósss.”

Sakuta e Mai saíram do hotel pela porta dos fundos, principalmente para evitar passar pela recepção. Um estudante do ensino médio viajando sozinho já chamava atenção, e não havia razão para gerar mais suspeitas do que ele já tinha causado ao fazer o check-in.

O fato de ninguém poder ver Mai era uma vantagem aqui. Se eles tivessem se registrado como um casal, teriam levantado ainda mais suspeitas, o que poderia ter resultado em envolvimento policial. Claro, se as pessoas pudessem ver Mai, eles nunca teriam vindo até aqui em primeiro lugar...

Sakuta olhou para cima e para baixo na rua. Cerca de cinquenta metros da estação, havia uma placa verde iluminada, uma loja de conveniência.

Eles a escolheram como destino.

A essa hora da noite, poucas pessoas estavam fora de casa. A princípio, nenhum deles falou nada.

“É uma sensação estranha.”  disse Mai, finalmente. Ela estava com as mãos cruzadas atrás das costas e parecia estar apreciando a vista da cidade adormecida ao redor.

“O quê?”

“Estar em uma cidade desconhecida assim.” Mai fazia questão de clicar os saltos contra o chão, como se marchasse.

“Achei que você viajava muito para filmagens.”

“Eu não ia a lugar nenhum. Eu era levada.”

“Ahhh, entendi.

Ele já tinha viajado com a família até Okinawa, bem mais longe que Ogaki. E a viagem escolar do ensino fundamental foi para Nikko. Ele esteve em muitos lugares durante excursões escolares, mas nenhuma dessas vezes realmente parecia que ele havia "ido" lá por conta própria.

Como Mai disse, ele apenas fora "levado".

De certa forma, Sakuta estava aproveitando essa viagem, assim como Mai. Ele provavelmente sentiu um frio na barriga ao experimentar algo novo, quando pegaram a linha Tokaido na Estação Fujisawa.

Eles escolheram um trem sem destino certo, apenas tentando ir o mais longe possível. Buscando alguém que pudesse ver Mai, alguém que pudesse se lembrar dela...

Eles tinham vindo por conta própria. Teriam que voltar sozinhos também. Isso era estressante, mas de um jeito estranho, também era divertido.

Era como se estivessem em uma aventura juntos. Colocando o Síndrome da Adolescência de lado, eles haviam completamente deixado sua rotina diária para trás. E essa sensação de novidade era prazerosa.

“Sempre que eu não estava gravando, ficava presa em um hotel. Mesmo que eu nunca tivesse ido ao local antes, todo mundo que morava lá já me conhecia, então eu não queria andar muito por aí.”

“Isso é uma forma de se gabar?”

“Você sabe que não é, mas pergunta mesmo assim. Só está querendo atenção?”

Os olhos dela sorriam. Ela o via completamente através de sua fachada.

“Pegou no pulo.”  ele admitiu, meio sem graça.

“Você é como uma criança.” Mai riu. 

“Mas acho que a coisa mais estranha disso tudo é eu estar andando por uma cidade desconhecida com um garoto mais novo.”

“Eu com certeza nunca imaginei que iria a um lugar tão longe com a Mai Sakurajima.”

“Você deveria se sentir honrado.”

“É uma honra que nunca vou esquecer.”

Sakuta escolheu as palavras com cuidado, completamente ciente do peso delas. Não era algo que poderiam evitar. Mai estava, de fato, desaparecendo das memórias das pessoas.

“......” Mai não respondeu. Isso fez Sakuta querer reforçar a ideia.

“Nunca vou esquecer isso.”

“......Mas e se você esquecer?

“Vou comer Pocky pelo nariz.

“Não brinque com comida.”

“Essa foi a sua ideia!” Havia um sorriso nos lábios de Mai, mas só isso.

“Sakuta.”

“O quê?”

“Você jura?”

“......”

“Você realmente não vai me esquecer?” Os olhos dela vacilavam. Como se ela o estivesse testando.

“A imagem do seu traje de coelhinha está gravada no meu cérebro.” Mai soltou um longo suspiro.

“Você ainda tem o traje, certo?”  ela perguntou, soando absolutamente certa de que ele tinha. E era verdade, então...

“Claro.”

“Então você já fez coisas horríveis com ele.”

“Ainda não.”

“Jogue fora quando chegar em casa.”

“Ahhh…”

“Sem protestos!

“Eu estava esperando te convencer a usá-lo de novo.”

“Não sei como você consegue dizer isso com a cara limpa.” Ela parecia completamente horrorizada.

Sakuta não desistiria tão fácil. Ele continuou a encará-la.

“Bem, talvez uma vez” ela cedeu. Havia apenas um pouco de embaraço na voz dela.

“Para te agradecer por tudo isso.”

“Não, obrigada a você!”

“Realizar as fantasias sexuais de um garoto mais novo não é nada para mim.” disse ela, embora não estivesse olhando para ele. Estava escuro demais para ter certeza, mas o rosto dela parecia bem vermelho.

“Bem, primeiro, precisamos te comprar algumas roupas íntimas.”

“Não vou deixar você escolher.”

Eles chegaram à loja antes que a discussão fosse resolvida.

O homem atrás do balcão cumprimentou Sakuta sem entusiasmo. Não havia clientes. Havia um outro funcionário aproveitando a calmaria para reabastecer a seção de doces.

Eles encontraram o que precisavam em uma prateleira perto da entrada. Sakuta pegou uma cesta e seguiu Mai.

Meias, camisetas, toalhas, meias-calças e, claro, as roupas íntimas e camisolas que estavam procurando.

Ele nunca havia prestado muita atenção antes, mas havia uma seleção melhor do que esperava. Tudo estava dobrado e embalado em pequenos pacotes de plástico, prontos para levar.

A seção feminina consistia em calcinhas e camisolas, vendidas separadamente. Havia tamanhos P ou M, e as únicas cores disponíveis eram preto e rosa.

Sem hesitar, Mai pegou uma calcinha preta e uma camisola combinando, jogando-as na cesta. Depois, acrescentou um par de meias.

“Rosa seria legal.”

“Você não vai vê-las de qualquer jeito.”

“Que pena. Eu adoraria.”

“Fale como um idiota, e você vai virar um.”

Mai reprimiu um bocejo e foi até os refrigeradores de bebidas.

Parecia inútil insistir, então Sakuta pegou uma camiseta, meias e uma cueca boxer para si e a seguiu.

“Preto também serve.”

“O que você disse?”

“Nada!”

De volta ao hotel, eles trocaram de roupa e encheram a barriga com onigiris e sanduíches. Já tinham comido no caminho, mas isso havia sido mais de quatro horas atrás, e ambos estavam bem famintos desde então.

Depois dessa refeição rápida, Sakuta tomou um banho. Quando saiu...

“Vamos voltar logo pela manhã.”  ele disse. Mai pareceu surpresa ao ouvir isso.

“Está preocupado com sua irmã?”  ela perguntou.

“Isso também. Mas eu encontrei alguém que ainda se lembra de você.

“...Você encontrou?”

“Meus dois amigos na escola Minegahara.

“Quando você...?”

“Liguei enquanto você estava no banho.” Ele olhou para o telefone do quarto.

“Ligar tão tarde assim pode acabar com uma amizade.”

“Eu pedi desculpas. Vai ficar tudo bem.”

“Que confiança.”

“Se qualquer um deles fizesse o mesmo comigo, eu perdoaria.

“Espero que esteja certo. Mas... ah. Então eu não era a última pessoa que se lembra de mim.”

“Talvez a causa disso esteja na escola.”

Ele não podia ter certeza. Mas era a única pista que tinha. Precisavam depositar suas esperanças nisso e agir de acordo.

“Certo. Então vamos dormir.”

“Hum... onde eu devo dormir?”

Mai já tinha reivindicado a cama. Ela estava usando um roupão como pijama. Olhou para ele sem responder.

“No chão? Na banheira? Acho que o hotel vai reclamar se eu dormir no corredor.”

Ela o encarou por mais um longo minuto e depois olhou para a cama de solteiro. Pensou por um bom tempo. Então perguntou:

“Promete não fazer nada?”

“Eu juro” ele respondeu imediatamente.

“Mentiroso.” Nem um pingo de confiança.

“Mas acho que fui eu que me deixei ser levada para um hotel por você.”

“Não faça parecer que eu te enganei!”

“Vou permitir que você deite ao meu lado. Só para dormir, entendeu?”

“Sério?”

“Prefere o corredor?”

“Adoraria dormir com você. Dadas as circunstâncias, aquilo soou como outra coisa completamente diferente.”

“......”

Definitivamente parecia ter despertado a desconfiança dela. Ele rapidamente reformulou.

“Quero dizer, adoraria dormir ao seu lado.”

“......Tá bom.” Mai abriu espaço. Sakuta deslizou para o lado. O lugar onde ela estava sentada ainda estava quente.

“......”

“......” Ele tentou dormir. Mas...

“Sakuta…” Mai disse.

“Sim?”

“Isso está muito apertado.”

A cama de solteiro definitivamente não foi feita para dois. Não parecia que eles conseguiriam se mexer enquanto dormissem.

“Quer que eu me mexa?”  ele perguntou, virando-se para ela.

Ela fez o mesmo, e seus olhos se encontraram. O rosto dela estava a poucos centímetros do dele. Mesmo na penumbra, ele quase podia contar seus cílios.

“Diga algo.”

“O quê?”

“Algo divertido.”

“Essa é uma exigência alta. Você gosta de me atormentar?” Sarcasmo era sua defesa.

“Talvez” ela disse, sem mudar a expressão.

“Se você não gosta disso, por que faz?”

“Porque você gosta de ser atormentado por mim.”

“E então você brinca comigo sabendo disso! Você nasceu para ser uma rainha.

“Seu lado masoquista é tão óbvio que eu preciso te dar alguma recompensa.”

“Nenhum homem vivo ficaria indiferente sendo atormentado por uma senpai tão bonita.

“Isso foi um elogio?”

“Um dos melhores.

“Hmph. A conversa foi perdendo o ritmo.

Sem as vozes para preencher o espaço, os únicos sons eram o ruído do ar-condicionado e do ventilador no banheiro. Nenhum carro passava na rua lá fora. Nada vinha dos quartos vizinhos.

Eram apenas os dois. Sakuta estava sozinho com Mai em um pequeno quarto de solteiro.

Ele não fez esforço para desviar o olhar dela. Mai não fez esforço para desviar o olhar dele.

“......”

“......” Um longo silêncio se passou entre eles.

Piscadas ocasionais. O som da respiração dela. Sem aviso, os lábios dela se moveram.

“Devíamos nos beijar?” ela disse. Ele ficou surpreso. Mas não abalado.

“Está se sentindo atrevida, Mai?”

“Você é um idiota.”

Ela não se irritou com a piada. Nem ficou nervosa ou envergonhada. Sua única reação foi sorrir, como se achasse graça.

“Vamos dormir. Boa noite.” Ela se virou, ficando de costas para ele.

Seu cabelo caiu para o lado. Ele podia ver a nuca dela. Se continuasse olhando, tinha certeza de que acabaria colocando os braços ao redor dela, então também se virou, deitando de costas para ela.

“Sakuta.”

“Achei que estávamos dormindo?”

“Se eu começasse a tremer como uma folha e, entre soluços, dissesse: ‘Eu não quero desaparecer!’, o que você faria?”

“Eu te abraçaria por trás e sussurraria: ‘Vai ficar tudo bem.’”

“Então, nunca vou dizer isso.”

“Não seria o suficiente?”

“Tenho a sensação de que você ‘acidentalmente’ apalparia meus seios.”

“E se fosse o seu bumbum?”

“Obviamente, fora dos limites”  respondeu ela, como se estivesse afastando um incômodo. Após um breve silêncio, ela falou com a voz quase inaudível:

“Tomei minha decisão de voltar a trabalhar. Eu não posso desaparecer agora.”

“É isso aí.”

“Quero muito fazer TV e filmes. Adoraria tentar atuar no teatro também. Quero trabalhar com diretores, colegas de elenco e equipes incríveis. Fazer trabalhos grandiosos. Sentir que estou viva de novo.”

“Então é rumo a Hollywood!”

“Haha, isso seria bom.

“Melhor eu pegar seu autógrafo agora.

“Eles já valem bastante, sabia?”

“Imagino que sim.”

“Eu realmente... não posso desaparecer agora.”

“......”

“Não quando acabei de conhecer esse garoto atrevido que me faz realmente querer ir para a escola.”

“Eu não vou me esquecer de você.” Eles se deitaram de costas um para o outro.

“......” Ela não respondeu.

“Prometo que não vou esquecer você, Mai.”

“Como você pode ter certeza?”  Sakuta ignorou a pergunta.

“Assim podemos nos beijar a qualquer momento. Não precisa ser agora. Não temos que apressar as coisas. Nem precisa ser comigo. Eu sei que você pode chegar a Hollywood. Você pode fazer qualquer coisa que quiser. Tenho certeza disso.”

Mai ficou em silêncio por um momento.

“...Você tem razão” disse ela. 

“Que pena. Você perdeu sua única chance de roubar meu primeiro beijo.”

“Você deveria ter me avisado!”

“Tarde demais.” Ele pôde ouvir as risadas dela, mas logo elas cessaram.

“Obrigada”  disse ela.

“Por não desistir de mim. Obrigada.”

“......”

Sakuta não respondeu. Ele estava fingindo estar dormindo. Se continuassem conversando, ele com certeza acabaria a abraçando.

Depois de um tempo, a respiração de Mai se acalmou. Ela havia adormecido.
Sakuta tentou dormir também, mas estava muito consciente da presença dela ao seu lado para conseguir pregar os olhos.

 

Sakuta nunca chegou a pegar no sono. Ele passou as horas até o amanhecer ouvindo o som da respiração de Mai ao seu lado. Ele definitivamente ficou excitado algumas vezes. Mas, por mais que olhasse fixamente para o rosto dela, Mai não acordava. Ficar agitado sozinho fazia com que ele se sentisse como uma criança boba. Outras vezes, a ideia de ser o único preocupado com aquilo era simplesmente deprimente.

Adormecer teria sido muito melhor, mas, com ela deitada ao seu lado e o cansaço da longa viagem, seu corpo estava tenso, e ele nunca chegou a sentir sono de verdade. Havia um calor inquietante dentro dele que passou a noite toda bagunçando sua mente.

Depois de várias horas desperdiçadas, o mundo do lado de fora das cortinas começou a clarear.

Mai acordou às seis e meia, e eles deram bom dia um ao outro. Então começaram a se preparar para fazer o check-out. Mas, como não tinham levado quase nada, Sakuta ficou pronto quase imediatamente.

Mai, no entanto, não foi tão rápida. Ela insistiu em tomar banho primeiro, o que levou bons trinta minutos. Quando finalmente saiu, disse que ainda precisava se arrumar, forçando Sakuta a esperar no corredor. Totalmente injusto.

Para passar o tempo, ele voltou à loja de conveniência para comprar algo para o café da manhã. Ele fez tudo com calma.

Quando voltou, cada um comeu um pão doce, e finalmente puderam fazer o check-out. Já passava das oito horas.

Eles voltaram à estação Ogaki e pegaram um trem. Desta vez, o trajeto seria muito mais rápido, pois, ao contrário do dia anterior, usaram o Shinkansen de Nagoya, o que encurtou consideravelmente a viagem de volta até a estação Fujisawa.

Sakuta estava de volta em casa antes do meio-dia. Viva o trem-bala! Era incrivelmente rápido.

Ambos passaram em casa para deixar suas coisas e se encontraram trinta minutos depois.

Mai já esperava na frente da casa dela, vestindo o uniforme escolar, quando Sakuta chegou, abafando um bocejo.

“Você parece acabado.” comentou ela.

“Você está linda como sempre!”

“Sua gravata está torta. Espere um pouco.” Ela entregou a bolsa escolar para ele e ajeitou a gola da camisa.

“Nunca imaginei que estaríamos agindo como recém-casados tão cedo. Obrigado.”

“Sua cara já é estúpida o suficiente. Não precisa agir como tal.” Ela puxou a bolsa de volta e saiu andando.

“Ei! Espere!” Ele correu atrás dela, e os dois começaram a caminhar lado a lado.

As ruas que Sakuta percorria todos os dias pareciam velhas amigas. Se não soubesse melhor, teria jurado que havia passado uma semana inteira fora. Mesmo que tivessem saído apenas no dia anterior.

Menos de um dia, na verdade, já que ele havia chegado tarde para o encontro. Mesmo assim, tudo isso já parecia uma memória distante.

Enquanto refletia sobre isso, ele acabou bocejando. Ficar acordado a noite toda cobrava seu preço. Ele sentia como se pudesse adormecer a qualquer momento.

“Hein? Você não dormiu?” perguntou Mai, olhando para seus olhos, que deviam estar vermelhos.

“De quem você acha que é a culpa?”

“Está me culpando?”

“Você não me deixou dormir.”

“Muito animado?”

“Mais nervoso, na verdade”  admitiu, bocejando novamente.

“Você consegue ser fofo às vezes.”  comentou Mai.

“Você, por outro lado, tem nervos de aço! Dormiu como uma pedra.”

“Já viajei muito para gravações ao longo da minha vida. Acostumei a dormir na sala de descanso entre as filmagens. E…”

Ela parou, parecendo uma criança que acabou de pensar em uma grande travessura.

“Dormir ao seu lado não é nada demais.”

“Boa notícia! Da próxima vez, vou tentar algumas coisas.”

“Você não tem coragem de tentar nada.”

Quando chegaram à escola, já era hora do almoço.

A maioria dos alunos já havia terminado de comer e estava relaxando. Alguns brincavam na quadra de basquete, e os gritos ecoavam pelo pátio.

A escola estava como sempre, mas parecia que fazia séculos desde a última vez que estiveram ali,como o primeiro dia de volta às aulas depois das férias de primavera ou de inverno.

Ao trocarem os sapatos pelos chinelos na entrada, Mai comentou:

"Vou dar uma olhada por aí." Sakuta respondeu:

"Eu vou visitar a Futaba. Ah, a Futaba é uma das amigas que ainda se lembra de você..."

"Esse é um nome de menina? Estou surpresa," disse Mai, parando no meio do caminho.

"É o sobrenome dela."

"Ainda é uma garota..."

"Exato. Bem, até mais."

Mai seguiu pelo corredor, enquanto Sakuta observava. Ela passou por um grupo de garotas carregando cadernos, um professor de geometria de meia-idade empurrando um projetor de slides e um grupo de alunas animadas fofocando sobre um garoto bonito do time de basquete.

Nenhuma delas deu atenção a Mai. Na verdade, ninguém sequer olhou para ela.

Isso não parecia estranho para Sakuta. Era sempre assim.

Era assim que Mai era tratada ali. A reação natural de se ignorar um problema com o qual ninguém queria lidar. Todos fingiam não vê-la, como se ela fosse parte do ar ao redor.

E, quando todos a ignoravam, o resultado parecia exatamente como se ninguém pudesse vê-la de fato. Os estudantes de Minegahara a tratavam assim muito antes de isso começar a acontecer em outros lugares. Muito antes de Sakuta começar a frequentar aquela escola.

Mai deslizou pela multidão. Assim como fazia com outros grupos, afetados pelo chamado "Síndrome da Adolescência".

Enquanto isso, Sakuta sentiu como se fragmentos de compreensão estivessem se encaixando. Era como se ele estivesse começando a perceber a verdadeira causa do problema.

A ideia de Rio, de que o cerne da questão estava na escola, parecia fazer sentido.

"Azusagawa."

Ao ouvir a voz, Sakuta se virou e encontrou Rio parada atrás dele, as mãos enfiadas nos bolsos do jaleco branco. Ao vê-lo, ela bocejou, o que o fez bocejar de volta.

"Más notícias," disse ela. Sakuta preparou-se.

"O que houve?"

"Talvez todo mundo, exceto eu, tenha esquecido a Sakurajima."

"......?!" Sua testa franziu. Aquilo era realmente uma má notícia.

"No mínimo, Kunimi não se lembra dela."

"Sério?"

Rio não inventaria algo assim. Não era algo com o qual ela brincaria, e Sakuta sabia que ela não era do tipo que fazia piada com assuntos sérios. Ainda assim, ele não conseguiu evitar a pergunta, desesperado para que não fosse verdade.

"Quando mencionei o nome dela, Kunimi ficou confuso. 'Quem era mesmo?' foi o que ele perguntou. Não perguntei a mais ninguém, mas..."

Sakuta olhou ao redor, buscando alguém para perguntar. Contudo, logo percebeu que não seria necessário.

Mai estava correndo de volta para a entrada, ofegante, visivelmente agitada e pálida de medo. Quando recuperou o fôlego, fitou Sakuta nos olhos.

"Você ainda consegue me ver?" perguntou ela.

"Sim. Claramente, como à luz do dia," respondeu Sakuta, assentindo. O alívio tomou conta do rosto de Mai.

"Graças a Deus..."

Ela suspirou, aliviada. Mas por quê?

Por que Sakuta e Rio conseguiam vê-la, enquanto mais ninguém parecia conseguir? Por que todos haviam se esquecido de Mai?

Até ontem, não eram apenas eles dois. Yuuma, Tomoe Koga e as amigas dela também podiam ver Mai.

"Certo, a Tomoe Koga!"

Sakuta correu sozinho em direção às salas do primeiro ano. Ele olhou em cada sala no primeiro andar, até finalmente encontrar Tomoe na quarta sala que tentou, a 1-4. Ela estava com as mesmas amigas do dia anterior, almoçando perto das janelas, com as carteiras agrupadas.

Sakuta foi direto até ela. Uma das amigas de Tomoe o viu primeiro e soltou um ruído surpreso. Logo todas estavam olhando para ele.

"Ah, é o cara de...," começou Tomoe, mas parou no meio da frase. Sakuta posicionou-se perto das mesas e perguntou diretamente:

"Você conhece Mai Sakurajima?" Tomoe Koga e suas amigas trocaram olhares e começaram a cochichar entre si.

"O que é isso, Tomoe?"

"Eu... eu não sei!"

"Sakura... quem?"

"Quem é essa?" Sakuta insistiu:

 Vocês a viram ontem na estação Fujisawa da Enoden!” Elas se entreolharam novamente e balançaram a cabeça negativamente.

"Como vocês podem não saber quem ela é? Ela é uma atriz famosa!" Sakuta deu um passo à frente.

"Pensem bem! A aluna do terceiro ano, muito bonita... Vocês a conheceram!"

Quando ele deu mais um passo em direção a elas, Tomoe pareceu assustada.

"Você tem que se lembrar!" exigiu Sakuta, segurando os ombros dela.

"Eu... eu não conheço ela!" Tomoe gritou, lágrimas começando a brotar em seus olhos.

"Por favor!"

"Ah! Isso dói!" Ele percebeu que estava apertando os ombros dela.

"Pare com isso, Sakuta." Uma voz ao seu lado. Era Mai, que colocou a mão no pulso dele.

Devagar, Sakuta soltou os ombros de Tomoe.

"Desculpe," disse ele.

"Eu não sei o que deu em mim."

"T-tudo bem..."

"Eu sinto muito mesmo. Com licença." Após se desculpar novamente, Sakuta foi em direção à porta, os passos pesados.

"Azusagawa," chamou Rio. Ela os havia seguido e o esperava no corredor, acenando para ele.

"O que foi?"  Quando Rio não se moveu, Sakuta deixou Mai e foi até ela.

"Eu posso ter uma ideia," disse Rio, em voz baixa, para que apenas ele ouvisse. Ela parecia hesitante em continuar.

"Conte-me."

"Azusagawa... você dormiu na noite passada?" Essa pergunta foi o início da explicação dela.

Naquele dia, após as aulas, Sakuta e Mai voltaram juntos para a estação Fujisawa e se despediram ali. Mesmo com toda a confusão, Sakuta tinha um turno no restaurante e não podia simplesmente faltar.

"Você deve ir," disse Mai.

Sakuta trabalhou até as nove, esfregando os olhos cansados. No caminho para casa, parou em uma loja de conveniência.

Ele percorreu os corredores, olhando as prateleiras. Encontrou as bebidas energéticas perto dos caixas, abaixo dos sucos de gelatina. Havia desde opções por duzentos ienes até outras que custavam o mesmo que uma grande tigela de carne. Ele até viu uma que passava de mil ienes, mas não conseguiu entender a diferença entre elas ou o que continham.

Pegou três aleatoriamente, junto com chiclete de menta com cafeína e algumas pastilhas energéticas, e levou tudo ao balcão. A conta ficou pouco abaixo de dois mil ienes. Com os gastos da viagem para Ogaki e a estadia no hotel, sua carteira estava quase vazia.

Mas não era hora de economizar. Ele se lembrou das palavras de Rio.

"Azusagawa... você dormiu na noite passada?"

"Nem um pouco," ele respondeu. Isso parecia exatamente o que Rio esperava.

"Nem eu," ela disse.

"......" Sem entender completamente, Sakuta esperou que ela explicasse.

"Estou apenas analisando os resultados, mas acho que essa é a razão. Eu não estava com a Sakurajima nem nada parecido."

"Entendi..."

"Você se lembra de quando te falei sobre a Teoria da Observação?"

"A coisa do gato de Schrödinger?"

"Eu achei ridículo na época," admitiu Rio. Ela olhou pelo corredor na direção de Mai. Parecia incerta sobre como agir perto dela ou se deveria incluí-la na conversa. Era evidente que a situação a deixava abalada.

"Ver isso por mim mesma... É assustador."

"Síndrome da Adolescência?"

"Não, antes mesmo de isso acontecer... O jeito como toda a escola a tratava como se ela fosse invisível."

"Sim."

"E o modo como eu geralmente aceitava isso, sem questionar, como se fosse normal. Eu nunca sequer duvidei disso."

"Funciona justamente porque ninguém questiona," respondeu Sakuta.

"Se alguém percebesse que havia algo errado, espero que tudo desmoronasse."

Sakuta sabia que era errado. Entendia o quão terrível aquilo era. Percebia o quão patético era esse comportamento. Conseguia compreender o quão cruel era essa atitude. No entanto, poucas pessoas eram capazes de admitir isso e dizer com orgulho: "Estamos ignorando nossa colega de classe!"

Quem poderia fazer isso estava completamente distorcido. Como a líder do grupo que intimidava Kaede, que dizia sem hesitar: "Qual o problema com isso?"

No caso de Mai, a causa original estava nela mesma. Houve um momento em que ela escolheu se misturar ao ar, e aqueles ao seu redor reagiram a essa escolha, aceitando-a.

Seu desejo de desaparecer a transformou em algo invisível, mas apenas depois que ela começou a agir como tal.

"Mas é exatamente por isso que a escola é nossa melhor pista," disse Rio, como se lesse os pensamentos dele.

"Para Sakurajima, essa escola é a caixa, e ela é o gato dentro dela."

"......"

Ninguém olhava para Mai. Ninguém tentava olhar. Mai não era observada por ninguém, então sua existência se tornava indeterminada... e, assim, ela estava desaparecendo. Ela não havia sumido de fato, mas era como se tivesse. Se ninguém podia percebê-la, era como se ela não existisse.

Um arrepio percorreu a espinha de Sakuta.

Ele sabia exatamente o que Rio estava tentando dizer.

A causa estava na escola, no inconsciente coletivo dos estudantes. A falta de interesse deles por Mai havia se tornado completamente automática. Ela sequer registrava na mente deles. Rio sugeria que esses sentimentos é que podiam ser chamados assim, eram o gatilho que ativava a Síndrome da Adolescência de Mai.

Como mudar sentimentos inconscientes? Eles nem ao menos estavam cientes de que existia um problema. Para eles, o problema sequer parecia ser um problema. E havia quase mil estudantes assim no colégio Minegahara.

Como transformar esse desinteresse em interesse?

"......" Era como encarar a escuridão, prestes a ser engolido por ela.

Essa era a verdadeira natureza do medo de Sakuta. A verdadeira causa. O verdadeiro inimigo que ele precisava derrotar. O ar que ele não podia ver, mas sabia que existia. O mesmo ar contra o qual, há não muito tempo, ele havia dito que era inútil lutar.

"Mas, se foi a escola que começou tudo, por que pessoas que não têm nada a ver com ela também não conseguem ver Mai?" perguntou Sakuta.

"Talvez a própria Sakurajima tenha levado o que aconteceu na escola para o mundo exterior," respondeu Rio.

Sakuta teve que admitir que isso era possível. Quando a conheceu na biblioteca de Shonandai ou quando ela foi sozinha ao aquário de Enoshima, Mai estava agindo como se fosse invisível. Ele sentiu que ela mesma estava causando isso.

Mas agora não era mais assim.

Mai não queria mais desaparecer. Disso, Sakuta tinha certeza. Ela havia decidido voltar ao trabalho e, embora tivesse dito de forma brincalhona, ela havia perguntado:

"Se eu começasse a tremer como uma folha e, em meio aos soluços, dissesse: ‘Eu não quero desaparecer!’, o que você faria?"

E também havia dito:

"Não agora que conheci este garoto atrevido que me faz realmente ansiar por ir à escola." Ela claramente estava falando sério.

"Mesmo que ela não tenha espalhado isso sozinha, esse tipo de comportamento é contagioso," disse Rio.

"Todos esperam que as pessoas sigam regras não escritas, e a informação pode chegar ao outro lado do mundo em segundos. O mundo em que vivemos permite isso."

Se quisesse, Sakuta poderia argumentar. Ele sabia que havia falhas na explicação de Rio, e ela mesma tinha consciência disso. Mas parte dele entendia que essa era a natureza dos tempos em que viviam. Os benefícios vinham acompanhados de desvantagens.

"......"

Por isso, ele não encontrou forças para discordar. Para Sakuta, naquele ponto, não fazia mais sentido discutir como o fenômeno havia se espalhado. A realidade diante deles era o que importava.

Quando ele permaneceu em silêncio, Rio continuou com a última parte de sua explicação.

"Voltando ao ponto... Se percepção e observação são a chave, então faz sentido que o sono, quando a consciência está inativa, seja o gatilho para perder essas memórias."

Enquanto estava acordado, ele podia pensar nela. Vê-la. Mas, no momento em que adormecia, não havia como permanecer consciente dela. A capacidade de percebê-la enfraquecia naturalmente. E, enquanto sua consciência estava desligada, ele se tornava vulnerável à infecção por essa anomalia.

"......" Ele estremeceu, pensando na noite anterior. Se tivesse adormecido lá, talvez já tivesse esquecido Mai...

Sakuta foi para casa mastigando chicletes com cafeína. Ele também tomou sua primeira bebida energética. Um doce estranho, claramente diferente de outras bebidas açucaradas. Um leve gosto medicinal no fundo.

Sakuta não esperava muito da bebida energética, mas sentiu os efeitos imediatamente. Estava desperto novamente, com a mente clara.

"O que você está bebendo?" perguntou Kaede ao vê-lo jogar a garrafa no lixo reciclável.

Já eram onze horas. Kaede normalmente estaria na cama a essa hora e parecia muito sonolenta. Seus olhos estavam semicerrados. Sakuta tinha quase certeza de que ela ainda estava acordada porque ele não tinha voltado para casa na noite anterior.

"Não vou dormir até compensar o que perdi ontem!" ela havia dito.

Então, ele passou um tempo conversando com ela, principalmente sobre os livros que ela tinha lido.

Kaede começou insistindo que ficaria acordada a noite toda, mas, no fim, ela e o gato adormeceram no sofá antes da meia-noite.

Sakuta a pegou nos braços e a levou para o quarto. O cômodo estava coberto de livros. As estantes estavam cheias, com pilhas espalhadas pelo chão. Ele teve que atravessar cuidadosamente o labirinto de livros até a cama.

Ele a deitou, disse: "Durma bem," puxou as cobertas sobre ela e apagou a luz. Fechou a porta suavemente ao sair.

Sakuta voltou para seu quarto e jogou algumas pastilhas de menta na boca. Sua boca e nariz ficaram com uma sensação gelada.

Havia algo que precisava fazer enquanto sua mente ainda estava clara.

Ele se sentou à mesa e abriu um caderno. Não para estudar. As provas intermediárias começariam no dia seguinte, e talvez ele devesse pelo menos tentar, mas suas notas eram a última de suas preocupações.

No momento, ele precisava se preparar para o pior.

Tocou duas vezes a ponta do lápis mecânico e começou a escrever.

Escreveu tudo o que lembrava das últimas três semanas. Tudo desde o dia em que conheceu Mai. Passou a noite inteira escrevendo.

6 de maio

"Conheci uma coelhinha selvagem.
Ela era minha senpai do colégio Minegahara. A famosa Mai Sakurajima.

Este é o começo. Foi assim que nos conhecemos. Não há como eu esquecer isso.

Mesmo que você esqueça,  lembre-se. Você precisa se lembrar, eu do futuro."

Três dias de provas intermediárias, e o primeiro já havia sido um desastre. Não apenas porque Sakuta não estudou na noite anterior, mas também porque era sua segunda noite consecutiva sem dormir. Ele não conseguia se concentrar. Quanto mais tentava pensar, mais sua mente emperrava no meio das questões. Seu cérebro ficava em branco, deixando-o sentado, apenas encarando a folha de respostas. Seus olhos a viam, mas nada além disso.

Após o término da prova, Sakuta deu uma espiada na sala ao lado, procurando por Rio Futaba. Ela era fácil de localizar, especialmente por usar o jaleco branco até mesmo na aula.

Ela o viu na porta, pegou suas coisas e foi ao seu encontro no corredor.

“Você se lembra?” ele perguntou, com a tensão evidente na voz.

“Hã? Lembrar do quê?” Rio respondeu, confusa.

“Então, deixa pra lá.”

“Bem, estarei na sala de ciências,” disse ela.

“Certo.”

Ele acenou enquanto Rio seguia pelo corredor, com o jaleco balançando. Sakuta esperava que ela parasse, se virasse e dissesse que era apenas uma piada, mas isso não aconteceu. Ela desapareceu subindo as escadas.

“Sua hipótese estava correta,” ele disse para si mesmo.

Ao esquecer Mai, Rio havia confirmado a teoria.

Agora, apenas Sakuta restava. Ele era o único que ainda se lembrava de Mai. O único que podia ouvi-la ou vê-la.

“Que desenvolvimento emocionante!” disse ele, tentando desesperadamente transformar seu medo em motivação.

No dia seguinte, 28 de maio, veio o segundo dia das provas intermediárias. Mais uma vez, seus resultados foram insatisfatórios, mas Sakuta já não se importava mais.

Ele estava exausto. Apenas exausto.

Toda vez que piscava, era tentado a deixar os olhos fechados.

Desde o encontro no domingo, Sakuta não havia dormido. Era quarta-feira agora. Seu quarto dia sem dormir.

Ele havia ultrapassado todos os seus limites.

Estava constantemente enjoado e chegou a vomitar duas vezes. Desde então, sentia como se algo estivesse preso em sua garganta. Seu corpo estava se desmoronando. Seu pulso parecia errático e anormalmente forte. Sua aparência era terrível. Yuuma ficou preocupado com ele no trem naquela manhã.

“Você parece um zumbi,” Yuuma disse.

A única coisa positiva era que Sakuta já tinha desmarcado seus turnos de trabalho por causa das provas. Ele sabia que não conseguiria desempenhar nenhuma tarefa adequadamente naquele estado.

Suas pálpebras estavam pesadas. Elas se recusavam a permanecer abertas. A luz do sol era insuportável. Nem mesmo beliscar suas coxas parecia surtir efeito. Nada além de espetar-se com um lápis o fazia reagir.

“Você parece cansado,” disse Mai enquanto caminhavam juntos para casa.

Ela ainda ia para a escola, mesmo sabendo que apenas Sakuta podia vê-la.

“Não tenho nada melhor para fazer,” ela havia dito.

Mas Sakuta sabia que ela estava com medo. Medo demais para ficar em casa sozinha o dia inteiro. Parte dela devia estar esperando que, se continuasse indo à escola, as coisas voltassem ao normal naturalmente.

“Sempre fico assim durante as provas. Viro a noite,” ele respondeu.

“É o que você ganha por não estudar regularmente,” retrucou Mai.

“Você soa como uma professora.”

“Bem, se você realmente insistir...”

“Hum?”

“Eu poderia te ajudar a estudar.”

“Se estivéssemos em um quarto juntos, eu só pensaria em sexo, então é melhor não,” disse ele sem rodeios.

“......” Mai o olhou chocada. Claramente, não esperava que ele recusasse.

“A-ah. Melhor assim, então,” ela disse, desconcertada.

“Até amanhã.” Eles se despediram em frente aos prédios de seus apartamentos.

Sakuta entrou no elevador e soltou um suspiro de alívio. Ele não havia contado a Mai que estava sem dormir. Sabia que, se dissesse, ela insistiria para que ele parasse de fazer isso.

Ele não queria preocupá-la, e já havia decidido que levaria isso até o fim, não queria que ela se sentisse responsável por aquilo.

Em casa, Sakuta estava sentado na sala, com um livro de física aberto à sua frente. Era um que ele havia emprestado de Rio no dia em que voltaram de Ogaki. Ele esperava que aquilo lhe desse alguma pista para resolver a situação.

Era um livro introdutório sobre teoria quântica. No entanto, mesmo sendo básico, o nível de dificuldade era tão alto que ele simplesmente não conseguia entender. Passou o dia todo lendo, em vez de estudar para as provas de meio de semestre, mas mal conseguia virar a página.

A combinação de pálpebras cansadas e um livro de física era mortal, como um sedativo poderoso. Ele mantinha a consciência à força, obrigando os olhos a seguir as palavras na página. O desejo de ajudar Mai era o que o movia.

Sakuta ficou assim por uma hora. Kaede, que estava lendo por perto, teve o silêncio interrompido pelo som de sua barriga roncando. Sem dizer nada, ele se levantou e começou a preparar o jantar. Eles comeram juntos.

Sakuta olhou para Kaede do outro lado da mesa e percebeu que ela estava dizendo algo. Seus olhos registraram isso, mas ele esqueceu de responder.

“......”

“Alô?”

“Ah, hã?” Ele estava tão cansado que mal conseguia pensar.

“Você está bem?”

“Provas de meio de semestre,” respondeu, sem muita certeza de que isso explicava algo.

“Não se esforce demais.”

“Sim, eu sei.”

Apesar do aviso, Sakuta não podia dormir agora. Se dormisse, ele poderia esquecer Mai. Talvez houvesse uma chance de isso não acontecer, mas as probabilidades não estavam a seu favor. Por isso, ele não podia se permitir dormir.

Depois do jantar, ele e Kaede terminaram de arrumar as coisas, e ele saiu para uma caminhada, passando na loja de conveniência novamente. Permanecer parado depois de comer era perigoso demais; mesmo de pé, ele quase cochilava. Durante o dia, quase adormecera no trem da Enoshima Electric Railway, segurando-se nas alças penduradas. Seus joelhos fraquejaram, e ele só não perdeu completamente a consciência porque acabou esbarrando em um homem de negócios sentado à sua frente. Foi por pouco.

Na loja de conveniência, comprou mais bebidas energéticas, gastando o equivalente ao preço de um grande prato de carne. Ele já estava tomando muitas daquelas bebidas, e o efeito estava diminuindo gradualmente. Pior, o impacto posterior era tremendo; duas ou três horas depois, ele ficava ainda mais sonolento. Mesmo assim, era melhor que nada.

Ao sair da loja, ele guardou a carteira no bolso traseiro. O vento soprou contra suas bochechas, e Sakuta parou de repente.

Alguém o esperava.

Uma onda de pânico o atravessou, como se tivesse sido pego no flagra. Um suor frio e pegajoso começou a escorrer por sua pele.

“O que você comprou?” perguntou Mai. Ela usava roupas casuais, as pernas afastadas e os braços cruzados.

Sakuta tentou inventar uma desculpa em sua mente grogue, mas nada surgiu. A falta de sono o deixara lento.

“Hã... bem...” Mai se aproximou e arrancou a sacola de suas mãos, espiando o conteúdo.

“Eu sabia que você não estava dormindo,” repreendeu.

“......”

Ele achava que estava enganando a todos, mas, pelo visto, não. Sabia que estava com uma aparência péssima; Yuuma e Kaede já tinham apontado isso. Seria estranho Mai não ter percebido.

“Você achou que poderia esconder isso de mim?”

“Queria tentar.”

“Seu idiota! Você não pode continuar assim para sempre.”

“Eu não consegui pensar em outra coisa.” A resposta saiu como a de uma criança teimosa.

Sakuta sabia que aquilo não poderia continuar. Humanos precisam dormir para sobreviver, e aquilo não resolveria o problema. Mas, mesmo sabendo que podia ser inútil, essa tentativa era sua única opção.

Esse fenômeno estranho estava fazendo Mai sofrer. Eles ainda não tinham encontrado uma maneira de detê-lo. Nem sabiam se existia uma.

Mas tinham que continuar tentando. Sakuta não podia dormir até encontrar uma solução. Mesmo que não houvesse uma saída, ele não estava disposto a simplesmente desistir e dormir.

Ele queria lembrar de Mai por todos os dias possíveis. Cada minuto contava. Cada segundo que permanecia acordado era um segundo a menos em que ela estava completamente sozinha. Todas essas noites sem dormir haviam deixado sua mente lenta, incapaz de pensar em outra coisa.

“Olhe para você! Está pálido! Seu idiota!”

"Concordo totalmente."

"Vamos levá-lo para casa."

Mai devolveu a sacola e começou a caminhar em direção aos apartamentos. Incapaz de pensar direito, Sakuta a seguiu obedientemente.

Quando chegou em casa, já passava das oito.

Kaede devia estar no banho. Ele conseguia ouvi-la cantando alegremente através da porta. Era o jingle de um comercial de uma loja de eletrônicos. A música era curta, então ela repetia em um ciclo rápido.

Sakuta foi para o quarto, mas parou na entrada. Mai estava sentada sobre uma almofada no meio do quarto, ao lado de uma mesa baixa dobrável que ela claramente havia montado sozinha.

"Eu pensei que, se você fosse à casa de um garoto a essa hora, seria como dizer que ele pode fazer o que quiser," comentou ela.

"Oito horas ainda é um horário seguro," respondeu Sakuta.

"Está bem. Mas por que você está aqui?"

"Decidi fazer companhia a você."

"Romanticamente?"

"Não! E você sabe disso! Não vou deixar você dormir esta noite."

"Isso soa emocionante."

"Se você começar a cochilar, vou te acordar com um tapa."

"Uau, já vamos direto para as medidas drásticas."

Mai parecia estar se divertindo. Quantos tapas ela planejava dar? Ele esperava que isso não se tornasse um novo hábito.

"Vamos, sente-se!" insistiu Mai, dando tapinhas no carpete.

Ele obedeceu.

"Cadê seu livro de estudos? E suas anotações?" perguntou ela.

"Pra quê isso?"

"Ainda temos mais um dia de provas. Vou ajudar você a estudar."

"Engh... estou bem."

Ele sabia que, naquele estado, não lembraria de nada que estudasse. Estudar só o deixaria ainda mais sonolento.

"Você era do tipo estudiosa?" ele perguntou.

"Eu estava muito ocupada trabalhando no primeiro ano. Mas, desde o início do segundo, nunca tirei menos que oito."

As notas em Minegahara eram dadas em uma escala de dez pontos, sendo um o mais baixo e dez o mais alto. Tirar oito ou mais em tudo era impressionante.

"Que disciplina acadêmica inesperada."

"Eu só estudo quando tenho tempo."

"A maioria das pessoas aproveitaria para relaxar sempre que pudesse."

"Concentre-se! Eu não sou tudo que importa para você."

"Agora você é."

Se não fosse por ela, ele jamais faria algo tão desgastante como abrir mão do sono.

"Mesmo que você resolva meus problemas, tudo que vai sobrar serão pilhas de folhas de resposta desastrosas."

"Ouvir algo tão lógico só está me deixando mais sonolento."

"Você vai estudar."

"Estou tããão sem motivação."

"Mesmo com uma tutora particular como eu?"

"Se você usar o traje de coelhinha, talvez eu me sinta motivado."

"Você é assim com todo mundo, Sakuta?"

"Eu só falo assim com você, Mai."

"Isso não é exatamente um elogio."

Ele bocejou, sentindo os cantos dos olhos arderem com lágrimas.

"E se eu colocasse o traje de coelhinha, você só pensaria em besteira. Não aprenderia nada."

"Não tinha pensado nisso."

Ele não estava pensando muito em nada, na verdade. Sakuta já estava falando qualquer coisa que lhe viesse à mente.

"E que tal isso?" sugeriu Mai.

"Se você tirar cem pontos em uma prova, eu dou uma recompensa."

Aquilo era uma oferta muito tentadora. Ele se inclinou para frente, interessado.

"É a lendária oferta de 'Eu faço qualquer coisa'?"

"Claro, claro. 'Qualquer coisa,'" disse Mai, claramente convencida de que era impossível.

"Tenho Matemática II e Japonês Moderno amanhã," disse ele, verificando o cronograma. Começava a se sentir um pouco mais alerta.

"Talvez eu consiga cem em Matemática II."

"O quê? Você é, tipo... inteligente?" perguntou Mai, horrorizada.

"Não. Só me dou melhor com matemática."

E era exatamente por isso que deveria abandonar Japonês e focar em Matemática II. Com Japonês, havia muitas formas subjetivas ou arbitrárias de perder pontos, tornando difícil buscar uma pontuação perfeita. Mas, com Matemática II, as respostas eram objetivas e, desde que mostrasse o raciocínio, tinha boas chances de evitar deduções estranhas. Parecia possível alcançar a pontuação máxima.

Sakuta abriu imediatamente o livro de Matemática II. Mas Mai o arrancou de suas mãos.

"Essa foi sua ideia! Por que está me impedindo?" protestou ele.

"Eu posso ter dito 'qualquer coisa', mas isso não significa que vou fazer qualquer coisa," respondeu ela, lançando-lhe um olhar severo.

"Eu não pediria nada absurdo."

"Mesmo?"

"Nada pior do que 'Entre no banho comigo.'"

"Isso já passou do limite."

"Ahh."

"I-i-isso deveria ser óbvio!"

"E se estivéssemos de roupas de banho?"

"Roupas de banho na banheira? Por que você pensaria em algo tão esquisito?!"

O olhar de desprezo dela parecia uma adaga, e aquilo definitivamente o despertou um pouco.

"E quanto a um travesseiro de colo com você no traje de coelhinha?"

"Por que você acha que isso é uma sugestão mais razoável?" Ele realmente achava que era, mas Mai claramente não concordava.

"E aquele encontro em Kamakura que nunca chegamos a fazer?"

A sugestão foi tão moderada em comparação que a pegou completamente de surpresa.

"Tá bom, mas... tem certeza de que é só isso que você quer?"

"Você queria algo mais picante?"

"Eu não disse isso!"

Ela estendeu a mão e apertou a bochecha dele com força.

"Ah! Estou acordado!"

"Você realmente tem muita coragem para a sua idade."

Nas duas horas seguintes, Mai ficou com ele, ajudando-o a estudar. Mas era tudo sobre Japonês Moderno. Ela se recusou a deixá-lo estudar Matemática II.

"'Não há ninguém que possa garantir seu futuro.' 'Seu futuro não está garantido.' Ambas as frases são pronunciadas hosho, mas usam kanji diferentes."

"Professora, estou sentindo um pouco de rancor nesta questão."

"Apenas escreva!" ordenou Mai, batendo no caderno à sua frente.

Sakuta escreveu dois conjuntos de kanji, os caracteres chineses usados na escrita japonesa.

"Então, qual par é usado para 'Não há ninguém que possa garantir seu futuro'?"

"Bem..."

Ele realmente não sabia a diferença, então deixou o dedo pairar sobre um dos pares, observando a reação de Mai, na esperança de deduzir a resposta certa a partir da expressão dela.

Mas Mai claramente percebeu o truque. Ela o olhou diretamente nos olhos, com um sorriso agradável. Até seus olhos sorriam, o que era ainda mais aterrorizante.

"Você também pode me mostrar 'A segurança de Sakuta não está garantida se ele tentar trapacear novamente.'"

"Desculpe. Preciso de uma dica."

"'Garantir' significa assegurar que algo aconteça, enquanto 'assegurar' significa convencer alguém disso."

"Então, 'Posso garantir que Mai terá um futuro feliz.' E 'Podemos estar assegurados de que viveremos felizes para sempre.'"

"Não mude as frases!" Ela enrolou o livro e deu uma leve pancada na cabeça dele. "Isso não é fofo."

Pelo menos parecia que ele tinha acertado a resposta. Se visse isso na prova, provavelmente acertaria de novo. Tanto a resposta quanto o rosto irritado de Mai ficaram gravados em sua memória.

Mai continuou dando questões, e Sakuta seguiu estudando kanji, sentindo-se como se estivesse jogando um jogo. Mas ele não conseguiu manter o foco para sempre. Depois de terminarem a seção sobre homônimos, Sakuta se levantou.

"Vou pegar algo para beber," disse ele. "Café está bom? É só instantâneo."

"Mm."

Ela folheava o caderno de kanji, procurando outro problema para dar a ele. Ele a deixou no quarto, foi para a cozinha e colocou a chaleira para ferver.

Enquanto esperava, olhou em direção ao quarto de Kaede. As luzes estavam apagadas. Ela devia estar dormindo profundamente.

Sakuta voltou ao quarto com duas canecas de café instantâneo. Colocou uma diante de Mai.

"Leite e açúcar?" perguntou ela.

O objetivo dele era se manter acordado, então estava tomando o café puro e nem pensou em perguntar.

"Vou pegar para você." Ele voltou com um sachê de açúcar, um pouco de leite e uma colher.

Mai ainda folheava o caderno de kanji.

"Aqui está, Mai," disse Sakuta, colocando o café diante dela.

"Obrigada."

Ela pegou o açúcar e o leite, despejando-os na xícara e começando a mexer lentamente. Esses gestos pareciam incrivelmente femininos, e Sakuta apreciou a cena enquanto tomava um gole de seu café preto. O líquido amargo desceu até o estômago, e o calor trouxe um certo alívio.

"Sua irmã?" perguntou Mai.

"Já foi dormir," respondeu ele.

Kaede havia passado pelo quarto dele uma hora antes, visto que Sakuta estava estudando e lhe desejado boa sorte.

"Você é filha única?" ele perguntou, achando que ela tinha esse perfil.

"Não," respondeu Mai, segurando a xícara com as duas mãos.

"Ah, é?"

"Depois que meu pai se separou da minha mãe, ele se casou novamente e teve uma filha com a nova esposa. Então... tenho uma meia-irmã."

"Ela é fofa?"

"Não tão fofa quanto eu," declarou Mai com convicção, como se fosse óbvio.

"Uau, que cruel."

A mente de Sakuta começava a ficar confusa. Ele sentiu uma leve tontura, e suas pálpebras pesavam.

"Você gostaria de uma garota que sabe que é mais bonita, mas sai por aí dizendo que todas as outras são fofas?" perguntou ela.

"Isso soa péssimo."

"O pior."

"Mas... sua própria irmã….?"

Ele não conseguiu terminar a frase. As últimas palavras simplesmente não saíram. Era como se estivesse se afastando do próprio corpo.

Droga, pensou. Mas ele não conseguia impedir.

Ele se apoiou na borda da mesa, mas seus olhos já estavam semicerrados.

"Bom. Funcionou," disse Mai.

Ele ergueu os olhos e viu o rosto dela. Mai o observava com um olhar gentil, mas havia um leve traço de medo em seus olhos, que brilhavam nas bordas.

"Mai... o quê...?"

Os dedos finos e delicados dela seguravam algo. Um pequeno frasco. O rótulo dizia:

PÍLULAS PARA DORMIR.

"Por quê...?" Ele mal conseguia sussurrar.

"Obrigada por tentar, Sakuta."

"Eu ainda... consigo..."

Ele não conseguia mais se manter sentado.

"Você já fez tanto por mim."

"Não, eu..."

"Você já fez o suficiente."

A mão dela tocou seu rosto, e ele sentiu o calor. Era reconfortante e provocava uma leve cócega. Mas até mesmo essa sensação estava se desvanecendo.

"Não... eu não fiz..."

Ele não tinha certeza se as palavras realmente saíram.

"Eu comecei tudo isso sozinha. Mesmo que você me esqueça, eu ficarei bem."

A imagem de Mai começou a se desfocar. A mão dela ainda estava em sua bochecha, e os dedos tocaram levemente sua orelha.

"Mas obrigada por tudo." Ele não tinha feito nada que merecesse sua gratidão.

"E... me desculpe." Ela não tinha feito nada que exigisse desculpas.

"Agora você pode descansar."

A voz dela parecia guiar seus pensamentos. Os olhos de Sakuta se fecharam, e sua consciência foi engolida pelo sono.

"Boa noite, Sakuta."

Um sono profundo e sereno...

Não se preocupe.

Agora, você pode estar triste e chateado... mas de manhã, não se lembrará de mim ou desses sentimentos. Então relaxe e descanse.

Eu gostei muito dessas últimas semanas.

Adeus, Sakuta.

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