A Senpai Coelhinha Japonesa

Tradução: GGGG

Revisão: Sakuta, Mon


Volume 1

Capítulo 2: O Preço da Reconciliação

Infelizmente, o dia seguinte ao que ele irritou Mai passou sem que Sakuta encontrasse uma chance de se desculpar. Ele esperava que pudessem acabar no mesmo trem naquela manhã, mas sem sorte. Sem querer perder tempo, assim que o primeiro período terminou, ele foi direto para a Classe 3-1 (a sala dela), mas ela não estava em lugar algum.

Ele tentou perguntar a uma garota perto da porta da sala, mas ela apenas olhou irritada.

“Sakurajima? Sei lá, ela está aqui hoje?” perguntou, voltando imediatamente para suas amigas.

“Então, ontem...”

“......”

Ele analisou a sala sem Mai. Meninos rindo feito idiotas, garotas gritando com as histórias umas das outras – a sala estava cheia de barulho. Salas de aula entre os períodos eram sempre as mesmas, independentemente do ano dos alunos. Ele imaginou Mai sentada sozinha, cercada por toda essa confusão, e sentiu uma pontada no peito.

“Onde ela se senta?”

“Hã? Ah, lá atrás.” A garota apontou para a última cadeira na segunda fileira das janelas. Após confirmar que havia uma mochila pendurada nela, Sakuta voltou para sua própria sala.

Ele a visitou durante todos os intervalos depois disso, mas Mai nunca estava lá. A mochila sempre estava, e o livro da próxima matéria estava na mesa, então ela claramente estava presente – mas seus esforços para encontrá-la foram em vão.

Sua última chance foi após a aula. Sakuta foi direto para a saída assim que a homeroom terminou. Ele manteve um olhar atento ao seu redor, procurando por Mai. Esperou por vinte minutos.

Quando ficou claro que a havia perdido, ele saiu pelos portões, verificando o caminho até a estação. Nada de sinal dela. Mai também não estava esperando na plataforma da Estação Shichirigahama.

Ele não apenas não conseguiu se reconciliar com ela, como nem mesmo conseguiu vê-la.

Quando isso continuou por mais três dias, até mesmo um idiota perceberia que ela estava propositalmente evitando-o.

E, infelizmente, ela claramente não tinha planos de parar.

Duas semanas se passaram assim. Mai ainda estava evitando Sakuta completamente.

No dia anterior, ele havia ficado na estação por uma hora esperando encontrá-la, mas não adiantou. Ela devia ter caminhado até a próxima estação.

Essa era uma situação difícil.

Talvez ela tivesse dominado essas técnicas para evitar paparazzi. Era como se ela pudesse se transformar em névoa.

"Aquele campo minado em que pisei foi ainda pior do que eu pensei." A determinação de Mai estava deixando isso mais claro a cada dia.

Pedir para ela voltar a trabalhar a deixou irritada, mas o gatilho certamente foi a palavra "empresária".

Seria esse o motivo pelo qual ela entrou em hiato e hesitava em voltar ao trabalho, apesar de demonstrar claramente o desejo de fazer isso?

Sakuta usou um computador da escola para tentar descobrir por que Mai Sakurajima havia tirado uma pausa na carreira de atriz, mas tudo o que encontrou foram especulações desinformadas e rumores maliciosos. Sobrecarregada? Deve ter a ver com um produtor. Problemas amorosos. Nada digno de atenção.

Sua única opção era perguntar a ela diretamente, mas isso não era possível enquanto ela continuasse a evitá-lo. Ele estava em um impasse.

Certo de que persegui-la não o levaria a lugar algum, Sakuta decidiu um dia que precisava de uma mudança de ritmo. Ele estava de plantão na limpeza, mas assim que terminou, foi para o laboratório de ciências.

Para ver sua outra amiga. Ele bateu na porta e a abriu sem esperar resposta.

“Espero não estar interrompendo,” disse, fechando a porta atrás de si.

“Está. Vai embora,” respondeu ela, sem rodeios.

Havia apenas uma estudante no laboratório relativamente grande. Ela estava na mesa que o professor usava durante as aulas, em frente ao quadro negro. Sobre a mesa, havia um bico de Bunsen e um béquer. Ela nem se deu ao trabalho de olhar na direção de Sakuta.

Ela tinha pouco mais de 1,50m de altura, era pequena e usava óculos. O jaleco branco sobre o uniforme certamente chamava a atenção. Sua postura era excepcional, o que aumentava a "aura de frieza" que emanava dela.

O nome dela era Rio Futaba. Uma aluna do segundo ano da Escola Minegahara. Ela tinha sido da mesma classe que Sakuta e Yuuma no ano anterior. Era a única integrante do Clube de Ciências. Os experimentos que fazia ali haviam causado falhas de energia na escola e até iniciado um pequeno incêndio, então ela tinha uma reputação de ser estranha. O jaleco branco era sua marca registrada, o que só reforçava essa impressão.

Sakuta puxou uma cadeira próxima, sentando-se do outro lado da mesa de Rio.

“Como vão as coisas?”

“Nada que valha a pena relatar para você.”

"Me diga algo divertido!"

"Você soa como uma típica estudante entediada do ensino médio. Não desperdice meu tempo com esse tipo de bobagem."

Ela levantou o olhar apenas o suficiente para lançar um olhar de reprovação. Talvez ele realmente estivesse interrompendo.

"Sou uma estudante e estou entediada, então você acertou em cheio."

Rio ignorou a tentativa dele de manter a conversa e usou um fósforo para acender o queimador de álcool. Em seguida, encheu o béquer com água e colocou-o sobre a chama. Seria algum tipo de experimento?

"O que deu em você, Azusagawa?"

"Eu não tenho nada a dizer, também."

"Mentiroso. Você está obcecado com uma ex-atriz mirim." Não havia necessidade de decifrar de quem ela estava falando. Só poderia ser Mai.

"Ela deixou esse rótulo para trás há muito tempo. Agora é uma atriz de verdade."

Mas, como estava em hiato, talvez esse termo também não se aplicasse completamente.

"Quem te disse isso, afinal?"

"Pergunta boba."

"Claro, só poderia ser o Kunimi."

Yuuma era o único que sabia o que estava acontecendo com ele. E as únicas pessoas na escola que conversavam com a esquisita de jaleco branco eram Yuuma e Sakuta.

"Ele está preocupado com você. Está se metendo em encrenca de novo?."

"Ei, o que você quer dizer com 'de novo'?"

"Nem consigo imaginar o que seria necessário para se preocupar com alguém como você. Kunimi é puro demais para este mundo."

"Se você descobrir como ele faz isso, vai ter que me contar."

A expressão 'grande personalidade' foi criada especificamente para Yuuma, Sakuta acreditava nisso de todo o coração.

No ano passado, quando começaram os rumores sobre o incidente da internação, Yuuma foi o único que continuou tratando Sakuta do mesmo jeito. Não só ele não acreditou nos boatos, como, quando foram colocados juntos na aula de educação física, perguntou diretamente se era verdade.

"Claro que não."

"Eu imaginei." Yuuma sorriu.

"...Você vai acreditar na minha palavra?" Sakuta ficou surpreso. A maior parte da turma acreditou imediatamente nas fofocas, afastando-se dele sem sequer perguntar.

"Quero dizer, não é verdade, certo?"

"Não, mas..."

"Prefiro a palavra da pessoa na minha frente a uma fonte anônima da Internet."

"Você é o pior, Kunimi."

"Hã? De onde saiu isso?"

"Com o seu rosto e sua personalidade, você é o inimigo de todos os homens."

"Riiight."

Isso havia acontecido há cerca de um ano. Ele e Yuuma ainda eram amigos inseparáveis.

Enquanto Sakuta encarava distraidamente a chama do queimador, ainda pensativo...

"O mundo simplesmente não é justo," disse Rio, com um olhar de pena.

"Pensar que as pessoas podem ser tão diferentes."

"Prefiro não ser comparado ao Kunimi."

"Eu só faço isso por despeito. Não se importe."

"Como eu poderia não me importar? Mas, bem, caras como ele sempre têm alguma mania bizarra que mantêm em segredo. É assim que o mundo mantém o equilíbrio na distribuição de personalidades incríveis."

"Você está no fundo do poço hoje, Azusagawa," suspirou Rio.

"Por quê?"

"Você tem um amigo genuinamente preocupado com você, e aqui está, falando dele pelas costas." Ele não tinha como argumentar contra isso.

"...A diferença entre mim e o Kunimi às vezes me deixa sobrecarregado."

"Isso e..." Rio fez uma pausa significativa.

"O quê?" A água no béquer começava a ferver.

"Finalmente superou Makinohara."

"...Kunimi disse a mesma coisa. Por que falar dela?"

"Você deveria saber a resposta melhor do que ninguém."

Rio apagou a chama do queimador e despejou a água quente em uma caneca.

Depois, adicionou café instantâneo. Aparentemente, ela não estava fazendo um experimento.

"Posso pegar um pouco?"

"Receio que só tenha uma caneca. Você pode usar este cilindro medidor?"

O longo tubo de vidro tinha cerca de um pé de altura. Rio parecia achar que isso era uma opção viável.

"Se eu tentasse beber café nesse troço, ele escorreria de uma vez só e eu me queimaria."

"Deveríamos fazer um experimento para ver se sua hipótese está correta. Além disso, esse é o único outro recipiente disponível."

"Por que não usar o béquer que você ferveu a água?"

"Seria entediante," ela resmungou. Mas, ainda assim, adicionou um pouco de café instantâneo à água que restava no béquer.

"Quer açúcar?"

"Eu não uso."

Rio puxou uma garrafa plástica de uma gaveta e a colocou à frente dele. O rótulo dizia "DIÓXIDO DE MANGANÊS."

"Tem certeza de que isso é seguro?"

"Provavelmente é açúcar. Pelo menos, é branco."

"Existem vários outros pós brancos. Até eu sei disso." Mas ele também sabia que dióxido de manganês era preto.

"O melhor é experimentar só um pouquinho de cada vez, para ter certeza," sugeriu Rio. Sakuta decidiu tomar o café puro.

Rio pareceu vagamente desapontada. Acendeu o queimador de álcool novamente. Ele se perguntou se desta vez era para um experimento, mas a resposta ficou clara quando ela colocou uma grelha sobre o fogo e começou a torrar uma lula seca. As pernas da lula se enrolavam ao contato com o calor.

"Posso pegar um pouco?"

Ele não tinha certeza se combinaria com café, mas o cheiro estava abrindo seu apetite.

Rio arrancou uma perna de lula e deu a ele.

Mastigando, Sakuta finalmente abordou o assunto principal.

"Futaba... é possível simplesmente parar de conseguir ver uma pessoa?"

"Se você está preocupado com os olhos, vá a um oftalmologista."

"Não é isso que eu quis dizer... Tipo, e se essa pessoa estiver definitivamente ali, mas ninguém conseguir vê-la. Como se ela fosse invisível."

No caso de Mai, as pessoas não só não a viam, mas também não ouviam sua voz, então 'invisível' não era exatamente o termo certo... mas era um ponto de partida.

"Isso é para quando você invade os banheiros das meninas?"

"Não sou desses, então pelo menos fale dos vestiários se quiser me difamar."

"Você é um descarado e sempre será." Rio pegou o celular na bolsa.

"Para quem está ligando?"

"Para a polícia."

"Não podem agir até que um crime tenha sido cometido."

"Boa observação." Ela guardou o celular.

"Mas, sobre sua pergunta original, o processo de visão está no nosso livro de ciências. Leia as seções sobre luz e lentes."

Ela pegou o livro em questão e deslizou-o pela mesa em sua direção.

"Estou perguntando a você porque parece muito trabalho ler tudo isso."

Sakuta empurrou o livro de volta. Rio mordeu a lula, sem se preocupar.

"A chave é a luz. A luz atinge os objetos, e a luz refletida deles entra em nossos olhos, permitindo-nos perceber cores e formas. No escuro, sem luz, não conseguimos ver nada."

"Reflexos..."

"Se isso não faz sentido, pense no som. Como os golfinhos se comunicam com ondas sonoras."

"Quer dizer... como eles medem a distância avaliando como as ondas sonoras refletem nas coisas?"

"Sim. Eles conseguem até identificar o formato dos objetos. Assim como o sonar de um navio. É difícil imaginar com a luz porque só percebemos a luz atingindo nossos olhos quando está realmente muito forte."

"Entendi."

"Mas o vidro é translúcido e não reflete bem a luz, então é mais difícil de ver."

"Ohhh, é verdade."

Será que, por alguma razão, a luz não estava alcançando Mai? Para uma estrela de cinema em hiato, essa frase parecia um tanto cruel.

Sakuta se perguntou se deveria considerar a ideia de que, como um vidro incolor e translúcido, o corpo de Mai não estivesse refletindo a luz. Infelizmente, mesmo que esse fosse o caso, ainda restariam muitas coisas sem explicação. Como o fato de que as pessoas não ouviam sua voz. Ou o fato de que alguns conseguiam vê-la enquanto outros não. A situação dela parecia muito mais complicada.

"Bem, acho que ajudou."

"Mesmo?" Rio perguntou, visivelmente desconfiada.

"Futaba, você acha que sou um idiota, né?"

"Não."

"Então acha que sou um mega idiota?"

"Você sabe exatamente o que estou tentando dizer, mas desperdiça tempo perguntando. É irritante."

"Tão cruel."

"Acho que você consegue pegar uma dica, mas é irritante o suficiente para fingir que não consegue."

"Ok, desculpa! Por favor, chega de provocações!"

"O jeito como você tenta escapar disso é ainda pior." Rio tomou um gole de café, impassível.

Sakuta achou melhor tentar voltar ao assunto principal.

"Hm, vamos ser um pouco mais específicos. Digamos que eu estou sentado bem aqui na sua frente. É possível que você não consiga me ver?"

"Se eu fechar os olhos."

"E se estiver com os olhos abertos, olhando diretamente para mim?"

"É possível."

Essa resposta era o oposto do que ele esperava. Além disso, ela respondeu sem hesitação.

"Só preciso estar concentrada em outra coisa ou estar tão distraída que nem note sua presença."

"Não, não é isso que eu quis dizer..."

"Escuta. Vamos deixar de lado a questão da luz por um momento. Quando se trata de visão, o funcionamento do cérebro humano pode ter um impacto maior do que a própria física envolvida."

Parece que Rio havia acabado o café, porque encheu outro béquer e o colocou acima da chama do lampião de álcool.

"Por exemplo, para seus olhos, posso parecer pequena, mas para uma criança, eu pareceria bem grande."

"Você é objetivamente grande, Futaba. Tenta esconder isso com o jaleco branco, mas, mesmo assim, dá pra notar."

O olhar dele se fixou no contorno dos seios dela.

"Deixa meus seios fora disso!" Ela cruzou os braços defensivamente. Muito feminina.

"Ah, desculpa, assunto sensível?"

"Você não tem noção de tato ou vergonha, tem?"

"Devo ter deixado por aqui em algum lugar." Ele olhou ao redor, como se procurasse.

"Se não vai prestar atenção de verdade, vá embora. Fim da aula!" Rio levantou-se da cadeira.

"Desculpa, prometo que vou ouvir. E não olhar para seus seios."

"Então pare de falar sobre eles!"

Honestamente, ele estava disposto a prometer que não olharia, mas não tinha certeza de que conseguiria evitar completamente. Seus olhos eram atraídos inconscientemente, e, sem um ajuste em nível genético, continuaria sendo um desafio para ele.

Ele tomou um gole de café e mudou de assunto.

"Então o que você está dizendo é que... o que vemos é subjetivo?"

"Correto. Evitamos ver coisas que não queremos ver. O cérebro humano consegue realizar esse tipo de façanha com facilidade."

As pessoas falavam sobre fingir não ver coisas o tempo todo: "O que os olhos não veem, o coração não sente", "Nem percebi". O conceito era bem familiar.

Mas o que Rio estava falando parecia refutar diretamente as ideias vagas que ele tinha sobre o que estava acontecendo com Mai.

Simplificando, a teoria de Sakuta era que as pessoas não conseguiam ver Mai porque ela estava "agindo como o ar". Ele pensava que a causa vinha dela.

Mas Rio falava como se o problema estivesse no observador. Segundo sua premissa, os pensamentos ou intenções de quem era observado não importavam.

"Existe algo chamado Teoria da Observação," Rio disse, lançando a próxima ideia antes que Sakuta pudesse digerir completamente as novas informações.

"O quê?" Ele arregalou os olhos, piscando para ela.

"Para simplificar muito, tudo o que existe só passa a existir quando alguém observa. Parece meio absurdo à primeira vista, certo?" Rio perguntou. Ela não parecia ter uma opinião muito firme sobre isso.

"Você conhece o gato na caixa, certo? O gato de Schrödinger."

"Já ouvi falar, pelo menos."

Rio puxou uma caixa de papelão vazia debaixo da mesa e a colocou na frente de Sakuta.

"Diga que há um gato nesta caixa."

Ela encontrou um cofrinho em forma de gato da sorte e o colocou dentro da caixa. O professor de física usava-o para guardar moedas de quinhentos ienes. Parecia suspeitosamente leve.

"Junto com alguns radioisótopos que liberam radiação a cada hora."

Ela adicionou o béquer com água fervente.

"Por fim, um gás venenoso, cuja tampa se abre ao detectar essa radiação. Se a tampa abrir, o gato respirará o gás venenoso. Suponha que isso seja sempre fatal."

Ela colocou a garrafa plástica rotulada "DIÓXIDO DE MANGANÊS".

"Então, você fecha a tampa e espera trinta minutos," disse Rio, colocando uma tampa na caixa. "Agora, temos uma caixa preparada trinta minutos antes."

"Como em um programa de culinária?" Rio ignorou o comentário.

"O que você acha que aconteceu com o gato?"

"Uh... então esses radioisótopos podem liberar radiação a qualquer momento dentro dessa hora? E, se fizerem isso, a tampa do gás venenoso abre." Rio assentiu.

"Então, se passaram apenas trinta minutos, isso é metade da hora, então... as chances são de cinquenta por cento?"

"Estou impressionada! Você realmente entendeu."

"Se eu não conseguisse acompanhar até aqui, ou sou muito burro ou nem estava ouvindo desde o começo."

"Então, o gato está vivo ou morto?"

"Bem, é cinquenta por cento de chance, certo? Poderíamos dar uma sacudida na caixa para descobrir."

"A caixa é feita de aço e está fixa no lugar, então não pode se mover." Ela apontou para a caixa, que claramente era de papelão.

"Então eu tenho fé de que ele ainda está vivo!"

"Em qual lado você aposta não importa de fato."

"Então por que perguntou?"

"A única maneira de determinar o estado do gato é olhar para ele."

"Isso é surpreendentemente comum."

Rio abriu a tampa. Naturalmente, o conteúdo ainda era um cofrinho de gato da sorte, um béquer e uma garrafa rotulada como DIÓXIDO DE MANGANÊS.

"O momento em que a tampa é aberta, o estado do gato é determinado. Em outras palavras, até abrirmos a tampa, o gato está simultaneamente morto e vivo. Pelo menos segundo a mecânica quântica."

"Isso não faz sentido. E se ele morreu dez minutos depois que fechamos a tampa? Não há necessidade de esperar outros vinte minutos para a tampa abrir. O gato continua morto."

Para o gato, pelo menos, sua vida estava acabada. Supostamente, eles têm nove vidas... mas um gato morto ainda é um gato morto.

"Eu disse que era algo absurdo, não disse? Bem, mesmo ignorando a interpretação quântica, acho que o experimento mental tem um fundo de verdade."

"Que verdade?" Sakuta achava que tudo aquilo soava meio suspeito.

"Os humanos só veem o mundo da maneira que desejam. Os rumores sobre você são um exemplo perfeito, Azusagawa. As pessoas acreditam nos rumores, mas não na verdade. Estendendo a analogia para o mundo real, você é o gato na caixa, e o resto dos alunos são os observadores."

As impressões subjetivas das pessoas que observavam tinham prioridade sobre o conteúdo real da caixa... Era isso que Rio parecia querer dizer. A perspectiva de Sakuta não importava, apenas o que os observadores pensavam dele.

"Isso não é engraçado..."

Mas isso ainda não explicava o que estava acontecendo com Mai. Sakuta podia vê-la, outras pessoas não podiam, e ele não fazia ideia de quais condições estavam causando sua invisibilidade.

Tudo isso era interessante, mas as peças ainda não se encaixavam.

Era questionável se a física do mundo real poderia explicar um fenômeno tão duvidoso quanto a Síndrome da Adolescência. Havia partes do que ele acabara de aprender que pareciam potenciais pistas, mas, quanto mais conversava com Rio, mais tudo parecia complicado.

Talvez o que estava acontecendo com Mai não pudesse ser resolvido apenas com ela voltando a trabalhar. Sakuta sentiu uma sensação de inquietação no peito. Tudo que Rio falava era sob a perspectiva dos observadores, então... talvez uma mudança no lado de Mai não fosse suficiente.

"Além disso, já foi provado que a observação pode mudar os resultados em algumas situações," disse Rio.

"Sério?"

"Isso é chamado de experimento da dupla fenda. Se eu resumir apenas a conclusão... em casos onde apenas o resultado foi observado, os resultados do experimento diferiram de quando as observações também foram feitas na metade do processo."

"Então, tipo, quando o time do Japão tem um jogo de futebol e só vejo o placar final no noticiário, eles ganham, mas se eu realmente assistir ao jogo, eles sempre perdem?"

"Estou falando estritamente de partículas em um nível microscópico. As posições das partículas existem em termos de probabilidade, não como matéria, mas na forma de ondas. Observá-las as restringe à forma de matéria."

"Mas essas coisas microscópicas, juntas, formam pessoas e coisas, certo?" Moléculas, átomos, elétrons... até Sakuta sabia que é disso que as pessoas e as coisas são feitas.

"Se o que descrevi puder acontecer no nível macroscópico, sua interpretação está correta. Além disso, para o bem do time do Japão, é melhor você não assistir mais futebol. Sério, nunca mais."

Um bom conselho. Ele assentiu agradecido, quando uma voz veio no alto-falante.

“Yuuma Kunimi, da turma 2-2. Favor comparecer ao escritório do professor, com o conselheiro do time de basquete, Sr. Sano.”

"...O que ele fez?"

"Ele não é você, Azusagawa. Provavelmente só estão revisando o cronograma de treinos do time."

Rio não parecia muito interessada, mas claramente estava do lado de Yuuma.

Sakuta havia virado o rosto para olhar para o alto-falante, e, com isso, viu também o relógio ao lado. Eram pouco mais de três horas.

“Oh, tenho que ir para o trabalho.”

“Então vá.”

“Obrigado. Pelo café, também.”

“Agradeça ao conselheiro do Clube de Ciências. Não é meu café.”

Rio mostrou o nome escrito na tampa do pote de café instantâneo.

“Bom, quem vai notar umas colheradas a menos?” Sakuta comentou.

Ele se levantou, jogou a bolsa no ombro e se dirigiu à porta. Mas, ao estender a mão para a maçaneta, uma ideia lhe ocorreu, e ele olhou para trás. Rio estava ajustando a chama de um bico de Bunsen, aparentemente se preparando para finalmente fazer um experimento de verdade.

“Futaba.”

“Mm?” Seus olhos continuaram fixos na chama azul.

“Você está bem com essa coisa do Kunimi?”

“......”

Ela levantou o olhar para ele, os olhos vacilantes.

“Eu...”

Ela tentou responder rapidamente, mas as palavras ficaram presas na garganta. Não conseguia nem dizer que estava bem. Sua voz falhou, e ele pôde perceber que ela estava se esforçando para não deixar as emoções transparecerem em seu rosto.

“Estou aprendendo a lidar com isso,” disse ela, sorrindo de forma fraca, desistindo de insistir que estava bem.

Não havia nenhum consolo que Sakuta pudesse oferecer. Tudo o que podia fazer era testemunhar o amor fadado de Rio à distância.

“Você vai se atrasar para o trabalho,” disse ela, apontando com o queixo para que ele saísse logo.

E com isso, Sakuta deixou o laboratório de ciências. Ao fechar a porta atrás de si, murmurou para si mesmo:

"Se acostumar? Isso só significa que você não consegue superar isso."

 

“Azusagawa!” seu gerente gritou. “Faça sua pausa antes da correria do jantar.”

“Entendido.”

Sakuta foi para a área de descanso, que também servia como vestiário masculino nos fundos do restaurante. Lá, ele encontrou Yuuma saindo de trás dos armários, tendo acabado de colocar o uniforme. Ele tinha vindo direto do treino, mas não parecia nem um pouco cansado.

“E aí,” Yuuma disse, ao notar Sakuta. Ele estava amarrando o avental.

“Mm,” Sakuta resmungou, franzindo a testa diante do sorriso agradável de Yuuma.

“Pausa?”

“Senão eu estaria no salão.”

“Verdade... Certo, pronto.” Ele deu um nó firme nas cordas do avental e se conferiu no espelho.

“Ah, Sakuta,” Yuuma disse, como se tivesse se lembrado de algo.

“Mm?”

Yuuma sentou-se à mesa e serviu-se de uma xícara de chá da chaleira. Deu um longo gole.

“Você está escondendo coisas de mim.”

“Esse jeito de falar... Por acaso você é minha namorada?” Sakuta provocou, tentando disfarçar a surpresa. O coração partido de Rio foi a primeira coisa que lhe veio à mente, mas Yuuma logo deixou claro que estava falando de outra coisa.

“Não estou brincando. Estou falando da coisa com a Kamisato.”

“Ohhh...”

Um tanto aliviado, Sakuta ainda desviou o olhar. Não queria falar sobre isso também. Mas Yuuma claramente havia descoberto sobre Saki Kamisato tê-lo chamado ao telhado duas semanas antes.

“Você arrumou uma e tanto, hein, Kunimi.”

“Pois é, ela é ótima.”

“Ela me disse para nunca mais falar com você.”

“Ela quer me monopolizar! O amor dela é tão forte.”

“Ela disse que seu ‘valor de mercado’ cai se você falar comigo. Quanto você tá valendo, afinal?”

“Pois é... mal aí!” Yuuma juntou as palmas das mãos e fez uma reverência.

“Você é demais.”

“Como assim?”

“Tantas indiretas, e eu não consigo fazer você reclamar dela nem uma vez.”

“Bom, eu estou apaixonado por ela. Ela se empolga às vezes, mas é honesta com os sentimentos! Ela é uma ótima garota.” Sakuta achava que ela podia ser um pouco menos honesta...

“Você soa como a esposa iludida em um relacionamento abusivo,” ele disse.

“Tipo aquelas que dizem, ‘Juro que ele é legal às vezes’? Não seja ridículo.”

“Bom, não se preocupe comigo. Seja lá o que a Kamisato diga, não faz diferença para mim.”

“Você podia se importar um pouco,” Yuuma riu. “E acho que eu devia pedir desculpas.”

“Por quê?”

“Ninguém quer ouvir alguém reclamando da própria namorada.”

“Relaxa, cara.”

“Kamisato não ia gostar de você dizendo isso.”

“Com certeza.” Yuuma sorriu novamente.

“Mas tanto faz. Sakuta, não tenha ideias estranhas. Se você começar a me evitar ‘pelo meu bem’ ou algo assim, eu vou ficar realmente irritado.”

“Não me culpe se isso causar atrito entre você e sua namorada.”

“Lidaremos com isso quando acontecer. Mas tenho certeza de que toda a raiva dela vai se voltar para você.” Isso parecia bem pior.

“Ah, qual é, cara. Isso não é justo!”

“Você disse que isso não te afeta nem um pouco, certo?” Yuuma sorriu, como se tivesse acabado de vencer uma batalha.

“Isso só prova que um homem capaz de perguntar a uma mulher se ela está naqueles dias é feito de um material mais forte. Tem certeza de que seu coração não é feito de aço?” Yuuma deu uma risada forte e, em seguida, olhou para o relógio.

“Droga, já deu a hora,” ele observou, batendo o ponto.

Ele foi direto para o chão de vendas, certificando-se de que o gerente o visse. Mas, por algum motivo, ele voltou à sala de descanso menos de um minuto depois. Teria esquecido algo? O que poderia ter deixado para trás? No entanto, estava claro que Yuuma havia voltado para falar com Sakuta, com uma expressão que indicava que tinha mais a dizer.

“O que foi?”

“Aquela repórter está aqui de novo.”

Embora o tom e a expressão de Yuuma estivessem neutros, Sakuta conseguia perceber a preocupação oculta. Ele sabia muito bem que Sakuta não ficaria exatamente contente com essa notícia. Ignorando os horários obrigatórios de descanso, Sakuta voltou para o chão de vendas e foi diretamente para a mesa dela.

Lá, encontrou uma mulher de uns vinte e poucos anos, sentada sozinha em um dos assentos de uma cabine para quatro pessoas. Ela usava uma blusa de manga curta em uma cor suave de primavera, combinada com uma saia que terminava logo abaixo dos joelhos. Sua maquiagem natural não chamava atenção para si. O conjunto a fazia parecer inteligente, como uma repórter de telejornal. E era isso que ela era...

“Posso anotar o seu pedido?” perguntou Sakuta, em tom estritamente profissional.

“Bom te ver também.”

“Já nos conhecemos?”

“Então é assim que você quer jogar? Deixe-me me apresentar. Aqui está meu cartão.”

Com habilidade, a mulher entregou-lhe um cartão de visitas. Havia o logotipo de uma emissora de TV, a divisão de reportagens, e o nome Fumika Nanjou estampado no centro.

Ele sabia quem ela era, é claro. Conhecera Fumika pela primeira vez quando sua irmã estava sendo intimidada na escola. Na época, ela estava trabalhando em uma reportagem sobre bullying no ensino fundamental. Desde então, Fumika já aparecia de tempos em tempos, há alguns anos.

“O que foi dessa vez?”

“Estou na cidade para uma matéria sobre sardinha branca, mas como tinha a noite livre, resolvi dar uma passada.”

Havia uma nota de alegria forçada em seu tom, mas Sakuta não se deixou afetar. Fumika estava ali atrás de uma única coisa. Ela descobrira sobre a Síndrome da Adolescência enquanto trabalhava na matéria sobre bullying, o que despertou uma curiosidade pessoal. Naturalmente, ela não iria acreditar em uma lenda urbana de imediato, mas tinha aprendido o suficiente para não ser completamente cética. E, caso fosse verdade, seria um grande furo, então ela não podia simplesmente desistir. Ela até já admitira isso a ele uma vez.

“Por que não arruma um encontro com um jogador de beisebol?”

“Tentador, mas durante a temporada, os melhores jogadores estão sempre ocupados.”

Eram seis da tarde. Isso significava que o jogo estava começando.

“Posso conseguir um encontro bem aqui,” ela disse, lançando um olhar significativo para Sakuta.

“Não gosto de mulheres mais velhas, desculpe.”

“Você é uma criança! Não sabe apreciar meus encantos adultos.” Ela apoiou o queixo em uma das mãos, olhando para ele.

“Dá pra ver que você ganhou peso nos últimos meses. Talvez devesse cuidar dos braços.”

“......!” As sobrancelhas dela se ergueram. Ele definitivamente a irritou. Ela se recostou na cabine.

“Você é tão insuportável,” disse ela.

“Prefiro ser legal. Seu pedido?”

“Um Sakuta para viagem.”

“Você parece ter perdido a sanidade,” ele respondeu, sem emoção. “Gostaria de pedir uma ambulância no lugar?”

“Cheesecake e um café quente,” ela pediu, sem sequer olhar o cardápio. Fumika sempre pedia a mesma coisa quando vinha ali. Era um hábito que Sakuta normalmente associava a homens.

“Mais alguma coisa?”

“Você ainda não vai falar sobre isso?” Ela tirou o celular do bolso e começou a checar os e-mails.

“Eu me contentaria com uma foto da cicatriz no seu peito.”

“Não vai acontecer.”

“Nunca?”

“Você me deixaria fotografar você nua em troca?”

“Claro, por que não?”

“Só para uso pessoal, hein? Se isso acabar online, eu perco o emprego.”

Sakuta decidiu que não deveria continuar a conversa e começou a se afastar. Mas, a alguns passos dali, uma ideia lhe ocorreu.

“Ah,” começou ele, virando-se de volta.

“Hmm?” Ela não desviou o olhar do celular.

“Nanjou...” Ele hesitou por um momento e então perguntou: “Você conhece a Mai Sakurajima?”

“Quem não conhece?”

Ela ainda não havia olhado para ele.

“Você sabe por que ela saiu do meio artístico?”

Ele sabia que Fumika cobria fofocas de celebridades de vez em quando.

“......”

Ela o encarava, surpresa – claramente pega de surpresa pela pergunta. Mas isso logo deu lugar à curiosidade. Agora ela queria saber por que ele havia perguntado.

Ele conseguia perceber isso em sua expressão, mas ela não formulou a pergunta.

“Eu sei de coisas que não foram divulgadas publicamente, pelo menos.”

“Então...”

“E aí? Isso é um pedido de uma criança? Ou uma troca justa entre adultos?”

“Não me trate como criança.”

“Certo. Então não vou te contar de graça.”

“Se uma foto minha bastar...”

“Então temos um acordo.”

Foi como se ele tivesse acionado um interruptor. Fumika guardou o celular na bolsa e olhou para o assento à sua frente. Sakuta sentou-se. Dois adultos, compartilhando uma mesa.

Sakuta trabalhou até as nove e, no caminho de casa, parou em uma loja de conveniência. Passou por ruas residenciais desertas antes de finalmente chegar ao seu apartamento, após uma caminhada de dez minutos.

Ele foi direto pelo elevador até o quinto andar, onde encontrou alguém esperando do lado de fora de seu apartamento.

Mai estava sentada contra a parede, usando o uniforme escolar. Abraçava os joelhos, que estavam bem juntos, enquanto as pernas inferiores estavam ligeiramente afastadas. Ela devia ter seguido alguém até passar pela tranca automática da entrada.

Quando ele se aproximou, ela lançou-lhe um olhar ressentido.

“Finalmente chegou em casa.”

“Eu estava trabalhando.”

“Onde?”

“No restaurante perto da estação.”

“Ahhh...”

“Mai.”

“O quê?”

Ele juntou as mãos, levantou dois dedos, fez um grande círculo sobre a cabeça com os braços e, finalmente, simulou óculos com os polegares e indicadores, segurando-os em frente aos olhos. Ele havia mimado “Consigo ver sua calcinha” com gestos japoneses clássicos.

“Mímica?” ela perguntou, como se ele fosse o idiota.

Aparentemente, ela não havia notado que ele conseguia ver uma calcinha branca através da meia-calça preta. Que descuidada!

Ele desistiu e disse em voz alta. “Consigo ver sua calcinha.” Mai arfou e olhou para si mesma.

“Não é problema nenhum para mim se um garoto mais novo vê minha roupa íntima!” ela protestou, mas logo colocou a mão entre as pernas, puxando a saia para baixo. Sakuta se perguntou por que achava mais atraente vê-la tentando esconder do que quando estava à mostra.

“Você ficou vermelha.”

“E-eu estou muito nervosa agora!”

“Uau, parece que todo mundo está animado hoje à noite.”

“Eu não estou animada!”

Mai lançou-lhe um longo e firme olhar.

“Levantar-se deve resolver o problema.” Ele estendeu a mão.

Mai a alcançou, mas, pouco antes de tocá-lo, puxou a mão de volta, como se tivesse se lembrado de que ainda estava chateada com ele. Ela soltou um pequeno bufar, então levantou-se sem aceitar sua ajuda.

“Não vou segurar a mão de um garoto, vai saber onde mais ela esteve,” disse ela, com um sorriso vitorioso. Parecia estar se divertindo. Mas esse momento foi rapidamente interrompido por um som alto vindo de sua barriga.

“......”

“......”

“Nossa, estou tãooo com fome,” disse ele, com a voz mais falsa que conseguiu fazer.

“Precisa esfregar isso na minha cara?”

“Mau hábito, eu sei.” Sakuta tirou um pão com creme de sua sacola de compras.

Ela hesitou, então estendeu a mão para pegá-lo. Ele se sentiu como se estivesse alimentando um gato de rua. Mai rasgou a embalagem e começou a devorar o pão com creme.

“Desde quando você se tornou do tipo que está sempre com fome?”

“......”

Ela continuou mastigando em silêncio. Só quando terminou de engolir respondeu irritada:

“Eu não posso fazer compras,” como se isso fosse culpa de Sakuta.

“Ahhh. Isso explica...”

Se ninguém podia vê-la, então obviamente Mai não podia passar pelo caixa. Ele já havia visto a vendedora no estande da estação ignorá-la completamente quando tentava comprar um pão com creme. Foi doloroso de assistir.

“Nestas últimas duas semanas, mais e mais lugares deixaram de me ver. Em toda a região da Estação Fujisawa, agora ninguém consegue. Mesmo que eu faça um pedido online, eles não conseguem me ver, então não posso receber as entregas.”

“Quer entrar?” Sakuta sugeriu, tirando a chave e apontando para a porta.

“Posso ser caridoso.”

“Essa frase foi suspeita,” resmungou Mai, lançando-lhe um olhar. A aparente irritação dela não era nada assustadora. Na verdade, era até meio fofa.

“Então, eu te ofereço um jantar.”

“Não. Se eu entrasse na casa de um garoto a essa hora, seria como dizer que ele pode fazer o que quiser.”

“Entendi! Então é assim que você sinaliza consentimento. Bom saber.”

“Esqueça que eu disse isso.” Ela deu um tapa na cabeça dele.

“Ai.”

“Pare de brincar e me ajude a fazer compras.”

“Claro, só um segundo. Preciso avisar minha irmã sobre o que está acontecendo.”

“Tudo bem. Vou esperar lá embaixo.”

Enquanto Sakuta colocava a chave na porta, Mai deu as costas e foi em direção aos elevadores.

Kaede estava esperando Sakuta chegar em casa, e ele levou bons quinze minutos explicando para que ela se acalmasse. Em seguida, demorou o mesmo tempo para Mai superar a espera. O supermercado ficava perto da estação, a dez minutos de caminhada, então, quando chegaram, já passava das dez horas.

A loja fechava às onze, então ainda havia uma quantidade razoável de pessoas. Muitos homens jovens de terno, provavelmente solteiros que paravam ali a caminho de casa depois do trabalho.

Sakuta costumava fazer compras ali regularmente, mas raramente a essa hora. Sentiu como se fosse uma experiência completamente nova. E esse sentimento era ainda mais intenso pelo fato de ele não estar sozinho. E a pessoa com ele era ninguém menos que Mai Sakurajima.

Mai andava à frente dele, escolhendo suas compras. Ele estava gostando de empurrar o carrinho atrás dela e não conseguia esconder o sorriso do rosto.

“Definitivamente parecemos um casal.”

“O que você disse?” perguntou Mai, olhando para cima, ainda segurando as cenouras nas mãos.

“Nada.”

“Tudo bem. Ninguém aqui consegue me ver.” Então ela tinha ouvido.

“É minha primeira vez ficando até tarde, e você concordou em me fazer o jantar.”

“Quanto mais tempo você perde com essas fantasias bobas, mais idiota fica.” Ela colocou a cenoura que estava na mão direita de volta na prateleira.

“Ok, pergunta séria.”

“Mesmo?” Ela parecia achar isso bem questionável.

“Então, essa cenoura que você está segurando. Como ela parece para os outros? Está flutuando?”

“Eles não podem vê-la também,” ela respondeu. Aparentemente, já havia testado isso.

Ela demonstrou, balançando a cenoura na frente de um homem de negócios. Ele não reagiu.

“Viu?”

“Acho que você está certa.”

“Tentei colocar tudo numa cesta e levar ao caixa, mas não adiantou. Quer dizer, já sabemos que eles também não conseguem ver minhas roupas.” Era verdade. Isso não era apenas o corpo dela ficando invisível.

“Talvez tudo o que eu toco fique invisível.”

“Por essa lógica, a Terra inteira seria invisível.”

“Você está pensando em uma escala grandiosa.”

“Sou um homem destinado a coisas maiores.”

“Tá, claro,” disse ela, desprezando o comentário.

“Mas, se você me tocar, o que acontece então?”

“Essa é uma maneira disfarçada de me convencer a segurar sua mão?”

“Não, só um experimento.”

Se tudo o que ele queria fosse um toque, isso já havia acontecido. Quando ela visitou o quarto dele, Mai tocou as cicatrizes no peito de Sakuta. Ela também deu um empurrão de leve nele no trem, brincando sobre engravidar. Mas nenhum desses toques fez Sakuta ficar invisível. Parecia provável que os itens que ela colocava no carrinho ficariam visíveis quando ele chegasse ao caixa.

O que ele realmente queria saber era o que acontecia enquanto ela o tocava.

“Se é por essa razão, não vou fazer isso.” Ela se virou e foi em direção à seção de carnes.

Ele a chamou, mantendo os olhos atentos à reação dela. “A verdade é que eu só estava tentando esconder o constrangimento. Na verdade, eu só queria segurar sua mão.”

“E?” ela perguntou, sorrindo por cima do ombro.

“Você me daria a honra de ser a primeira garota a segurar minha mão?”

“Um pouco assustador... mas aceito.”

Mai deixou que ele a alcançasse, e então eles caminharam lado a lado. Sakuta sentiu o calor dela contra ele. Ela havia entrelaçado seu braço ao dele.

Surpreso, ele sentiu o coração acelerar.

Mai era alta o suficiente para que seu rosto estivesse apenas a um olhar de distância. Tão próxima que ele podia contar os cílios dela.

“......”

Quanto mais ela se segurava nele, mais ele ficava consciente do toque leve do lado do seio dela contra seu braço. Ele já tinha observado isso enquanto ela usava aquele traje de coelhinha, mas era evidente que ela tinha seios generosos para alguém com uma estrutura tão esguia.

E ela tinha um cheiro tão agradável. A cabeça dele estava zonza.

“Seus pensamentos foram direto para o lado errado, né?”

“Acho que foi cem vezes mais longe do que você está imaginando,” ele admitiu. Mai soltou o braço dele.

“Mas você é tão madura que isso nunca te incomodaria,” ele disse.

“Claro. Um garoto mais jovem tendo fantasias eróticas sobre mim é... é... nada.” Fingindo teimosia, Mai pegou o braço dele de novo.

“Ahhh!” Até ele sabia que aquele som tinha sido esquisito.

Um homem de negócios que estava por perto lançou-lhe um olhar suspeito. Seus olhares se encontraram. Ele claramente podia ver Sakuta. Mas não parecia conseguir ver Mai Sakurajima. Ela permanecia invisível.

“Er, Mai?”

“Ainda não é o suficiente?”

“Desculpa. Você me venceu. Por favor, solte meu braço antes que fique difícil de eu andar.”

“Isso é o que você merece por me provocar.”

Mai parecia estar se divertindo, brincando com ele e sem intenção de soltá-lo. Ela estava se acostumando com esse tipo de interação.

Mas tê-la segurando seu braço não era nenhum castigo. Pelo contrário, era maravilhoso. Nada além de recompensador.

“Sabe, acabei de lembrar, não estávamos brigando?”

“Ah, é verdade.”

O sorriso dela desapareceu, e ela se afastou dele, parecendo decepcionada. Ele ficou surpreso com a rapidez com que o comportamento dela mudou. Não conseguia dizer se era uma reação genuína ou se ela estava apenas encenando.

Uma parte dele se arrependeu dessa escolha, mas ele ainda conseguiu aproveitar o resto da ida às compras.

A aproximação ao caixa foi um pouco tensa, mas todos os itens no carrinho foram registrados sem problemas. Ele pagou como de costume e recebeu as sacolas cheias de vegetais, carne e alguns lanches.

Então saíram da loja. Sakuta carregava ambas as sacolas.

Ele e Mai caminharam lado a lado, e Sakuta não fazia ideia de para onde estavam indo.

“Onde você mora, Mai?”

Se ela estava fazendo compras perto da Estação Fujisawa, deveria morar a uma distância caminhável.

“Na Terra,” ela respondeu.

Então ele apenas acompanhou o passo dela, deixando que ela o guiasse. Por enquanto, estavam indo na mesma direção de seu apartamento.

“Mal posso esperar para conhecer sua casa, Mai.”

“Você não vai entrar,” ela rebateu. E claramente, ela falava sério.

“Ahh.”

“Não aja como uma criança mimada. Estamos brigando, lembra?”

“Só porque você não consegue admitir a verdade.”

“Oh? Então a culpa é minha?”

“Se você quer atuar, deveria fazê-lo.”

“Não fale sobre isso de novo,” ela disse. O tom era baixo, mas sem dúvida ameaçador. Aquilo era mais que uma simples rejeição. Ela o afastava com frieza.

“Porque eu não sei nada sobre você?”

“Sim. Então cuide da sua própria vida.”

“Que pena! Na verdade, eu sei por que você saiu do ramo.”

“Claro que sabe,” ela ironizou.

“No terceiro ano do ensino fundamental, você lançou um certo álbum de fotos.”

“?!” Mai pareceu visivelmente abalada com aquilo.

“Você tinha dito que nunca faria uma sessão de fotos de maiô, mas sua mãe assinou o contrato mesmo assim, sabendo que isso aumentaria as vendas.”

Ela já havia posado para muitas revistas, mas nunca de maiô. E ainda assim, era muito requisitada. Na verdade, a ausência de exposição excessiva era o que a destacava. Sua beleza natural era mais que suficiente.

“Mas você teve uma briga feia com sua mãe por causa disso e achou que a melhor forma de se vingar dela era sair do negócio.”

“......”

“Mas, na minha opinião, você está sendo ridícula.”

“Cala a boca.”

“Esse não é um motivo para abandonar o que você quer.”

“CALA A BOCA!”

“Você é quem está gritando! Acalme-se, você está incomodando os viz….” Antes que ele pudesse terminar, a mão dela atingiu seu rosto. O som do tapa ecoou na rua silenciosa.

“Eu tive que lutar muito contra isso!”

“......”

“Eu ainda estava no ensino fundamental! Mas cheguei ao estúdio, e eles me forçaram a vestir um maiô, adultos ao redor. E minha mãe disse que tínhamos assinado o contrato, que não importava o quanto eu não quisesse, era o meu trabalho, então eu tinha que fazer! Tive que forçar um sorriso!”

Se sua vida fosse mais comum, talvez ela pudesse ter lutado contra isso. Feito um escândalo, recusado o trabalho. Mas ela era Mai Sakurajima. Era uma profissional desde os seis anos de idade. E cercada de adultos... Causar uma cena não era uma opção. Ela tinha que avaliar a situação e fazer a escolha profissional. Era uma criança, mas precisava agir como adulta.

“Ela só estava me usando. Eu não era nada além de uma maneira de ganhar dinheiro.”

Mai despejou as palavras com amargura e um tom sombrio.

Ainda assim, Sakuta estava certo de que esse era o verdadeiro motivo dela. Ela estava se vingando da mãe por tratá-la como um produto.

Ele só podia imaginar como aquilo poderia ser doloroso. Nunca passara por nada parecido. Não podia afirmar que entendia, mas havia uma coisa da qual tinha certeza.

“Eu diria que esse é um motivo ainda maior para você voltar a trabalhar.”

“Como assim?”

“Porque, por mais terrível que isso tenha sido, do jeito que as coisas estão agora, você ainda está sofrendo por causa disso.”

“Ah...?”

“Se você quer fazer algo, não há razão para se forçar a não fazer. Você deveria apenas fazer. Até eu sei disso! E sei que você entende também, Mai.”

“......”

Mai fitou o chão, o rubor de raiva sumindo aos poucos.

“......” Ela ficou em silêncio por bons dez segundos.

“Desculpe por ter te dado um tapa,” ela se desculpou suavemente.

Só então Sakuta percebeu a dor latejante em sua bochecha.

“Minhas mãos estão ocupadas, e eu nem pude me defender, sabia?”

“É por isso que não foi um soco.”

“...Muito obrigado, de coração,” ele disse, deixando claro o que sentia.

“Você não parece nada grato.”

“É, bem, fui eu quem levou um tapa. Ai. Aiii.”

“Como você é dramático.”

“Dói tanto! Não acho que vai melhorar até que minha senpai gentil e linda faça uma massagem...”

“Bem feito.”

“Por quê?”

Sakuta acreditava estar totalmente inocente.

“Você escolheu as palavras de propósito para eu ficar brava,” ela acusou, irritada.

“Eu fiz?” Já era meio tarde para se fazer de desentendido, mas ele não podia simplesmente admitir isso também.

“Estava esperando que eu ficasse emotiva e desabafasse alguma coisa, né?”

“De jeito nenhum.”

“Você é bem ardiloso.”

Mai estendeu a mão e tocou a bochecha de Sakuta. Ele achou que ela fosse massageá-la, mas em vez disso, ela a beliscou. Beliscou o lado que não havia dado o tapa também, puxando as duas bochechas.

“Aii.”

“Isso à parte, Sakuta,” Mai disse, já totalmente no controle de si mesma. “Quem te contou por que eu desisti?”

“......” O olhar dele desviou para cima.

“Não desvie o olhar.”

O aperto nas bochechas dele ficou mais forte.

“Ai!”

“Quem te contou?”

Parecia que ficar em silêncio não o tiraria dessa. Nem se fazer de bobo. Mai sabia melhor que ninguém quantas poucas pessoas tinham acesso a essa informação. Eles conseguiram manter tudo muito bem escondido.

“Eu conheço uma repórter. Ela me entrevistou quando Kaede estava sofrendo bullying.”

“Quem?”

“Fumika Nanjou.”

“Ah. Ela.”

“Você a conhece?”

“Ela trabalha como assistente em um programa de fofocas diurnas faz um tempo. Nossos caminhos já se cruzaram.” Essas não pareciam ser boas lembranças.

“Mas por que você ainda a conhece? O problema da sua irmã foi há dois anos.”

“Ah, bem...”

“Desembucha.”

“Ela se interessou pelo Síndrome da Adolescência. Ela viu as cicatrizes no meu peito. Ela aparece de vez em quando, tentando me convencer a ajudá-la com isso.”

Quando ele perguntou sobre Mai, Fumika acenou e disse: “Parte disso é suposição, claro,” e mencionou que havia muita pressão para manter a situação em segredo.

“Então você ofereceu algo para obter informações sobre mim,” disse Mai, incisiva.

“Não,” negou Sakuta, tentando fazer seu coração parar de bater tão forte.

“Isso é mentira. Aquela mulher se acha uma jornalista de verdade, e nenhum profissional daria informações de graça. O que você deu a ela?”

Mai parecia saber muito mais sobre o mundo da televisão do que ele. Não tinha como mentir para sair dessa, e ela não o deixaria ficar em silêncio. Ele foi forçado a confessar.

“Uma foto. Da cicatriz no meu peito.”

Ele omitiu o fato de que eles compartilharam uma cabine do banheiro para tirar a foto. E o fato de que o perfume dela o deixou um pouco... distraído? Esse detalhe ele levaria para o túmulo.

“Seu idiota!”

“Que rude.”

“Você é mesmo um idiota. Em que diabos estava pensando?” A voz dela estava áspera. Ele percebeu que ela estava genuinamente furiosa.

“Bem, eu quero te ajudar.”

“......”

“Eu realmente quero.” Ele estava com medo de encará-la. Seu olhar escorregou para o lado.

Mai suspirou, deixando as mãos caírem. As bochechas de Sakuta estavam finalmente livres, mas ainda ardiam.

“Aquelas cicatrizes trazem lembranças dolorosas para você. E isso pode afetar sua irmã.” Mai parecia muito séria.

“Ela disse que deixaria Kaede fora disso.”

“Mas se ela cobriu essa história há dois anos, há uma chance de que alguém possa ligar isso a você.”

"Suponho que sim."

"Certo."

Mai estendeu a mão. Sem entender exatamente o que ela queria, ele juntou as duas sacolas de compras e tentou entregá-las a ela. Mas ela as afastou com um tapa.

"Estou pedindo o número daquela mulher."
"Você poderia simplesmente ter dito." Ele repassou a conversa na cabeça, confirmando que ela definitivamente não tinha dito isso.

"Era para entender pelo contexto."

"Sim, Vossa Majestade."

"Você não faz ideia de como a televisão pode ser assustadora. Se a mídia pegar alguma coisa, você será cercado num instante! Já posso ver as câmeras na porta da sua casa."

Sakuta também conseguia imaginar a cena. Ele já tinha visto pessoas presas em escândalos, envoltas em olhares críticos, tentando se proteger dos flashes, bombardeadas de perguntas... e então imaginou a si mesmo no centro desse caos.

"......" Ele engoliu em seco.

"...já estou me sentindo mal," disse ele, ciente de que o sangue estava sumindo de seu rosto.

"E se isso realmente acontecer, você vai se sentir cem vezes pior." A última frase de Mai o atingiu em cheio. Sakuta começou a suspeitar que tinha cometido um erro fatal. Um calafrio percorreu sua espinha.

"Na próxima vez, seja mais cuidadoso. Entendeu?"

Mai estava irritada, mas não de uma forma desagradável. Ela o repreendia, mas havia uma certa ternura nisso. Sakuta percebeu que sua irritação vinha de uma preocupação genuína.

"E então?"

"Mensagem recebida. Vou ter mais cuidado. Mas ela já tem..."

"E daí?" Mai levantou a mão novamente.

"Você tem o número dela, certo?"

Fumika tinha dado seu cartão a Sakuta. Ele o tirou da carteira e entregou a Mai.

Mai leu a frente do cartão e depois o virou.
"Um número de celular escrito à mão? Meio suspeito." Sakuta se sentiu acusado.

"Eu até gosto de mulheres mais velhas, mas não tanto assim."

"Hmph." Ainda irritada, Mai digitou o número no smartphone.

"Mai, o que você pretende com isso?"

"Fique quieto."

Ela colocou o telefone no ouvido e virou as costas para ele. Fumika atendeu imediatamente.

"Desculpe pela ligação repentina," começou Mai.

"Aqui é Mai Sakurajima. Trabalhamos juntas antes. Prometo que isso não é uma trote. Por favor, não desligue. Sim, sou eu mesma, Mai Sakurajima. Estou bem, obrigada. Este é um bom momento?"

Mai conduzia a conversa com uma habilidade tranquila, que a fazia parecer uma adulta responsável.

"Estou ligando para discutir sobre Sakuta Azusagawa. Frequentamos a mesma escola. Sim, está correto."

A forma calma com que ela lidava com a ligação fazia Mai parecer confiável.

"Gostaria de pedir que você não torne pública a foto das cicatrizes no peito dele. Também apreciaria se minimizasse o número de especialistas a quem mostrar a foto. Sim, é claro que não será de graça. Eu fornecerei uma matéria de valor equivalente."

"Espera, Mai!" O que ela estava prestes a oferecer? Sakuta não queria que ela se oferecesse por ele.

Mai lançou um olhar por cima do ombro, colocando o dedo nos lábios, como quem manda uma criança ficar em silêncio.

"Sim, estou ciente disso. Tenho certeza de que a informação que estou oferecendo será satisfatória." Ela virou-se de costas para ele novamente.

"Estou prestes a encerrar meu hiato. Quando isso acontecer, darei uma entrevista exclusiva para você. Sim, naturalmente, isso sozinho não causará tanto alvoroço. Mas essa próxima parte deve convencer."

Ela fez uma pausa. O que disse a seguir parecia algo que havia preparado há muito tempo.

"Não voltarei para o escritório de minha mãe. Minha retomada será feita por uma nova administração."

Sakuta provavelmente ficou muito mais surpreso com essa declaração do que Fumika Nanjou. Algumas semanas atrás, e também hoje... eles haviam discutido exatamente sobre isso. Quanto mais ele insistia para que Mai voltasse a trabalhar, mais ela resistia. Então, o que exatamente ela estava dizendo? Que estava encerrando seu hiato? Como ele poderia não se surpreender?

"Tenho certeza de que você entende que esse assunto terá um impacto muito mais imediato do que o de Azusagawa. Afinal, a maioria das pessoas nem acreditaria nessa história. Mas fique à vontade para pensar no assunto."

Os minutos seguintes foram preenchidos apenas com "Sim," "Exatamente," e "Concordo," enquanto Fumika confirmava alguns detalhes.

"Então, temos um acordo? Aguardo ansiosamente a nossa próxima colaboração." Educada até o fim, Mai desligou.

Ela se virou para Sakuta. "Aí está!"

"Desculpe."

"Por que pedir desculpas?"

"Obrigado."

"Mas ver você com essa cara abatida é meio fofo."

Desta vez, Sakuta não tinha uma resposta irônica. Ele realmente estava em dívida com ela. O frio na espinha que sentiu ao imaginar as câmeras o perseguindo havia desaparecido completamente. Ele se sentia seguro de novo, e isso era tudo graças a Mai.

"Mas você vai mesmo voltar ao trabalho? E com uma nova administração?"

"Você estava certo sobre isso, Sakuta." Mai parecia relutante em admitir.

"Eu gostava de fazer filmes e programas de TV. Era um trabalho difícil, mas gratificante. Eu nunca quis parar. E eu não deveria estar mentindo para mim mesma sobre isso. Satisfeito?"

"Nem um pouco. Isso é só o começo!"

"Esse é o momento em que você deveria me perdoar!"

"Você foi quem me evitou por duas semanas inteiras."

"E agora eu acabei de te ajudar!"

"Isso é uma coisa; aquilo é outra."

"Urgh... está bem. Eu não deveria ter sido tão teimosa. Me desculpe. Estamos bem agora?"

Era evidente que ela odiava ter que admitir a culpa, mas também sabia que era o certo a se fazer.

"Mais uma vez."

"Perdoe-me! Me arrependo de tudo."

"Se você estivesse me olhando com os olhos semicerrados, seria perfeito."

"Não abuse da sorte." Mai apertou o nariz dele.

"Ai! Não faça isso!" ele gritou, com a voz abafada. Mai riu alto.

"Você soa ridículo!"

Só então Sakuta percebeu por que ela estava esperando por ele fora do apartamento. Mai tinha vindo para contar que estava voltando ao trabalho. Ela havia tomado essa decisão por conta própria, muito antes de ele compartilhar o que Fumika tinha dito.

Uma parte dele achava isso frustrante, mas, no geral, ele se sentia muito bem com a situação.

"Caramba, o mundo continua girando por si só."

"O que você disse?"

"Nada, só estava pensando alto."

Eles começaram a caminhar de novo. Ele sentia que o clima havia melhorado bastante. Se a decisão de Mai curasse a Síndrome da Adolescência dela, tudo estaria perfeito.Três minutos depois...

"Aqui estamos," disse Mai, parando em frente ao prédio de apartamentos de Sakuta.

"Hã?"

"Eu moro aqui," Mai explicou, apontando para o prédio do outro lado da rua.

Ela já tinha dito que morava perto, mas ele não imaginava que fosse tão perto assim. Aquela era, sem dúvida, a maior surpresa do dia. Mais até do que o fato de ela estar voltando ao trabalho.

"Obrigada por carregar essas," disse ela, pegando as sacolas das mãos dele. Infelizmente, parecia que ela realmente não o convidaria para entrar.

"Ah, Sakuta..."

"Sim, Vossa Majestade?"

"Saia comigo neste fim de semana."

Ele a chamou de Vossa Majestade sem querer, mas havia um tom autoritário na voz dela que combinava perfeitamente.

"Quando eu voltar ao trabalho, não terei muito tempo livre. Moro aqui há dois anos, mas nunca fui a Kamakura. Ridículo, não é? Eu definitivamente deveria ir lá pelo menos uma vez."

"Será assim tão fácil conseguir trabalho?" Ele a olhou com desconfiança.

"Eu sou Mai Sakurajima," ela disse.

O incrível é que isso não parecia arrogância. Soava apenas convincente. Como uma simples declaração de fato. Ele tinha a impressão de que a agenda de Mai se encheria imediatamente.

"Ah, mas domingo..."

"Você tem algo mais importante do que eu?"

"Eu faço o turno da manhã nos fins de semana. Pela manhã e no horário de almoço."

"É só pedir para alguém trocar com você... é o que eu gostaria de dizer, mas..." Ela claramente quis dizer isso de início.

"Parece que você se importa mais com o trabalho do que comigo, o que é irritante."

"Saio às duas, então depois disso..."

"Argh, tá bom."

Ela pisou no pé dele, sugerindo que, na verdade, não estava nada bem. Mas disse que aceitava. Ele não tinha certeza se ela estava agindo de maneira infantil ou madura. Talvez fosse algo entre os dois, um pouco de ambos ao mesmo tempo. Essa era Mai Sakurajima em resumo, pensou Sakuta.

"Não faça essa cara de satisfeito para mim."

"Como não fazer? Você me chamou para sair!"

"Oh... isso não é um encontro." Negado.

"Aww."

"Você quer tanto um encontro assim?"

"Claro!" Ele assentiu com firmeza.

"Então podemos chamar de encontro."

"Legal." Ele ergueu o punho em comemoração.

"Você está tão feliz assim?"

"Com certeza."

"Certo. Dois e cinco, nos portões da Estação Enoden Fujisawa."

"Eu trabalho até as duas, lembra?"

"Te dei cinco minutos inteiros."

"Se o restaurante estiver cheio, talvez eu não consiga sair exatamente na hora. Me dá um pouco mais de tempo, por favor."

"Tá bom. Duas e meia. Se você atrasar um segundo, eu vou embora."

"Entendido!"

E assim, da forma mais surpreendente, Sakuta conseguiu seu primeiro encontro.

Naquela noite, os gritos jubilosos de um adolescente ecoaram pelo banheiro de Azusagawa.

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